- Michéle Morgan -
- 50 -
ÊXTASE
Norma ficou calada por breve
tempo a olhar para o rapaz sem saber ao certo o que dizer pelo rompimento do
namoro. Na verdade, Norma teve conhecimento na noite anterior pelo falar de
dona Donana. Mesmo assim não deu bastante atenção ao fim do namoro. A moça
estava desconfiando há algum tempo do namoro a estar em banho-maria. Mesmo
assim não deu maior força a tudo que se passou. Porém, ao saber da verdade,
Norma ficou em êxtase. Finalmente surgiu a sua oportunidade. Mesmo assim tinha
o caso do demônio e dos 40 anos de vida. Nesse ponto Norma ficou suspensa do
ar. Tinha o caso de desfazer as suas intenções e nisso estaria muito em ordem.
No entanto, Satanás foi exigente: daria uma coroa de louros onde ela pudesse
usar em sua cabeça e depois retirar quando terminasse o prazo.
Norma:
--- Louros! – comentou consigo.
Sócrates:
--- Dissestes algo? – indagou o
rapaz.
Norma:
--- Não. Apenas divaguei.
Pergunto: você sabe o que é louro? – indagou a pensar no acaso.
Sócrates:
--- Louro animal ou louros coroa?
– indagou.
Norma:
--- Coroa. – respondeu.
Sócrates:
--- Louros é uma coroa de laurel
ou coroa triunfal que era a distinção concedida a um general vitorioso que
entrava na Antiga Roma em triunfo apoteótico. Hoje em dia se põe na cabeça de
um atleta quando vence uma corrida de maratona ou coisa assim. Coroa de Louros.
– explicou.
Norma:
--- Ah! Bom. Agora estou ciente.
Eu fazia confusão a respeito. – sorriu amargamente.
Sócrates:
--- Sim. Mas. O Município? Você
foi chamada por alguém? - quis saber.
Norma:
--- Sim. Eu tive a proposta de
uma amiga. Ela trabalha no Gabinete. E disse se eu queria ir. Não sei ao certo.
Eu pretendo conversar com você. Que achas? – perguntou retraída.
Sócrates:
--- Se eu fosse você, não
pensaria muito. Se é trabalho, emprego, você deve aceitar. E logo. – resolveu o
chefe a sorrir.
Norma:
--- E você? Como fica? Teria que
pensar mais. Não por mim. Mas pelos os outros. – declarou.
Sócrates:
--- Eu sei disso. Acontece que eu
já estou prestes a “voar” para outras bandas. Banco do Brasil. – sorriu o
rapaz.
Norma:
--- Jura?! Você não tinha me
falado dessa proposta! – fez ver a linda jovem.
Sócrates:
--- Não tinha mesmo. Acontece que
o Gerente me confirmou na noite passada. Era um tema que estava sendo tratado
há bastante tempo. E agora veio a resposta. Por isso eu não lhe falei. – disse
o rapaz.
Norma:
--- Eu ficaria aqui sozinha? –
indagou com temor.
Sócrates:
--- Você já está preparada. Por
isso eu nem me preocupei em falar. – sorriu
Norma:
--- Não sei. Tem muitas coisas
que eu preciso saber. E veio agora a notícia da Prefeitura! – ela teve que
pensar depressa.
Sócrates:
--- Tolices! Sai um e vem outro.
– fez o rapaz com as próprias mãos dando o sinal de quem sai.
Norma:
--- Isso é. Bem. E o noivado?
Você desmanchou mesmo? – quis saber a verdade.
Sócrates:
--- Terminei. Porque eu tenho
outra em mente. Talvez não vingue. Mas é uma aventura a mais. Se der certo, nós
vamos a frente? – sorriu e olhou para a virgem
Norma:
--- Quem? – perguntou com muita
pressa.
O rapaz se levantou da cadeira e
foi para perto da escrivaninha da moça ainda perplexa. E daí mesmo quis saber.
Sócrates:
--- Você me aceita como noivo? –
perguntou com as duas mãos postadas na mesa de trabalho.
Foi um choque tremendo aquele
impasse para Norma. Os seus sentidos vagaram para todos os lados. A pergunta
crucial chegou de repente. E Norma nada podia descrever. O que diria afinal?
Então voltou a cabeça a rodar por saber ter aqueles quarenta anos sossegados.
Apenas isso e nada mais. Depois, quem sabe! Morreria? Era a angustia por ela vivida
por um segundo a mais. Quarenta anos de vida era o seu futuro. O rapaz ficou
tenso esperando a resposta decisiva.
oOo
Dois meses após do incidente com
Sócrates, ele estava no lar de Cosme e Aurea onde havia o sepultamento da jovem
Racilva cujo falecimento se deu por uma causa improvável, com intensa febre,
náuseas e vômitos. Era uma manhã de chuva torrencial com todos os participantes
a usar capas e guarda-chuvas para se proteger contra a intempérie. Sócrates
compareceu como amigo da família, apesar de faltar o expediente bancário
naquele dia. A sua noiva, Norma, não pode vir ao enterro, principalmente pelo
motivo de ter sido cruelmente apontada como a discórdia entre os namorados de
então – Sócrates e Racilva. Mesmo assim, não houve atritos por causa desse
galanteio por parte do ancião Cosme. Era tudo silêncio. A urna mortuária estava
lacrada na sala em frente à saída da habitação por plena e total recomendação
médica. As autoridades médicas desconheciam o teor da morte de Racilva então
evitando maior contágio a pessoas estranhas ou da própria família. Ao final do
salão, entre várias pessoas presentes, uma mocinha estava em um canto de parede
apenas a ouvir a lamentação dos populares. Quem viu a aparente visagem foi o
jovem Sócrates admirando de pronto ser aquela criatura uma pessoa da própria
família. A mocinha tinha uma idade aparente com a de Racilva e trajava um
vestido branco e longo a cobrir as próprias pernas onde havia igualmente as
meias longas e sapatos alvejados. O rapaz notou a presença da moça por alguns
instantes e tão depressa o vulto sumiu. O jovem procurou saber de alguém se
havia notado a presença de uma virgem no canto direito da sala, mas não obteve
resposta elucidativa.
Sócrates:
--- Quem era uma mocinha que
estava no canto da sala? – indagou a uma mulher.
Mulher:
--- Não vi ninguém aqui. E tinha
uma moça? – perguntou admirada.
Sócrates:
--- Eu vi ligeiramente. – disse o
rapaz
Mulher:
--- Deve ter sido uma doméstica.
– lembrou.
Sócrates ficou em dúvida com
aquela aparição. De súbito, o vulto surgiu na porta de entrada da sala e por
alí desapareceu. Nesse momento Sócrates voltou a se lembrar ser aquele o vulto
de uma pessoa amada por todos e, principalmente por ele. Após a cremação do
corpo de Racilva, já a noite, Sócrates procurava o seu relógio postado na mesa
de cabeceira quando esse vulto apareceu novamente e lhe falou:
Vulto:
--- Querido! São apenas quarenta
anos. – e de repente sumiu.
- FIM -
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