- Paola Oliveira -
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TRESMALHOS
Tresmalhar é deixar fugir das
malhas. O mesmo que dispersar ou espalhar. Dizer ter a vaca a se perder do
bando. E foi assim que José Caco se perdeu a procura de uma rês dispersada há
três dias ou mais quando se ausentou do seu bando. Ele buscou por toda a
caatinga do sertão e nada encontrou. A vaca não estava amojada e o homem não
acreditava em picada de cobra, caso incerto no sertão naqueles idos do
inclemente verão de terras do Nordeste. A propriedade era o mundo todo
pertencente a herdeiros de uma portuguesa conhecida de velhas datas como sendo
“a duquesa” pois seu esposo havia tido o título de Duque. O homem foi ao túmulo
ainda em Portugal e sua esposa migrou para o Brasil em datas de 1700. Portanto,
a rês era de propriedade da senhora Duquesa, mesmo sendo ela extinta cuja morte
sobreveio nos idos do século 18. Ainda tendo falecido há bom tempo o seu nome
continuou períodos a fios. E buscar uma rês de propriedade de herdeiros da
“Duquesa” era um título a se esquadrinhar por ordem das Sagradas Escrituras.
Esse título era de efeito inominável. A própria Igreja (católica) ainda
naquelas eras dedicava um ponto alto em nome da senhora “duquesa” cujo nome era
Adelaide de Lavardes, uma ocorrência incomum nos momentos atuais.
E o vaqueiro José Caco
perambulava de mato a dentro em busca da tresmalhada rês quando, de repente,
surgiu a sua frente um vulto de senhora. O cabelo de Caco ficou eriçado e de
imediato procurou fugir com tamanho espanto de morte. E a voz indagou:
Voz de dama:
--- Que buscais? – indagou solene
a senhora dama.
O homem quedou-se atônito sem
sabe o que falar diante de tal secular nobreza. Passaram-se séculos na mente de
Caco para ele então recobrar o sentido e responder:
Caco:
--- Uma vaca tresmalhada, minha
nobre senhora! – respondeu o mancebo a tremer de receio.
A nobre senhora o observou de
cabo a rabo e, por fim, falou com a sua voz vibrante.
Dama:
--- Vós já procurastes em todo o
recanto? – indagou solene.
O vaqueiro temendo se borrar de
medo, angustiado por se topar com uma dama em pleno sertão nordestino, onde o
calor imperava e onde a caça era diminuta, assim mesmo respondeu.
Caco:
--- Minha senhora, eu procuro
“derna” dois dias consecutivos e não encontro a vaquinha! – responde cheio de
receio.
A augusta senhora parecendo subir
em uma carruagem de ouro enfim, respondeu ao humilde vaqueiro.
Dama:
--- Vós procurastes no Raso do
Aleixo? No local hás de encontrar, pois a areia movediça não permite à rês se
locomover. - relatou a nobre senhora.
E então o vulto de imediato
sumiu. E o jovem José Caco, violentamente desmaiou de susto.
Passaram-se horas, talvez dias
ou, quem sabe, meses e anos para o rapaz despertar do incomodo desmaio tido ao
sol pegando fogo. Quando ele despertou do incomodo desfalecimento, procurou em
sua volta e nada pode observar. Uma nuvem passageira fez o recordar de fato.
Naquela direção existia um Raso onde ninguém se aventurava ir. No meio do mato
de alturas amplas estava em seu círculo um pouco de terra, provavelmente úmida
se carência de chuva. Era naquele local haver o tal chamado Raso provavelmente
do Aleixo. Ele não sabia a origem do nome. Mas obedeceu a ordem da senhora dama
e seguiu em frente, bem mais longe do que se pensava e para se chegar
atravessava-se leito secos de rios, subia-se montanhas para se poder chegar ao
seu destino:
Caco:
--- Bixinha maluca. Como veio parar
nesse fim de mundo? – argumento o moço com os seus meros botões.
E alí estava a rês. Era atolada
até a barriga. O moço coçou a cabeça para ter uma ideia de como era preciso
para desatolar aquela vaca. Sol causticante e nem ave de rapina suportava. A areia
pegava uma ampla extensão de terreno e para se chegar no meio teria de haver um
motivo:
Caco:
--- Por que essa besta foi se
meter onde não cabe? – coçou o mano a cabeça.
