- Jodie Foster -
- 06 -
SUÇUARANA
Suçuarana ou Sussuarana como se
chama pelos caminhos do sertão é uma onça parda e de um modo solitário a
preferir locais de difícil acesso tais como florestas, desertos e montanhas.
Geralmente caça ao entardecer. O carneiro, o veado e o caititu constituem suas
presas habituais. Os adultos se comunicam por meio de uma espécie de silvo
estridente. A fêmea tem a cria em cavernas ou em cepos ocos. O seu período de
vida é de 12 anos. A gestação gira em 90 dias e os filhotes nascem pintados com
manchas escuras no corpo. O seu pelo é em geral de cor bege rosado, podendo ser
cinza, marrom ou cor de ferrugem. A suçuarana está a vontade em cima das
árvores. Conta-se que uma só suçuarana matou 15 carneiros durante uma saída
para caçar. Por outro lado, ela raramente ataca o homem e tem tanto medo de
cães que sobe em árvores para escapar deles quando acuada.
Certa tarde/noite um homem do
campo sentiu falta de alguns carneiros em seu quintal. Ele era seu Joca
Tributino, homem rude e de pouca conversa. Tributino vivia em arrumado de
fazenda comprado de herdeiros no sertão do nordeste brasileiro. Na casa morava
a mulher, uma vez que os filhos se largaram logo cedo para cuidar da própria
vida em terras do Goiás. Nesse dia da falta de seus carneiros o homem rude
mascou fumo para poder pensar. A sua criação envolvia cabras, bodes, ovelhas,
gado e uma danação de carneiros, sendo esses para mais de cinquenta de tarara.
Sem saber a procedência do sumiço dos carneiros ele, então, resolveu atinar
para algum bicho estranho, talvez uma serpente devoradora de animais grandes ou
mais ou menos. De sorte acendeu o seu cachimbo para melhor tecer os seus
argumentos.
Joca:
--- Danação! Só pode ter sido
cobra! – pensou o velho Jacó a descontento da sorte.
A lua estava clara bem no alto da
chapada para onde Joca olhou sem acerto. Os três cachorros – sendo uma cadela –
estavam no desassossego a brincar entre eles até chegar a hora da xepa - arroz, farelo de milho, carne bovina e muita
gordura. A mulher da casa, dona Clinaura, era a responsável para dar a comida
aos cães de média raça. O homem, seu Joca Tributino continuava a pensar nos
carneiros então perdidos na mata grande onde o homem plantava e colhia de tudo
um pouco, de frutas a plantio de casa. Árvores imensas faziam o seu acerto.
Joca cuidava dos menores pés de pau enquanto os maiores ficavam por conta da
natureza. Com um pouco de tempo surge dona Clinaura com a xepa dos cães.
Clinaura:
--- Chega pra lá molestado. Vem
comer aqui! – lembrava a mulher enquanto os arruaceiros cães balançavam a cauda
cheios de alegria.
O homem nem dava conta dos cães.
A sua preocupação era com os carneiros desaparecidos visto ser um monte de
criação para a venda do fim da semana na feira livre da cidade onde homens de
comércio colocaram preço por saber da criação de Joca. E dos demais
desaparecidos estavam os maiores e de bom preço para a venda. Nas feiras livres
do interior a comercialização de ovinos e caprinos já chega em transporte de
caminhões muitas vezes lotados até demais. Seu Joca tinha o cuidado de arrumar
seus ovinos nas carrocerias da camioneta de modo a não sacrificar os animais.
Esse era um dos casos de oferecer um melhor preço na compra e venda dos bichos.
No entanto o desaparecer de alguns carneiros levou ao tormento o velho Joca o
qual não sabia a razão.
Joca:
--- Clinaura. Tu avistasses
alguma cobra pros esses lados? – indagou preocupado
Clinaura:
--- Eu não. Ora mais! – disse a
mulher sem graça alguma a alimentar os cães.
Joca:
--- Só perguntei! – resolver de
volta.
Por mais longo tempo o homem
ficou de pé ou sentado em uma cadeira a procura de resolver os seus sentidos.
