- Claudia Lee -
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ENCONTROS
Geraldo era chamado por Dinho,
algo como Geraldinho. E assim sendo conhecido por todos os amigos de infância.
Ele residia em uma casa ampla igual a Racilva, uma garota dos seus 18 anos,
estudante de Letras nos dias normais quando havia aula na Universidade. Aos
domingos, Racilva convidava Dinho para ir à praia pois o casal fazia um par
como se fosse namorado. Quase todos os domingos e feriados estavam os dois em
uma praia, mesmo sendo distante da capital, a se refrescar das agruras do tempo
ou pôr conversa fora entre uns tragos e outros de Cerveja. Mirtes era a irmã
mais nova de Dinho. Na verdade, raramente a pequena moça não tinha interesse em
acompanhar o casal para as longínquas praias escolhidas pelos dois quando
pretendiam estar. Se era tempo de chuva, a conversa se resumia dentro de casa.
O mesmo ocorria com os tempos de Provas quando a moça sentia por demais
obrigada a estudar. Dinho não tinha estudos. Então, no caso em que Racilva não
podia sair de casa, ele se recolhia a ler os seus gibis.
Esse era um tempo de glórias.
Pirangi. Longe até demais. Racilva tinha um Buíque. Dinho não tinha nada. Ela
aprendera a dirigir. Dinho nada sabia de mecânica ou de trocar pneus. Certa
vez, o Buíque de Racilva resolveu colar a buzinaço. Era um buzinaço dos demônios.
Dinho nada podia fazer a não ser se assustar. Racilva, igualmente. A moça abriu
o capô do carro e de nada adiantava, pois desligar a buzina era coisa não
conhecida por ela. Racilva apenas olhava para o interior do motor e apoiava
seus braços na cintura.
Racilva:
--- E agora? Merda! Isso é uma merda podre! – reclamava
com insistência
Caso de alguns minutos, outro
motorista que passava, parou o seu veículo e veio correndo salvar a situação da
virgem. Ele apenas desligou a buzina. E pronto. Em seguida no mesmo instante o
homem sem se preocupar, ligou a buzina novamente.
Motorista:
--- Está resolvido o problema! –
sorriu e bateu as mãos como se fosse se limpar de alguma poeira
Racilva agradeceu e prosseguiu em
sua viagem para a praia de Búzios, uma distancia enorme. Dinho foi quem ficou
entristecido por não saber fazer aquela engrenagem tão simples. Só havia um
jeito de saber: aprender mecânica de veículo. Disso, ele nada falou. Apenas
ajuizou consigo mesmo.
E na segunda feira, Dinho se
aprontou e seguiu direto para o bairro da Ribeira, onde estavam as oficinas de
consertar carros, de preferência, velhos. Chegou por lá e se deu bem com um
profissional mecânico conhecido por nome de Dionísio. Como o rapaz não levava
carro, o mecânico de nada perguntou de imediato[aa1] .
Apenas o observou e prosseguiu no seu trabalho. E o jovem rapaz também não teve
curiosidade em perguntar assim em cima da bucha. Apenas procurou aduzir tudo o
que ele não sabia. E assim foi seguindo a luta para aprender tudo o não sabido
já por tantos meninos mecânicos ali existentes. Ela passou a entender não ser a
idade a razão de se ser um bom ou mais ou menos mecânico. Tudo dependia o
tempo. Talvez Dinho estivesse apenas no começo da lida e nada mais.
No domingo, Racilva o convidou
para seguir viagem até Ponta Negra, uma praia logo próxima da cidade. Ele,
embora limpasse as unas da mão, não se importavam com a graxa a consumir os
seus pés. Apenas quando tirou os sapatos, a moça o olhou inquieta e então
indagou:
Racilva:
--- Sujo? Por onde fuste hoje? –
perguntou alarmada
Dinho:
--- Oficina! – recolhendo as
unhas dos pés e enterrado na areia.
