terça-feira, 18 de novembro de 2014

À LUZ DA LUA - 16 -


- Bruna Abdullah -

- 16 -

LINDONÉIA

Já eram mais das dez horas da noite quando um moleque bateu à porta da casa de Lindonéia, mulher moça dos seus 20 anos convivida com um rapaz de 25 anos chamado por Jorge Dagô, vadio de profissão e que às vezes fazia um biscate como de ajudante de pedreiro para arrumar uns trocados e encher a cara de cana. O moleque, parecendo pisar em chão quente, bateu de novo e a mulher novo veio atender de pronto.
Lindonéia:
--- Quem bate? – perguntou de dentro com a porta ainda fechada.
Lucas:
--- Sou eu, Zé Lucas. Quero falar com a senhora dona. – respondeu ao desespero
Lindonéia abriu a porta cerrada ao meio, se por uma brecha e ainda assim indagou.
Lindonéia:
--- Diga o que quer! – falou um pouco assustada a mulher moça.
Lucas:
--- A senhora é Lindonéia? – perguntou Zé Lucas como quem salva a mãe da forca.
Lindonéia:
--- Sou. Já disse uma vez. – rebateu a mulher um pouco abusada.
Lucas:
--- É que mataram o seu marido no Cabaré Buraco Quente. Agorinha. A senhora pode ir para ver o defunto? – perguntou.
E a mulher, com bastante pressa saiu de sua casa em direção ao cabaré de dona Laura conhecido por Buraco Quente, como todos o chamavam.  No adiantar do caminho a mulher ficou sabendo que o seu homem foi morto por uma facada da barriga que entrou até o talo. O criminoso fugiu apressado logo após o cometido. Lindonéia nem chorou por conta disso. Ela já era acostumada com o seu homem sair de casa e voltar dois ou três dias após com a cara cheia de cana, se deitar, dormir para acordar no dia seguinte e pôr o pé no mundo. Era uma tristeza enfadada aquela vivida por Lindonéia.  As ruas e ruelas estavam já quase esquecidas com as pessoas em suas casas, algumas a dormir o sono da eterna solidão. Um auto passou mais que depressa na rua principal do lugar. Cachorros dormiam. Outros latiam. Um gato pulou de uma casa a outra e ainda deu um miado sonolento. Um homem fechou as portas de sua empresa. E Lindonéia ligeiramente a caminhar apenas para o seu testemunho oficial:
Lindonéia:
--- Tá morto. É ele mesmo. – relatou sem pestanejar.
Uma pequena classe de homens e mulheres apenas olhavam para ver de perto o cadáver, gente sem conhecer o morto. As damas do arrebol não se importavam nem um tanto a caminhar para dentro do insípido recinto daquele antro repulsivo. Não eram tantos, não eram muitos, não eram todos os frequentadores daquele bar esquecido de toda a gente moradora em locais mais distantes. Apenas os bêbados e os vadios frequentadores do asqueroso bereu tomavam um trago, beijava a mulher indecente em desejos mil como se fossem uma diva do volúvel além. Um policial mantinha guarda ao corpo de Jorge Dagô não prestando a menor atenção aos demais, pois o sono já estava prestes a lhe acudir sem temor.  Apenas olhou com repugnância a mulher vinda para identificar o cadáver. Outras mulheres gargalhavam dentro do bereu sem prestar atenção ao feito ocorrido poucos instantes atrás. Uma delas olhou para Lindonéia sem ao menos lhe apresentar a devida atenção. A sua cara era de repugnância. Um copo de cerveja lhe emborcou goela abaixo. Nesse momento surgiu outra mulher para entregar a Lindonéia um relógio pertencente ao morto.
Laura:
--- Eu sou Laura, dona dessa espelunca. Está aqui o relógio do seu homem. Ele deixou comigo porque entrou na luta. – relatou a mulher com a face desanimada.
Lindonéia:
--- Ah. O relógio. Ele nem marcas as horas. Quebrado. – respondeu
Laura:
--- Não sei bem. Dagô apenas me deu para segurar. – disse a mulher sem preocupação.
Lindonéia:
--- Ele deixou algum dinheiro? – indagou sem preocupação com o dedo na boca.
Laura:
--- Nada. Nada. Eu achei que alguém roubou Dagô após ele está morto caído aí. –
Lindonéia:
--- Eu já estava acostumada. – respondeu sem assunto
Laura:
--- Vai beber? – perguntou.
Lindonéia:
--- Não. Não. Eu não bebo coisa alguma. Eu vou meter a mão no mundo e sair dessa miséria. – falou sem motivo.
Laura:
--- Se for por pagamento, nem se preocupe. Eu dou a você. – falou complacente
Lindonéia:
--- Não. Eu vou pra minha casa. Amanhã a Polícia deve liberar o corpo. Então, vou embora para outra cidade bem longe daqui. – falou sem chorar a olhar o céu noturno
Laura:
--- A senhora é daqui? – indagou.
Lindonéia:
--- Paraíba. Ele também é de lá. – relatou
Laura:
--- Ah! Campina Grande? – indagou.
Lindonéia:
--- Ele, deve ser de Sapé. Eu, de Santa Rita. – declarou
Laura:
--- Eu também sou daquelas bandas. Minha mãe mora num sítio. – lembrou
No dia seguinte, depois do sepultamento de Jorge Dagô, a mulher, Lindonéia, arrumou a trouxa e partiu para algum lugar distante onde nem pudesse ou soubesse dizer para aonde estava a caminho. Ele comprou passagem sem dizer para onde. Apenas queria saltar em um ponto distante de todos onde arrumaria um trabalho de lavadeira, arrumadeira, faxineira ou coisa assim. Apenas se safaria do poder de ser mais uma mulher de um bêbado ou desempregado, com certeza.  Lindonéia acordou quando o carro parou de repente em uma estação de alguma cidade distante. Ela se lembrava do resto do dia. A noite, apenas para dormir
Lindonéia:
--- E agora? Que cidade é essa? – perguntou a si.
Um homem se aproximou de Lindonéia com uma cara sorridente e lhe perguntou.
Homem
--- Bom dia. Está procurando emprego? Eu tenho uma casa de gente rica. – disse sorrindo
Ela olhou o homem de cabo a rabo e indagou:
Lindonéia.
--- Onde? – perguntou desconfiada.
Homem:
--- Aqui perto. Vamos? – sorriu confiante
Lindonéia:
--- Quanto paga? – indagou com mais desconfiança
Homem:
--- Mais que o salário. Bem mais. Muito mais. Vamos. – chamou o homem
Lindonéia duvidou de tanta atenção. Mesmo assim, seguiu o homem para cair num bereu.
Lindonéia:
--- Que cidade é essa? – perguntou.




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