domingo, 30 de setembro de 2018

AMORES DE RACILVA - - 16 - -



MISTÉRIO
Em um domingo pela manhã, saiu de casa a senhora Racilva acompanhada do seu filho, Junior, e da amiga Kátia. Racilva tomou a benção aos seus pais e caminhou sem pressa em direção a um ponto da praia, bem distante de onde morava. Pelo horário ainda era cedo. Poucas pessoas na rua. Gente vinda da Igreja ou do mercado público, mercearias e até do posto de leite. Um vento frio sobrava constante, um garoto estava por perto oferecendo jornais do dia. Um cão passou depressa mesmo sem latir. Essa era a vida que se vivia em pura cidade, capital de um estado. Um ônibus vinha a transitar e a mulher pediu parada ao motorista.
Racilva
--- Vamos pegar esse carro! Depressa! - - chamou a amiga Kátia e puxou o seu filho pelo braço.
O ônibus seguiu caminho em direção da praia muito lá em baixo. Pessoas saiam da Igreja da Maternidade, algumas com véus em sua cabeça. Por acaso, alguém notava as mulheres idosas balbuciando algo que não se ouvia por acaso. Um carro desceu a ladeira da rua Nilo Peçanha e seguiu seu caminho.
Kátia
--- Um carro fúnebre!!! - - falou a moça se estremecendo toda.
Racilva
--- Com certeza ali vai um morto, provavelmente. Isso me lembra a morte de Jesus. Morto e crucificado. Algumas pessoas comentam que Jesus foi regatado da Cruz e escapou. Daí então levou uma existência secreta do sul da França e na Inglaterra. Outras ficaram convencidas que Jesus foi para a Índia e Cachemira onde viveu até aos 80 anos de idade. Hoje, com a ajuda de importantes historiadores e teólogos se examina essas teorias.
Kátia
--- É bem provável ser essa a verdade! - - falou tranquila
Racilva
--- Tem um, porém: para entender com Jesus depois da crucificação é preciso examinar fatos da vida dele. Mas, o que é um fato histórico? Qual é a prova? Quase tudo o que sabemos de Jesus vem dos quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas, Mateus e João foram os únicos evangelistas que integravam o grupo dos doze discípulos, ou seja, os únicos que poderiam estar presentes aos eventos que descreveram. –
Kátia
--- É verdade! Os demais sumiram! - -
Nesse instante, o transporte coletivo chegou ao seu final pela avenida Getúlio Vargas notando-se a praia do Meio e os seus banhistas. As amigas desceram do ônibus junto com outras pessoas e mergulharam na descida da balaustrada para alcançar a casa de uma amiga moradora da praia. O vento frio soprava do baixio dos arrecifes do mar como se desse as boas vindas aos visitantes chegados da aldeia da cidade. Àquela hora da manhã, nada havia a temer de carro ou a pé. As belas moças que também desciam até juntarem-se a soberba praia sorriam a seu bel prazer das conversas animadas contadas e inventadas de casos amorosos ditos por alguém certa feita. Já em baixo, na residência de morada, perto do mar, chegou Racilva, o seu filho Junior, e a sua amiga Kátia a bater na porta da moradia de dona Thelma. Carros passavam às pressas entre pescadores, vendedores de peixe frito, transeuntes e bebedores de cachaça a cambalear para um lado e outro. Coisas comuns da vida da praia. Thelma chegou às pressas, muito alegre a cumprimentar a amiga de velhos tempos.
Thelma
--- Ora viva!!! Voce aqui? Vamos entrar. Cheguem! Peguem a cadeira. Puxe. Novidades? - -
Racilva cumprimento a amiga, apresentou Kátia e logo após procurou sentar puxando cadeiras para si e para Katia deixando o menino a solta. As conversas fluíram. Coisas amenas. Tecendo famílias e casos comuns de todo o sempre. Dia de domingo, gente, praia, olhares distantes, gente a passar, novidades, novidades, novidades.
Thelma
--- Conte-me. Com está a família? Sua mãe? - -apressada
Racilva
--- Normal. Aqui está uma amiga: Kátia. Ela, de vez em quando vem à praia. Hoje, comigo; - - sorriu
Thelma
--- Satisfação. - - disse a mulher
Kátia
--- Obrigada. Igualmente. Mora aqui? - - indagou
Thelma
--- Sim. Moramos. Eu, o marido e filhas. E você? - - sorriu
Kátia
---- Cidade. Próximo a Racilva. Quer dizer. Mais perto. Nem muito perto. Também nem muito longe. Mas, é na cidade. - - concluiu
Thelma
--- Ah, bom. Nós já moramos lá. Ultimamente, aqui. É a vida. - - sorriu e calou.
Racilva
--- Você não pára. É aqui e lá. - - sorriu
Thelma
--- O marido. Ele gosta mais da praia. Essa casa é nossa. A da cidade está alugada. É o vício do homem. - -
Racilva
--- Sei bem. O velho empacou naquela casa. Parece. - - sorriu
A conversa prolongou minutos a fio, horas sem fim com mulheres e homens a passar de um canto a outro daquela imensa praia. Tal fato nem sequer pode ser visto de dois meninos a correr em busca de algo desconhecido, perdido no além. Junior e um seu amigo de ultima hora queriam ver de perto algo que não sabiam ao certo. Era provável ser um monstro, talvez uma baleia ou uma caravela. Seguindo os indecifráveis passos, os garotos toparam com um padre, homem corpulento e carrancudo de meter medo nos olhos de alguém. Um deles, escapou. O de maior idade para os pequenos e ilustres ninguém. Junior ficou preso nas garras do velho padre. E por força das garras do austero padre nada pode fazer. Apenas se recolher ao solo.
Padre
--- Para onde vai assim? - - indagou com sua voz grossa o padre.
Junior nada podia fazer diante daquelas garras monstruosas a lhe prender de vez. Quis apenas chorar por ter tamanhas unhas a lhe sufocar por certo. No instante sem poder desgarrar, Junior apenas balbuciou.
Junior
--- Um monstro alí! Um monstro! Um monstro! - - falou surpreso
Padre
--- Monstro? É uma caravela! Onde tu moras? – perguntou.
Junior
--- Ali! Ali. O´! - - apontou a casa ao lado.
Padre
--- Ah, bom. Vamos para casa! Esse monstro é uma caravela. Não tem nada de monstro!
E arrastou o garoto até a dita casa, sempre preso pelo braço para não o deixar se largar. O menino, já então chorava ao ver as garras de sua mãe só a pensar, ao prendê-lo, por certo quando chegasse a casa onde estava a residir por pouco tempo do dia. Ao chegar a residência, o padre bateu palmas e logo apareceu a dona Thelma de forma curiosa.
Thelma
--- Padre? O senhor? E esse menino? É o meu? Não! De Racilva! - - alarmada
Racilva
--- Quem? O meu filho? - - correu para fora da casa.
Padre
--- É aqui mesmo? Ele estava na calçada com outro garoto, em busca de uma caravela do mar. - - adiantou sorrindo
Racilva
--- Caravela? Ô pestinha! Não se pode perder um minuto que o menino sai. Já pra dentro! - - gritou com o pequeno meio brava.

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