Racilva:
--- Oficina? Que oficina? Está
trabalhando em alguma oficina? – mais alarma então
O rapaz coçou a testa e deu
vontade de fazer careta para poder falar
Dinho:
--- Não é bem um emprego. Eu
estou fazendo um teste de aprendizado. E, desta forma, eu me melo um pouco com
a graxa. – disse ele com timidez.
Racilva:
--- Nossa! Minha Mãe do Céu! Se
lambuzar todo de óleo para poder sair aos domingos! Credo! – lembrou a moça
totalmente eufórica de terror.
Dinho:
--- Não é bem assim! É um teste.
Logo depois eu consigo o emprego decente. Mas, por enquanto eu tenho que
aprender um pouco! – falou com embaraço.
A moça colou a mão na boca para
olhar bem de perto o rapaz e findou por dizer.
Racilva:
--- Eu acho que não vai dar
certo. É melhor você largar esse emprego. – falou com altivez.
Dinho:
--- Mas não é emprego. Eu não
ganho nada com o serviço. Apenas aprendo. E estou até certo pondo indo muito
bem. – respondeu
Racilva:
--- Não. Pra mim, chega! Ou você
estuda ou nada feito! – reclamou com tristeza.
Com o passar dos dias, Racilva
não mais se encontrou com Dinho. O mesmo ocorria com o rapaz. Ele se envolveu
com os veículos a desmontar e montar caixa de marcha, parte de força de motor,
reparos em carburador e casos mais complexos. Um dia Dinho procurou emprego na
fábrica Ford onda havia maior progresso para um jovem aprendiz no setor de
manutenção de mecânica. E por lá ficou a aprender cada vez mais e não se importar
com a vida sem praias e sem gibis. Com uma ferina atenção ele era capaz de
fazer e refazer os mais complexos engenhos entre motores e caixa de marcha,
sendo essa o mais difícil de se pôr ou repor peças genuínas das melhores marcas
e desempenhos. Quem procurasse saber o destino de Racilva ele apenas formulava:
Dinho:
--- Não vejo há tempos. –
relatava
Aos domingos, Dinho costumava ir,
pela manhã à sessão de cinema de arte no Cine Nordeste. Uma vez ele notou a
presença de Racilva acompanhada de um noivo ou namorado. Ele não mais atenção
ao casal. Essa foi a última vez para ele ou Racilva. Na sequência, apagou o
destino dos dois. Dinho continuava a morar na mesma residência. Com o tempo, o
rapaz adquiriu um veículo e assim foi fazendo sua vida. Estudos, nunca mais.
Ele pretendia montar uma oficina de carros de corrida. Para tal, era preciso
contratar um engenheiro de formação mecânica. Contudo, isso era apenas um
sonho.
Certo tempo, Dinho estava na mesa
de consertos operando uma caixa de marcha quando se acercou dele uma vistosa
mulher. Para o rapaz, a mulher não tinha a menor importância. Ele continuava
com o seu afã diário e não se importou com a figura um tanto esguia e muito bem
vestida com seu esmerado vestido. Foi então que a prima-dama falou:
Senhora:
--- Esse é para o meu carro? –
indagou estirando o dedo para a caixa de marcha
Sem se virar para quem falou sem
cerimônia.
Dinho:
--- Não sei, minha senhora. Mas
logo saberei dizer, pois é de um modelo um tanto desgastado. – disse o mecânico
sem ver com que ele falava.
Senhora
--- Deve ser o meu. Há tempo que
eu não mando à oficina. - lamentou muito tristonha
Dinho então observou a mulher e
não a reconheceu. Porém a mulher já o reconhecera tão logo. E com isso, a
senhora procurou falar com melhor atenção.
Senhora:
--- O senhor morou em Petrópolis?
– indagou curiosa
Dinho:
--- Eu? Ainda morro na mesma
casa. Conhece? – falou sem se voltar
Racilva:
--- Eu estou lembrada. Agora, eu
suponho que o senhor não está me reconhecendo! – falou tristonha.
Dinho se voltou para melhor
observar aquela senhora. E indagou:
Dinho:
--- A senhora residiu próximo? –
indagou
Racilva:
--- Sim. Fui sua vizinha? Lembra?
– falou a sorrir
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