- Cleo Pires -
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A VÍTIMA
Elizabete estava a dormir em seu
quarto quanto, de repente, ela acordou e viu um homem a se aproximar do leito e
pedir-lhe a bênção. Logo em seguida, sumiu. É. Sumiu mesmo. Apagou. A garota,
dos seus 8 anos de idade se apavorou com aquela aparição tão de repente daquele
ser todo vestido de negro e veio até a sua cama pedir a bênção e, depois,
desaparecer sem mais nem menos. O certo é que Elizabete se levantou e correu
como nunca fez, entrando no outro quarto onde dormia a sua mãe e o seu pai. Em
lá chegando, a menina, assombrada, chamou pela mãe para lhe contar a terrível
história de um vulto a lhe tomar a bênção.
Menina:
--- Mãe! Mãe! Eu vi uma alma! Mãe!
Mãe! – gritava a menina a todo custo.
Quase que dormindo, a mulher
enxergou a sua filha e indagou o que a menina estava a declarar. E a menina
voltou a afirmar a mesma história da alma com muito assombro. A sua mãe puxou a
menina para cima da cama e a mandou conciliar o sono. No entanto, Elizabete não
queria mais dormir. Ela apenas declarava ser uma alma a estar para pedir sua
bênção e nada mais.
O pai, com tanto vexame, por fim
também acordou. E então, perguntou à sua mulher o que estava ocorrendo. A mulher
disse que nada. Apenas a filha tinha acordado no meio da noite após ter um
terrível sonho. E o homem se aquietou mandando a menina dormir. Porém,
Elizabete não se convenceu e puxou de dormir de sua mãe e com a maior
emergência voltou a dizer ser uma alma do outro mundo o ser. Era melhor a mãe
acordar de imediato, pois a menina não mais reconciliaria o seno enquanto
pudesse contar o seu melancólico drama.
Elizabete
--- Eu vi a alma! Ela era um
gigante enorme! Acorda! Acorda! – e sacolejava a sua mãe de todas as maneiras.
Nesse momento, o telefone tocou
junto ao criado-mudo. O pai da menor se recobrou da sonolência e atendeu de
imediato. Uma voz no outro extremo começou a contar. E o homem se desesperou
por completo
Pai;
--- O que? Repete! Que horas? – e
a voz comentou
E depois desligou o telefone
enquanto o homem, com muita pressa, procurava as suas sandálias e de qualquer
jeito se calçava para correr até o banheiro enquanto dizia.
Pai
--- Espera, filha! Eu volto já!!
– exclamou com bastante pressa
Mãe
--- Que foi que houve? – indagou
preocupada,
E foi em busca do marido. A
menina veio logo atrás a exclamar com insistência.
Elizabete:
--- Mãe! Escute o que digo!
Escute! Escute! – gritava alarmada a menina
A mulher teve um tempo de repouso
e indagou da filha:
Mãe:
--- O que você quer? – perguntou
de olhos bem abertos
Elizabete:
--- O monstro! O monstro! Eu vi!
– falhou com terror.
Mãe
--- Que monstro, menina? Que
monstro? – perguntou extasiada.
O pai a vinha saído do gabinete
sanitário e perguntou
Pai:
--- Como foi esse sonho? –
indagou inquieto
Menina
--- Ele veio me acordar e me
pediu a bênção. – relatou cheia de pânico.
Mãe:
--- Quem? – indagou preocupada
Pai
--- Ela viu o avô! Ele morreu
agora! – falo com pressa a procura de suas vestes.
O cortejo fúnebre era grandioso.
Atrás do carro branco, por excelência, fúnebre, vinham os outros veículos,
inclusive um ônibus e uma van. O mundo todo rendia emoções e tristeza ao
falecido senhor, homem que foi, em vida, enorme figura imaculada nos meios da
Justiça, caso muito raro nos recantos do Estado. O cortejo seguia vagaroso,
como se estivesse a caminha em uma soberba Procissão do Senhor Morto. Ninguém
podia acreditar naquele tão severo homem agora estar em uma urna mortuária como
o ser acabado. Filhos, nets e bisnetos, consternados choravam de dor e de
mágoa. Uma multidão caminhava a pé, perene e contrita toda coberta de luto para
levar o finado a sua última e derradeira morada. Ao chegar no campo santo,
houve discurso e bênçãos pelo Arcebispo da Capital. Já era quase noite quando
os coveiros colocaram a última pá de cal na sepultura do ilustre senhor. Ao
largo, um imponente homem. Ele estava junto a menina Elizabete observado a
todos os circunstantes. E certa hora, ele falou
Juiz
--- Daqui a algum tempo ninguém
mais vai se lembrar da vítima. – relatou com voz solene
Menina
--- Ele era o meu avô. – relatou
a menina
Passaram-se anos quando
Elizabete, já anciã, teve um sonho de arrepiar. Esta estava sonhado com alguém.
O homem, certamente. Esse home se aproximou de sua cama e chamou a anciã, pois
estava na hora do encontro.
Anciã
--- Encontro? Que encontro? –
perguntou inquieta.
Velho
--- Nosso encontro! Não se
lembra? – indagou a sorrir.
Anciã
--- E eu conheço o senhor? Quem é
o senhor? – perguntou assustada
Velho:
--- Você deve se lembrar. Quando
eu parti, vim lhe tomar a benção! Lembra? – indagou sorrindo
Anciã
--- Benção? Que benção? Eu não me
recordo nem mesmo do senhor! E está me chateado! – respondeu embrutecida
Velho:
--- Eu sou teu marido. Tu és
minha esposa! Faz tempo que te procuro! Na verdade, eu sempre estou aqui, ao
seu lado. E agora chegou a hora de nos unimos fraternalmente. – lembrou
Anciã
--- Olha seu velho. Eu nunca vi o
senhor em canto algum. Boa noite e passe bem! – respondeu ríspida.
Velho:
--- Bem. Já que assim, você não
me reconhecendo, eu tenho que repor a sua consciência. E para isso você tem que
morrer de novo! – falou com calma.
Anciã
--- Morrer? Eu? Esse é boa!!! –
falou inquieta.
Nesse momento uma nuvem pairou no
céu e Elizabete morreu de verdade. Ela seguiu com o velho para o remoto canto
onde permeiam as açucenas a flor de lis de São Tiago. Foram os dois viverem
juntos para a sua eternidade. De manhã, logo cedo, ao abrir a porta do quarto
de Elizabete, a sua neta olhou atenta para o corpo da anciã. E declarou:
Neta:
--- Ela morreu? – falou surpresa.
Mais tarde ocorreu o enterro de
Elizabete. E então, os dois – anciã e o velho – olhavam a menina, então
despreocupada, apenas sentida pela morte de sua avó, caminhava com as outras
irmãs a procura de uma flor perdida no imenso cemitério de sua cidade para
poder colher e depositar em um túmulo dentre os muitos existentes no local de
repouso sem fim.
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