- GADO SOLTO -
- 18 -
MANHÃ
O dia amanheceu nublado, porém
sem chuva. Os vaqueiros estavam todos na ordenha do gado e os menores a
cavalgar para despertar o sono dos cavalos. Maria, mulher de Carcará, já
cuidava da refeição matinal para o pessoal que ainda dormia em seus cômodos,
menos a moça Tiana. Essa levantou logo cedo e foi ajudar Maria nos afazeres
domésticos. Antes de tudo, Tiana foi tomar leite da vaca. Leite gostoso,
viscoso, saboroso até, coisa que a moça há muito não fazia. Ela sorriu e
perguntou ao vaqueiro se podia beber um pouco daquele leite.
Vaqueiro
--- Beber Leite? Pode! Mas está
quente. Tirado do peito agora! - - disse espantado
Tiana
--- Eu sei. Estou acostumada.
Desde menina que faço isso. - - respondeu sorrindo
O vaqueiro nada respondeu. Apenas
continuou a puxar as tetas da vaca enchendo o copo da moça e, em seguida,
entrega-la para prosseguir sua faina diária. Tirar leite para um, tirar leite
para outro e as moscas a azucrinar com o vaqueiro com suas mãos, espanta-las,
sentado em seu banco de três pernas. Nesse ponto, Tiana teve que sair,
arrotando pelo leite que tomou. Outros vaqueiros passaram para um fundo do
quintal falado sobre algo que não se podia deduzir. E a moça foi para a cozinha
ajudar a Maria nos afazeres do dia da manhã.
Pouco mais das sete horas, a
família estava toda reunida na mesa para cuidar da pança. Toda, menos o menino
Aldo que ainda dormia. Gastão naquela hora, falou ter que ir à cidade. Se
tivesse algo ele tomaria conta. Caso contrário, voltaria logo cedo, antes das
onze horas.
Gastão
--- Jornais do dia só amanhã.
Duvido que venha hoje. Também! -- - falou sem ter certeza
Nesse instante, entrou o capataz
Carcará. O que estava a falar era sobre uma res. A vaca morreu talvez por um
choque de algum relâmpago na noite passada. Ele esteve a vadear por todo o
extenso campo procurando o gado. Alguns deles, extraviaram-se. Só encontrou uma
res morta. E retirou o chapéu da cabeça pondo-se a abanar como estivesse
fazendo calor.
Maria
--- Café? - - indagou a mulher
com o seu olhar matuto
Carcará
--- Um pouco. - - respondeu sem
fé. Ele estava triste com a morte da vaca.
Gastão
--- Só uma? - - indagou com
relação a vaca morta.
Carcará
--- Até agora, sim. Os vaqueiros
estão em busca pelo cercado. Lá longe. Merda! - -
Gastão
--- É merda mesmo. Foi chuva
braba. Relâmpagos sem fim. Eu penso que tem mais vacas mortas. Que merda mesmo?
- - falou desgostoso.
Com um pouco mais, Gastão teve
que sair para o seu serviço na capital. Ada lembrou dele passar no Apartamento
e ver se tudo estava em ordem. Ela lembrava do seu equipamento, o telescópio
que havia deixado com a cobertura por todo o canto. O homem respondeu que sim e
ficaria no trabalho o tempo de pudesse. Nesse ponto, o garoto Aldo veio do
quarto onde dormira. Ele estava ainda com o consolo na boca e o pano caindo ao
solo. Meio com sono, Aldo deitou no colo de Tiana onde pretendia dormir mais um
pouco. A moça nada reclamou e, pois, o menino um pouco mais confortável, como
podia. Ada caminhou até o cercado como se não tivesse ido outrora. Ela olhou o
céu ainda nublado e comentou para si.
Ada
--- Céu carrancudo! Deve chover
ainda hoje, - -
Manhã cedo, Corina caminhava para
o interior da Fazenda, levando de reboque a sua neta ainda pequena chamada
Marina. O tempo estava nublado como nos últimos dias e os vaqueiros tangiam o
gado para um outro lado do sítio onde, no local, tinha pasto mais novo. O
garoto Aldo observou a menina e fez um ar de riso o que lhe foi correspondido.
A menina caminha e olhava para trás para ver por mais vezes o garoto Aldo. Em
sua marcha, Marina andava e dava tropeços em pedaços de madeiras, como era
simples existir. Com a mão presa na mão de Corina, a menina continuava seu
caminho e nesse momento, Aldo correu para dentro de casa onde encontraria a
menina ao chegar na cozinha. E ficou atento escorado na parede esperando ver
chegar a bela menina olhando para a porta de saída até que Corina apareceu e,
com a avó, a menina Marina. Após os cumprimentos da senhora ao pessoal da casa,
veio a menina para ser abençoada por dona Maria, sua madrinha. Foi esse o caso
até a menina se aproximar de Aldo para saber se ele morava na casa, pois era a
primeira vez que o via.
Marina
--- Você mora aqui também? - -
perguntou acanhada
Aldo
--- É do meu pai. - -respondeu o
garoto
Marina
--- Ah bom. Eu nunca vi você
aqui. Também eu nunca venho. - - se desculpou
Aldo
--- Eu moro na cidade. Lá longe.
Na capital - - explicou
Marina
--- Eu fui lá poucas vezes. Uma
vez eu estava doente. E fui no hospital. - -
Aldo
--- Hospital? - - indagou
Marina
--- Sim. Fui para o médico. Só
isso. - -
Aldo
--- Você mora perto daqui? - -
quis saber
Marina
--- Moro em Macaíba. Quer dizer.
Mas perto daqui. - -
Aldo
--- Eu não sei onde é. - -
Marina
--- Depois da estrada. Subindo. -
- e fez com o braço o local
Aldo
--- Ah bom. Deve ser perto. Você
brinca? - - indagou
Marina
--- Eu? Brinco de boneca. - -
Aldo
--- Eu brinco de trem, de carro,
de tantas coisas. - -
Marina
--- Trem? Que é isso? - -
estranhou
Aldo
--- É um carro bem grande que o
povo viaja. - -
Marina
--- Mas eu nunca vi esse trem.
Pois eu brinco de boneca, sabugo de milho, carrinho de osso. Tudo isso - -
Aldo
--- Osso? - - estranhou
Marina
--- Sim. A gente os ossos e faz
com eles carro de mão. É assim - -
Aldo
--- Carro de mão? - - ficou
curioso
Marina
--- Sim. Com os que tem aqui.
Esses carros. - - disse e calou
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