
SEGREDOS DE RACILVA
TERCEIRO
PRACINHA
Domingo, pouco depois das quatro horas da tarde, Racilva já estava no parque onde havia balanços, escorregos e passadiços em bolas de ferros. Esses, eram disputados apenas por gente grande. Os “escorregos” eram balanços feitos em um cercado onde se colocava as crianças para escorregar de cima a baixo. E balanços, as domésticas ou mesmo as mães, colocavam seus filhos para empurra-los de cima a baixo. Kátia estava também naquele local conduzindo uma filha de uma irmã, da mesma idade do Junior, filho de Racilva
Racilva
--- Você costuma vir a essa pracinha? - - sorriu ao perguntar
Kátia
--- Não. Eu estou aqui por causa de você. Mas, a Escola de Musica fica logo perto. Eu, mesmo assim, passo pela praça, de um modo ou de outro. - - desculpou e sorriu
Racilva
--- Ah. Eu costumo vir a praça com o Junior, aos domingos à tarde, quando o sol amaina. Às vezes, com minha mãe. O garoto se diverte bastante. Hoje, eu encontrei você e com sua menina. A menina é? - - indagou a Kátia
Kátia
--- Selma A minha sobrinha. - - sorriu
A pracinha, na parte dos balanços e o escorrego, fervilhava de crianças, suas mães e domésticas muito bem vestidas, algumas ate com trajes de esmero trato. A juventude ainda em flor, rapazes e moças, ficavam a passear rodeando os pés de fícus, todos os pés jeitosamente ornados, como um trono imperial, um coelho ou uma fruta salutar, flertando os jovens tão mais doces infantes, atraentes e caprichosas. Ao longo do parque, através da rua Trairy frutas saborosas de encantos atraentes. Pássaros em liberdade gorjeando ao som do mar azul a fustigar ao longe. Ao piano alguém a tocar a Flauta Mágica de Mozart, em algum salão qualquer. A tarde fria sacudia o ar o qual já tendia a adormecer. As amigas recolhiam seus pombinhos em sublime forma de acalanto. Após um carinhoso adeus, as duas se separaram. Os dois meninos também fizeram um afetuoso com as mãos a abrir e fechar com carinho. Por uma vez o garoto Junior falou à sua ter visto o homem no pé de fícus.
Racilva
--- Homem? Que homem? - - indagou-lhe sua mãe
Junior
--- Aquele homem. Ele disse que eu sabia quem era ele. - - confirmou
Racilva
--- Ah. Voce o viu? Eu não te disse? Um homem? Ele estava só? - - indagou-lhe
Junior
--- Ele estava no portão do cercado. A senhora não viu o homem? - - indagou
Racilva
--- Tinha muita gente. Eu o proíbo de falar com estranhos! Não quero que ande falando por ai, ouviu? - - faz a mulher com severidade.
Carros passavam devagar, pelas ruas Trairy e Potengi. Indo e vindo, em uma marcha sempre lenta e permitindo os pedestres cruzarem seu caminhar vagaroso. Na Escola de Música, um rapaz que atravessou a rua em frente, teve acesso para ir aprender a tocar flauta ou mesmo algum instrumento de cordas. No restaurante “O Avião” que ficava ao final ou inicio da praça, homens tragavam sua cerveja ou mesmo uísque para variar. Em outro balcão os rapazes vendiam sorvetes as infantes damas. Esse nome de “avião” era dado por causa de sua estrutura onde se podia ver de cima duas asas de um modelo de avião. Sua cor era de forma azulada bem parecida com um modelo de um avião de verdade. Outras pracinhas existiram na capital. Ribeira, Praça da Catedral, Pio X. Porém todas as demais não tinham tanta atração como a pracinha Pedro Velho, plena de divertimento para crianças e adultos.
