sábado, 15 de novembro de 2014

À LUZ DA LUA - 13 -


- Paola Oliveira -

- 13 -

TRESMALHOS

Tresmalhar é deixar fugir das malhas. O mesmo que dispersar ou espalhar. Dizer ter a vaca a se perder do bando. E foi assim que José Caco se perdeu a procura de uma rês dispersada há três dias ou mais quando se ausentou do seu bando. Ele buscou por toda a caatinga do sertão e nada encontrou. A vaca não estava amojada e o homem não acreditava em picada de cobra, caso incerto no sertão naqueles idos do inclemente verão de terras do Nordeste. A propriedade era o mundo todo pertencente a herdeiros de uma portuguesa conhecida de velhas datas como sendo “a duquesa” pois seu esposo havia tido o título de Duque. O homem foi ao túmulo ainda em Portugal e sua esposa migrou para o Brasil em datas de 1700. Portanto, a rês era de propriedade da senhora Duquesa, mesmo sendo ela extinta cuja morte sobreveio nos idos do século 18. Ainda tendo falecido há bom tempo o seu nome continuou períodos a fios. E buscar uma rês de propriedade de herdeiros da “Duquesa” era um título a se esquadrinhar por ordem das Sagradas Escrituras. Esse título era de efeito inominável. A própria Igreja (católica) ainda naquelas eras dedicava um ponto alto em nome da senhora “duquesa” cujo nome era Adelaide de Lavardes, uma ocorrência incomum nos momentos atuais.
E o vaqueiro José Caco perambulava de mato a dentro em busca da tresmalhada rês quando, de repente, surgiu a sua frente um vulto de senhora. O cabelo de Caco ficou eriçado e de imediato procurou fugir com tamanho espanto de morte. E a voz indagou:
Voz de dama:
--- Que buscais? – indagou solene a senhora dama.
O homem quedou-se atônito sem sabe o que falar diante de tal secular nobreza. Passaram-se séculos na mente de Caco para ele então recobrar o sentido e responder:
Caco:
--- Uma vaca tresmalhada, minha nobre senhora! – respondeu o mancebo a tremer de receio.
A nobre senhora o observou de cabo a rabo e, por fim, falou com a sua voz vibrante.
Dama:
--- Vós já procurastes em todo o recanto? – indagou solene.
O vaqueiro temendo se borrar de medo, angustiado por se topar com uma dama em pleno sertão nordestino, onde o calor imperava e onde a caça era diminuta, assim mesmo respondeu.
Caco:
--- Minha senhora, eu procuro “derna” dois dias consecutivos e não encontro a vaquinha! – responde cheio de receio.
A augusta senhora parecendo subir em uma carruagem de ouro enfim, respondeu ao humilde vaqueiro.
Dama:
--- Vós procurastes no Raso do Aleixo? No local hás de encontrar, pois a areia movediça não permite à rês se locomover. -  relatou a nobre senhora.
E então o vulto de imediato sumiu. E o jovem José Caco, violentamente desmaiou de susto.
Passaram-se horas, talvez dias ou, quem sabe, meses e anos para o rapaz despertar do incomodo desmaio tido ao sol pegando fogo. Quando ele despertou do incomodo desfalecimento, procurou em sua volta e nada pode observar. Uma nuvem passageira fez o recordar de fato. Naquela direção existia um Raso onde ninguém se aventurava ir. No meio do mato de alturas amplas estava em seu círculo um pouco de terra, provavelmente úmida se carência de chuva. Era naquele local haver o tal chamado Raso provavelmente do Aleixo. Ele não sabia a origem do nome. Mas obedeceu a ordem da senhora dama e seguiu em frente, bem mais longe do que se pensava e para se chegar atravessava-se leito secos de rios, subia-se montanhas para se poder chegar ao seu destino:
Caco:
--- Bixinha maluca. Como veio parar nesse fim de mundo? – argumento o moço com os seus meros botões.
E alí estava a rês. Era atolada até a barriga. O moço coçou a cabeça para ter uma ideia de como era preciso para desatolar aquela vaca. Sol causticante e nem ave de rapina suportava. A areia pegava uma ampla extensão de terreno e para se chegar no meio teria de haver um motivo:
Caco:
--- Por que essa besta foi se meter onde não cabe? – coçou o mano a cabeça.
