sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O INFERNO - 35 -

- Mariana Rios -
- 35 -

COLOSSO

Um verdadeiro colosso a gigantesca muralha de onde nem se podia vislumbrar o fim da monumental Boca do Inferno, no vulcão Masaya. A incrível Boca ficava no verdadeiro fim do mundo. Ela era apenas um dos seis lugares da Terra considerados autênticos locais como as portas do Inferno. Uma gruta na selva centro-americana e um lago eterno de fogo. As suas portas são corredores para um terrorífico infra mundo onde habitam os condenados. Esse lugar é realmente um portal místico. O Inferno é um lugar de punição física infindável pelos atos recriminatórios cometidos em vida, um ajuste de contas pós-morte dos humanos. Não era possível se entrar nestes diabólicos locais ainda com vida. Era o Inferno na própria Terra através da degradação humana. O seu interior é tomado de temperaturas exorbitantes. Ali está a crosta terrestre seguida de mantos de rochas de consistência viscosa. O vulcão Masaya, conhecido por Boca do Inferno apresenta em sua entrada a própria porta do infernal espaço. Naquele trajeto lacrimoso são realizados sacrifícios humanos, inclusive de crianças, para apaziguar suas trepidações. O portão do Inferno é um abismo sem fim em chamas cuja fumaça se esconde o próprio Sol. Ali está o inequívoco Inferno onde nenhum ser vivente se aproxima do local com remorso do terror humano, com certeza. Na verdade, é o local do abismo do hediondo Satanás a governar o lugar do terror.
No seu lado exterior, uma enorme parede sequencia o não acesso dos viventes. Nesse lugar, apenas os demônios das trevas podem seguir, quando saem à noite escura nos seus desejos cúpidos de natureza cruel. Nem mesmo as Súccubi procuram ter acesso a esses remotos locais de devassidão bestial. E então, no alto do despenhadeiro alí cujo cume era tão enigmático, estavam as Succubi a gargalhar com precioso e inexplicável saber dançando com as ninfas do prazer copular a buscar nos seus instintos a danação das bestas cruéis. De onde as Súccubi estavam, para se chegar ao forno eterno era uma descida abismal. A altura era incomum para qualquer lugar do planeta. Nem por isso, as Súccubi decidiam o contrário. Na noite escura de ambiente devasso as Damas volteavam em torno do cadáver de Último com o intuito de seduzir e fornicar com o débil corpo do homem morto. Em um alarido infernal, as Damas seguiam suas danças bárbaras diante da fumarada do vulcão de Satanás a expandir odiosidades. Após a dança exaustiva veio a norma aterrorizante tomada pela principal Súccubus.
Súccubus:
--- Calma, gente. Calma! O gozo está findo. Agora temos que mandar para o seu destino esse verme imundo que já copulou em demasia. O corpo está morto. Mas o espírito continua vivendo eternamente. Por quanto motivo, diante do espesso véu da noite escura eu vou ter que despejar esse endemoninhado para as entranhas do horror. – falou com a certeza dita.
E assim, despejou o corpo de Último para as profundezas do abismo em uma vertiginosa queda de dezenas de quilômetros no qual nem o Diabo acreditava em tal fim. Gemidos e lamentos se ouviam falar pelo endemoniado morto nessa vertiginosa descida às interiores escarpas do mal. E com isso estava findo o pernicioso e asqueroso elemento. Os demônios, em baixo, alardeavam a chegada de novo cadáver para ser cozinhado nas enormes labaredas mefistofélicas. Nesse ponto se ouviu um gritar sonoro. A Dama de Cetim, de imediato acordou. E de olhos bem aberto, perguntou enfim.
Tâmara:
--- Shane! Acorda! Estás a sonhar? – sacudiu a Dama o corpo de Canindé
E Canindé, atordoado, ouviu o chamado demorando a responder à diva Tâmara o tanto quanto ela queria decifrar. O rapaz teve um inquieto sonho de estar fazendo cópula no interior de um Cemitério com uma virgem dama quando um servidor, homem gordo, meia estatura, roupa mal alinhada com a camisa aberta ao peito, notou o caso e clamor pela ordem no interior do campo santo percorrendo com pressa em busca de deter o moço. Talvez fosse na parte da tarde ou durante a noite. Disso Canindé não sabia precisar com segurança. Muito tenha tido um sonho naquele instante, mal sabia Canindé bem seguro.  Sabia ele o gritou desesperado pela afronta sofrida pelo servidor municipal. Buscava o rapaz estar com uma virgem no interior do campo santo talvez por trás de uma tumba ou coisa assim. Disso, o moço não sabia da forma como se deu a tragédia inconsequente. E nem mesmo a hora e como foi isso ocorrer. Ele buscava enxergar melhor, pelo escuro feito no cômodo onde adormecera e a diva Tâmara nem sequer ajustara a luz para ter ele a certeza no qual tornara a acordar tão de repente.
