domingo, 16 de novembro de 2014

À LUZ DA LUA - 14 -

- Natalie Portman -

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APARIÇÃO

Isso pode ser verdade. Uma mulher simplesmente surgiu do nada. Absolutamente nada. O fato ocorreu em uma fazenda do interior do Estado, onde havia tão simplesmente uma lavadeira chamada Conceição a cuidar do banheiro de uma casa grande, por sinal. Naquela ocasião a mulher ficou atônita por ver à sua frente dona Conceição a fazer a faxina do banheiro onde as pessoas utilizavam com frequência. A lavadeira não deu muita importância por pensar em ser uma visita chegada de pouco tempo. Mas a senhora visitante indagou da lavadeira:
Visitante:
--- Onde estou? O que é isso? Onde estão os outros? – foi a pergunta feita.
Com isso, dona Conceição se tremeu de medo, pois nem ela mesma sabia o ocorrido. A visita estava em um banheiro bem pequeno de apenas quatro metros. Havia ali um lavabo e ao lado um mictório com um aparelho sanitário. Tudo isso dona Conceição sabia muito bem, pois era a serviçal da casa grande e toda manhã fazia limpeza desse compartimento. A visita, uma senhora de seus sessenta anos no entanto estranhou onde estava. Quando a mulher estranha surgiu não havia mais alguém, pois todos estavam fora de casa, até mesmo as meninas. E no banheiro ninguém entrou enquanto dona Conceição fazia limpeza. A mulher visitante, simplesmente se materializou do nada. Ao perceber essa materialização instantânea, dona Conceição levou um tremendo susto. A mulher visitante parecia não entender onde estava e simplesmente saiu do banheiro. Parecia ter sido alterada as linhas do tempo permitindo a visita está vindo de outro mundo. Dona Conceição seguiu a mulher por onde ela deveria ter entrado e em poucos instantes a visitante sumiu por completo. A lavadeira se desnorteou e saiu a gritar ter visto uma visagem. E chegou à entrada da casa grande a levar as mãos para o céu, clamando ao mesmo tempo:
Conceição.
--- Meu Deus do céu! Alguém me acuda! Eu vi uma assombração! Eu vi uma assombração! – gritava em pânico
As pessoas da casa não se importaram de momento, pois a maior parte estava a conversar coisas normais. Porém, um vaqueiro foi quem acudiu a mulher. Ele indagou do que se tratava e a mulher apenas dizia em lágrimas
Conceição:
--- Visagem! Visagem! Visagem! – dizia a mulher lavadeira
Foi, então que as pessoas da casa tomaram ciência do ocorrido. Uma madame chamada Ofélia acudiu com cuidado a senhora Conceição a indagar tal fato. Dona Conceição chorava e delirava ao declarar apenas o ocorrido. O caso tomou vulto impressionante. Cada qual que ditasse histórias assombrosas tidas nessa casa de interior.
Moça:
--- Gente! Está vendo? Eu não disse? É a visagem! – articulou a primeira moça sobre essa assombração de verdade. 
Enquanto isso dona Ofélia, senhora da casa grande caminhava com toda a atenção a sua lavadeira, dona Conceição, essa chorando suas insípidas lágrimas. A cozinheira levava a mão aos olhos uma forma de se envergonha do passado/presente e ter a ilusão de observar aquele caso com a devida emoção.
Conceição:
--- Foi bem aqui que a visagem sumiu. – falou a idosa mulher ao passar pelo corredor onde teve a impressão de ter visto a enigmática mulher.
Ofélia:
--- Eu sei. Eu sei. Essas casas velhas. São sempre assim. – fez de conta que sabia do fato.
E do lado de fora, as moças conversavam sobre o assunto cada uma a falar de assombrações, homens cadavéricos, moças estranhas, aparições de pessoas e tudo mais. Seu Nicodemos, vaqueiro de certa idade, ouvia tudo e não falava. No entanto, ele foi o homem que, um dia, ouviu vozes no sertão, onde ele estava, no alto da serra. Era noite brumosa e Nicodemos procurava uma vaca do seu rebanho quando viu uma porção de gente – homens e mulheres – se aproximar. Eram tropeiros, certamente. Eles falavam de coisas que o homem – ainda moço – não entendia um ponto sequer. E os tropeiros passaram por ele sem sequer notar. Passaram e foram embora para o interior da floresta. No dia seguinte, Nicodemos procurou as marcas dos tropeiros, pois com eles havia carga de jegues, e nada observou. As marcas não existiam, de verdade. Então, Nicodemos encrespou o cabelo e devagar, saiu de onde estava até pegar um aceiro e se pôs a correr. Era uma visagem, com certeza.
