domingo, 7 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 32 -

- DESFILE -
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ENROLADOS

Era assim que Claudio dizia: “Eu estou enrolado com ela”! E depois sorria. Mecânico por profissão, pela manhã, logo cedo, Claudio deixava a sua casa, em um beco da rua do Sossego, no bairro das Rocas, em Natal, RN, e seguia apressado, pelo modo do seu andar, para a oficina de seu João das Rocas onde já estava com um serviço adiantado a consertar um motor de Volks antigo. Na oficina, ele estava a chegar as sete horas da manhã para trocar conversa foram e, ao mesmo tempo cuidar do seu trabalho. Vez por outra surgia um rapaz com o seu Chevrolet para ser “ajeitado” e Claudio deixava o Volks para dar “um jeito” do carro, normalmente, velho. Isso levava horas. Às vezes era um trabalho fora de sua arte. Consertar uma caixa de marcha, coisa que não tinha mais feito. Mesmo assim, Claudio dava o seu “jeito” e o dono saía contente e satisfeito para pagar o serviço “mais tarde”.
Claudio:
--- Beleza! – respondia o mecânico limpando as mãos cheias de graxa.
E, assim, voltava ao ser trabalho anterior: consertar a parte de força do motor do Volks. Ao meio dia, parava tudo. Era hora do almoço. Às vezes fazia a refeição em sua humilde casa. Quando não, no Bar do Giba, uma tapera feita de madeira onde não havia gabinete sanitário. Água encanada: Giba já conseguira por às escondidas. Isso é: tinha, mas não tinha. O Saneamento jamais descobriu essa mutreta. Aliás, quem fez o serviço da encanação foi um mestre de obras do próprio Saneamento, costumeiro a beber naquele bar. Por isso mesmo, Severo, - o mestre – não pagava as bebidas que tomava. E era um dos poucos a ir para dentro do bar onde bebia e gargalhava. Os demais ficavam sempre no balcão, do lado de fora. No sábado, toda a galera podia beber dentro do bar, até quando quisesse. Nesse ponto, tinham advogados, comerciantes, historiadores, poetas entre funcionários das repartições misturados com a “raça” de mecânicos, para bem falar Era uma algazarra total em meio a conversas e mentiras.
Certa vez, estava no bar, em um sábado, a dama Isabel, bela e incandescente. Essa mulher de zona era o par para qualquer um. Entre as várias mulheres frequentadoras do mereto, algumas também extasiantes, estava também a Isabel. Cada qual dos frequentadores gostava de “passar a mão” nas nádegas da bela mulher. Algumas vezes, ela dava o troco: um copo de cerveja na cara do “atrevido”:
Isabel:
--- Venha, pra levar outra! – e apontava o copo ainda com um pouco de bebida. 
E a gargalhada “comia no centro”. E Isabel, a andar vagarosa, sorria com o prosaico beberrão. E lá de dentro do bar, ainda mostrava a garrafa:
Isabel:
--- Quer? – perguntava sem sorrir
Mecânico:
--- Traga e sente aqui no meu colo! – respondia o trabalhador
Isso era todos os sábados. Quando era a Semana Santa, na sexta-feira maior, feriado nacional, o bar não funcionava e nem as damas frequentavam o salão. Aliás, isso era o mesmo em toda a Avenida 15 de Novembro, maior centro dos bacanais dos cana-bravas. Lojas e repartições trancavam as suas portas. As oficinas não funcionavam e nem que a “vaca tossisse”. Era um paradeiro geral. Quando um bêbado da quinta feira surgia na calçada do Teatro, onde Isabel estava a conversar com outras mundanas, e perguntava:
Bêbado:
--- Vamos sair? – perguntava embriagado.
Isabel:
--- Tome aqui, ó! Hoje é dia santo! Fecha tudo! – e batia em cima do sexo.
O bêbado torcia o nariz para um lado e para outro, cambaleava e saiu cuspindo brasa.
Bêbado;
--- Puta! – relatava sem senso.
Uma tijolada certeira batia no ébrio a cambalear em direção ao solo. E as damas da noite caíram na gargalhada a falar:
Damas:
--- Ah tijolada! – sorriam para não querer mais.
O bêbado, após alguns minutos, se levantava e limpava as suas mãos na própria calça, cuspia a areia tragada e, em seguida, após se soerguer, caminhava para um centro qualquer.
E Isabel respondia com vingança!
Isabel:
--- Puta, é a puta que te pariu, seu veado!!! – gritava a dama cheia de ódio.
Na quinta-feira de outra semana, Claudio não apareceu na oficina.
Mecânico - 1
--- Onde está Claudio? – perguntou alguém preocupado
Estofador:
--- Ainda não chegou. – disse a rapaz a morder a linha de tecer.
Mecânico – 1
--- Nove horas? – falou o outro preocupado
Estofador:
--- Com certeza foi a carraspana. – falou sem brio querendo dizer ter o rapaz bebido além das contas.
Um garoto surgiu na porta de entrada – e de saída também – e procurou seu João das Rocas para comunicar ter Claudio saído com a sua mulher para a Maternidade.
João
--- Quando? – perguntou.
Garoto:
--- Agorinha mesmo! Ela foi ter menino. – e desapareceu feito fantasma
E a turma das demais oficinas se alegrou querendo beber a saúde da mulher por conta do parto. E foi apenas à 01 hora da tarde que o homem se acercou da oficina. Ele vinha chorando que nem um cabrito. Seu João ficou, de imediato, preocupado:
João:
--- Que houve? – indagou preocupado
Entre choros e lágrimas o moço declarou.
Claudio:
--- Dalvanira faleceu. Não aguentou a espera! – e chorava que nem um bezerro
João:
--- Morreu? Assim, de repente? Como é que pode? – reclamava seu João
E a turma das oficinas correu para ver e ouvir. Claudio não podia mais falar de tanto responder.
Isabel foi a que mais teve contato com Claudio. E respondeu a ele não se apressar.
Isabel:
--- É isso! Eu tive uma filha só para morrer. É o destino! – falou sombria.
Na sexta-feira as oficinas não funcionaram. Todos operários daquela parte da Ribeira foram para o sepultamento de Dalvanira, mulher jovem de Claudio. Foi uma verdadeira procissão com os carros a conduzir homens e mulheres entre as meretrizes a lamentar a crucial perda daquela divina mulher, dona de casa Isabel ficou com Claudio até a altura da cova onde a morta foi sepultada sem maiores sacrifícios e orações.
Dama:
--- Ela era Crente? – perguntou uma meretriz.
Isabel:
--- Não! Mas que pergunta? – respondeu aborrecida.
Dama:
--- Mas podia ser! – reclamou a meretriz.
Rapaz:
--- O pastor é irmão da vítima! – concluiu sem medo.


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