- Kim Novak -
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A LIBERDADE É BRANCA
Tarcísio chegou um pouco atrasado
à Universidade. Ele falou com os colegas de classe e passou a ouvir o Professor
e o que ditava em sua aula. A noite estava estia e em outras classes era
algazarra total. Ele perguntou o que estava havendo no outro setor da
Faculdade, e o colega respondeu ser uma festa de confraternização:
Aluno:
--- Eles estão comemorando o Dia
da Negritude. – falou o rapaz.
Tarcísio:
--- E é hoje? – indagou surpreso.
Aluno:
--- Era para ser. Mas o Comércio
pediu o seu cancelamento. – explicou
Tarcísio:
--- Amanhã é o Dia dos Mártires
de Cunhaú. É feriado em todo Estado. – fez ver.
Aluno:
--- Quem foi? – indagou.
Tarcísio:
--- Coisa do início do século 16.
Houve morte. A Igreja é que sabe. – sorriu
E o aluno também sorriu. Aquela
era a aula do curso de Jornalismo. Talvez fosse matéria para se procurar
informar. Os jornais locais nada discursaram a respeito dos Negros. Afinal, no
Rio Grande do Norte, questão de negros e índios passava por cima. Havia forte
preconceito com os negros. Negócio oriundo dos tempos dos tataravôs. Tarcísio
lembrava muito de piadas entre negros: “Negro da cor da noite tem catinga de
cupim. Valei-me Nossa Senhora de que negro já tenha fim”. E só havia empregos para quem fosse “branco”.
Os negros não conseguiam sequer carteira Profissional. Certa vez, um rapaz de
cor negra procurou tirar sua Carteira e não teve êxito:
Atendente:
--- Está faltando papel. –
respondeu sem modos o homem da DRT.
E na mesma hora o negro viu um
rapaz de pele clara tirar esse documento. O negro nada falou e saiu para um
boteco onde procurar tomar uma cerveja e o proprietário do estabelecimento
serviu uma cerveja quente a declarar:
Balconista:
--- Só tem essa. E acabou. Não
tem mais. – respondeu o balconista.
Tarcísio tinha conhecimento de
negros que eram “presos” e levados para a Base Naval onde se recrutava gente
desse estilo para tomar conta dos porões dos navios da Marinha. Fazer fogo das
máquinas era o precioso oficio. Havia relatos de negros presos e sentenciados
por nada. Apenas esses negros eram suspeitos de alguns crimes de morte. Contudo
nada havia como prova. Certa vez, uma moça branca foi condenada por ser filha
de uma mulher de cor negra. A moça tinha conseguido um trabalho em uma
Repartição Pública e, por causa de sua origem de pessoa de cor negra, findou
por perder toda essa renda.
Tarcísio:
--- A liberdade é branca. E a
turma está festejando os negros. – comentou.
O amigo de classe sorriu e
emendou:
Aluno:
--- Mas, aqui, no Estado, não
houve nenhuma celebração alusiva. A turma está fazendo porque são todas pessoas
de cor morena. Alguns são negros retintos mesmo. – falou
Tarcísio
--- Eu sou de pele clara. Mas, a
minha avó era procedente de índios. O meu pai é de cor clara. Minha mãe,
também. Mas a minha, era procedente de índio, como já disse. No Brasil, há
costume de tradição de brancos ter relação com gente negra. Isso não é para
casar. Apenas o relacionamento. Aliás esse negócio de casar é uma invenção da
Igreja, mesmo sendo a Católica e ainda as mais antigas, como na Grécia e na
Índia, Vietnã, Roma antiga para não se falar nos Sumérios. Em se falar em
Sumérios há de ver que essa gente veio para fecundar apenas com a gente negra.
E eles se chamavam os “de cabeça negra”.
Os egípcios, eram morenos, como os Incas, os Indus. Para você conhecer
bem, os indianos são semelhantes aos brasileiros na cor, no cabelo, no tamanho.
– falou bem.
Aluno;
--- É um complexo. Nós somos
mestiços. Essa é a verdade. Porém ninguém quer ser negro por motivo religioso ou
cultural. – relatou
Tarcísio:
--- É até curioso. Por que se
diferenciar tanto uma raça? Nós somos todos um. – alertou
Aluno:
--- De acordo com o que pesquiso,
o “branco” é procedente da cultura europeia. Mesmo assim, temos gente de pele
clara no Oriente Médio. –
Tarcísio
--- Veja bem. A eugenia. Gente de
pele clara. Ou pureza racial. Daí veio a eugenia nazista. Ainda hoje se tem na
eugenia como pessoas aptas ou não para a reprodução humana.
Aluno:
--- E já na Grécia antiga, Platão
descrevia que a sociedade humana pode ir se aperfeiçoando por processos
seletivos. E, naquele tempo, se aplicava a eugenia frente aos recém-nascidos. –
comentou
Tarcísio:
--- Francis Galton que viveu no
fim do século XIX e início do XX, lançou as bases da genética humana. Esse
termo foi cunhado de eugenia. É a melhora de uma determinada espécie de raça. –
especulou
No restante da noite, Tarcísio
buscou um DVD por demais interessante. Era um filme já meio antigo mas repleto
de verdades. Ele observou o enredo e pode sentir ser de suma importância aquele
tema, pois seu autor pesquisou o ambiente de forma cuidadosa em todas suas
nuances sendo capaz de deixar o telespectador enveredar por demais
conhecimentos. Apesar da tardia hora, Tarcísio não foi vencido pelo sono e
ficou acordado a pensar de modo solitário nos instantes de verdade a ter o
romance pois o filme fora tirado de um romance enfocado.
No dia seguinte, estava Tarcísio
em uma casa de vendas de DVD e viu alguém perguntar ao balconista pelo mesmo
filme que ele tinha visto horas antes. Ele observou atento o rapaz e depois de
alguns instantes relatou com muito cuidado.
Tarcísio:
--- É um belo filme –
Estudante:
--- Você o conhece? – quis saber
curioso
Tarcísio:
--- Eu o tenho. – sorriu.
Estudante:
--- Eu vou ver agora. Também outra
pessoa me deu boas referências. –
Tarcísio sorriu e se pôs a
pesquisar as novidades de lançamentos. E observou um outro DVD de tempos
remotos onde ele ficou curioso em saber como se podia guardar tão esmerado
acervo da cultura milenar. Após suas andanças
pelo mercado do sebo, a folhear coisas maviosas foi então a levar aquela obra
prima de certos anos passados.
Atendente:
--- Nós temos filmes bem antigos.
Quer ver? – sorriu
E o atendente buscou os mais
antigos filmes, como O ENCORAÇADO POTENKIN, METRÓPOLIS, A PAIXÃO DE JOANA
D’ARC, NAPOLEÃO e outros do mesmo modo e os trouxe para atender a pesquisa de
Tarcísio. A cada tema, ele ficou alucinado.
Tarcísio:
--- Não pode ser? O senhor tem
isso? Ramona? – caiu em delírio
Atendente:
--- E outros mais. Doutor
Caligari, A Caixa de Pandora, Nosferatu. Temos outros. - sorriu
Tarcísio
--- Não acredito? – raciocinou
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