quarta-feira, 24 de outubro de 2018

SEGREDOS DE RACILVA - - 26 - -


VIDA AMARRADA
Naquela manhã de domingo, Racilva fez caminho com sua amiga Kátia, levando também o seu filho Junior para passar o dia na praia de Ponta Negra. Naquele ponto já teve muitas histórias como a de um homem já velho e que muita gente daquele recanto o conhecia por “Velhaco”. Era um homem simples, calças e camisas sujas, maltrapilhas como o tal. “Velhaco” já estava naquela época com seus setenta anos ou mais. Era um pescador nas horas vagas e suas calças eram puxadas até o meio da canela, enroladas assim mesmo. Homem pequeno, de um metro e meio de altura, contador de história, as mais absurdas da vida. A mulher ainda jovem desceu do ônibus levando o seu amado pimpolho e acompanhada, seguida da companhia de Kátia. No caminho, Racilva comentou que aquela rua já fôra toda de pedrinhas, levando da parte de cima até ao mar onde havia apenas as jangadas e nada mais. Na descida da ladeira, Racilva contou uma história dita pelo ancião “Velhaco”, há bastante tempo. Ela contou como se fosse ontem.
Racilva
--- O meu pai contava uma história dita pelo velho senhor “Velhaco” que viveu aqui por muito tempo. Se era verdade ou não, faz parte da história!
Kátia
--- “Velhaco”? - - gargalhou como demais.
Racilva
--- Sim. “Velhaco”. Era como os nativos lhe chamavam. Segundo o velho, era uma moça que dizia ter uma vida conturbada e misteriosa, segundo a própria. Ela era neta de uma verdadeira índia que tinha um ‘guia’ como se chamava na religião da moça. Então, a garota Irene deixou a cabana por sofrer demais sendo a única filha loira, branca, dos dez irmãos bem morenos com olhos meio puxados.
Kátia
--- Vá ver que o pai era europeu. Naquele tempo, os brancos faziam amor com mulheres índias! - -
Racilva
--- Pois é. A sua avó, sofrendo humilhações dos irmãos, dos pais e dos moradores locais, no dia que ela veio para a cidade sair daquele sofrimento, a mãe de Irene, a bisavó da infante, lhe rogou uma praga que ela nunca quis falar. A mãe índia da mocinha tem premonições, visões, vê espíritos. Mas nunca quis falar no assunto. Levando a vida que se reserva. Bartira, mãe de Irene, começou a trabalhar em uma casa e lá conheceu seu futuro marido. Casou e teve seus quatro filhos. A filha caçula era a menina Irene.
Kátia
--- Não tem diferença de hoje! –
Racilva
--- Quando a mãe de Irene já era nascida, o seu avô morreu assassinado. Resumindo aqui a vida da mulher índia Bartira, era difícil. Sentindo perturbada, entrou para a Igreja e tudo começou a caminhar. Sozinha, dona Bartira deu conta do Colégio dos quatro filhos. A mãe de Irene conheceu o seu marido, seu Nicácio, quando ela estava com 13 anos e ele, com 26. Começaram a namorar e noivaram. De acordo com o sogro da mocinha, Nicácio era o homem mais cobiçado da época. O pai de Irene, um grande galanteador, já tinha sua má fama. Mas a mãe de Irene sempre foi positiva. Estava apaixonada! As mulheres, todas ficaram com ódio de dona Bartira, a índia. Macumba para lá, macumba para cá e ela sempre na Igreja desfazendo o que era o mal. O pai de Irene, naquela época, um homem misterioso, era totalmente amável. O sonho de qualquer mulher.
Kátia
--- Ave Maria!!! - -torceu as mãos com uns pinicados no corpo.
Racilva
--- Te ajeita!!! Nicácio era um homem romântico, lindo e muito carinhoso. A mãe de Irene, achava que havia tirado a sorte grande, estava intimamente apaixonada e feliz até que ficou sabendo que a família do seu pai estava fazendo de tudo para Nicácio terminar com Bartira, uma vez que a índia era pobre e família de Nicácio queria uma mulher rica e maravilhosa para o homem. Não se importando com nada Nicácio se casou com Bartira. A família de Nicácio foi toda de preto para o casamento. Uma cena de horror! A gravação, que era uma musica linda, esconderam no baú. Foi posta uma outra parecendo um filme de terror. –
Kátia
--- Que tristeza! - - disse a moça
Racilva
