terça-feira, 11 de novembro de 2014

À LUZ DA LUA - 09 -

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URUBU REI

João de Noca era menino quando ouviu falar na existência do Urubu Rei. Desde então, João de Noca ficou impressionado com esse tipo de ave de rapina. E menino mesmo ele buscou a olhar a espécie a voar nas alturas, indo bem mais do que as aves daninhas caçadoras de animais já em estado de decomposição. Popularmente ditos: animais mortos. Certa vez, João de Noca olhou para um cerco de urubus e então alí estava um urubu por demais mais social a estraçalhar o couro de um cavalo se bem João se lembrava. A carniça já era por demais nauseabunda a qual não se podia nem mesmo olhar. Como não era visível a todos, pois havia quase nenhuma pessoa a passar por perto o bicho morto era mesmo despedaçado pelo o rei dos urubus. E o rapaz ficou a olhar aquela cena por demais preocupante como se tudo aquilo fosse um festim diabólico. As demais aves de rapina se postavam ao longe, todas em círculos, de cabeça abaixada como a ofertar o mangar à sua excelência o Rei. E esse esfolava o couro do cavalo para lhe arrancar as tripas da carcaça do podre animal.  Aquilo era um caso incomum onde todos os abutres faziam a reverencia à sua majestade, o urubu rei. Havia a dança em torno da vítima sendo feita pela as demais aves daninhas. Uma espécie de cortejo fúnebre onde a música era o cruento gorgolejar em torno da carniça do velho quadrupede. E uma dança se fazia ao som daquela macabra cena de horror. João de Noca observava tudo em silencio a tapar as narinas para não sentir o ofegante e horroroso aroma fétido daqueles animais de negras penas.
O batido tão horrendo das aves de rapina, naquela hora, continuava a acudir as batidas das trucidas pernas de cada um a bailar de forma ofegante como um gesto de respeito e consenso. Era então uma valsa funérea em respeito ao cadáver do equino morto a lhe servir então de repasto social. O urubu rei se postava naquele instante como sua majestade, o imperador. Com sua cor vermelha em torno do seu avarento bico, ele traçava a carcaça do pútrido animal para o gozo dos demais carniceiros abutres que continuavam a bailar em seu banquete ferino. Era a fazer a sua dieta carnívora a ave de rapina com o seu cadáver. Uma espécie de exéquias onde a extrema unção era o estraçalhar do couro do amigo morto. Aquela encomenda fúnebre era toda seguida pelo pobre rapaz naquela hora tardia da morte.
João:
--- Que horror! – alertou o rapaz ao ver tal fúnebre cena  
E o banquete prosseguia ao som do bailar frenético das aves carnívoras a improvisar folia louca. O som lúgubre de cada qual era da carniça o jantar animal. Cauteloso como sempre o urubu esperou por mais de uma hora para atacar a sua presa já morta em estado de decomposição. O odor horrível da morte do quadrupede era o cheiro delicado a chegar às narinas do abutre. Como a sorrir com a sua festa, sem a menor forma de piar, o rei dos abutres apenas esticava as partes sedentas do morto. Entre as outras aves o Rei consumia aquilo que mais lhe servia. Era uma autentica batucada à batuta do maestro. A cada partida das benditas aves João de Noca, por demais curioso, ouvia entretido e inquieto como também se quisesse entrar na infausta dança dos pássaros.
De barriga cheia, o Urubu Rei, exalava um cheiro forte, ardente e repugnante. Àquela hora era exatamente o ensejo do maestro da corte voltear para o espaço, no caso nada mais tinha a ser feito. E os demais abutres entravam na contenda da dança escusa. E partia dali, em seguida, para pousar nas árvores mais altas da mata o nobre e eloquente velho abutre. Empoleirado em um galho, sempre no mesmo lugar, a ave, daquele ponto, se esquecia do tempo. Tudo o que havia de fazer era repousar até a fome lhe apertar novamente. Era quando a ave de rapina se enfeitava para outra corrida da serventia fatal.
João de Noca partiu do seu local a imaginar de tudo o que a ave teceu em torno dos demais abutres quando ele abrir os seus portões da tormenta. Ao chegar no Mercado, o rapaz se encontrou com um velho amigo e pode contar toda a vista história.  E foi expondo toda a narrativa que o rapaz chegou ao ponto final ao afirmar ser o urubu rei uma ave já em extinção dado ao pouco número existente no sertão onde habita de modo particular as outras aves predadoras, como o carcará e o urubu comum, esses bem magro, todo de pena escura e uma perna a mancar, por sinal. O Urubu Rei, não. Esse tem cabeça e pescoço nus, é pintado de vermelho, amarelo e alaranjado; a parte superior do corpo e de um amarelo-clara, esbranquiçada, asas e cauda pretas; o lado inferior é branco, com uma plumagem branca e negra. É um predador natural. Devido a degradação do seu habitat natural, é uma espécie cada vez mais rara de se observar.
João:
--- E foi assim que encontrei o predador. Ele voa alto. Estima-se ser o seu voo próximo a 400 metros. – relatou sem dúvida.
Amigo:
--- É certo. No meu tempo de floresta, eu observei muito dessas aves predadoras. Elas procuram as de maior porte quando estão a caçar. – fez ver.
João:
--- Elas são chamadas de “bico de carne”! – gargalhou.
Amigo:
--- Para você ver. É por conta de ser vermelho o apêndice que reveste parte do seu bico, acredito. – observou
João:
--- É o único urubu a conseguir a abrir as partes mais difíceis de uma carcaça de um animal grande, falou meu pai. – alertou
Amigo:
--- E é capaz de rasgar o couro de um boi. – sorriu a valer.
João:
--- Pra ele a carniça é o seu prato predileto.
Amigo:
--- E seu porte é de um tamanho gigante dando preferência a carne putrefata. – falou sério
João:
--- E não se viu ao certo a morte de uma ave dessa espécie. – comentou
Amigo:
--- Quando estão para morrer de velho eles preferem as estepes onde dominam o mundo, por sinal. – relatou
João:
--- Acredito. Bem pensado! – alegou o sertanejo.
Amigo:
--- O urubu rei é mudo. Sabe porem bufar.
João:
--- Interessante! Ele pode enxergar uma presa quando vou muito alto. E vem, olha e fica a buscar o tempo passar. – alertou.
Amigo:
--- E nunca se alimenta de animais vivos. – comentou
João:
--- Ele consume apenas defunto em putrefação. – gargalhou
Amigo:
--- Será que o rei como carne de gente morta? – indagou cismado
O outro amigo coçou a barbicha para em seguida declarar.
João:
--- Sabe que não sei? – e gargalhou a vontade.
Amigo:
--- Verdade. Eu sei que ele anda no solo à custa de longos pulos elásticos. As pernas são relativamente longas. – comentou.
João:
--- Imagino. Sei bem que o Rei voa bastante alto e sempre sozinho. – alertou
Amigo:
--- E é bem cortês com a fêmea. – gargalhou.
João:
--- Imagino que seja. – disse o homem.
Amigo:
--- Vai querer café? – perguntou por estar em um bar do Mercado.
João:
--- Com fatos? – gargalhou.


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