terça-feira, 9 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 34 -

- TRISTEZA -

- 34 -

MARIA AMÉLIA

Eram sete horas da manhã ou um pouco mais quando Maria Amélia foi pego de surpresa por um garoto da redondeza morador em uma fazenda do Major Leopoldo. A mulher tremeu de medo quando o garoto chamou. Ela estava ocupada esfolando um frango para assar. E retirava-lhe as penas antes de abrir o frango para livrar-se de suas tripas e fatos. Apesar do susto levado, a mulher, de olhos arregalados, indagou:
Maria:
--- Ai que susto!! Que foi, moleque? – indagou cheia de afazer.
Moleque:
--- Desculpe. Mas, mataram João Moreno! – respondeu o garoto
Maria:
--- Quem? Você é louco? Mataram meu João? Onde? Quem foi? Ai meu Deus! Mataram João? Onde? – perguntou a mulher tremendo de medo.
Moleque:
--- Não sei. A polícia foi a procura do criminoso. Ele foi morto à bala! Talvez por algum circunstante. A senhora vai? – indagou o moleque com muita pressa.

Nessas alturas Maria Amélia já tinha jogado o frango ao lado, enxugava as mãos, consertava o totó e bem que depressa amarava suas chinelas e saía em debandada a procura do defunto. Nesse instante o moleque falou:
Moleque:
--- Dona. Foi no mato! – apontou em sentido contrário.
A mulher, já impaciente e revoltada nem tinha tino de responder. Apenas se voltou para o mato, nas cercanias de onde gado bebia água próximo do açude dos Marrecos local que o moleque ensinara, pois a mulher de João Moreno sabia que o seu homem cuidava do rebanho do Major para as bandas daquele açude onde havia água vinda de olheiros das cercanias do morro do Bronco. Pé da estrada, pé no caminho, em correria feito loca, a mulher chorava e reclamava ter dito ao seu homem para ter cuidado com os ladrões de gado.
Maria:
--- Eu disse a ele! Eu disse a ele! Cuidado com os ladrões! – maldizia a mulher sempre a chorar angustiada
Moleque:
--- Por aqui, sá dona. Ele foi morto num intricado de serras! – comentou um tanto a correr.
A mulher parou e respondeu:
Maria:
--- Onde? Onde, moleque? Onde está o meu homem? – indagou com lágrimas
Moleque:
--- Naquelas serras! Eu estava com ele quando ouvi o tiro! – respondeu o garoto
Maria:
--- Você ouviu? Quem fez o disparo? – indagou magoada.
Moleque:
--- Isso é não sei. Só ouvi um estampido e o homem caído! – relatou com vexame.
Maria:
--- Caído morto? Ai meu Deus! Morto mesmo! – chorou a mulher
Moleque:
--- Não. Ele ainda disse que se alguém o matasse a culpa era de Zé de Joca! Foi o que ele falou.
Maria:
--- Zé? Eles eram inimigos de fogo a sangue. E a Polícia? – indagou chorando
Moleque
--- Eu passei pela Delegacia antes de chegar até a senhora! – comentou
Maria:
--- Tamos perto? – perguntou assustada e chorando
Moleque:
--- Logo na baixa. Tem uns meganhas. Eu vi. – falou assustado
E foi assim que Maria Amélia chegou até o ponto da morte de João Moreno. Desvencilhando-se dos soldados ela agrou o seu marido e pôs no colo apenas a chorar de angústia. Maria não notara nem o tempo passar. Era choro e mais choro. Um soldado indagou:
Soldado:
--- A senhora sebe se ele tinha inimigos? – perguntou
A mulher nem perseguia a pergunta. O garoto foi quem respondeu.
Moleque:
--- Ele falou em Zé de Joca, matador de aluguel - respondeu  
Soldado:
--- Zé de Joca está morto há um tempão. – relatou o soldado na pesquisa da memória.
Moleque:
--- Foi nesse nome que o defunto pôs a culpa. – fez ver o garoto
Maria:
--- Respeita o meu homem. Ele não é nenhum defunto, seu traste. – falou zangada
Moleque:
--- Mas não é ele quem está morto? – indagou curioso.
Maria.
--- Mas não se tratar por defunto quem ainda está da terra. – lembrou chorando
Moleque:
--- E como é que eu o chamo? – perguntou curioso
Maria:
--- João Moreno, é o certo. – respondeu entre lágrimas
Moleque:
--- E ele vai ficar vivo? – indagou azucrinado
Soldado:
--- Vamos deixar de confusão. Prepare o morto e ponha no caixão da Prefeitura! – reclamou
E mais gente estava alí pronta para levar o morto para a o Instituto de Perícia. E depois jogá-lo na cova rasa do cemitério do lugar. Foi um pranto sem fim de Maria Amélia jogando praga ao demônio por ter morto o seu homem naquele fim de mundo.
Na tarde do mesmo dia foi feito o enterro com quase ninguém presente. Estavam apenas a mulher, o moleque e dois coveiros. O restante tinha se espantado com tal assassinato sem ver por que. João Moreno era um simples homem de cuidar do gado, tanger bois e procurar berros apartados e nada mais. Os demais vaqueiros da fazenda do Major Leopoldo trabalhavam o dia inteiro e à noite também a procurar gado perdido não sobrando temo para mais nada. Apenas a sua mulher, Maria Amélia rodava tempo, como esse, para se desfazer do marido para sempre por conta de um tiro de arma que ninguém sabe quem deu. O Zé de Joca era morto a um bom tempo. Então, não havia mais suspeitos para se interrogar:
Soldado:
--- Só se for o espírito do morto! – sorriu
Guarda:
--- Que espirito de morto que nada! Alguém foi o puxador do gatilho. Talvez um outro inimigo ou coisa que desconheço. – falou matutando.
Soldado:
--- Mas quem? – perguntou sobressaltado
E assim terminou a confusão. João Moreno foi enterrado e ninguém descobriu o paradeiro do assassino. Coisa da vida. Um homem com o seu cachimbo a fumaçar apenas cismou do caso, pois ninguém é morto sem motivo algum. Outra mulher. Um homem enraivecido. Coisa assim.




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