sábado, 27 de dezembro de 2014

SUSPEITA - 01 -

- Milla Jovovich -

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INÍCIO

Otto Câmara chegou na hora de sempre, quando era o fim do expediente em sua repartição do Governo, antes mesmo das sete horas. Ele trazia um monte de mercadoria e presentes a doar aos meninos – Alva e Dalmo – e esposa – Clara – para alegria da petizada. A mulher, dos vinte e sete anos, apenas sorriu como a ditar: “Ora, ora. Quanta fantasia em desmantelo”. E ajudou ao esposo querido a conduzir até a sala aquele maior “desmantelo”. Dentro de mais dois dias se comemorava a festa do Natal, quando a cristandade se alegrava com sorrisos abertos. A petizada animada procurava saber do pai quais eram os seus presentes. E diziam isso a sorrir. Os meninos eram de 5 e 6 anos. Alva com 5 anos. Dalmo, 6 anos. Ele, o primogênito. À esposa, um brinde especial. Para a véspera do Natal, Otto comprou todo o necessário. Vinhos, peru, champanhe, doces de frutas, bolos entre outros eventos sempre necessários, quando as visitas chegassem ao lar dos Câmara, inclusive os pais de ambos e mais os irmãos e irmãs com esposos e senhoras, além da raça miúda. Como gerente da repartição, Otto Câmara vivia dias de glórias com as manifestações dos servidores a viver o melhor dia de festa. Era assim o festival da gloriosa data natalina a repercutir em demais habitações de toda a Capital com a mais divertida ufania. A noite calma da antevéspera de festas era um regozijo real. Havia brincadeiras infantis em toda ampla rua com os desmantelos dos infantes e os amores escondidos das moças e rapazes. Dentre esses desatentos romances havia os escapes para um cinema feito por moças e rapazes na noite quieta de dezembro.
Grito:
--- Socorro! Socorro! – um grito foi ouvido.
Naquela noite, já quase oito horas, despertou a atenção do homem. De imediato, Otto sacudiu para fora a cadeira onde estava na hora do jantar e correu em procura de quem bradou. E foi logo a falar:
Otto:
--- Mulher? Aqui? – e na residência só havia uma doméstica.
E não foi muito para encontrar a doméstica. Com a mão na boca, totalmente desatenta, a moça apenas olhava com maior atenção para um corpo caído no quintal da casa. E Otto também viu o cadáver de um homem ainda jovem. Calara, a sua esposa, chegou de imediato em companhia de seus dois filhos. O homem a olhar o cadáver, recomendou a mulher a sair e levar as crianças para longe do quintal. Àquela hora da noite, havia lua cheia. Isso não foi observado por Otto. Apenas o homem se referiu ao cadáver.
Otto:
--- Quem é o homem? – indagou assustado.
Doméstica:
--- Não, senhor. Eu vim apanhar a roupa no varal quando me topei com esse… – falou sem completar o achado.
Otto:
--- Ladrão? – perguntou cheio de espanto
Doméstica;
--- Talvez. Não sei. - - falou a doméstica a lacrimar ainda bastante tensa.
Otto:
--- A senhora conhecia esse tal? – indagou preocupado.
Doméstica:
--- Não. Nunca. Parece de família! – alertou a visualizar as roupas que o morto usava.
Otto:
--- Família? Que família? – indagou assustado.
Doméstica:
--- As roupas! Veja! – apontou a doméstica bem para cima do cadáver.
Otto:
--- E ele está morto de verdade? – indagou a observar mais perto.
Doméstica:
--- Só pode. Não se mexe. – respondeu aturdida.
Otto chegou mais próximo do cadáver e chutou para ver se o morto não estaria ao desmaio.
Otto:
--- É bom chamar a Polícia! Não mexa em nada! – falou com espanto.
A doméstica se afastou do corpo do rapaz de modo vagaroso com a mão ainda na boca e a lacrimar de vez.
Otto saiu com pressa e foi discar para o Distrito Policial afirmando ter um cadáver em seu quintal ainda cedo da noite. A chamada demorou a ser atendida. Passaram-se minutos. De imediato, alguém foi receber a informação. Porém desligou por pensar ser um trote. O telefone tocou outra vez e ninguém quis atender.
Otto:
--- Merda! Merda! Merda! Eu lá. Agora! – falou com raiva.
Clara:
--- Que houve? – indagou assustada.
Otto:
--- A merda do policial não atende! Eu vou na Chefatura!!! Merda! – e vestiu o casaco para sair a recomentar não permitir a mulher averiguar algum fato
Clara
--- Eu? Achou que vou para casa de meu pai. – e juntou seus dois filhos.
Otto:
--- Nem pensar! Ninguém sai ou entra. Ponha os meninos no quarto de dormir! Eu vou e volto logo! – falou apressado.
Clara:
--- E vai me deixar só aqui? – indagou a mulher de forma preocupada.
Otto:
--- É verdade. Então chame o Guarda Noturno! – lamentou pela decisão
Clara:
--- Guarda? Eu nem sei quem é! E só aparece lá pra meia noite. – alertou aflita
Otto:
--- Merda! Chame a doméstica! Não saia da frente da casa! Ouviu? – falou alterado.
E o homem saiu ligeiro entrando no seu automóvel e olhou com pressa para a esposa tendo de novo feito a advertência.
Otto;
--- Não saia da frente de casa! Chame a doméstica. Os meninos, no quarto! – gritou alterado.
Quando saiu, Otto esbarou em um homem – o seu vizinho – conhecido por Nicácio. Ele era advogado e fazia o rotineiro passeio antes de ir dormir, com certeza. Otto brecou o carro e pediu desculpas. O advogado deu-lhe toda e ainda perguntou.
Nicácio:
--- Pressa? – falou cordial
Otto:
--- Eu acho que estou. Tem um cadáver no quintal de casa. Eu chamei a Polícia e ninguém atendeu. Assim, eu vou na Chefatura. – relatou com pressa.
Nicácio:
--- Ah. Assim, eu também vou. E o senhor me conte a história no trajeto – formulou com absoluta paciência
Otto;
--- Um morto caiu do Céu! No meu quintal, ainda por cima! – disse sem a mínima conta
Nicácio:
--- O senhor vai deixar a casa ao leu? Acho prudente conseguir a proteção de alguém. Eu vejo apenas sua esposa! – e apontou para a dona Clara.
O homem coçou a cabeça e indagou;
Otto:
--- Quem? Não quis aborrecer ninguém da vizinhança! - articulou 

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