quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 50 -


- Alice Braga -

- 50 -

A GUERRILHA 

O Volks circulava a total velocidade permitida pelo próprio motor do veículo. Dentro, estavam cinco guerrilheiros bem armados, com capuz e armas. No banco de trás do Fusca, uma mochila. Dentro, coquetéis Molotov, pistolas e três metralhadoras. O veículo a trafegar à toda pressa para alcançar em breve tempo o Quartel General. Gente a passar na rua; uma oficina de jornal impresso; Igreja com pouca gente; a Câmara Municipal; casas de residência; o Palácio Episcopal da Igreja Católica. Era tudo o que se podia ver. A Guarnição do Exército estava protegida por sacos de areia entre fuzis e metralhadoras. Tudo era quieto. Um oficial buscava entrar no Quartel àquela hora. Entre os sacos de areia, apenas a guarnição. Era hora de compras no Mercado da cidade. Um militar sacudia um cantil para outro. Conversas vãs. O relógio da Catedral marcava pouco menos das oito horas da manhã. Um soldado militar com a sua corneta marcava um aviso qualquer. Um casal de namorados a sorrir por uma fútil conversa em frente à Catedral. Um veículo vagaroso a transitar. Tudo era enervante paz.
De repente, o espocar de um coquetel. E outros na sequência. Tiros de metralhadoras rugiam a todo tempo. Um soldado a cair. E outro mais. A ação da guerrilha foi rápida. O auto desviou e percorreu em sentido contrário. A ação militar foi rápida. O Jipão iniciou com as suas tropas a perseguição ao Volks. Carros a atrapalhar a corrida do veículo do Exército. O Volks corria célere a desviar de um e de outro obstáculo. Lá na frente um outro auto já estava a postos. Os guerrilheiros desembarcaram do seu veículo para tomar assento em um segundo carro. O veículo, sem conta de dúvidas, embarcou os cinco guerrilheiros e subiu a estrada tendo logo em seguida desaparecido por completo.  
Uma caçada humana ocorreu a partir daquele instante. Veículos das Forças Armadas assumiam o controle de toda a capital. Uma peça programada para ser apresentada o teatro, foi, em tempo desmarcada. Soldados da Polícia foram alertados para proibir toda e qualquer apresentação do espetáculo, naquele em outros dias. Havia uma onda de militares a guarnecer o Teatro. Nos encontros de pessoas, nada além de dois companheiros podiam estar próximos a conversar. A patrulha de militares vigiava todas as artérias da cidade. Ouvia-se um tiroteio em algum local e as pessoas se resguardaram em suas moradias. As sessões de cinema foram suspensas até aquietar-se a situação. A Assembleia Legislativa apenas se ouvia pronunciamento de políticos da direita. Não havia políticos de esquerda. Apenas dois partidos: um de “direita” ligado a uma força política e outra, também de “direita” ligada a outro líder, com certeza, político. Na verdade, o Estado era governado por duas partes, ambas de “direita”. O pessoal de “esquerda”, esse vivia marginalizado. A sua ação era momentânea e intempestiva.
Esquerda:
--- Cuidado! A ação foi rápida! Mesmo assim, vale a pena ter cuidado! – comentou
Esquerda 2:
--- Mas temos pessoas na “direta esquerdista”. – disse o outro
Esquerda
--- Certo. Certo. Mas, é ter cuidado!
Esquerda 2:
--- E a Câmara?  -
Esquerda
--- Essa, é a turma que fala de lado. Nada a comentar. –
Esquerda 2;
--- E o chefe? –
Esquerda:
--- Ele pediu cautela! – aconselhou
A revolta da conflagração socialista era muito vaga. Tudo era baseado em Cuba e na China. No Brasil, as Forças Aramadas estavam em constante vigilância. Houve uma vitoriosa ação de estabelecimento por parte de integrantes comunistas em partes da região Nordeste. Porém, a repressão era mais ativa. Os comunistas, na verdade, tinham gente, mesmo assim desarmada. O combate entre guerrilheiros e militares era uma constante desigual para os militantes de suma esquerda. A ação guerrilheira era derrubar o Governo há qualquer preço. Um levante popular, ao modo de dizer. Os guerrilheiros, com orientação de Cuba e China sem contar com a URRS, detonariam um fortemente assalto o estilo da própria Cuba e esse levante começaria pela zona rural.
