quarta-feira, 17 de outubro de 2018

SEGREDO DE RACILVA - - 23 - -


MACUMBA
Certo dia Racilva estava em casa lendo As Centúrias de Nostradamos. Eram quase 9 horas da manhã. Sua mãe, dona Cora, estava no interior da casa fazendo algo, com certeza, para o almoço. Nesse instante chegou ao portão e entrou, sem ao menos avisar, a senhora Alzira, mulher bem conhecida do pessoal da casa. Seu Muniz estava do trabalho e Junior, filho de Racilva, tinha ido à Escola de crianças logo cedo da manhã. Um pacote trazido nos braços, dona Alzira nada falou. E Racilva não quis saber também. Deviam ser preparos para alguma macumba, certamente que a mulher tinha adquirido em uma loja no Beco da Lama, no centro da cidade. O certo é que o pacote devia ser segredo. Ervas medicinais e até mesmo um frango e garrafas de bebidas. Coisa normal, com certeza. Negócio que era sigiloso. Então dona Alzira falou passada a hora dos abraços e cumprimentos.
Alzira
--- Menina! As coisas estão caras demais! Nossa Senhora! Eu fui ao comércio e quando paguei é que senti na pele! Coisa horrorosa! Um tiquinho de nada por um preço exorbitante. Ave Maria! Coisa de louco! - - falou a visita de forma exausta.
Racilva
--- Está tudo muito caro. Um horror! - - falou assenhora moça
Alzira
--- Pois é. E dona Cora? Ela está bem? - -
Racilva
--- Sim. Está na cozinha fazendo as coisas! - -
Alzira
--- Ah, bom! Ontem apareceu lá em casa uma moça de nome Lívia cheia de problema. Contou a moça que ela era uma grande amiga de outra moça, a Flávia. A Lívia tem 24 anos de idade e contou que estava em um grande aperto. Lívia e Flavia estudavam no mesmo colégio e quando terminada a aula elas seguiam o mesmo caminho. No final do curso elas se matricularam na mesma Faculdade. Faculdade de Letras. Todas juntas. Disse Lívia que Flavia sempre foi a garota mimada. Filha única e mandona. E sempre que passou esses anos Lívia sempre foi a sua escrava em tudo.
Racilva
--- Imagine só! - - e sorriu.
Alzira
--- Pois é. Festas escolares, trabalhos, até em relacionamentos Lívia era obrigada a ajudá-la. Caso contrário, as duas entravam em brigas. Uma vez, Lívia deu uma vaga de emprego que havia conseguido para si a amiga Flávia, uma vez que Flávia fôra demitida do seu trabalho por justa causa. Lívia contou que sempre foi para Flavia uma boa amiga e o que aconteceu com Lívia, ela não desejava nem para o seu pior inimigo. Na época, Lívia namorava o Lucas e estavam juntos desde o primeiro ano do Colegial.
Racilva
--- Namoro longo, heim? - - sorriu
Alzira
--- Pois sim. Com o Lucas já convivendo, Lívia estava esperando uma garotinha do casal que se chamaria Laura. Isso, já no quinto mês de gestação e tinha programado o casamento para o nono mês. Certo dia eles combinaram passar em uma lanchonete, do lado de fora da Faculdade, antes de ir para a aula. Então, Flavia chegou na casa de Lívia no objetivo de se arrumar, tomar banho enquanto Lucas, o futuro esposo de Lívia, lavava a louça na cozinha fazendo parte da mãe de Lívia, a dona Glaucia que se ocupara em passar roupa na varanda. Lívia deixou a chave do seu quarto e foi até a sala procurar algo na sua bolsa. Flavia ficou dentro quarto, sozinha, quase uns dez minutos. Quando Lívia retornou encontrou a amiga com um dos seus batons em suas mãos. As outras maquiagens, estavam todas espalhadas em cima da cama de Lívia. Flavia sussurrava alguma coisa e passava a ponta do dedo por cima do batom.
Racilva
--- Perigo? - - indagou cismada.
Alzira
--- Não sei. Vamos à frente! Sei que Flávia soprou três vezes. Lívia ficou observando e logo após se aproximou. Flávia desconverso dizendo que estava pesquisando as maquiagens da amiga para saber qual marca era a melhor, no intuito de comprar algumas. Isso não importou a Lívia e até a ajudou a escolher passando o batom chegando a tirar uma foto, como amigas costumam fazer. Ao sair da casa de Lívia, a amiga olhou para a outra, suspirou e disse: “Acho que algo de ruim vai acontecer com você”. E a amiga Lívia se espantou e, alarmada, indagou: “Comigo?”. Não era bom ouvir isso de sua melhor amiga.
Racilva
--- Nem morta! E o que deu? - - indagou
Alzira
