quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O INFERNO - 47 -

- Simone Guttierrez -

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ESQUECER

Canindé divagou e previu não ser Succubus o plural. Mas não teceu nova pergunta. Ele quis apenas saber o significado dessa forma de falar. Por algum breve tempo a jovem moça teceu comentário a esse assunto. Mesmo assim o rapaz não levou em conta e acabou por esquecer de vez. E desse instante em diante, a cabeça de Canindé voltou à carga e se lembrou da palavra quando novamente indagou. E obteve resposta.
Tâmara:
--- Querido. Eu vou te explicar. Súccubu vem do latim. É um mito de demônio com aparência feminina. Esse Succubus invade o sonho dos homens a fim de ter uma relação sexual com eles e lhes roubar a energia vital. Em lendas medievais, um súccubus que no plural é succubi é apenas a mulher a sedutora dos homens. Ou seja: uma rameira, dama da noite ou simplesmente “puta” para você entender melhor. – explicou a ninfa.
O rapaz ficou aturdido com a explanação de Tâmara se inquietando sobremaneira pois não supunha desse modo. Para Canindé seria uma coisa maior como um demônio propriamente dito e não um ser vulgar. E foi a desforra:
Canindé:
--- Então por que não se diz ser uma mulher da vida? – indagou com o rosto franzido.
A moça responde com vagar.
Tâmara:
--- Querido. Esse nome é um mito. Ele na verdade inexiste. Quando um homem de mais idade sonha com um “demônio” sugando o seu tormentoso ser, como sugando as suas energias, diz-se que ele está sob a influência de um ser diabólico. Isso era pregado sempre para os idosos padres no tempo da inquisição. O ancião olhava aquela bela e estonteante mulher capaz de lhe tragar todas as energias, então se culpava como sendo um ser demoníaco, ou seja, um súccubus.  – falou com lucidez.
Canindé:
--- Quer dizer que ela não existe? – quis saber.
Tâmara:
--- Em parte, não. Mas mulher existe. Veja bem. O homem vai ao prostibulo fica com a dama. Então ele está gozando o seu prazer. A dama pede uma gorjeta e ele dá. De outra vez, ele dá ainda mais. Com o tempo os dois perpetuam uma amizade. Veja bem o sentido do caso: a questão é não ser uma rameira. E sim uma mulher divorciada ou até mesmo casada. O homem vai de encontro aquela mulher. E há a sedução. A mulher – bem casada – gosta do amante. E daí se forma o conúbio.  Então? Foi mais fácil de entender? – sorriu.
Canindé:
--- Ora porras!!! Isso pode acontecer até agora? Mulher casada? – perguntou em desespero.
Tâmara:
--- Isso acontece até comigo ou com você! – sorriu a dama.
Canindé:
--- Não! Comigo não! – descartou de imediato.
Tâmara:
--- E eu estou servindo de que para você? – perguntou sorrindo.
Canindé:
--- Bem! Mas a gente vai se casar! – foi claro.
Tâmara:
--- Vai? Você garante? E eu? – indagou consciente.
O rapaz se encurvou no assento do carro e ficou a meditar. Após um bom pedaço de tempo o rapaz se desvencilhou de suas algemas psicológicas e respondeu:
Canindé:
--- Eu pensava que você queria. – disse ele em voz cautelosa.
Tâmara:
--- Sim. Você pensou. Mas não me perguntou! – retrucou.
Canindé:
--- Então? Você quer ser minha esposa? – quis saber de verdade.
Tâmara:
--- Ah. Agora você perguntou. E o que eu digo? Sim? – sorriu a mulher.
Canindé:
--- E eu sei! Espero que você diga “sim”. Do contrário “reiou” tudo. –disse o homem amuado.
Tâmara:
--- Pois bem. Eu vou pensar! – sorriu a mulher.
Canindé:
--- Ainda tem que pensar? – quis saber.
Tâmara:
--- É uma decisão de muitos erros ou acertos. Por isso, eu tenho que pensar! E se eu já sou casada com outro alguém? – quis saber a sorrir.
Canindé:
--- Não! Você não faria isso comigo ou com o outro! -  respondeu impaciente. 
E Tâmara gargalhou de veras.
Quanto chegaram a casa de Canindé eles saltaram e foram direto para a sala de visita onde estava o pai do rapaz a ouvir o noticiário do rádio, como sempre fazia. Naquela noite ele esteve em falta com a Casa Espírita onde estava habituado a frequentar nas noites de sessão. Racilva, a sua irmã, também não fora por causas das vertiginosas regras onde a moça sentia dores terríveis e então ficava em seu quarto de dormir. A mãe de Canindé apareceu à porta e cumprimento a dama por ser aquela a primeira visita. Tâmara aceitou os cumprimentos e ali ficou com o seu namorado. Eles conversaram sobre tudo ou sobre nada com o ancião Cosme a admirar a estonteante formosura da estonteante Tâmara. Porém, Cosme nada falou, pois a sua mulher estava presente e se houvesse algum atrito, certamente a vassoura partia em sua cabeça com já foi quebrada por demais vezes. E Canindé, formalmente passou as alianças do dedo de Tâmara ao falar ser daquele instante comprometido com a ninfa, uma dama maravilhosamente esplêndida. O pai de Canindé ajudou a pôr o anel ne dedo da ninfa pois em toda sua vida jamais tivera a oportunidade de observar tão esplendorosa nubente. E a conversa demorou por largas horas da noite. Após esse tempo já era a hora de sair. E a moça com Canindé partiram para as sóbrias ruas de sua cidade.
oOo
À meia noite Aloísio tomou atitude. Não podia mais aguentar a sua vida com temor constante. O súccubu era o demônio. Ele então já estava a conhecer. E não podia dizer coisa alguma à sua esposa. A mulher dormia a sono solto. Aloísio ficou bem mais preocupado. E apenas tinha um jeito. O padre esteve em sua residência e ainda ficou de retornar. Mas esse caso não tinha solução alguma. E Aloísio lembrava-se da mulher. Era súccubu, certamente. Ele já não podia mais suportar tanta angustia. Em um passo decisivo, o rapaz tomou a decisão.
Aloísio:
--- E agora ou nunca! – pensou o rapaz.
Tao de repente como uma serpente ele pendurou um laço feito com uma corda e colocou em seu pescoço. Foi apenas uma vez. A cair, ele apenas estrebuchou e nada mais. Não teve tempo nem mesmo de gritar. Suas mãos se encresparam com a ação de procurar desatar a corda. Mas o tempo era diminuto. Em alguns segundos o homem estava morto. De manhã, quando acordou, a mulher viu a macabra cena e terrivelmente alarmou com os seus fixos no cadáver de seu marido. As mãos da mulher estavam tal como embranquecidas e ela apenas gritava.
Mulher:
--- Socorro! Acudam-me! Aloísio! – disse isso em um forte grito a redundar todo o espaço
Em poucos minutos o quarto de Aloísio estava cheio de gente da casa. Cada um que gritasse mais e mesmo assim, o homem jazia sem vida. Com um brusco empenho, o cunhado afrouxou a corda do suicida e esse caiu ao solo. Nada mais restava fazer.
Cunhado:
--- Morto! – relatava o cunhado com olhar em espanto
Foi uma manhã inglória. Era uma tristeza geral entre os familiares. A mãe de Aloísio era a mais sentida a falar de uns demônios a atormentar seu filho ao longo do tempo. Se não fossem os tais demônios ele estaria vivo, pois sempre foi um bom rapaz. Desde menino Aloísio conversava em casa sobre demônios, era o que alegava a sua mãe.

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