Tâmara:
--- Acorda homem! Estas a dormir ainda? – falava exaltada a bela mulher.
Canindé:
--- Como? Que disse? Onde estou? – falou com precaução.
Tâmara:
--- Aqui Shane! Aqui, olhe? Acorda! Diz o que houve? – falou alarmada e acendendo a luz.
O rapaz Canindé ficou meio desperto e calado procurando saber no que sonhou àquela tardia hora da noite escura e mortal. Tivera ele, sim, um sonho, o qual não sabia mais nem um pouco, na verdade, do que pensara. Ele estava aturdido a ajuizar apenas nos casos arrepiadores da pobre vida tida em alhures. O vento frio da noite começava ou continuava a soprar com o uivo da plena e esquisita antemanhã. Ouvia-se apenas açoitar o abençoado momento da sagração da primavera. Toques mágicos a açoitar coisas banidas no sertão da beira mar. Era tudo tão melancólico e quieto onde o uivar de um felino não fazia o efeito dito longe. Na noite calma do breve amanhecer o rapaz despertou de vez.
Canindé:
--- Sonho. Na verdade tive um sonho. Não sei o que eu sonhava. No entanto era, na verdade, um sonho amargo e dorido a me acudir constante. – relatou o rapaz a delirar.
A Dama logo em tempo sorriu baixinho a entender o passado do dia. E Tâmara indagou sem pressa ao rapaz o que sonhara.
Tâmara:
--- Do que sonhou você, Shane? – perguntou e sorriu baixinho.
Canindé refletiu apenas para dizer:
Canindé:
--- Não sei. Apenas deve ter sido um sonho não tão ameno. Sabe? Eu, agora recordo alguns momentos derradeiros nos quais eu passei em dias outros. Não deve ter havido momentos de ligação, penso eu. Apenas vertiginosos momentos. Um dia desses, eu estava com um amigo a visitar um Cemitério. Eu estava apenas naquele local dentro de minhas incertezas da vida. E o meu amigo entrou em uma profunda desavença com si próprio. O túmulo de um parente seu, havia sumido do local. Desaparecera, então. O meu amigo ficou como um louco em todo aquele instante. Foi nisso que eu pensei. – relatou com calma.
O jovem dissera mais um pouco sobre o sucedido. Cemitérios são negócios do passado. Não se tem mais notícias de uma nova necrópole. Os políticos não pensam em abrir novos cemitérios. Esse negócio de mortos não dá renda. Não chama votos. Não é futuro para quem vive. Apenas, nos dias de Finados se procura um local como o consequente. Pensava, Canindé, em um futuro próximo ou mesmo distante, em se acabar com esses negócios de campo santo. Construiriam prédios solenes em tais locais, como já há em outros países. Prédios suntuosos. E não se saberia dizer ter sido naquele local um verdadeiro campo santo. Edifícios com bares, boates, brinquedos infantis entre outras coisas comuns. Nos finais de semana haveria naquele prédio um chamado “rendez-vous” para a diversão dos comensais. Carros a passar. Gritaria delirante. Beijos eternos ao luar. Na verdade, tais beijos poderiam ser traduzidos em suaves colóquios ao clarão da Lua.  Tudo isso era o mais simples da adiantada moda. Nada de mortes. Nada de solidão. Aliás, apenas essa solidão haveria de surgir ao amanhecer quando as cabeças dos notívagos tornavam-se apenas um vazio longo e dolente no peito amado e inconstante. Nada haveria de necrópole. Nada não.
Canindé:
--- É o que eu suponho. Acabar com a desilusão de morrer. Quem morre, acaba. É isso. Morrer? Pra que morrer? Quem está morto é porque já viveu um dia. Construir cemitérios? Isso é uma falácia. É o que eu digo. – comentou surrando.
Tâmara:
--- Justo! Não tem mais sentido em se fabricar Cemitérios. O negócio é cremar e despejar as ossadas em forma de cinzas nas águas do mar. E se não tiver mar, nas capoeiras. – sorriu.
Canindé:
--- E nos locais onde teimam em se enterrar os mortos, é se construir habitações modernas, cheias de luxo e requinte. Ora! Vai pra merda com essa estória de defunto! Depois de uma semana, ninguém se lembra mais de quem foi! E acabou o negócio. – falou suave.
A calmaria se refez em plena madrugada. Enfim, veio o sono aplacador até o amanhecer. Sinais do tempo. O tempo e o vento a abrandar a solidão de todos os entes. Era a vez de sonhar mais um pouco. Homens a trajar de fêmeas e sair com o seu parceiro, na verdade uma mulher, a voltear nas alegres e insípidas ruas de uma qualquer cidade. Loucura atroz. Delírio irônico. Casos de amar sem a mínima solução de enlace perpétuo e extravagante.
Canindé:
--- Horas? – perguntou sonolento
Tâmara:
--- Quase oito. É tempo de correr à praia. – sorriu a Dama de Cetim.
Canindé:
--- Praia! Onde estão as nuvens da quimera? – indagou sem emoção.
Tâmara:
--- Ao banho. Levanta! Já é hora. – sorriu a Dama a caminhar quarto afora. 



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