Por aquelas terras não parecia
nenhum paciente para poder ajudar. Ele olhou em volta e nada pode observar. De
repente, como se fosse um encanto, ele observou caído em um caminho um
suficiente laço de corda. Ele foi observar o seu tamanho e dava certo para
puxar a rês. Mas, que colocou aquela corda no meio do caminho? :
Caco:
--- Senhora! Quem colocou essa
corda no meio do mato? – o rapaz ainda assim indagou.
Não houve voz em resposta. Apenas
o silvo do vento morno e quase quente abafava o suplício do desejo do
determinado vaqueiro. E o moo olhou em torno para verificar o ambiente então mete
as mãos na obra: Amarrou uma ponta da corda do seu cavalo e fez um laço na
outra ponta assegurando-se da sua firmeza de puxar o animal em desalento.
Caco:
--- Não tem pressa. Aguarde! –
falou com mansidão o vaqueiro para a sua rês.
Em resposta ele recebeu um mugido
da vaca. E o vaqueiro respondeu em troca.
Caco:
--- Não se avexe. – responde com
a cara amarga e o laço em volta a cobrir a sua cabeça.
Mais parece sorto. Foi apenas uma
vez. O laço cruzou o espaço e caiu de pronto em cima do pescoço da res aflita.
E toda a puxar. Devagar, no início. E apressado já pelo fim do puxavanque. Foi
uma tormenta infernal. A vaca mugia, o cavalo escoiceava, o vaqueiro lhe batia
com o rebenque de modo ao animal seguir a frente e toma tempo. E tempo e mais
tempo. Esse areal em deserto é por muito diferente do pensar de maioria do
povo. Não se desaparece na areia movediça. As camadas finas de areia tragam os
animais até a metade do seu corpo. Uma rês não consegue se mover e fica presa
até um alguém chagar para colher o bicho bruto. Esse foi o segredo desvendado
por José Caco. Ao cabo de um quarto de hora a vaca estava totalmente solta do
atoleiro. Ainda cansada pelo terror de não se mover a contento, a vaca apenas
mugia em todas as direções como a pedir socorro. O aparecimento do vaqueiro deu
novo ânimo a vaca por ver chegar alguém para desatolar-lhe por completo. Caco,
o vaqueiro, em seguida falou com muito sentimento:
Caco:
--- Obrigado minha senhora Dama.
Muito obrigado. – falou chorando o moço a retirar da cabeça o seu chapéu.
À boca da noite o vaqueiro chegou
a fazenda trazendo a reboque a rês tresmalhada desde o início da semana
acompanhada por seu cavalo “Andarilho, ele suado de monta com uma história a
contar. Em torno de José Caco estavam reunidos todos os outros “compadres” a
querer saber onde ele encontrou a rês. Ele contou uma história a qual ninguém
acreditava, por certo. Acreditava-se ser o homem um louco varrido a descrever
tal desespero. E todos caíram na gargalhada pois de outro jeito não se esperava
nem um tanto. Mesmo estado em estado de desesperança José Caco ainda notou a
presença de uma mulher, mais parecida com uma dama, na soleira da casa grande.
O rapaz foi até onde estava a Dama, vestida com apronto, bem alta e forte capaz
de se louvar por longos tempos. Ao chegar à soleira da habitação, ele viu a
mulher sorrir e então desaparecer por completo. Certo temor se acercou de José
Caco, porém então agradeceu a Jesus entender ser nem tudo necessário de se
contar. Um rapaz, filhos de um dono da fazenda ainda estava por sair quando
indagou:
Rapaz:
--- Onde está a vaca tresmalhada?
– indagou o rapaz.
Ele, José Caco, apenas respondeu.
Caco:
--- No curral, meu senhor. No
curral. – disse o moço
Rapaz:
--- Ah bom. Já pensava no pior. –
falou o belo moço
Então José Caco saiu a procura de
algum serviço para ele inventar. A senhora Dama só podia ser a dona daquilo
tudo a estar ao desalento, desde um mourão a outro. Por certo deveria ter sido
a Duquesa Adelaide de Lavardes, mulher bastante endinheirada e dona de um
mundão terras. Certamente. Certamente. Na noite em que ele salvou a rês, teve
um sonho inquietante. José Caco despertou com muito medo procurando acender o
lampião a carbureto para olhar todo o resto do seu dormitório. Porém, nada
houve a contar. Mesmo se houvesse, ele já não contaria a ninguém. José Caco
apenas sorriu e voltar a cair no sono tranquilo e calmo como se nada houvesse
para acordá-lo. Na verdade, era o fim da rês tresmalhada, certamente, naquela
hora a repousar no seu curral.
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