Por aquelas terras não parecia nenhum paciente para poder ajudar. Ele olhou em volta e nada pode observar. De repente, como se fosse um encanto, ele observou caído em um caminho um suficiente laço de corda. Ele foi observar o seu tamanho e dava certo para puxar a rês. Mas, que colocou aquela corda no meio do caminho? :
Caco:
--- Senhora! Quem colocou essa corda no meio do mato? – o rapaz ainda assim indagou.
Não houve voz em resposta. Apenas o silvo do vento morno e quase quente abafava o suplício do desejo do determinado vaqueiro. E o moo olhou em torno para verificar o ambiente então mete as mãos na obra: Amarrou uma ponta da corda do seu cavalo e fez um laço na outra ponta assegurando-se da sua firmeza de puxar o animal em desalento.
Caco:
--- Não tem pressa. Aguarde! – falou com mansidão o vaqueiro para a sua rês.
Em resposta ele recebeu um mugido da vaca. E o vaqueiro respondeu em troca.
Caco:
--- Não se avexe. – responde com a cara amarga e o laço em volta a cobrir a sua cabeça.
Mais parece sorto. Foi apenas uma vez. O laço cruzou o espaço e caiu de pronto em cima do pescoço da res aflita. E toda a puxar. Devagar, no início. E apressado já pelo fim do puxavanque. Foi uma tormenta infernal. A vaca mugia, o cavalo escoiceava, o vaqueiro lhe batia com o rebenque de modo ao animal seguir a frente e toma tempo. E tempo e mais tempo. Esse areal em deserto é por muito diferente do pensar de maioria do povo. Não se desaparece na areia movediça. As camadas finas de areia tragam os animais até a metade do seu corpo. Uma rês não consegue se mover e fica presa até um alguém chagar para colher o bicho bruto. Esse foi o segredo desvendado por José Caco. Ao cabo de um quarto de hora a vaca estava totalmente solta do atoleiro. Ainda cansada pelo terror de não se mover a contento, a vaca apenas mugia em todas as direções como a pedir socorro. O aparecimento do vaqueiro deu novo ânimo a vaca por ver chegar alguém para desatolar-lhe por completo. Caco, o vaqueiro, em seguida falou com muito sentimento:
Caco:
--- Obrigado minha senhora Dama. Muito obrigado. – falou chorando o moço a retirar da cabeça o seu chapéu.
À boca da noite o vaqueiro chegou a fazenda trazendo a reboque a rês tresmalhada desde o início da semana acompanhada por seu cavalo “Andarilho, ele suado de monta com uma história a contar. Em torno de José Caco estavam reunidos todos os outros “compadres” a querer saber onde ele encontrou a rês. Ele contou uma história a qual ninguém acreditava, por certo. Acreditava-se ser o homem um louco varrido a descrever tal desespero. E todos caíram na gargalhada pois de outro jeito não se esperava nem um tanto. Mesmo estado em estado de desesperança José Caco ainda notou a presença de uma mulher, mais parecida com uma dama, na soleira da casa grande. O rapaz foi até onde estava a Dama, vestida com apronto, bem alta e forte capaz de se louvar por longos tempos. Ao chegar à soleira da habitação, ele viu a mulher sorrir e então desaparecer por completo. Certo temor se acercou de José Caco, porém então agradeceu a Jesus entender ser nem tudo necessário de se contar. Um rapaz, filhos de um dono da fazenda ainda estava por sair quando indagou:
Rapaz:
--- Onde está a vaca tresmalhada? – indagou o rapaz.
Ele, José Caco, apenas respondeu.
Caco:
--- No curral, meu senhor. No curral. – disse o moço
Rapaz:
--- Ah bom. Já pensava no pior. – falou o belo moço
Então José Caco saiu a procura de algum serviço para ele inventar. A senhora Dama só podia ser a dona daquilo tudo a estar ao desalento, desde um mourão a outro. Por certo deveria ter sido a Duquesa Adelaide de Lavardes, mulher bastante endinheirada e dona de um mundão terras. Certamente. Certamente. Na noite em que ele salvou a rês, teve um sonho inquietante. José Caco despertou com muito medo procurando acender o lampião a carbureto para olhar todo o resto do seu dormitório. Porém, nada houve a contar. Mesmo se houvesse, ele já não contaria a ninguém. José Caco apenas sorriu e voltar a cair no sono tranquilo e calmo como se nada houvesse para acordá-lo. Na verdade, era o fim da rês tresmalhada, certamente, naquela hora a repousar no seu curral.

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