- Alice Braga -
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A GUERRILHA
O Volks circulava a total
velocidade permitida pelo próprio motor do veículo. Dentro, estavam cinco
guerrilheiros bem armados, com capuz e armas. No banco de trás do Fusca, uma
mochila. Dentro, coquetéis Molotov, pistolas e três metralhadoras. O veículo a
trafegar à toda pressa para alcançar em breve tempo o Quartel General. Gente a
passar na rua; uma oficina de jornal impresso; Igreja com pouca gente; a Câmara
Municipal; casas de residência; o Palácio Episcopal da Igreja Católica. Era
tudo o que se podia ver. A Guarnição do Exército estava protegida por sacos de
areia entre fuzis e metralhadoras. Tudo era quieto. Um oficial buscava entrar
no Quartel àquela hora. Entre os sacos de areia, apenas a guarnição. Era hora
de compras no Mercado da cidade. Um militar sacudia um cantil para outro.
Conversas vãs. O relógio da Catedral marcava pouco menos das oito horas da
manhã. Um soldado militar com a sua corneta marcava um aviso qualquer. Um casal
de namorados a sorrir por uma fútil conversa em frente à Catedral. Um veículo
vagaroso a transitar. Tudo era enervante paz.
De repente, o espocar de um
coquetel. E outros na sequência. Tiros de metralhadoras rugiam a todo tempo. Um
soldado a cair. E outro mais. A ação da guerrilha foi rápida. O auto desviou e
percorreu em sentido contrário. A ação militar foi rápida. O Jipão iniciou com
as suas tropas a perseguição ao Volks. Carros a atrapalhar a corrida do veículo
do Exército. O Volks corria célere a desviar de um e de outro obstáculo. Lá na
frente um outro auto já estava a postos. Os guerrilheiros desembarcaram do seu
veículo para tomar assento em um segundo carro. O veículo, sem conta de
dúvidas, embarcou os cinco guerrilheiros e subiu a estrada tendo logo em
seguida desaparecido por completo.
Uma caçada humana ocorreu a
partir daquele instante. Veículos das Forças Armadas assumiam o controle de
toda a capital. Uma peça programada para ser apresentada o teatro, foi, em
tempo desmarcada. Soldados da Polícia foram alertados para proibir toda e
qualquer apresentação do espetáculo, naquele em outros dias. Havia uma onda de
militares a guarnecer o Teatro. Nos encontros de pessoas, nada além de dois
companheiros podiam estar próximos a conversar. A patrulha de militares vigiava
todas as artérias da cidade. Ouvia-se um tiroteio em algum local e as pessoas
se resguardaram em suas moradias. As sessões de cinema foram suspensas até
aquietar-se a situação. A Assembleia Legislativa apenas se ouvia pronunciamento
de políticos da direita. Não havia políticos de esquerda. Apenas dois partidos:
um de “direita” ligado a uma força política e outra, também de “direita” ligada
a outro líder, com certeza, político. Na verdade, o Estado era governado por
duas partes, ambas de “direita”. O pessoal de “esquerda”, esse vivia
marginalizado. A sua ação era momentânea e intempestiva.
Esquerda:
--- Cuidado! A ação foi rápida!
Mesmo assim, vale a pena ter cuidado! – comentou
Esquerda 2:
--- Mas temos pessoas na “direta
esquerdista”. – disse o outro
Esquerda
--- Certo. Certo. Mas, é ter
cuidado!
Esquerda 2:
--- E a Câmara? -
Esquerda
--- Essa, é a turma que fala de
lado. Nada a comentar. –
Esquerda 2;
--- E o chefe? –
Esquerda:
--- Ele pediu cautela! – aconselhou
A revolta da conflagração
socialista era muito vaga. Tudo era baseado em Cuba e na China. No Brasil, as
Forças Aramadas estavam em constante vigilância. Houve uma vitoriosa ação de
estabelecimento por parte de integrantes comunistas em partes da região
Nordeste. Porém, a repressão era mais ativa. Os comunistas, na verdade, tinham
gente, mesmo assim desarmada. O combate entre guerrilheiros e militares era uma
constante desigual para os militantes de suma esquerda. A ação guerrilheira era
derrubar o Governo há qualquer preço. Um levante popular, ao modo de dizer. Os
guerrilheiros, com orientação de Cuba e China sem contar com a URRS, detonariam
um fortemente assalto o estilo da própria Cuba e esse levante começaria pela
zona rural.
