- Natalie Portman -
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APARIÇÃO
Isso pode ser verdade. Uma mulher
simplesmente surgiu do nada. Absolutamente nada. O fato ocorreu em uma fazenda
do interior do Estado, onde havia tão simplesmente uma lavadeira chamada
Conceição a cuidar do banheiro de uma casa grande, por sinal. Naquela ocasião a
mulher ficou atônita por ver à sua frente dona Conceição a fazer a faxina do
banheiro onde as pessoas utilizavam com frequência. A lavadeira não deu muita
importância por pensar em ser uma visita chegada de pouco tempo. Mas a senhora
visitante indagou da lavadeira:
Visitante:
--- Onde estou? O que é isso?
Onde estão os outros? – foi a pergunta feita.
Com isso, dona Conceição se
tremeu de medo, pois nem ela mesma sabia o ocorrido. A visita estava em um
banheiro bem pequeno de apenas quatro metros. Havia ali um lavabo e ao lado um
mictório com um aparelho sanitário. Tudo isso dona Conceição sabia muito bem, pois
era a serviçal da casa grande e toda manhã fazia limpeza desse compartimento. A
visita, uma senhora de seus sessenta anos no entanto estranhou onde estava.
Quando a mulher estranha surgiu não havia mais alguém, pois todos estavam fora
de casa, até mesmo as meninas. E no banheiro ninguém entrou enquanto dona
Conceição fazia limpeza. A mulher visitante, simplesmente se materializou do
nada. Ao perceber essa materialização instantânea, dona Conceição levou um
tremendo susto. A mulher visitante parecia não entender onde estava e
simplesmente saiu do banheiro. Parecia ter sido alterada as linhas do tempo
permitindo a visita está vindo de outro mundo. Dona Conceição seguiu a mulher por
onde ela deveria ter entrado e em poucos instantes a visitante sumiu por
completo. A lavadeira se desnorteou e saiu a gritar ter visto uma visagem. E
chegou à entrada da casa grande a levar as mãos para o céu, clamando ao mesmo
tempo:
Conceição.
--- Meu Deus do céu! Alguém me
acuda! Eu vi uma assombração! Eu vi uma assombração! – gritava em pânico
As pessoas da casa não se
importaram de momento, pois a maior parte estava a conversar coisas normais.
Porém, um vaqueiro foi quem acudiu a mulher. Ele indagou do que se tratava e a
mulher apenas dizia em lágrimas
Conceição:
--- Visagem! Visagem! Visagem! –
dizia a mulher lavadeira
Foi, então que as pessoas da casa
tomaram ciência do ocorrido. Uma madame chamada Ofélia acudiu com cuidado a
senhora Conceição a indagar tal fato. Dona Conceição chorava e delirava ao
declarar apenas o ocorrido. O caso tomou vulto impressionante. Cada qual que
ditasse histórias assombrosas tidas nessa casa de interior.
Moça:
--- Gente! Está vendo? Eu não
disse? É a visagem! – articulou a primeira moça sobre essa assombração de
verdade.
Enquanto isso dona Ofélia,
senhora da casa grande caminhava com toda a atenção a sua lavadeira, dona
Conceição, essa chorando suas insípidas lágrimas. A cozinheira levava a mão aos
olhos uma forma de se envergonha do passado/presente e ter a ilusão de observar
aquele caso com a devida emoção.
Conceição:
--- Foi bem aqui que a visagem
sumiu. – falou a idosa mulher ao passar pelo corredor onde teve a impressão de
ter visto a enigmática mulher.
Ofélia:
--- Eu sei. Eu sei. Essas casas
velhas. São sempre assim. – fez de conta que sabia do fato.
E do lado de fora, as moças
conversavam sobre o assunto cada uma a falar de assombrações, homens
cadavéricos, moças estranhas, aparições de pessoas e tudo mais. Seu Nicodemos,
vaqueiro de certa idade, ouvia tudo e não falava. No entanto, ele foi o homem
que, um dia, ouviu vozes no sertão, onde ele estava, no alto da serra. Era
noite brumosa e Nicodemos procurava uma vaca do seu rebanho quando viu uma
porção de gente – homens e mulheres – se aproximar. Eram tropeiros, certamente.
Eles falavam de coisas que o homem – ainda moço – não entendia um ponto sequer.
E os tropeiros passaram por ele sem sequer notar. Passaram e foram embora para
o interior da floresta. No dia seguinte, Nicodemos procurou as marcas dos
tropeiros, pois com eles havia carga de jegues, e nada observou. As marcas não
existiam, de verdade. Então, Nicodemos encrespou o cabelo e devagar, saiu de
onde estava até pegar um aceiro e se pôs a correr. Era uma visagem, com
certeza.
