quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

ENCONTROS AO LUAR



CAPÍTULO UM
ENCONTRO
Já era quase meio-dia. O pessoal dos despachos já havia saído. Outros, porem chegavam para tomar o seu lugar. No rio, um navio apitou bem forte com que avisando ter de partir. Homens, mulheres e rapazes já grandinhos eram dos tais que tinham de sair dos seus ofícios e pegar o Bonde atrasado seguindo para os seus lares ou mesmo para um ou outro restaurante qualquer. Mecânicos faziam algazarra a jogar conversa a fora enquanto as garçonetes serviam lanches. Um bêbado cuspia para um lado antes de tomar sua carraspana pedida. Um soldado conduzia um ladrão pegado pela cintura com as calcas desabotoada. Naquela hora, Eduardo adentrou ao Hotel em um ambiente quase cheio. Ele cumprimentou aos presentes, inclusive ao pianista, um homem de pouca estatura, talvez um metro e sessenta, e esse retribuiu com o toque de música erudita. O garçom atravessou com pressa o meio ambiente sem notar a presença de Eduardo. Logo adiante, Eduardo Rizzo se encontrou com o gerente do Grande Hotel a quem indagou.
Rizzo
--- Tem peixe Cioba? - - perguntou quase sorrindo
Gerente
--- Sim. Tem. Ao seu gosto. Tem vinho também. - - relatou
Rizzo
--- Branco Cotes du Rhône? Bom. Sirva à minha mesa. - - explicou apontando o local.
O gerente chamou o garçom e disse algo esclarecendo a mesa ao lado de fora. O local estava quase atestado de gente rica. Rizzo escolheu a mesa onde só continha uma cadeira e ficou a folhear jornal do dia. Gente muita a conversar algo sobre a Guerra. Essa já havia acabado, mas não deixava de dar assunto. Uma mulher ainda jovem estava sentada em uma cadeira a ler uma revista de Modas. Bem perto da moça, estava Rizzo. O vento soprou forte invadindo o salão sem perturbar os presentes. A moça se chamava Olga Passos. Atento, sem preocupação, Rizzo viu na bolsa da jovem o nome gravado. Não disse nada. Apenas a olhava desviando a visão da senhorita para outro lugar. Um ponto qualquer. Olga usava luvas cobrindo as mãos. Isso apagou a ideia de o rapaz saber ao certo se era ela casada ou solteira. Eduardo Rizzo ainda era jovem, rapaz de trinta anos. Ele estava trabalhando na Recebedoria de Rendas, na Ribeira. Disse, ele sabia. Agora, de Olga Passos nada lhe vinha à imaginação momentânea. Uma bela jovem, vestida de cetim bucal estampado floral listrado de rosa azul. Era o que Rizzo percebia.
Em um momento, o garçom veio servir o rapaz, com vinho e peixe frito. Rizzo agradeceu. Um dado momento a jovem moça sumiu de vez. O homem, estonteado, buscou encontrá-la por diversos cantos e não a encontrou em canto algum. Ele sentiu vontade de perguntar ao garçom o destino de Olga, porém nada feito. Enfim se desculpou consigo mesmo.
Rizzo
--- Deixa pra lá. - - murmurou consigo
Enveredou na comida e na bebida saboreando aquele peixe com o costume de um avarento comedor de xarias. No salão grená a turma continuava a discutir a questão da Guerra cada um dizendo o seu ponto de vista.
Pessoa
--- Ele morreu! Acabou! Morreu! Ora essa! - - discutia um dos tais todo vermelho de raiva
Outro
--- Hitler fugiu em um submarino seu merda! - - respondia o outro batendo na mesa.
Terceiro
--- E a mulher dele? Eva Braun! Ela fugiu com Hitler? - - indagou um dos que estavam no debate.
Primeiro
--- Claro! Claro! E os generais também. Fugiram para a Argentina! - - debateu com rancor
Eduardo Rizzo apenas ouvia a discussão dos implacáveis. Alguns saíram do salão e no meio deles seguia a moça Olga Passos sem ouvir mais nada daqueles bardos. Nesse ponto, o homem notou sua presença sem acompanhante. Quis correr, mas era tarde demais para alcançá-la. Olga desceu a escada que dava para a rua e, certamente tomou um Bonde que passava em direção a Cidade Alta. Provavelmente. O olhar de Rizzo marejou de raiva ou decepção. Passada a hora, já tarde do dia, Eduardo caminhou em direção a Agência Pernambucana, de Luiz Romão onde se comprava jornais do dia, livros, revistas e se podia ouvir música espalhada pelos autofalantes do lugar. Ele passeou pela avenida Tavares de Lira vendo os carros novos e velhos, os bares por ali existentes, os cafés na esquina até entrar na Agência. Ali, tropeçou nos pês de uma moça a qual se desculpou. Foi então que Rizzo visualizou a pessoa. Era a mesma criatura do Grande Hotel. Rizzo mais uma vez estava diante daquela mulher ou moça.
Rizzo
--- Perdoe-me. Foi um tropeço sem querer. Perdoe-me. - - falou bem-educado.
Olga
--- Não houve nada. Apenas as revistas. - - respondeu em troca a jovem moça.
Nesse ponto, Rizzo já meio atrapalhado apanhou as revistas de Moda para entregar a jovem.
Rizzo
---Ora se não houve? As revistas. Tome-as. Queira me perdoar. O seu nome é Olga? - -
Olga
--- Sem. Olga. Olga Passos. E o vosso? - - quis saber com atenção
Rizzo
--- O meu? Eduardo. Eduardo Rizzo. Eu sou um desastrado. - - tremendo de medo
Olga
--- Ora! Não tem importância. Essas revistas não têm nada de mais, - - e recebeu as revistas
Olga Passos sorriu e saiu caninho a fora vendo as revistas que quase as perdia se não houvesse a ação do “desastrado” italiano ou coisa assim. Ela esqueceu de saber onde trabalhava o moço. Olga era solteira. Rizzo, a moça não perguntara. Talvez ele fosse casado. Talvez, não. Uma coisa Olga tinha certeza: Eduardo era um homem bonito e bastante educado. Certo espaço, Olga se virou para ver de o rapaz tinha entrado na Agência ou seguiu para outro local. Mas não obteve resposta da sua curiosidade. Um vendedor de jornais passou pela moça e ofereceu um exemplar do dia. Olga torceu a vista como querendo dizer já ter comprado de outros donos.
Olga
--- Não me servem. Eu já adquiri os meus. - - e balançou as revistas na cara do gazeteiro. E sorriu
O gazeteiro também sorriu e se afastou mais que depressa gritando “olha o jornal”. Era a vida cruel da gente pobre. Em outra esquina tinha uma quitanda onde se vendia coisas triviais, inclusive revistas a moda. Olga veio para observar os figurinos expostos no sebo. Na cigarreira tinham muitos artigos. Mesmo assim, nada de importância. Xuxá, Super-X, Tarzan, Mandrake, Nokia e tantos outros. Quando Olga se voltou, viu, de imediato afigura do moço que derrubou suas revistas. Ele caminhava apressado e a moça o seguia entre o povo todo que vinha e ia pela calçada da avenida Duque de Caxias. Mais além, em uma esquina da rua Rizzo parou para entrar. Era ali a Recebedoria de Rendas. De repente, Olga também se deteve.
Olga
--- É ali que ele trabalha. Ah. Eu não preciso nem olhar. - - murmurou sozinha
Um vento forte sacudiu as vestes da senhorita, quando a moça se deteve para guardar as suas roupagens. Rapazes olharam para ver melhor as curvas da moça. Olga se encostou à parede antes da esquina se resguardando da imprudente ventania. Um carro apressado passou e o motorista buzinou insistente e a moça não ligou para quem dirigia. Apenas ficou aguardado melhores momentos.
Alguém
--- Vem chuva. - - disse um homem.
De repente, um respingo. Outro mais. O Céu se fechou. A chuva caiu de vez. Muita chuva. Olga correu para a repartição que ela não sabia para que. Ela estava no Rio de Janeiro nos últimos anos e era costume se precaver da chuvarada. Um homem batia com força a fechar depressa portas e janelas. E a chuva caía copiosa enchendo com todo o seu modo ruas e calçadas, casas e moradias como se fosse um dragão.
Homem
--- É chuva muita. Quando nem menos se espera o Céu se rompe! - - falou um serviçal a fechas as janelas.
De repente um homem, Eduardo Rizzo, se aproximou a jovem mulher. E indagou.
Rizzo
--- A senhora aqui? Entre. Venha. Vamos sentar-nos lá dentro. Está molhada? - - espantado.

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