domingo, 2 de novembro de 2014

O INFERNO - 50 -

- Michéle Morgan -

- 50 -

ÊXTASE

Norma ficou calada por breve tempo a olhar para o rapaz sem saber ao certo o que dizer pelo rompimento do namoro. Na verdade, Norma teve conhecimento na noite anterior pelo falar de dona Donana. Mesmo assim não deu bastante atenção ao fim do namoro. A moça estava desconfiando há algum tempo do namoro a estar em banho-maria. Mesmo assim não deu maior força a tudo que se passou. Porém, ao saber da verdade, Norma ficou em êxtase. Finalmente surgiu a sua oportunidade. Mesmo assim tinha o caso do demônio e dos 40 anos de vida. Nesse ponto Norma ficou suspensa do ar. Tinha o caso de desfazer as suas intenções e nisso estaria muito em ordem. No entanto, Satanás foi exigente: daria uma coroa de louros onde ela pudesse usar em sua cabeça e depois retirar quando terminasse o prazo.
Norma:
--- Louros! – comentou consigo.
Sócrates:
--- Dissestes algo? – indagou o rapaz.
Norma:
--- Não. Apenas divaguei. Pergunto: você sabe o que é louro? – indagou a pensar no acaso.
Sócrates:
--- Louro animal ou louros coroa? – indagou.
Norma:
--- Coroa. – respondeu.
Sócrates:
--- Louros é uma coroa de laurel ou coroa triunfal que era a distinção concedida a um general vitorioso que entrava na Antiga Roma em triunfo apoteótico. Hoje em dia se põe na cabeça de um atleta quando vence uma corrida de maratona ou coisa assim. Coroa de Louros. – explicou.
Norma:
--- Ah! Bom. Agora estou ciente. Eu fazia confusão a respeito. – sorriu amargamente.
Sócrates:
--- Sim. Mas. O Município? Você foi chamada por alguém?  - quis saber.
Norma:
--- Sim. Eu tive a proposta de uma amiga. Ela trabalha no Gabinete. E disse se eu queria ir. Não sei ao certo. Eu pretendo conversar com você. Que achas? – perguntou retraída.
Sócrates:
--- Se eu fosse você, não pensaria muito. Se é trabalho, emprego, você deve aceitar. E logo. – resolveu o chefe a sorrir.
Norma:
--- E você? Como fica? Teria que pensar mais. Não por mim. Mas pelos os outros. – declarou.
Sócrates:
--- Eu sei disso. Acontece que eu já estou prestes a “voar” para outras bandas. Banco do Brasil. – sorriu o rapaz.
Norma:
--- Jura?! Você não tinha me falado dessa proposta! – fez ver a linda jovem.
Sócrates:
--- Não tinha mesmo. Acontece que o Gerente me confirmou na noite passada. Era um tema que estava sendo tratado há bastante tempo. E agora veio a resposta. Por isso eu não lhe falei. – disse o rapaz.
Norma:
--- Eu ficaria aqui sozinha? – indagou com temor.
Sócrates:
--- Você já está preparada. Por isso eu nem me preocupei em falar. – sorriu
Norma:
--- Não sei. Tem muitas coisas que eu preciso saber. E veio agora a notícia da Prefeitura! – ela teve que pensar depressa.
Sócrates:
--- Tolices! Sai um e vem outro. – fez o rapaz com as próprias mãos dando o sinal de quem sai.
Norma:
--- Isso é. Bem. E o noivado? Você desmanchou mesmo? – quis saber a verdade.
Sócrates:
--- Terminei. Porque eu tenho outra em mente. Talvez não vingue. Mas é uma aventura a mais. Se der certo, nós vamos a frente? – sorriu e olhou para a virgem
Norma:
--- Quem? – perguntou com muita pressa.
O rapaz se levantou da cadeira e foi para perto da escrivaninha da moça ainda perplexa. E daí mesmo quis saber.
Sócrates:
--- Você me aceita como noivo? – perguntou com as duas mãos postadas na mesa de trabalho.
Foi um choque tremendo aquele impasse para Norma. Os seus sentidos vagaram para todos os lados. A pergunta crucial chegou de repente. E Norma nada podia descrever. O que diria afinal? Então voltou a cabeça a rodar por saber ter aqueles quarenta anos sossegados. Apenas isso e nada mais. Depois, quem sabe! Morreria? Era a angustia por ela vivida por um segundo a mais. Quarenta anos de vida era o seu futuro. O rapaz ficou tenso esperando a resposta decisiva.  
oOo
Dois meses após do incidente com Sócrates, ele estava no lar de Cosme e Aurea onde havia o sepultamento da jovem Racilva cujo falecimento se deu por uma causa improvável, com intensa febre, náuseas e vômitos. Era uma manhã de chuva torrencial com todos os participantes a usar capas e guarda-chuvas para se proteger contra a intempérie. Sócrates compareceu como amigo da família, apesar de faltar o expediente bancário naquele dia. A sua noiva, Norma, não pode vir ao enterro, principalmente pelo motivo de ter sido cruelmente apontada como a discórdia entre os namorados de então – Sócrates e Racilva. Mesmo assim, não houve atritos por causa desse galanteio por parte do ancião Cosme. Era tudo silêncio. A urna mortuária estava lacrada na sala em frente à saída da habitação por plena e total recomendação médica. As autoridades médicas desconheciam o teor da morte de Racilva então evitando maior contágio a pessoas estranhas ou da própria família. Ao final do salão, entre várias pessoas presentes, uma mocinha estava em um canto de parede apenas a ouvir a lamentação dos populares. Quem viu a aparente visagem foi o jovem Sócrates admirando de pronto ser aquela criatura uma pessoa da própria família. A mocinha tinha uma idade aparente com a de Racilva e trajava um vestido branco e longo a cobrir as próprias pernas onde havia igualmente as meias longas e sapatos alvejados. O rapaz notou a presença da moça por alguns instantes e tão depressa o vulto sumiu. O jovem procurou saber de alguém se havia notado a presença de uma virgem no canto direito da sala, mas não obteve resposta elucidativa.
Sócrates:
--- Quem era uma mocinha que estava no canto da sala? – indagou a uma mulher.
Mulher:
--- Não vi ninguém aqui. E tinha uma moça? – perguntou admirada.
Sócrates:
--- Eu vi ligeiramente. – disse o rapaz
Mulher:
--- Deve ter sido uma doméstica. – lembrou.
Sócrates ficou em dúvida com aquela aparição. De súbito, o vulto surgiu na porta de entrada da sala e por alí desapareceu. Nesse momento Sócrates voltou a se lembrar ser aquele o vulto de uma pessoa amada por todos e, principalmente por ele. Após a cremação do corpo de Racilva, já a noite, Sócrates procurava o seu relógio postado na mesa de cabeceira quando esse vulto apareceu novamente e lhe falou:
Vulto:
--- Querido! São apenas quarenta anos. – e de repente sumiu.
- FIM -  

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