quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 35 -

- CABARÉ -
- 35 -

- CABARÉ -

A noite era de todos! O Cabaré de Das Dores funcionava a todo vapor na noite de sexta-feira, quando começava a fuzarca já para o fim de semana. O movimento era sempre assim. Segunda, muito frio. Às vezes esquentava um pouco na quarta. Mas, na sexta era de tormento. As damas chegavam logo cedo da tarde, cada uma com seu traje mais ou menos indecente. Corpo nu era o mais querido. Saias pendentes nas pernas a se visualizar partes das coxas e até mesmo a peça de baixo das vestes. Gargalhadas davam o sinal do começo. Era noite quente de carnaval. A freguesia começava a chegar logo cedo da noite onde a bebida era franca por demais.
Beberrão:
--- Whisky!!! – pedia o homem a gargalhar com sua pança avantajada.
E as damas sorriam de contentamento. Todas queriam acompanhar o gorducho folião em sua particular festa.
Damas:
--- Whisky! Whisky! Whisky! – gargalhavam todas a um só tempo
Damas:
--- Música! Música! Música! – gargalhavam mais a pedir do mesmo modo som
E a vitrola do bar continuava a moer as melodias carnavalescas ambientadas no seu tempo ou mais para trás. As damas gargalhavam e se estiravam a sentar no colo do General da Banda ao som frevo mais aquecido naqueles dias de rebeldia travessa.  Esse era o bar. O Cabaré de Das Dores”, o mais afamado bordel da capital. A casa da luz vermelha. Para o seu interior, quando dava às oito horas da noite, já não tinha mais lugar para alguém se apoiar de fato. As marchinhas de carnaval eram as mais procuradas pelos demais frequentadores repletos de ilusão passageira de um sonho infantil.  Os pianistas se espalhavam pelo salão a atender as demais solicitações entre as comédias dos acordes da incontrolável vitrola.
Folião:
--- Apague essa porra! Deixa o pianista tocar! – gritava um embriagado com uma voz trancada
Nada importava aos imponentes embriagados no início da noite para durar até o amanhecer quando tudo voltava ao normal, naquele sábado apenas de meio expediente no comércio. Para acertar em cheio, o bordel de ficava no alto de um prédio da Rua Chile onde, por um tempo, foi o Gabinete do Governo do Estado. No final da casa da luz vermelha havia apenas o rio, onde siris e caranguejos faziam suas danças entre os escombros de alguma loja. Na parte de baixo do bordel, havia o comércio de vendas de coisas raras da capital. No restante da rua, para cima ou para baixo, era luxo só, com os demais bordeis entre repartições, fábricas de gelo, casas de yoles, faluas e caravelas entre as demais embarcações existentes no local. E os bêbados a se acercar dos prostíbulos existentes ao logo da rua à margem do rio. Tudo isso ao chope do carnaval.
Um grito:
Alguém:
--- Pega ele!!! Não deixa escapar!!! – gritava para se pegar o homem a correr.
E o reboliço da rua Chile aumentava. Correria que nem doido. Passa por e por dois. Por toda a multidão a pular sem maestria ao som da música delirante vinda de algum lugar. Batuques, surdos, pandeiros entre o barulho frenético das cornetas, trompas e trompetes.
Musica:
--- “Se você fosse sincera. Ô. Ô, Ô, Ô. Aurora!” – seguia a inolvidável marcha a conduzir os foliões
Quem pegasse o assassino levaria bofetes de encher a cara. Todos gritavam no desandar da folia sem parar. E ninguém percebia o jeito do criminoso. Apenas correria louca entre os desvairados foliões, cada qual com a sua garrafa de cerveja ou whisky na mão. E cantavam, dançavam ao som das vitrolas existentes nos barres da rua.  Um gracejar de meretriz enchia por demais e com frequência o templo dos amores indigestos. Confetes e serpentinas rolavam com destino a rua a enlouquecer a cada qual a folia de Mômo. O buzinaço dos cabriolés a transitar era o frenesi da enlouquecida festa. Do criminoso não se teve mais noção naquela noite de bagunça. O trem de ferro trafegava com vagar pela parte entre a Estação e os depósitos de algodão. O comboio chegava com imediata precação para não ferir por impacto os foliões ensandecidos a pular em algazarra entre a Avenida Tavares de Lyra e a Rua Chile o trono do folguedo. O barulho do trem com as suas buzinas era uma loucura.  Entre foliões, havia também pescadores chegados do mar em seus barcos. Homens sujos, para não declarar imundos. Os apanhadores do pescado seguiam com velocidade atroz para o mercado do peixe. Aquilo lembrava uma dança de fandango.
Pescadores:
--- Olha o melado!!!! – relatavam eles para não atrapalhar os foliões desavisados.
E no Cabaré, continuava a festa com adornos próprios da algazarra momesca onde se brindava a todo instante os folgazãos embriagados a àquela altura mais embriagados que sóbrios a gritar o mais possível no folguedo da atração. Vez por outra uma porta era aberta e um folião saía com a sua amada aos beijos maledicentes já nem podendo dançar e sacolejar a enorme pança.
Folião
--- Brindemos ao doutor Hermes!!! – apupava um folião para o excêntrico barrigudo a sair de alcova vermelha.
Outros:
--- Viva!!! – e elevavam suas belas taças de champanhe.
O Juiz já nem mais se aguentava com tamanha afeição quase a cair. E fazia um gesto mostrando o seu muque.
Juiz:
--- Olhe aqui, ó!! – e mostrava o seu muque alertando a sua fama.
Um historiador de fama gargalhava com o recado do Juiz. As mulheres do historiador caíam por cima dele aos incontáveis beijos. 
Demais:
--- Viva o Ministro!!! – gritavam os pares.
Era assim o comportamento dos Supremos da Corte quando estavam em festa de Mômo no Carnaval de sua capital. A bandalheira era levada aos mais altos Graus da esfera. Estando ali, os confrades eram todos irmãos.  Aconteceu, porém, ter um súbito desmaio ocorrido ao velho desembargador no meio do salão. A gargalhada que se fazia, amainou deveras um pouco:
Pessoa:
--- Que? Desmaiou? – perguntou um folião.
Segunda:
--- O desembargador? – indagou de súbito
Juiz:
--- Pega o homem!!!! – reclamou o Juiz do alto de sua importância. Ele não podia com o velho
Os demais – nem tantos. Alguns. – acorreram e soergueram o Desembargador para pô-lo em uma improvisada cama.
As damas da noite – meretrizes, todas elas – arranjaram um leito onde puseram o ilustre homem já por demais decaído com sinais de morte. E alguém com certeza, falou:
Alguém
--- Ele está morto! – relatou de sobressalto.
Dama:
--- Ai meu Deus? Aqui? – reclamou com a mão fechando a boca.
Rapaz:
--- Chama um médico! Chama um médico! – gritou alarmado
Ébrio:
--- Que médico? O homem já era! – falou cambaleando
Juiz:
--- Ninguém fala que o desembargador estava nesse recinto!!!! – conclamou raivoso
Ébrio:
--- E estava aonde seu Juiz? – indagou não sabendo dizer aonde.
Juiz:
--- Quem? Cala tua boca ou ordeno a sua prisão! – falou austero
Ébrio:
--- Prisão? Tanto faz! Eu sou carcereiro da cadeia! – lamentou o embriagado
Rapaz:
--- O melhor é levar o desembargado a um hospital. A gente tira pelo lado de fora! Vamos buscar a maca! – falou sombrio 

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