- Bruna Abdullah -
- 16 -
LINDONÉIA
Já eram mais das dez horas da
noite quando um moleque bateu à porta da casa de Lindonéia, mulher moça dos
seus 20 anos convivida com um rapaz de 25 anos chamado por Jorge Dagô, vadio de
profissão e que às vezes fazia um biscate como de ajudante de pedreiro para
arrumar uns trocados e encher a cara de cana. O moleque, parecendo pisar em
chão quente, bateu de novo e a mulher novo veio atender de pronto.
Lindonéia:
--- Quem bate? – perguntou de
dentro com a porta ainda fechada.
Lucas:
--- Sou eu, Zé Lucas. Quero falar
com a senhora dona. – respondeu ao desespero
Lindonéia abriu a porta cerrada
ao meio, se por uma brecha e ainda assim indagou.
Lindonéia:
--- Diga o que quer! – falou um
pouco assustada a mulher moça.
Lucas:
--- A senhora é Lindonéia? –
perguntou Zé Lucas como quem salva a mãe da forca.
Lindonéia:
--- Sou. Já disse uma vez. –
rebateu a mulher um pouco abusada.
Lucas:
--- É que mataram o seu marido no
Cabaré Buraco Quente. Agorinha. A senhora pode ir para ver o defunto? –
perguntou.
E a mulher, com bastante pressa
saiu de sua casa em direção ao cabaré de dona Laura conhecido por Buraco
Quente, como todos o chamavam. No
adiantar do caminho a mulher ficou sabendo que o seu homem foi morto por uma
facada da barriga que entrou até o talo. O criminoso fugiu apressado logo após
o cometido. Lindonéia nem chorou por conta disso. Ela já era acostumada com o
seu homem sair de casa e voltar dois ou três dias após com a cara cheia de
cana, se deitar, dormir para acordar no dia seguinte e pôr o pé no mundo. Era
uma tristeza enfadada aquela vivida por Lindonéia. As ruas e ruelas estavam já quase esquecidas
com as pessoas em suas casas, algumas a dormir o sono da eterna solidão. Um
auto passou mais que depressa na rua principal do lugar. Cachorros dormiam.
Outros latiam. Um gato pulou de uma casa a outra e ainda deu um miado
sonolento. Um homem fechou as portas de sua empresa. E Lindonéia ligeiramente a
caminhar apenas para o seu testemunho oficial:
Lindonéia:
--- Tá morto. É ele mesmo. –
relatou sem pestanejar.
Uma pequena classe de homens e
mulheres apenas olhavam para ver de perto o cadáver, gente sem conhecer o
morto. As damas do arrebol não se importavam nem um tanto a caminhar para
dentro do insípido recinto daquele antro repulsivo. Não eram tantos, não eram
muitos, não eram todos os frequentadores daquele bar esquecido de toda a gente
moradora em locais mais distantes. Apenas os bêbados e os vadios frequentadores
do asqueroso bereu tomavam um trago, beijava a mulher indecente em desejos mil
como se fossem uma diva do volúvel além. Um policial mantinha guarda ao corpo
de Jorge Dagô não prestando a menor atenção aos demais, pois o sono já estava
prestes a lhe acudir sem temor. Apenas
olhou com repugnância a mulher vinda para identificar o cadáver. Outras
mulheres gargalhavam dentro do bereu sem prestar atenção ao feito ocorrido
poucos instantes atrás. Uma delas olhou para Lindonéia sem ao menos lhe apresentar
a devida atenção. A sua cara era de repugnância. Um copo de cerveja lhe
emborcou goela abaixo. Nesse momento surgiu outra mulher para entregar a
Lindonéia um relógio pertencente ao morto.
Laura:
--- Eu sou Laura, dona dessa
espelunca. Está aqui o relógio do seu homem. Ele deixou comigo porque entrou na
luta. – relatou a mulher com a face desanimada.
Lindonéia:
--- Ah. O relógio. Ele nem marcas
as horas. Quebrado. – respondeu
Laura:
--- Não sei bem. Dagô apenas me
deu para segurar. – disse a mulher sem preocupação.
Lindonéia:
--- Ele deixou algum dinheiro? –
indagou sem preocupação com o dedo na boca.
Laura:
--- Nada. Nada. Eu achei que
alguém roubou Dagô após ele está morto caído aí. –
Lindonéia:
--- Eu já estava acostumada. –
respondeu sem assunto
Laura:
--- Vai beber? – perguntou.
Lindonéia:
--- Não. Não. Eu não bebo coisa
alguma. Eu vou meter a mão no mundo e sair dessa miséria. – falou sem motivo.
Laura:
--- Se for por pagamento, nem se
preocupe. Eu dou a você. – falou complacente
Lindonéia:
--- Não. Eu vou pra minha casa.
Amanhã a Polícia deve liberar o corpo. Então, vou embora para outra cidade bem
longe daqui. – falou sem chorar a olhar o céu noturno
Laura:
--- A senhora é daqui? – indagou.
Lindonéia:
--- Paraíba. Ele também é de lá.
– relatou
Laura:
--- Ah! Campina Grande? –
indagou.
Lindonéia:
--- Ele, deve ser de Sapé. Eu, de
Santa Rita. – declarou
Laura:
--- Eu também sou daquelas
bandas. Minha mãe mora num sítio. – lembrou
No dia seguinte, depois do
sepultamento de Jorge Dagô, a mulher, Lindonéia, arrumou a trouxa e partiu para
algum lugar distante onde nem pudesse ou soubesse dizer para aonde estava a
caminho. Ele comprou passagem sem dizer para onde. Apenas queria saltar em um
ponto distante de todos onde arrumaria um trabalho de lavadeira, arrumadeira,
faxineira ou coisa assim. Apenas se safaria do poder de ser mais uma mulher de
um bêbado ou desempregado, com certeza.
Lindonéia acordou quando o carro parou de repente em uma estação de
alguma cidade distante. Ela se lembrava do resto do dia. A noite, apenas para
dormir
Lindonéia:
--- E agora? Que cidade é essa? –
perguntou a si.
Um homem se aproximou de
Lindonéia com uma cara sorridente e lhe perguntou.
Homem
--- Bom dia. Está procurando
emprego? Eu tenho uma casa de gente rica. – disse sorrindo
Ela olhou o homem de cabo a rabo
e indagou:
Lindonéia.
--- Onde? – perguntou
desconfiada.
Homem:
--- Aqui perto. Vamos? – sorriu
confiante
Lindonéia:
--- Quanto paga? – indagou com
mais desconfiança
Homem:
--- Mais que o salário. Bem mais.
Muito mais. Vamos. – chamou o homem
Lindonéia duvidou de tanta
atenção. Mesmo assim, seguiu o homem para cair num bereu.
Lindonéia:
--- Que cidade é essa? –
perguntou.
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