--- Pois é! Sei que passados alguns dias Lívia começou a passar mal e chegou a pensar por conta da gravidez, que era saudável e normal. Lívia passou a vomitar constantemente, sentindo fortes dores, desmaiar e até sentiu convulsões. E em uma dessas, Lívia acabou perdendo o bebê. Foi o fim. Ela pensou que fosse entrar em uma depressão até morrer. Então a Flávia foi mais que deu apoio a amiga nesta fase depressiva da vida de Lívia. Então, Flavia dizia que a amiga Lívia iria engravidar novamente, pois o Lucas era um bom namorado e teria compreensão a todo instante. Mas, tudo foi piorando!
Racilva
--- Coitada! - - lembrou do seu marido não sabe o porquê.
Alzira
--- E semanas se passavam, a mocinha continuava a ter convulsões, vomitando, com dores. Mas era um mal, um mal tão forte que em certo ponto ela não sentias as suas pernas e muito menos os braços. Ela conseguia se movimentar chegando até andar em cadeira de rodas por uma semana. Com o tempo não conseguia Lívia mais levantar da cama. Pareceu isso num dia que acordou para trabalhar. E teve que trancara Faculdade dias depois por incapacidade física, até estar totalmente em estado vegetal. O tempo passou e Lívio se sentiu melhor de saúde. Pelas noites ela estava a ver vultos e massas negras que chegavam ao teto. Algumas dessas massas eram tão grandes que ao se curvarem, a cabeça tocava o chão. Era desesperador.
Racilva
--- Meu Deus!!! Que coisa! – falou alarmada
Alzira
--- Então. Em um estado daqueles ela não conseguia se mexer. Lívia rezava mentalmente e ela, então, se apagava demais. Lívia sempre contou isso ao Lucas. Tentou alertá-lo do que estava ocorrendo com Lívia. Mas ele nunca acreditava. Ele ficou cada vez mais agressivo com a sua mulher. Aquele homem doce que sempre amou Lívia, passou a sair de casa, beber e se drogar até que terminou seu romance e em definitivo, sumiu. Desapareceu. Era ele quem cuidava de Lívia porque a mãe de Lívia já era de idade e não podia fazer muita coisa. A moça perdeu a fala. Entao Lívia se sentiu uma “coisa” numa cadeira de rodas, sem mover o corpo, sem falar. E Lívia perguntava: “Onde minha vida tinha chegado? Eu havia perdido a minha filha, o meu namorado, a minha Faculdade, os meus movimentos. Sempre me questionei se foi Deus isso de mim por ser muito ceticista. Mas não fazia sentido. Eu respeitei as crenças e tudo mais”. Foram longos meses assim! –
Racilva
--- Foram longos meses! É uma provação! Longos e eternos meses! - - lembrou o seu marido
Alzira
--- Longos meses! Lívia passou por vários médicos, psiquiatras e nada lhe foi diagnosticado. Lívia fez fisioterapia, aulas para voltar a nadar, para falar, para a andar. Mas nada. Nada era capaz de fazer a voltar o que Lívia o que era antes. Foi, então, que uma vizinha, a Valquíria, que era bastante médium, foi até a casa de Lívia levar as roupas que ela arrumava para a mãe da moça. Assim que ela pisou na casa de Lívia, seu corpo foi alavancado para trás e ela gritou: “Tem algo muito pesado nesta casa!”. Nunca ninguém sentiu essa forma estranha. Valquíria buscou ajuda falando comigo e eu fui acudir a mulher. E eu benzi cada milimetro da casa. Até o cachorro. Na mesma semana a Flavia apareceu. Ela ficou mais próxima de Lívia que estava paralítica e sem falar. –
Racilva
--- Aleluia! Foi ela mesma! Aleluia! - - gritou a moça
Alzira
--- Pois bem. Flavia se aproveitava em tudo porque Lívia fazia nada fazer. Pegava o dinheiro que a mãe de Lívia recebia para comprar os medicamentos para a filha e gastava com outras amigas. Flávia se aproveitava porque a velha amiga nada fazia. Uma vez, muitos antes, Flávia passou uma pena de galinha preta na cabeça de Lívia e disse: “Você vai morrer nessa cadeira. Lamento. Vive quem pode”. Flávia fazia macumba na frente de Lívia e com objetos de sua mãe. Flávia estava gravida de Lucas e vivia junta com ele. A mãe de Lívia, a idosa Glaucia, veio a falecer duas semanas depois. E eu fiz o que pude para curar a moça Lívia. Com o tempo, Flávia perdeu o emprego, trancou a Faculdade o seu filho embrião morreu ao sexto mês de gestação. Eu cuido da Lívia. Ela recuperou o andar. Lucas deixou a Flávia e mudou de país. Um dia desses, Flávia veio pedir desculpas a Lívia. Então, a mocinha tacou a muleta na cara de sua inimiga. E rebentou a mandíbula da infame.
Racilva gargalhou pela vingança feita!

Nenhum comentário:

Postar um comentário