Era noite de lua nova e o seu clarão não fazia festa. A minguante deixaria o
matuto atordoado.
Joca:
--- Se fosse minguante dava para
notar. Uma escuridão de monta. – fez ver.
Clinaura:
--- Quantas cabeças? – perguntou
sem se virar.
Joca:
--- Talvez oito a bem querer. –
relatou um pouco cismado.
Clinaura:
--- É bem capaz de ser onça. –
disse a mulher se levantando e com as mãos nas ancas.
Joca:
--- Onça? E tem onça para esses
lados? – indagou de sobressalto
Clinaura:
--- Eu vi as pegadas de uma há
poucos dias para os lados da lagoa. – completou.
Joca:
--- Como? E por que não de
dissestes? – falou alarmado
Clinaura:
--- Eu não crio bode! Tem mais! –
declarou a mulher ao entrar na casa.
Joca:
--- Não é bode! É carneiro! Sua
besta! – resolveu com malcriação.
Clinaura:
--- Bode, carneiro, vaca. Tudo é
uma coisa só! E não vem com malcriação! Ouviu? – disse mais a contenda.
Naquela noite o homem não dormiu
pastoreando o rebanho. Era uma vez o cachimbo e de outra o fumo de mascar. Ele
entrava e saia de dentro de casa com bastante cuidado para ver se notara alguma
marca de suçuarana, por sinal. Os cães
estavam alertas a qualquer motivo. E o homem dizia aos caninos.
Joca:
--- Vê se nota alguma suçuarana
por perto, ouviu? – indagou aos cães.
O mais esbelto balançou a cauda[aa1] . Os outros se esticaram no chão a observar o
extenso terreno a procura de alguma onça por acaso aparecesse. O velho homem
saiu da sua casa com a espingarda já no alvo de passar fogo. E por alí, na
saída do terraço encostou a arma a aguardou o bicho com bastante atenção. Joca
cuspiu fumo e acendeu o cachimbo na espreita da maldita a qual se enfurnara nas
brenhas da mata.
Clinaura:
--- Vai dormir? – indagou se
espreguiçado.
Joca:
--- Não! – respondeu o homem meio
desaforado
Corria a noite e às vezes a lua
desparecia encoberta por uma nuvem não permitindo se olhar o céu então escuro.
De um determinado instante, o cão grunhiu espantado. O velho olhou à gente e
viu apenas o matagal. O cão se levantou e caminhou devagar a seguir pelos
demais cães e, alertados, seguiram a trilha onde havia a presença de alguma
coisa. O homem, alarmado, seguiu também os seus três cães tendo logo
engatilhado a arma e teve o tino de apontar para algum ponto. Na perseguição
aguerrida, os três cães, a latir intermitente se enturmaram num frondoso pé de
maçaranduba onde estava a onça com bastante temor. O velho Joca chegou logo
atrás com a sua arma pronta para o disparo e não ouvia mais nada que os latidos
dos enormes cães em alvoroço, perseguindo o tronco de maçaranduba e a querer
subir onde a suçuarana estava bem no alto, trepada com sua cara enfurrascada
para os seus inimigos. De imediato o velho Joca se acercou da mata e tentou
alvejar a parte bruta do animal. A falta de iluminação da lua dificultava o
homem por completo. De qualquer modo, ele mirou em uma espécie de barriga a
estar vendo e fez fogo:
Joca:
--- Se é essa, tome tiro! – alertou
o homem sem a menor segurança
O gato soltou um tremendo silvo e
caiu da cima da árvore para morrer. Os cães se vingaram por completo
estraçalhando a suçuarana já em estado mortal. Eram latidos e granidos dos três
animais ante o terror do velho Joca garantindo ter morto a assassina malsinada:
Joca:
--- Tais morto bicho brabo! –
declarou sossegado
Foi um tiro certeiro aquele de
Joca Tributino em uma noite já quase nublada onde os demais animais apenas
ouviram o latir dos cães de caça. A vida pacata do sertão voltou a reinar
àquela noite sombria. No bagageiro da camioneta Ford na manhã daquele sábado
ainda morno Joca Tributino desembarcou o lote de animais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário