- Irene Jacob -
- 40 -
ESPÍRITO
Jorge Ventura acordou naquela
madrugada assustado com o terror a estar havendo em sua casa, onde a sua filha,
Maria, de sete anos de idade, exclamava com temor haver um “bicho” em sua cama.
Ele, logo pensou em uma serpente ou em uma aranha, bichos nocivos para demais
surgir a qualquer tempo. Jorge e a sua mulher, Edite, moravam em uma casa feita
de barro, ou seja, uma tapera acanhada, um casebre de taipa como muitas outras
a existir no caminho do sertão nordestino. Ele se levantou e viu ter a mulher
sido mais rápida e chegado no quarto de dormir da menina Maria. À luz de
lamparina, a mulher tomava pelos braços a criança e em seguida indagou:
Edite:
--- Onde está o bicho? Onde está
o bicho? – e pesquisou com a menina no colo, a tapera onde Maria estava a
dormir.
Maria:
--- Não sei, minha mãe. É um
bicho grande! Terrível! Um monstro! Do tamanho de um gigante! – falou alarmada.
Jorge:
--- Que foi? Que foi? Onde está a
cobra? – indagou preocupado
Maria:
--- Não era cobra, meu pai! Era
um bicho muito grande! – relatou a menina agarra no pescoço de sua mãe.
Edite:
--- Será um camaleão? É medonho
para aparecer esses asquerosos! – comentou a chafurdar com os pés a cama da
menina.
Jorge:
--- Deixa eu ver se eu encontro.
Pode ser um tamanduá mesmo – pesquisou impaciente
Maria:
--- Não bicho assim! É bicho
grande, do tamanho de um homem! Bem grandão! – falava com terrível medo.
Edite:
--- Um homem? Será Zé Torpedo? –
indagou a mulher a se assustar
Jorge:
--- Que nada! Esse homem está é
dormindo a uma hora dessas. – comentou a procura em todo o casebre de taipa.
Após meia hora de busca, Edite
resolveu levar a filhar para dormir junta com ela. O marido Jorge continuou
vasculhando o casebre de taipa.
Quando a manha clareou, o homem
procurou repousar um pouco antes de seguir para o campo. E confabulou:
Jorge:
--- Homem? Não acredito! –
resmungou.
Alguns minutos depois, a mulher,
Edite, perguntou ao marido.
Edite:
--- E o homem? – perguntou
estanhando.
Jorge:
--- Não vi marca nenhuma! –
relatou e voltando a vasculhar o terreiro
Edite:
--- Eu acho que a menina está
precisando de reza. Eu já vi casos assim! – falou a olhar o campo
Jorge:
--- Eu não acredito em reza. –
resmungou.
Edite:
--- Tu não acreditas em nada! Tô
p’ra ver! – e deu um “thuc”.
Jorge:
--- E Maria? – perguntou como
querendo saber da menina
Edite:
--- Dormindo. – falou séria.
Jorge:
--- Foi a comida de ontem! –
falou sem pestanejar.
Edite:
--- Que comida de ontem? Só
cuscuz com rapadura! – falou enjoada
Jorge:
--- Mas teve carne também! –
relatou
Edite:
--- Uma nesga de carne de porco!
– e fez um gesto com o indicador
Jorge:
--- Mas teve o almoço! – lembrou
Edite:
--- Só feijão e farinha, Ela não
quis a carne. E mesmo assim, era um tico! – falou sem mais p’ra dizer.
E o dia se passou. Eram cinco
horas da tarde quando surgiu à porta a senhora Moça, uma anciã dos seus 80 anos
levando uma cuia às costas. E bateu à porta.
Moça;
--- Ô de casa! Tem gente aqui? –
falou a anciã
Edite:
--- Entre minha “véia”. Que é que
faz tão tarde? – perguntou sorrindo.
Moça:
--- Tô sou andejando. Como vai a
moça? – e coçou a cabeça de Maria.
Edite:
--- Vai como Deus manda. Essa
noite ela teve um sonho. – relatou
Moça
--- Teve um sonho? Ela tá
precisando de reza! Né minha “fia”? – e sorriu para a menina
Edite:
--- Eu também acredito. Ela viu
um homem essa madrugada quando estava na cama.
Moça
--- Isso é o capeta. Ele está bem
aqui. Eu estou vendo ele. Quer levar para o lugar em que manda! Fez ver a anciã
Edite:
--- A senhora ver isso? –
perguntou assustada
Moça
--- E passa muito tempo. A não
ser que ele se cure desse maligno! Só rezado! Faz uma reza por dia durante uma
semana. –aconselhou.
Edite:
--- Meu Deus do Céu! E nós? –
perguntou agoniada.
Moça
--- Vocês também. Inclusive o pai
da menina. É quem pesa mais! – relatou com fé.
Edite:
--- Tá vendo! Eu bem que disse!
Ela não acredita nessas rezas! – falou com raiva
Jorge:
--- Não acredita em que? –
perguntou o homem ao abrir a porta da sala.
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