sexta-feira, 28 de novembro de 2014

À LUZ DA LUA - 24 -

- Angelina Jolie -
- 24 -

QUASE MUDO

Foi a sim que se deu. Patrício era aluno do Grupo Escolar onde frequentava as aulas dia sim e dia não. O case era por conta do desatino do garoto. Quando a sua mãe reclamava porque não teve aula, Patrício sempre dizia:
Patrício
--- O professor faltou. – relatava.
Sempre quem levava a culpa era o tal do professor. Ou estava ele doente, ou teve reunião dos mestres, ou era feriado, ou simplesmente o professor era o ausente. Isso, ele – Patrício – dizia à sua mãe para depois ir bater pelada com os outros arruaceiros do bairro. Na tabuada Patrício não passava da primeira lição.
Professor:
--- Um mais Um? – perguntava.
E Patrício respondia na certa:
Patrício:
--- Minha caderneta está rasgada, professor. – respondia o garoto se recostando da carteira aonde podia ficar lá em baixo do móvel
Quem procurava ver o menor, só a penugem do cabelo na cabeça. E era assim, eu quase todas as aulas quando ele comparecia. A desculpa dada ao mestre: “meu pai está doente. Minha mãe foi ter menino. Minha avó chegou da feira já muito tarde.” E não raro não tinha desculpas. Certa vez Patrício reclamou da chuva. De outro ponto foi a maré enchendo. E qualquer coisa inútil, pois seu casebre ficava no alto do morro e nem havia mar a passar por perto. O riso comia frouxo com as desculpas do menor. Quando a molecada sorria, Patrício se virava e manda ver:
Patrício
--- Pois vá ver! - e emburrado ficava.
Já bem adiantado do ano, chegou a vez da prova final. Todos foram perguntados. As eram quase sempre acertadas. A última ficou para Patrício. E o professor empertigado formulou a questão um tanto difícil para todos os alunos. E fez:
--- Atenção para a questão. Falta apenas Patrício. Vamos ver se responde. Quem era o aleijado que dormia da torre da Catedral de Paris? Isso foi descrito por Victor Hugo e debatido em classe por vários dias. Eu quero saber qual era o nome do personagem centrar da novela! Vamos! Responda! – falou bravo
A classe toda emudeceu à espera da resposta a ser dada por o aluno travesso. O professor batia com a régua no birô pedindo silencio:
Professor:
--- Silencio na classe! Todos quietos! Não quero ouvir barulho! – reclama a toda prova.
E o menino, acovardado, se baixou em sua carteira por não querer dizer o verdadeiro nome do personagem. Um aluno, sentado atrás, sugeriu baixinho a Patrício para dizer o nome do corcunda de nascença que habitava o campanário da Catedral de Notre Dame, famosa por sua monumental arquitetura.
Colega:
--- Diga: Quasimodo. – sugeriu o amigo de trás.
E o mestre, já enervado, com a sua régua na mãe voltava a pergunta e, empertigado, dizia.
Professor:
--- Vamos! O Nome! Depressa! – relatava malcriado.
E Patrício ouvindo o nome do corcunda, por fim disse, mas sem saber:
Patrício
--- Quase Mudo! – respondeu o garoto com sua voz minúscula.
Professor:
--- Como? – perguntou enervado com a régua batendo da mão
A classe toda quase cai na gargalhada. Pelo visto, o garoto teria quase acertado a resposta. Foi uma confusão desesperada. Toda a classe se levantou para abraçar o paladino. Eram hurras para cá eram assobios para lá. Toda a classe em desvario. E o Professor desnorteado sem saber o que fazer com toda essa meninada. A galera assobiava de contentamento e foi segurar o colega nos braços a sair da sala de aula em procissão aclamando o acerto à questão pois nenhum garoto tinha o crédito de assumir tal expressão. Os demais alunos das outras classes, a ouvir o grito de guerra, se enturmavam ao primeiro grupo. E assim foi seguido pelas outras classes a sair pela rua com o Patrício nos braços e esse a sorrir de contentamento, pois, enfim acerta na última questão do final do ano. Era uma algazarra total. As cantorias a modo de um alegre carnaval enfeitavam a molecado por todo o percurso por onde passava. Hurras e mais hurras eram detonadas para a alegria de todos. Na porta do Grupo, os professores acorreram e depressa procuravam saber o sentido do ocorrido. E o professor da classe de Patrício, só tinha a ditar.
Professor:
--- Foi um negócio impressionante! Ele acertou a questão. – declarou o mestre sem saber o que mais dissesse.
Improvisaram-se bandas de músicas para festejar a anarquia dos destemidos alunos. O caso virou em um verdadeiro carnaval envolvendo todo o restinho da manhã.

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