sábado, 20 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 44 -


- Sophie Charlotte -

- 44 -

O QUARTO
Naquela noite, passando já pela madrugada, Januário dormia a sono solto sem nada que lhe pudesse acordar. Ele morava em um sítio do doutor Guilherme onde tomava conta do gado da fazenda. Para isso, Januário acordava cedo da madrugada, por volta das quatro horas quando já tirava o leite das vacas antes de deixa-las ir para o cercado. Mas, nessa madrugada, ainda cedo, ele foi despertado por um berro ofegante como de alguém a estar prestes a morrer. Na casa de Januário tinha dois quartos. Um, era dele. O outro era para guardar a ferramenta. Além disso, tinha uma sala e um cubículo no terminal do casebre onde o homem fazia suas refeições. Do lado de fora só tinha plantio de matos e nada mais. A casa velha, por sinal, não tinha nada pra ladrão roubar, a não ser as ferramentas do serviço. Coisas velhas também. Enxada, foice, machado, ferro de marcar as vacas, touros, bezerros etc. Mas o grunhido de alguém morrendo era tamanho que parecia vir do segundo quarto ou mesmo da cozinha. Então, sem nenhum temor, Januário foi até o quarto vizinho para ver setinha alguém ou algo que imitasse o berro de algum homem ferido. Ele procurou, procurou, mas nada percebeu. Durante a procura, o gemido parou de vez. Januário foi até a latada da cozinha e nada encontrou com maior certeza.
Então, Januário voltou para o seu quarto onde procurou pegar no sono. Ainda era cedo para ele sair para o terreiro e colher o leite das vacas, por isso mesmo foi de algum modo adormecer até chegar a hora de sair de vez. Quando Januário se acomodou, novamente o barulho ocorreu. Com isso, o rapaz se inquietou.
Januário;
--- Será possível! Eu vou acabar com essa raça! – falou com bastante raiva.
E se levantou da cama pegando a espingarda e saindo a todo custo para examinar outra vez o segundo quarto, a cozinha e, por fim, seguiu para o oitão da casa supondo ser até mesmo um rato a fazer toca por debaixo das palhas existentes no local. Porém, quando chegou ao oitão, tudo estava em silêncio. E ele supôs.
Januário:
--- Só pode ser mesmo rato. – pensou matutando.
E se pôs a vasculhar o terreno jogando fora todos os entulhos existentes para acabar com a zoada. Ele pegou a lamparina e tocou fogo nas palhas existentes no oitão da casa. Quando acabou com os entulhos ele assim falou.
Januário:
--- Quero ver se essa peste não morre agora! – falou com a maior raiva possível.
Nesse momento, na escuridão da noite, passou ao redor de Januário uma sombra seguida de um vento frio. O homem sentiu um arrepio estranho com de alguém a correr com a maior força tencionando o levar. Januário fez uma careta como a enrugar da testa quase a indagar quem estava naquele meio-ambiente. Porém, não disse coisa alguma. Apenas sacudiu o seu gibão de vaqueiro e se apoio por entre a gola seguida do chapéu de couro. Ele olhou ao derredor e nada avistou de concreto.  Fez uma cara séria quando fez a sua pesquisa por entre toros de imburana postados do encosto de terreiro do casebre. Daí, então, Januário, desconfiado, rodou por toda a área circundante como querendo encontrar esse bicho do mato a fazer intermitente barulho àquela hora da madrugada. Ele olhou o céu escuro e apenas viu a lua em minguante já caindo no poente e umas nuvens escuras sem prenunciar temporal ou chuva fraca. O seu avistar, não sabe Januário nem porque razão. Ele apenas vislumbrou o Céu, e nada mais. Após percorrer todo o casebre pelo lado de fora, afinal adentrou onde foi verter urina e beber um pouco de água a buscar no cacimbão aberto no terreiro.
Ciente de que acabou com a zoadeira da madrugada, ele se encostou numa cadeira de palha a pensar de imediato nas vacas. Pela escuridão da noite, ainda era tempo para esperar o ordenhar do gado. E, de imediato, ele percebeu a sobra de um ser a passar na cozinha com uma ligeireza espantosa. Vupt-vapt! E de imediato Januário seguiu até a cozinha para ver quem estava dentro de casa àquela hora da madrugada. Ao chegar na cozinha, de nada notou. A cozinha da tapera só tinha uma saída que também era a entrada. E então, Januário supôs.