Sindicalista:
--- É bom começar pelos Sindicatos Rurais e as Ligas Camponesas. – falou um líder
Sindicalista 2;
--- A ação só vigora nos centos urbanos com a vitória do campo! – falou com maestria.
Sindicalista:
--- Falaste certo. O palco das operações será o campo! – determinou
O grupo era formado por uns poucos jovens, todos ou quase de classe média, entre os quais, estudantes universitários e profissionais liberais. E o empenho era formar a luta armada. Em cidades pequenas do interior nordestinos o pessoal estava no combate de ferro e fogo. A luta protegida por uma cortina de silêncio.
Camponês
--- Lutamos por uma revolta popular! Esse é o nosso lema! Armados e sempre juntos! – relatava.
Camponês – 2
--- A justiça contra os latifundiários! Sempre sem receio! – gritava como se estivesse em uma ação popular.
A política das guerrilhas vinha antes do tempo de 1964 com a linha de guerra popular ditada pela China. Os guerrilheiros estavam prontos para uma linha de guerra popular prolongada de inspiração maoísta. Para tanto, eles contavam com treinamento militar da China. As Ligas Camponesas foram organizações de camponeses formadas pelo PCB, o Partidão, a partir de 1945. Ele era um dos movimentos mais importantes em prol da reforma agrária e da melhoria das condições de vida no campo no Brasil. Em 1954, as Ligas surgiram no Estado de Pernambuco e, posteriormente, na Paraíba. As Ligas eram estabelecidas em vários municípios entre trabalhadores rurais de todo o tipo. No início da década de 60, as Ligas já haviam se difundido pelo nordeste brasileiro com repercussão internacional no contexto da Revolução de Cuba. Com o surgimento da agitação de Havana, as Ligas passaram a ser um rigoroso movimento agrário contagiando setores rurais e urbanos. No final de 1963 o movimento estava concentrado nos Estados de Pernambuco e Paraíba e seu apogeu como organização de trabalhadores rurais ocorreu no início de 1964 com cerca de 80 mil filiados, inclusive no Rio Grande do Norte, unindo aos Sindicatos Rurais:
Camponês:
--- “Reforma Agrária na Lei ou na marra!” – era o dito
Desse momento em diante, os guerrilheiros urbanos propagaram de forma armada os ataques aos Quarteis Militares, apesar de vir a sofrer duras perseguições. Nada podia se articular no dia. Apenas o rigor teria ação pela noite e madrugada. O movimento dos guerrilheiros estava apenas se iniciando. Mesmo sem recursos, os rapazes angariavam donativos com os de maior poder, então formavam a ação libertadora, como surgiu, nesse tempo, a Ação Libertadora Nacional. Os comunistas, apesar de serem fracos em recursos, eles eram fortes em decisões. A decisão de criar a ANL – Ação Libertadora Nacional – veio da mente de um ex-militar baiano, Carlos Marighela. Criar uma organização clandestina que teria como principal objetivo treinar grupos guerrilheiros com o objetivo de formar um expressivo movimento armado urbano. Outra ação de Marighela era arrecadar meio milhão de dólares com a realização de uma série de assaltos a estabelecimentos bancários, no sul do país. Assim, o homem se tornou conhecido pela imprensa nacional como sendo o “líder terrorista” de expressão do país.
Comunistas;
--- O caso de Marighela está piorando! – comentava um guerrilheiro.
Comunista 2;
--- É melhor guardar silencio. Ninguém sabe de onde vem a revolução! – falou com cautela
Comunista:
--- A Ditadura está bem armada. Os norte-americanos dão apoio integral à morte dos nossos homens. – falou taciturno.
Comunista 2:
--- O capitão Carlos Lamarca está com a Vanguarda Popular Revolucionária. – alertou
Comunista:
--- Consciência política! – complementou
O veículo dos guerrilheiros de esquerda atingiu em sua fuga, a cidade de São José do Mipibu, com os rapazes a gargalhar com ação feita horas antes, contra o Quartel General, na Capital. Plenamente esgotados, eles ainda defendiam, acima de tudo, a integral luta armada. Em sua fuga, os guerrilheiros avistaram topas do Exército em sua perseguição.

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