--- Pois bem. No dia em que Irene nasceu e o pessoal saiu da Igreja, a vida da mãe Bartira virou um inferno. Bartira engravidou de Irene e foi uma gestação de alto risco. A mulher sempre pedindo a Deus seu bendito socorro e para Irene não ver espíritos, igual a sua avó que vivia vendo. Bartira entrou em depressão e no dia que a sua filha saiu da sua barriga e foi entregue aos braços fracos de sua mãe Bartira, a tia de Irene chamada de Lúcia levou a menina com a maior raiva vendo a mãe Bartira sem poder fazer nada. Simplesmente doente, Bartira teve que ficar no Hospital por algum tempo. Enquanto isso Irene ficou nas mãos da família de Nicácio com uma grande briga entre famílias para quem havia de cuidar de Irene.
Kátia
--- Coitada! Triste sina! - - lamentou
Racilva
--- Pois é. Quando Lucia, a tia de Irene tirou a menina dos braços de Bartira, a mulher disse para Bartira, coisas que a mãe de Irene nunca esqueceu: “Essa garota nunca irá ser feliz. Tudo o que puder para tirar sua paz, eu vou tirar”. E saiu com a criança do hospital. Bartira, piorando a cada dia, fugiu da casa de saúde e então ouviu de uma mulher mais velha lhe dizendo: “Se você continuar aqui, você vai morrer. Mantenha a sua filha”. E a mãe de Irene já conhecendo a situação e sabendo das coisas que a sua mãe levava, saiu do Hospital com ajuda do seu parente. Ela chegou em sua casa e pegou a sua filha. Mas havia uma diferença; aquele bebê dos olhos negros, cheia de saúde no Hospital, estava fraca, muito doente, com risco de morte e toda avermelhada.
Kátia
--- Que situação! E agora? - -
Racilva
--- A menina foi levada a vários médicos por sua mãe, debilitada, e em todos os médicos ninguém conseguia curar o bebê. Ate que a sua avó se rendeu a sua antiga religião e tomou a frente da situação dizendo:” Minha filha e minha neta não vão morrer, pois não vou deixar”. E fez os remédios típicos de onde morava. Seus rituais e finalmente Irene e sua mãe Bartira melhoraram. O seu pai Nicácio voltou para viver com a sua família. Bartira não mais o reconhecia. Ele era o diabo em pessoa. Esquisito! Frio! Falava sozinho com papeis, amuletos e satanismo por onde andasse. A sua esposa era proibida de mexer nos pertentes do homem.
Kátia
--- Depois da bonança vem a tempestade! Deus do céu. - - falou a moça.
Racilva
--- Houve um tempo em que a mãe de Irene qui se separar, a Igreja não permitiu, a mulher entrou em estado de depressão, o marido sumia, voltava sempre esquisito com seu olhar maligno. Até que dona Bartira engravidou. Agora de um menino. Irene tinha seus quatro anos e já lembrava de algumas coisas dessa época. A menina sempre via ‘sombras’ que puxavam os seus cabelos, aterrorizavam empatando o seu sono. Na verdade Irene nunca foi de dormir. Desde recém-nascida ela não tinha sono. O seu pai torturando a sua mãe e Irene via a sua mãe encostada na parede da cozinha, em baixo do forno, chorando e Irene vendo em seu lado sombras negras e um ser estranho de olhos amarelos do lado dela. A menina não podia contar para ninguém e chegou a ser impedida sua avó materna. Aquela que era pura índia.
Kátia
--- Coitada! - - e debruçou sua cabeça entre os braços, a chorar.
Racilva
--- Mesmo com tudo que a menina via ela não tinha medo. Ela via anjos, luzes boas que lhe acalmavam e deixava a sessão de estava tudo bem. Irene falava que nunca teve amigos nesse mundo físico e brincava com luzes em forma de criança. A sua mãe teve seu irmão em uma gravidez de mais alto risco ainda. Só que dessa vez a avó de Irene tomou à frente e não deixou o que acontecia com Irene. O seu irmão nasceu saudável e se reabilitou rápido. Um dia, a irmã de seu pai trouxe alguns pedaços de bolo para Irene e sua mãe. Isso trouxe desconfiança para dona Bartira. Não deixou os filhos comer. Bartira correu para o telefone e quis saber de sua mãe, a índia, para falar do presente. Irene, inocente, nunca viu um bolo feito com caldas e pegou, escondido, comendo tudo, sem a sua mãe saber. Bartira pegou os restos do bolo e entregou para a sua mãe que deu para os animais. No dia seguinte Irene passou mal quase perdendo sua pressão. A criação da avó da menina, todas ficaram girando e batendo a cabeça na parede até morrer. –
Kátia
--- Coisa triste! - - falou lacrimosa a amiga de Racilva.
Racilva
--- Mais uma vez outra mulher do Hospital declarou: “A cura dessa menina é espiritual”. - -

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