Januário:
--- Ladrão não foi! Só resta uma aparição! – e ele chamou com força
A chamar a visagem com todo o temor, o homem não obteve resposta. Assim, ele falou:
Januário:
--- Pois se tu não quer falar lá vai chumbo. – e armou a sua espingarda para despejar fogo em qualquer direção.
Foi um tiro só. Com isso nem a visagem se alarmou. Januário foi quem se apavorou. Entre a fumaça da esmorecida espingarda surgiu uma visagem tormentosa a querer agarrar o vaqueiro pela goela a soerguer com as suas mãos e, todo afoito, acertou o chapadeiro ao sacudir contra a parede da tapera. As garras temíveis do fantasma eram de um rigor infernal. Com o baque contra a parede da tapera, o campeiro esmoreceu ao chão de barro. Porém, de imediato, o vaqueiro balançou a cabeça para um alado e outro e definiu:
Januário:
--- Ah! É guerra! Pois se aguente! – e puxou de vez a espingarda caída há pouca distância e armou para fazer fogo.
A assombração sorriu e, com seu corpo duas vezes maior que a do vaqueiro, assumiu o terror de não temer o tiro da arma, pois em nada lhe afetava. E o fantasma agarrou pela cintura o homem de pouca idade, levantou-lhe de vez e o sacudiu ao frio chão.
Fantasma:
--- Eu te mato sua besta fera! – falou com a voz grossa para o vaqueiro estatelado ao solo.
O vaqueiro não se conteve e ficou de quatro, balançou a cabeça, e olhou direto, sem meia conversa para a assombração e, por fim, avançou para o ser agarrando pela garganta com uma estranha força a força-lo a tombar direto ao chão. Mesmo assim o espectro não temeu. E, com certa força soergueu o homem o mais alto que pode o soltou ao terreno.
Fantasma:
--- Venha! Venha! – ditava o espectro sorrindo meio amargo e batendo com as suas mãos.
Já um pouco assustado com os baques levados lhe pondo ao chão, mesmo assim, Januário e soergueu após uns breves segundos e olhou de vez para o demônio. Ainda de quatro ao solo, ele indagou sem graça.
Januário:
--- Quem é você, seu monstrengo verme? – indagou ao espectro ainda meio zonzo
O demônio gargalhou para após dizer-lhe das terras possuídas.
Fantasma
--- Eu? Quem sou eu? Sou o dono dessas vastas terras. De sul a norte. De leste a oeste. Tudo isso é de minha propriedade! – arrematou a sombria aparição estando então nas terras do doutor Guilherme.
O vaqueiro, ainda de quatro, a sacolejar a cabeça, então respondeu sem saber de nada.
Januário
--- Eu apenas trabalho para o doutor Guilherme. Não sei de nada. Nem de onde ele veio, nem de quem adquiriu. De nada! Se o senhor é o dono, por que não vai brigar com ele? – argumentou
O fantasma gargalhou e, de imediato se fechou com seu olhar profundo e atravessado e em seguida, com voz cavernosa, discorreu.
Fantasma
--- Ele é astuto! O pai desse senhor era mais astuto ainda! O velho guerreou durante muitos anos com a minha família. Eu sou o herdeiro legitimo dessas terras. Se o senhor quiser, cave no terreno onde está armada agora esse casebre e encontrará ossos de gente. Eu quero as minhas terras, é só! – falou com voz intransigente e fantasma
Januário;
--- E que tenho eu com isso? – perguntou o vaqueiro já se ponde de pé.
O espectro, de modo aloucado, teve a vez de falar com pura insolência.
Fantasma;
--- Quem o senhor pensa que é? Um ermitão ou um puro vaqueiro? Heim? Eu sou o dono dessas amplas terras e bem sei quem o senhor é, na pura verdade!!! – falou ameaçador
Januário ficou em dúvida em saber da verdade. Mesmo assim, indagou.
Januário:
--- E quem eu sou? – indagou com o olhar desconfiado.
O fantasma gargalhou e, em seguida, declarou.
Fantasma:
--- Não sabe? Pois o senhor é o filho mais velho desse doutor de merda. O sertanejo Guilherme. Ele nunca foi doutor. E habita o meu local onde estão meus entes queridos. – e fantasma sumiu


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