Sindicalista:
--- É bom começar pelos Sindicatos
Rurais e as Ligas Camponesas. – falou um líder
Sindicalista 2;
--- A ação só vigora nos centos
urbanos com a vitória do campo! – falou com maestria.
Sindicalista:
--- Falaste certo. O palco das
operações será o campo! – determinou
O grupo era formado por uns
poucos jovens, todos ou quase de classe média, entre os quais, estudantes universitários
e profissionais liberais. E o empenho era formar a luta armada. Em cidades
pequenas do interior nordestinos o pessoal estava no combate de ferro e fogo. A
luta protegida por uma cortina de silêncio.
Camponês
--- Lutamos por uma revolta
popular! Esse é o nosso lema! Armados e sempre juntos! – relatava.
Camponês – 2
--- A justiça contra os
latifundiários! Sempre sem receio! – gritava como se estivesse em uma ação
popular.
A política das guerrilhas vinha
antes do tempo de 1964 com a linha de guerra popular ditada pela China. Os
guerrilheiros estavam prontos para uma linha de guerra popular prolongada de
inspiração maoísta. Para tanto, eles contavam com treinamento militar da China.
As Ligas Camponesas foram organizações de camponeses formadas pelo PCB, o
Partidão, a partir de 1945. Ele era um dos movimentos mais importantes em prol
da reforma agrária e da melhoria das condições de vida no campo no Brasil. Em
1954, as Ligas surgiram no Estado de Pernambuco e, posteriormente, na Paraíba.
As Ligas eram estabelecidas em vários municípios entre trabalhadores rurais de
todo o tipo. No início da década de 60, as Ligas já haviam se difundido pelo
nordeste brasileiro com repercussão internacional no contexto da Revolução de
Cuba. Com o surgimento da agitação de Havana, as Ligas passaram a ser um
rigoroso movimento agrário contagiando setores rurais e urbanos. No final de
1963 o movimento estava concentrado nos Estados de Pernambuco e Paraíba e seu
apogeu como organização de trabalhadores rurais ocorreu no início de 1964 com
cerca de 80 mil filiados, inclusive no Rio Grande do Norte, unindo aos
Sindicatos Rurais:
Camponês:
--- “Reforma Agrária na Lei ou na
marra!” – era o dito
Desse momento em diante, os
guerrilheiros urbanos propagaram de forma armada os ataques aos Quarteis
Militares, apesar de vir a sofrer duras perseguições. Nada podia se articular
no dia. Apenas o rigor teria ação pela noite e madrugada. O movimento dos
guerrilheiros estava apenas se iniciando. Mesmo sem recursos, os rapazes
angariavam donativos com os de maior poder, então formavam a ação libertadora,
como surgiu, nesse tempo, a Ação Libertadora Nacional. Os comunistas, apesar de
serem fracos em recursos, eles eram fortes em decisões. A decisão de criar a
ANL – Ação Libertadora Nacional – veio da mente de um ex-militar baiano, Carlos
Marighela. Criar uma organização clandestina que teria como principal objetivo
treinar grupos guerrilheiros com o objetivo de formar um expressivo movimento
armado urbano. Outra ação de Marighela era arrecadar meio milhão de dólares com
a realização de uma série de assaltos a estabelecimentos bancários, no sul do
país. Assim, o homem se tornou conhecido pela imprensa nacional como sendo o
“líder terrorista” de expressão do país.
Comunistas;
--- O caso de Marighela está
piorando! – comentava um guerrilheiro.
Comunista 2;
--- É melhor guardar silencio.
Ninguém sabe de onde vem a revolução! – falou com cautela
Comunista:
--- A Ditadura está bem armada.
Os norte-americanos dão apoio integral à morte dos nossos homens. – falou
taciturno.
Comunista 2:
--- O capitão Carlos Lamarca está
com a Vanguarda Popular Revolucionária. – alertou
Comunista:
--- Consciência política! – complementou
O veículo dos guerrilheiros de
esquerda atingiu em sua fuga, a cidade de São José do Mipibu, com os rapazes a
gargalhar com ação feita horas antes, contra o Quartel General, na Capital.
Plenamente esgotados, eles ainda defendiam, acima de tudo, a integral luta armada.
Em sua fuga, os guerrilheiros avistaram topas do Exército em sua perseguição.
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