Domingo à noite, todos a dormir. Nem carros na rua. Um bêbado a vomitar em plena rua e a dizer pilherias com um calado poste. Tudo isso era normal. A casa de Racilva ficava em um trecho pouco depois da Rua Jundiaí. Um espaço que não se notava viva alma. Para bem dizer, não estava nem com o nome gravado. Por isso, ali era um beco e nada mais. Altas horas o menino Junior acordou meio sonolento como que por alguém chamando àquele instante.
Caio
--- Junior. Junior. Lembre-se que falar a seu avô sobre o assunto que lhe falei, ouviu? – falou o ser.
Junior
--- Em digo. Eu digo. Quem é o senhor? - - averiguou o menino
Nesse instante o vulto sumiu do ambiente. O garoto voltou a dormir, quase caindo de sono e nada mais falou aquela noite sombria. Passaram os dias e nada ocorreu com certeza. Racilva estava a costurar roupinhas de seu menino quando, de repente, alguém lhe bateu à porta. Ela se levantou do seu assento e foi ver quem era.
Kátia
--- Surpresa!!! - - soltou bela gargalhada por aparecer tão de repente.
Racilva
--- Ave Maria! Surpresa mesmo! Já chega de tanta emoção! Deus do Céu! Que estas fazendo, mulher? - - perguntou a sua amiga.
Kátia
--- Nada, não! É porque eu vou ao interior nesses dias e vim te convidar. Só tem homem na caravana. Pelos você é mulher. Nós duas. São três dias, se bem me lembro. Você vai? - - indagou sorrindo
Racilva
--- Mas tem o menino. Eu tenho que levar. Se não ele berra! - - argumentou.
Kátia
--- Tem nada não! Eu me arranjo com ele. Só quero saber se você vai. Sim? - - indagou sorrindo
Racilva coçou a cabeça, olhou para dentre de casa, viu o garoto a brincar com seus jogos. Falou então para melhor saber. Kátia descreveu os dias para saber se Racilva podia ir.
Três dias para chegar. A festa era em homenagem a São João Batista padroeiro do lugar, o local de Pendências. Para todo efeito, tinham bandas de músicas, cavalgadas ao Padroeiro, escolha da Rainha da Festa e por fim a representação da Orquestra Sinfônicas. Era tudo um esmero. Festival de milho assado, pamonhas, canjicas além de carnes entre outras comidas regionais. Na sangria do açude Mendubim, um dos dez maiores reservatórios do Estado, a festa não parava. Mergulho no lago pelo seu transbordar era um mergulho sem noção. Quando a parede do açude transbordava, crianças, jovens e adultos caiam da festa. A sangria do açude Mendubim ter uma capacidade superior a 76 milhões de metros cúbicos. Suas águas desaguam no rio Açu, sendo fundamentais para as comunidades do entorno e suas produções. O sertanejo tem mesmo o que celebrar.
Kátia
--- Cuidado com Junior. A água é volumosa. Cuidado! - - relatou a moça, inquieta
Racilva
--- Eu tenho cuidado. Nem se preocupe! - - expôs a moça.
No centro e em pontos afastados da Cidade, era tudo festa. Nos locais mais ambientados se cantava coisas como não se fazia nos cabarés, locais reservados para as mulheres da vida. Nos locais menos propícios a jogatina era o que se fazia da melhor forma. Quando a desavença acirrava, um canivete era mais forte. Um grito e a vítima caia ao solo sem tempo de gemer. O gritar das mundanas era tudo o que se ouvia. Em outros locais, um padre rezava um sermão para o Santo Padroeiro. Contritos os fieis rezavam e o canto sagrado de ouvia das vozes da Orquestra Sinfônica. Em um dado instante o menino falou.
Junior
--- Mãe, olha o homem! - - falou olhando para trás
Racilva
--- Que homem? - - indagou
Junior
--- Aquele, do outro dia. Ele está sorrindo! –
Racilva
--- Deixa ele só. Fique quieto. Veja a Missa. - - afirmou com maior cuidado.
Junior
--- Mas ele está chamando! - - destacou.
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