Após algum tempo, muitos anos a
fio, ele contou a história a um grupo de matutos e o pessoal acreditou no que
ouviu. Um dos matutos teve a oportunidade de contar a sua história:
Matuto:
--- Certa vez, meu avô caminhava
por esse fim de mundo quando viu um velho a caminhar em sua direção. O meu avô
era ainda muito moço. Mas, ele contou a história de um homem já idoso vindo das
bandas do Buraco, uma região lá para as bandas de Colmeia, e se acercou do meu
avô e pediu um fogo, pois o “velho” estava com o seu cachimbo aceso. Um
cachimbo até pequeno. E o meu avô lhe deu fogo.
O matuto acendeu o seu cachimbo e de imediato saiu dizendo ser
agradecido. Nesse momento, sabe o que ocorreu? – indagou o novo matuto.
E os que estava a ouvir,
silenciaram e se puseram calados com a devida atenção:
Matuto:
--- O velho sumiu. Foi por
encanto. O meu avô não se deu por conta. De imediato, ele correu também
alarmando ter visto uma alma.
Matuto 2
--- E verdade. Nos confins desse
mundo do meu Deus tem muita coisa estranha que só vendo para crer. – relatou o
outro com a certeza acertada.
Nicodemos:
--- Pros lados da Capital, é que
tem coisa. Assombrações de meter dedo no olho. Gente que anda em carro de praça
e quando acaba, não tem ninguém no volante. É de meter medo. – confessou
Um pouco mais chegou à casa
grande um rapaz dos seus 30 anos ou mais para tomar a benção dos seus pais e,
em conversa, ficou ciente do ocorrido hora antes. Seu nome era Hildebrando e
fez o curso de Física estando a residir na América do Norte. Ele aproveitava as
férias para passar um pouco de tempo no seu país. E quando soube do ocorrido, o
físico nuclear procurou ter uma conversa com a idosa senhora. Ela estava na
lavanderia quando o rapaz se aproximou. Então, ambos entraram em conversa, ele
estando a morar em outro país e foi com isso se enturmar com a lavadeira quando
lhe perguntou apenas para conhecer o ocorrido. E lavadeira falou sem temor de
erros:
Conceição:
--- Foi um caso estranho. Uma
mulher de meia idade surgiu do nada. E perguntou a mim onde estava, o que era
aquilo e onde estavam os outros. Eu não dei muita importância, pois supunha ser
uma visita. Então, a mulher saiu do banheiro e caminhou para a sala. Foi ai o
transtorno. Quando estava na metade do caminho a mulher desapareceu. Então, eu
entrei em choque. E o que é que eu faço agora? – indagou ainda a lacrimar.
O homem sorriu leve e respondeu
com bastante calma.
Hildebrando:
--- Nada. A senhora não faça
nada. O que a senhora viu, de fato existe. É um cruzamento da linha do tempo.
Eu vou explicar a senhora. No Universo, temos vários outros Mundos. Acontece de
ocorrer um cruzamento por motivo inexplicável de um Universo com o outro. Então
as pessoas se cruzam. Digamos: eu sou desse Universo. A senhora e do outro. Mas
assenhora não percebe que eu estou no seu Universo quando de repente eu chego.
E ai deu-se o conflito. É o mesmo que a senhora morar em uma casa e, por acaso,
entrar em outra. Veja bem: se a senhora mora aqui nessa casa, não deve poder
entrar em uma outra a ficar a léguas de distância. Contudo, a senhora vai, e
entra na outra residência. É aí que está o conflito ou seja: a confusão. Veja
se entendeu. – indagou o rapaz a sorrir
A idosa senhora procurou entender
melhor esse conflito de pessoas. E chegou a certa conclusão
Conceição:
--- Quer dizer que a mulher
existe de verdade? – indagou com precaução.
Hildebrando:
--- Claro que essa mulher existe.
Apenas trocou de lugar. É como se a senhora fosse no Mercado e entrasse na
mercearia. É um vupt-vapt. – tentou explicar mais claramente.
Conceição:
--- Quer dizer que eu posso ir para
outro mundo? – indagou meio confusa ainda.
Hildebrando:
--- Eu prefiro dizer: “Não”. Mas
se houver essa oportunidade, um caso de conflito de linhas cruzadas e a senhora
estiver na vez, quem sabe? – sorriu o engenheiro.
Conceição:
--- Não. Não. Eu prefiro ficar
aqui mesmo. – respondeu a velha senhora.
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