- Milla Jovovich -
- 01 -
INÍCIO
Otto Câmara chegou na hora de
sempre, quando era o fim do expediente em sua repartição do Governo, antes
mesmo das sete horas. Ele trazia um monte de mercadoria e presentes a doar aos
meninos – Alva e Dalmo – e esposa – Clara – para alegria da petizada. A mulher,
dos vinte e sete anos, apenas sorriu como a ditar: “Ora, ora. Quanta fantasia
em desmantelo”. E ajudou ao esposo querido a conduzir até a sala aquele maior
“desmantelo”. Dentro de mais dois dias se comemorava a festa do Natal, quando a
cristandade se alegrava com sorrisos abertos. A petizada animada procurava
saber do pai quais eram os seus presentes. E diziam isso a sorrir. Os meninos
eram de 5 e 6 anos. Alva com 5 anos. Dalmo, 6 anos. Ele, o primogênito. À
esposa, um brinde especial. Para a véspera do Natal, Otto comprou todo o
necessário. Vinhos, peru, champanhe, doces de frutas, bolos entre outros
eventos sempre necessários, quando as visitas chegassem ao lar dos Câmara,
inclusive os pais de ambos e mais os irmãos e irmãs com esposos e senhoras,
além da raça miúda. Como gerente da repartição, Otto Câmara vivia dias de
glórias com as manifestações dos servidores a viver o melhor dia de festa. Era
assim o festival da gloriosa data natalina a repercutir em demais habitações de
toda a Capital com a mais divertida ufania. A noite calma da antevéspera de
festas era um regozijo real. Havia brincadeiras infantis em toda ampla rua com
os desmantelos dos infantes e os amores escondidos das moças e rapazes. Dentre
esses desatentos romances havia os escapes para um cinema feito por moças e
rapazes na noite quieta de dezembro.
Grito:
--- Socorro! Socorro! – um grito
foi ouvido.
Naquela noite, já quase oito
horas, despertou a atenção do homem. De imediato, Otto sacudiu para fora a
cadeira onde estava na hora do jantar e correu em procura de quem bradou. E foi
logo a falar:
Otto:
--- Mulher? Aqui? – e na
residência só havia uma doméstica.
E não foi muito para encontrar a
doméstica. Com a mão na boca, totalmente desatenta, a moça apenas olhava com
maior atenção para um corpo caído no quintal da casa. E Otto também viu o
cadáver de um homem ainda jovem. Calara, a sua esposa, chegou de imediato em
companhia de seus dois filhos. O homem a olhar o cadáver, recomendou a mulher a
sair e levar as crianças para longe do quintal. Àquela hora da noite, havia lua
cheia. Isso não foi observado por Otto. Apenas o homem se referiu ao cadáver.
Otto:
--- Quem é o homem? – indagou
assustado.
Doméstica:
--- Não, senhor. Eu vim apanhar a
roupa no varal quando me topei com esse… – falou sem completar o achado.
Otto:
--- Ladrão? – perguntou cheio de
espanto
Doméstica;
--- Talvez. Não sei. - - falou a
doméstica a lacrimar ainda bastante tensa.
Otto:
--- A senhora conhecia esse tal?
– indagou preocupado.
Doméstica:
--- Não. Nunca. Parece de
família! – alertou a visualizar as roupas que o morto usava.
Otto:
--- Família? Que família? –
indagou assustado.
Doméstica:
--- As roupas! Veja! – apontou a
doméstica bem para cima do cadáver.
Otto:
--- E ele está morto de verdade?
– indagou a observar mais perto.
Doméstica:
--- Só pode. Não se mexe. –
respondeu aturdida.
Otto chegou mais próximo do
cadáver e chutou para ver se o morto não estaria ao desmaio.
Otto:
--- É bom chamar a Polícia! Não
mexa em nada! – falou com espanto.
A doméstica se afastou do corpo
do rapaz de modo vagaroso com a mão ainda na boca e a lacrimar de vez.
Otto saiu com pressa e foi discar
para o Distrito Policial afirmando ter um cadáver em seu quintal ainda cedo da
noite. A chamada demorou a ser atendida. Passaram-se minutos. De imediato,
alguém foi receber a informação. Porém desligou por pensar ser um trote. O
telefone tocou outra vez e ninguém quis atender.
Otto:
--- Merda! Merda! Merda! Eu lá.
Agora! – falou com raiva.
Clara:
--- Que houve? – indagou
assustada.
Otto:
--- A merda do policial não
atende! Eu vou na Chefatura!!! Merda! – e vestiu o casaco para sair a
recomentar não permitir a mulher averiguar algum fato
Clara
--- Eu? Achou que vou para casa
de meu pai. – e juntou seus dois filhos.
Otto:
--- Nem pensar! Ninguém sai ou
entra. Ponha os meninos no quarto de dormir! Eu vou e volto logo! – falou
apressado.
Clara:
--- E vai me deixar só aqui? –
indagou a mulher de forma preocupada.
Otto:
--- É verdade. Então chame o
Guarda Noturno! – lamentou pela decisão
Clara:
--- Guarda? Eu nem sei quem é! E
só aparece lá pra meia noite. – alertou aflita
Otto:
--- Merda! Chame a doméstica! Não
saia da frente da casa! Ouviu? – falou alterado.
E o homem saiu ligeiro entrando
no seu automóvel e olhou com pressa para a esposa tendo de novo feito a
advertência.
Otto;
--- Não saia da frente de casa!
Chame a doméstica. Os meninos, no quarto! – gritou alterado.
Quando saiu, Otto esbarou em um
homem – o seu vizinho – conhecido por Nicácio. Ele era advogado e fazia o
rotineiro passeio antes de ir dormir, com certeza. Otto brecou o carro e pediu
desculpas. O advogado deu-lhe toda e ainda perguntou.
Nicácio:
--- Pressa? – falou cordial
Otto:
--- Eu acho que estou. Tem um
cadáver no quintal de casa. Eu chamei a Polícia e ninguém atendeu. Assim, eu
vou na Chefatura. – relatou com pressa.
Nicácio:
--- Ah. Assim, eu também vou. E o
senhor me conte a história no trajeto – formulou com absoluta paciência
Otto;
--- Um morto caiu do Céu! No meu
quintal, ainda por cima! – disse sem a mínima conta
Nicácio:
--- O senhor vai deixar a casa ao
leu? Acho prudente conseguir a proteção de alguém. Eu vejo apenas sua esposa! –
e apontou para a dona Clara.
O homem coçou a cabeça e indagou;
Otto:
--- Quem? Não quis aborrecer
ninguém da vizinhança! - articulou
Nenhum comentário:
Postar um comentário