terça-feira, 11 de setembro de 2018

RACILVA - 08


SEGREDOS
Dona Alzira ficou em silencio. A mãe de Racilva nada falou. Racilva foi a única a falar naquele instante. Lembrou-se de Caio Dumont, e nada mais. Apenas lembrou os momentos felizes que passaram juntos, agarradinhos a um só tempo. Lembranças dos segredos vividos à dois. Praias, recantos inesquecíveis, locais furtivos, um cantinho de amor. Tantas lembranças contidas no pobre coração de amantes. O gato miou na janela. Racilva não deu importância. O menino, Junior, entrelaçou-se nas pernas da sua amada mãe. Ela, então, o beijou na testa. Ele ficou ali, como quem estava sonolento.
Alzira
--- Então, recordando Chiquinha, ela ficou sendo mal falada por ter vivido com esse homem, apesar do homem ter morrido, e foi ser prostituta na Capital. Então Chiquinha trás o fato de ser jovem, ser mulher e viver na Capital, cidade ainda bem pequena! E já deu um mal passo! Muito embora Chiquinha esteve com homens “coronéis”, esse tipo de coronel sem ser fardado. Era somente coronel por ter dinheiro. Ela frequentou as ruas apenas ruas das mulheres de vida livre.
Cora
--- Ah, eu sei. - - interpôs
Alzira
--- Essa população que vivia na marginalidade. A senhora sabe muito bem! Foi, então, que um rapaz se apaixonou pela Chiquinha. Seu nome era Nico. Assim como se conhecia o rapaz. Pelo modo, talvez fosse de origem italiana, igual a essa moça. - -
Racilva
--- Tem um Nico Fidenco por aí. Italiano, ele! Interessante! - - cismou
Alzira
--- É o que não falta! Bem! Chiquinha teve olhos de personagens zombeteiros e das moças da época. Com o passar do tempo, havia quem duvidasse existir entre os dois, ela, uma mulher da vida. Ele, o Nico, não conseguia se livrar do peso social de uma prostituta! –
Racilva
--- Afinal houve esse tempo que se a prostituta pode ser feliz ou não. – - discursou a senhora
Alzira
--- Mesmo assim, Chiquinha e Nico não viveram nunca mais com a sociedade. Houve um tempo que Chiquinha ficou só com suas tristezas e desencanto. Ela sentia uma saudade profunda sem Nico. Foi assim que começou a revolta em Nico por causa de seus pais. Eles não queriam Nico com Chiquinha. Então começou a discórdia. –
Racilva
--- Discórdia sempre houve. Vejam os gregos. Se limpavam com pedras! –
Dona Cora, caio na gargalhada!
Cora
--- Com pedras? Ora vejam só! - - gargalhou outra vez.
Racilva
--- Ora, mãe? E os romanos? Eles se limpavam com pedras em uma vara. –
Alzira
---- Aqui, no sertão, o povo se limpava com sabugo de milho! - - respondeu a cristã
Então é que houve gargalhadas da parte de Cora e de Racilva. Após algum tempo, Cora falou.
Cora
--- Eu me limpava muito, com sabugos! -- - gargalhou
Racilva
--- Tá vendo! Tá vendo! A senhora era viciada, não era? - - gargalhou
Cora
--- Não tinha outra coisa! - - e continuou a gargalhar
Após algum tempo Alzira continuo a falar.
Alzira
--- Pois bem. O abatimento do moço tornou-se rapidamente visível. Ele não era rico. Porém também não era pobre. Tinha seus vinténs. Em seu coração, a revolta crescia a cada dia, assim como a saudade. Então o homem resolveu voltar para junto de Chiquinha. Então, ele soube da gravidez da moça. Ela estava buchuda! - -
Cora
--- Nossa! E agora? - - a mulher tremeu de medo.
Racilva
--- Espera, mãe! Quer ver! - -
Alzira
--- Os dois resolveram pelo suicídio. Foi um romance proibido que a sociedade não aceitava jamais. E, nesse sentido, eles combinam a morte. E preparam a estricnina. Eles deixaram cartas assinadas a dois dizendo que haviam decididos pela morte. Nas cartas, ele, o Nico, queria ser sepultado ao lado da Chiquinha, - -
Racilva
--- Essa foi a triste e trágica historia de um romance. Uma história de um romance que abalou a cidade. Eu devia ter feito o mesmo! - - chorou copiosamente.
Cora
---- Espere! Mas, o que Umbral, Alzira! - - indagou assustada
Alzira
--- Umbral! Para o espiritismo, ocorre desde as religiões antigas, de uma semelhança do que a gente vive, neste mundo e do que ocorre no outro. Na Índia, por exemplo, havia dois infernos. O Inferno quente e o Inferno gelado. O Inferno da neve. O sofrimento do frio. O espiritismo, ele vai trazer uma inovação ao explicar como ocorre, como é o mundo espiritual, que não tem paralelo. As pessoas tentam a ler as evidencias equivalentes aqui, ou seja, um lugar que se for colocada, você vai sofrer muito. Entendes? - - indagou.
Cora
--- Hum! Parece que ainda não! Vamos à frente! Continue, por favor! - - relatou a mulher.
Alzira
--- A questão é que os “espíritos” demonstram que o mundo espiritual é muito diferente do que normalmente se imagina. Aqui, nesse mundo, nós estamos determinados pelo ambiente em que nós estamos presentes. Se tiver em um ambiente muito quente, não importa que seja, vai sofrer com o calor. O nosso organismo físico é igual para todos. Quando você vai para o mundo espiritual, as pessoas, normalmente não percebem, porque o corpo nosso nem percebem que morreu. Entendeu? -
Cora
--- Estou imaginando! Prossiga! - -
Alzira
--- Bem. Mas a realidade do mundo espiritual, é determinado pelo seguinte fato: o que você pensa e sente alteram as condições físicas do seu corpo espiritual. Do seu perispírito! O sentido é: quanto mais ligado as questões desse mundo, quanto mais as pessoas estiverem ligadas aos instintos, as paixões, as emoções, mais denso o perispírito fica. E quanto menos apegado, maior a sua capacidade de se tornar seu perispírito mais leve. Menos denso. E a essa densidade do perispírito vai determinar a qual local você vai estar associada. A qual local você tem sintonia. –
Cora
--- E como eu posso saber? - -
Alzira
----Hum! Então, a imaginação que se fez do mundo espiritual é, quando as pessoas morrem, muitas, vivenciando um apego muito grande, um remorso, um desejo de vingança. ...Sentimento desse é sentimento que nos aproxima da condição animal. E no mundo espiritual é ter um sentimento denso! Pesado. Nesse corpo denso, pesado, vai fazê-lo vivenciara um ambiente com outras pessoas na mesma condição. - -
Cora
--- Eu acho que vou mais ler sobre espiritismo! - - disse a mulher, angustiosa.
Alzira
--- Isso. Leia. E veja onde tem dúvidas! - - sorriu

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