Após algum tempo, muitos anos a fio, ele contou a história a um grupo de matutos e o pessoal acreditou no que ouviu. Um dos matutos teve a oportunidade de contar a sua história:
Matuto:
--- Certa vez, meu avô caminhava por esse fim de mundo quando viu um velho a caminhar em sua direção. O meu avô era ainda muito moço. Mas, ele contou a história de um homem já idoso vindo das bandas do Buraco, uma região lá para as bandas de Colmeia, e se acercou do meu avô e pediu um fogo, pois o “velho” estava com o seu cachimbo aceso. Um cachimbo até pequeno. E o meu avô lhe deu fogo.  O matuto acendeu o seu cachimbo e de imediato saiu dizendo ser agradecido. Nesse momento, sabe o que ocorreu? – indagou o novo matuto.
E os que estava a ouvir, silenciaram e se puseram calados com a devida atenção:
Matuto:
--- O velho sumiu. Foi por encanto. O meu avô não se deu por conta. De imediato, ele correu também alarmando ter visto uma alma.
Matuto 2
--- E verdade. Nos confins desse mundo do meu Deus tem muita coisa estranha que só vendo para crer. – relatou o outro com a certeza acertada.
Nicodemos:
--- Pros lados da Capital, é que tem coisa. Assombrações de meter dedo no olho. Gente que anda em carro de praça e quando acaba, não tem ninguém no volante. É de meter medo. – confessou
Um pouco mais chegou à casa grande um rapaz dos seus 30 anos ou mais para tomar a benção dos seus pais e, em conversa, ficou ciente do ocorrido hora antes. Seu nome era Hildebrando e fez o curso de Física estando a residir na América do Norte. Ele aproveitava as férias para passar um pouco de tempo no seu país. E quando soube do ocorrido, o físico nuclear procurou ter uma conversa com a idosa senhora. Ela estava na lavanderia quando o rapaz se aproximou. Então, ambos entraram em conversa, ele estando a morar em outro país e foi com isso se enturmar com a lavadeira quando lhe perguntou apenas para conhecer o ocorrido. E lavadeira falou sem temor de erros:
Conceição:
--- Foi um caso estranho. Uma mulher de meia idade surgiu do nada. E perguntou a mim onde estava, o que era aquilo e onde estavam os outros. Eu não dei muita importância, pois supunha ser uma visita. Então, a mulher saiu do banheiro e caminhou para a sala. Foi ai o transtorno. Quando estava na metade do caminho a mulher desapareceu. Então, eu entrei em choque. E o que é que eu faço agora? – indagou ainda a lacrimar.
O homem sorriu leve e respondeu com bastante calma.
Hildebrando:
--- Nada. A senhora não faça nada. O que a senhora viu, de fato existe. É um cruzamento da linha do tempo. Eu vou explicar a senhora. No Universo, temos vários outros Mundos. Acontece de ocorrer um cruzamento por motivo inexplicável de um Universo com o outro. Então as pessoas se cruzam. Digamos: eu sou desse Universo. A senhora e do outro. Mas assenhora não percebe que eu estou no seu Universo quando de repente eu chego. E ai deu-se o conflito. É o mesmo que a senhora morar em uma casa e, por acaso, entrar em outra. Veja bem: se a senhora mora aqui nessa casa, não deve poder entrar em uma outra a ficar a léguas de distância. Contudo, a senhora vai, e entra na outra residência. É aí que está o conflito ou seja: a confusão. Veja se entendeu. – indagou o rapaz a sorrir
A idosa senhora procurou entender melhor esse conflito de pessoas. E chegou a certa conclusão
Conceição:
--- Quer dizer que a mulher existe de verdade? – indagou com precaução.
Hildebrando:
--- Claro que essa mulher existe. Apenas trocou de lugar. É como se a senhora fosse no Mercado e entrasse na mercearia. É um vupt-vapt. – tentou explicar mais claramente.
Conceição:
--- Quer dizer que eu posso ir para outro mundo? – indagou meio confusa ainda.
Hildebrando:
--- Eu prefiro dizer: “Não”. Mas se houver essa oportunidade, um caso de conflito de linhas cruzadas e a senhora estiver na vez, quem sabe? – sorriu o engenheiro.
Conceição:
--- Não. Não. Eu prefiro ficar aqui mesmo. – respondeu a velha senhora.


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