quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 41 -


- Cleo Pires -
- 41 -

A VÍTIMA

Elizabete estava a dormir em seu quarto quanto, de repente, ela acordou e viu um homem a se aproximar do leito e pedir-lhe a bênção. Logo em seguida, sumiu. É. Sumiu mesmo. Apagou. A garota, dos seus 8 anos de idade se apavorou com aquela aparição tão de repente daquele ser todo vestido de negro e veio até a sua cama pedir a bênção e, depois, desaparecer sem mais nem menos. O certo é que Elizabete se levantou e correu como nunca fez, entrando no outro quarto onde dormia a sua mãe e o seu pai. Em lá chegando, a menina, assombrada, chamou pela mãe para lhe contar a terrível história de um vulto a lhe tomar a bênção.
Menina:
--- Mãe! Mãe! Eu vi uma alma! Mãe! Mãe! – gritava a menina a todo custo.
Quase que dormindo, a mulher enxergou a sua filha e indagou o que a menina estava a declarar. E a menina voltou a afirmar a mesma história da alma com muito assombro. A sua mãe puxou a menina para cima da cama e a mandou conciliar o sono. No entanto, Elizabete não queria mais dormir. Ela apenas declarava ser uma alma a estar para pedir sua bênção e nada mais.
O pai, com tanto vexame, por fim também acordou. E então, perguntou à sua mulher o que estava ocorrendo. A mulher disse que nada. Apenas a filha tinha acordado no meio da noite após ter um terrível sonho. E o homem se aquietou mandando a menina dormir. Porém, Elizabete não se convenceu e puxou de dormir de sua mãe e com a maior emergência voltou a dizer ser uma alma do outro mundo o ser. Era melhor a mãe acordar de imediato, pois a menina não mais reconciliaria o seno enquanto pudesse contar o seu melancólico drama.
Elizabete
--- Eu vi a alma! Ela era um gigante enorme! Acorda! Acorda! – e sacolejava a sua mãe de todas as maneiras.
Nesse momento, o telefone tocou junto ao criado-mudo. O pai da menor se recobrou da sonolência e atendeu de imediato. Uma voz no outro extremo começou a contar. E o homem se desesperou por completo
Pai;
--- O que? Repete! Que horas? – e a voz comentou
E depois desligou o telefone enquanto o homem, com muita pressa, procurava as suas sandálias e de qualquer jeito se calçava para correr até o banheiro enquanto dizia.
Pai
--- Espera, filha! Eu volto já!! – exclamou com bastante pressa
Mãe
--- Que foi que houve? – indagou preocupada,
E foi em busca do marido. A menina veio logo atrás a exclamar com insistência.
Elizabete:
--- Mãe! Escute o que digo! Escute! Escute! – gritava alarmada a menina
A mulher teve um tempo de repouso e indagou da filha:
Mãe:
--- O que você quer? – perguntou de olhos bem abertos
Elizabete:
--- O monstro! O monstro! Eu vi! – falhou com terror.
Mãe
--- Que monstro, menina? Que monstro? – perguntou extasiada.
O pai a vinha saído do gabinete sanitário e perguntou
Pai:
--- Como foi esse sonho? – indagou inquieto
Menina
--- Ele veio me acordar e me pediu a bênção. – relatou cheia de pânico.
Mãe:
--- Quem? – indagou preocupada
Pai
--- Ela viu o avô! Ele morreu agora! – falo com pressa a procura de suas vestes.
O cortejo fúnebre era grandioso. Atrás do carro branco, por excelência, fúnebre, vinham os outros veículos, inclusive um ônibus e uma van. O mundo todo rendia emoções e tristeza ao falecido senhor, homem que foi, em vida, enorme figura imaculada nos meios da Justiça, caso muito raro nos recantos do Estado. O cortejo seguia vagaroso, como se estivesse a caminha em uma soberba Procissão do Senhor Morto. Ninguém podia acreditar naquele tão severo homem agora estar em uma urna mortuária como o ser acabado. Filhos, nets e bisnetos, consternados choravam de dor e de mágoa. Uma multidão caminhava a pé, perene e contrita toda coberta de luto para levar o finado a sua última e derradeira morada. Ao chegar no campo santo, houve discurso e bênçãos pelo Arcebispo da Capital. Já era quase noite quando os coveiros colocaram a última pá de cal na sepultura do ilustre senhor. Ao largo, um imponente homem. Ele estava junto a menina Elizabete observado a todos os circunstantes. E certa hora, ele falou
Juiz
--- Daqui a algum tempo ninguém mais vai se lembrar da vítima. – relatou com voz solene
Menina
--- Ele era o meu avô. – relatou a menina
Passaram-se anos quando Elizabete, já anciã, teve um sonho de arrepiar. Esta estava sonhado com alguém. O homem, certamente. Esse home se aproximou de sua cama e chamou a anciã, pois estava na hora do encontro.
Anciã
--- Encontro? Que encontro? – perguntou inquieta.
Velho
--- Nosso encontro! Não se lembra? – indagou a sorrir.
Anciã
--- E eu conheço o senhor? Quem é o senhor? – perguntou assustada
Velho:
--- Você deve se lembrar. Quando eu parti, vim lhe tomar a benção! Lembra? – indagou sorrindo
Anciã
--- Benção? Que benção? Eu não me recordo nem mesmo do senhor! E está me chateado! – respondeu embrutecida
Velho:
--- Eu sou teu marido. Tu és minha esposa! Faz tempo que te procuro! Na verdade, eu sempre estou aqui, ao seu lado. E agora chegou a hora de nos unimos fraternalmente. – lembrou
Anciã
--- Olha seu velho. Eu nunca vi o senhor em canto algum. Boa noite e passe bem! – respondeu ríspida.
Velho:
--- Bem. Já que assim, você não me reconhecendo, eu tenho que repor a sua consciência. E para isso você tem que morrer de novo! – falou com calma.
Anciã
--- Morrer? Eu? Esse é boa!!! – falou inquieta.
Nesse momento uma nuvem pairou no céu e Elizabete morreu de verdade. Ela seguiu com o velho para o remoto canto onde permeiam as açucenas a flor de lis de São Tiago. Foram os dois viverem juntos para a sua eternidade. De manhã, logo cedo, ao abrir a porta do quarto de Elizabete, a sua neta olhou atenta para o corpo da anciã. E declarou:
Neta:
--- Ela morreu? – falou surpresa.
Mais tarde ocorreu o enterro de Elizabete. E então, os dois – anciã e o velho – olhavam a menina, então despreocupada, apenas sentida pela morte de sua avó, caminhava com as outras irmãs a procura de uma flor perdida no imenso cemitério de sua cidade para poder colher e depositar em um túmulo dentre os muitos existentes no local de repouso sem fim.

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