- 09 -
URUBU REI
João de Noca era menino quando
ouviu falar na existência do Urubu Rei. Desde então, João de Noca ficou
impressionado com esse tipo de ave de rapina. E menino mesmo ele buscou a olhar
a espécie a voar nas alturas, indo bem mais do que as aves daninhas caçadoras
de animais já em estado de decomposição. Popularmente ditos: animais mortos.
Certa vez, João de Noca olhou para um cerco de urubus e então alí estava um
urubu por demais mais social a estraçalhar o couro de um cavalo se bem João se
lembrava. A carniça já era por demais nauseabunda a qual não se podia nem mesmo
olhar. Como não era visível a todos, pois havia quase nenhuma pessoa a passar
por perto o bicho morto era mesmo despedaçado pelo o rei dos urubus. E o rapaz
ficou a olhar aquela cena por demais preocupante como se tudo aquilo fosse um
festim diabólico. As demais aves de rapina se postavam ao longe, todas em
círculos, de cabeça abaixada como a ofertar o mangar à sua excelência o Rei. E
esse esfolava o couro do cavalo para lhe arrancar as tripas da carcaça do podre
animal. Aquilo era um caso incomum onde
todos os abutres faziam a reverencia à sua majestade, o urubu rei. Havia a
dança em torno da vítima sendo feita pela as demais aves daninhas. Uma espécie
de cortejo fúnebre onde a música era o cruento gorgolejar em torno da carniça
do velho quadrupede. E uma dança se fazia ao som daquela macabra cena de
horror. João de Noca observava tudo em silencio a tapar as narinas para não
sentir o ofegante e horroroso aroma fétido daqueles animais de negras penas.
O batido tão horrendo das aves de
rapina, naquela hora, continuava a acudir as batidas das trucidas pernas de
cada um a bailar de forma ofegante como um gesto de respeito e consenso. Era
então uma valsa funérea em respeito ao cadáver do equino morto a lhe servir
então de repasto social. O urubu rei se postava naquele instante como sua
majestade, o imperador. Com sua cor vermelha em torno do seu avarento bico, ele
traçava a carcaça do pútrido animal para o gozo dos demais carniceiros abutres
que continuavam a bailar em seu banquete ferino. Era a fazer a sua dieta
carnívora a ave de rapina com o seu cadáver. Uma espécie de exéquias onde a
extrema unção era o estraçalhar do couro do amigo morto. Aquela encomenda
fúnebre era toda seguida pelo pobre rapaz naquela hora tardia da morte.
João:
--- Que horror! – alertou o rapaz
ao ver tal fúnebre cena
E o banquete prosseguia ao som do
bailar frenético das aves carnívoras a improvisar folia louca. O som lúgubre de
cada qual era da carniça o jantar animal. Cauteloso como sempre o urubu esperou
por mais de uma hora para atacar a sua presa já morta em estado de
decomposição. O odor horrível da morte do quadrupede era o cheiro delicado a
chegar às narinas do abutre. Como a sorrir com a sua festa, sem a menor forma
de piar, o rei dos abutres apenas esticava as partes sedentas do morto. Entre
as outras aves o Rei consumia aquilo que mais lhe servia. Era uma autentica
batucada à batuta do maestro. A cada partida das benditas aves João de Noca,
por demais curioso, ouvia entretido e inquieto como também se quisesse entrar
na infausta dança dos pássaros.
De barriga cheia, o Urubu Rei,
exalava um cheiro forte, ardente e repugnante. Àquela hora era exatamente o
ensejo do maestro da corte voltear para o espaço, no caso nada mais tinha a ser
feito. E os demais abutres entravam na contenda da dança escusa. E partia dali,
em seguida, para pousar nas árvores mais altas da mata o nobre e eloquente
velho abutre. Empoleirado em um galho, sempre no mesmo lugar, a ave, daquele
ponto, se esquecia do tempo. Tudo o que havia de fazer era repousar até a fome
lhe apertar novamente. Era quando a ave de rapina se enfeitava para outra
corrida da serventia fatal.
João de Noca partiu do seu local
a imaginar de tudo o que a ave teceu em torno dos demais abutres quando ele
abrir os seus portões da tormenta. Ao chegar no Mercado, o rapaz se encontrou
com um velho amigo e pode contar toda a vista história. E foi expondo toda a narrativa que o rapaz
chegou ao ponto final ao afirmar ser o urubu rei uma ave já em extinção dado ao
pouco número existente no sertão onde habita de modo particular as outras aves
predadoras, como o carcará e o urubu comum, esses bem magro, todo de pena
escura e uma perna a mancar, por sinal. O Urubu Rei, não. Esse tem cabeça e
pescoço nus, é pintado de vermelho, amarelo e alaranjado; a parte superior do
corpo e de um amarelo-clara, esbranquiçada, asas e cauda pretas; o lado
inferior é branco, com uma plumagem branca e negra. É um predador natural.
Devido a degradação do seu habitat natural, é uma espécie cada vez mais rara de
se observar.
João:
--- E foi assim que encontrei o
predador. Ele voa alto. Estima-se ser o seu voo próximo a 400 metros. – relatou
sem dúvida.
Amigo:
--- É certo. No meu tempo de
floresta, eu observei muito dessas aves predadoras. Elas procuram as de maior
porte quando estão a caçar. – fez ver.
João:
--- Elas são chamadas de “bico de
carne”! – gargalhou.
Amigo:
--- Para você ver. É por conta de
ser vermelho o apêndice que reveste parte do seu bico, acredito. – observou
João:
--- É o único urubu a conseguir a
abrir as partes mais difíceis de uma carcaça de um animal grande, falou meu
pai. – alertou
Amigo:
--- E é capaz de rasgar o couro
de um boi. – sorriu a valer.
João:
--- Pra ele a carniça é o seu
prato predileto.
Amigo:
--- E seu porte é de um tamanho
gigante dando preferência a carne putrefata. – falou sério
João:
--- E não se viu ao certo a morte
de uma ave dessa espécie. – comentou
Amigo:
--- Quando estão para morrer de
velho eles preferem as estepes onde dominam o mundo, por sinal. – relatou
João:
--- Acredito. Bem pensado! –
alegou o sertanejo.
Amigo:
--- O urubu rei é mudo. Sabe
porem bufar.
João:
--- Interessante! Ele pode
enxergar uma presa quando vou muito alto. E vem, olha e fica a buscar o tempo
passar. – alertou.
Amigo:
--- E nunca se alimenta de
animais vivos. – comentou
João:
--- Ele consume apenas defunto em
putrefação. – gargalhou
Amigo:
--- Será que o rei como carne de
gente morta? – indagou cismado
O outro amigo coçou a barbicha
para em seguida declarar.
João:
--- Sabe que não sei? – e
gargalhou a vontade.
Amigo:
--- Verdade. Eu sei que ele anda
no solo à custa de longos pulos elásticos. As pernas são relativamente longas. –
comentou.
João:
--- Imagino. Sei bem que o Rei
voa bastante alto e sempre sozinho. – alertou
Amigo:
--- E é bem cortês com a fêmea. –
gargalhou.
João:
--- Imagino que seja. – disse o
homem.
Amigo:
--- Vai querer café? – perguntou
por estar em um bar do Mercado.
João:
--- Com fatos? – gargalhou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário