- TRISTEZA -
- 34 -
MARIA AMÉLIA
Eram sete horas da manhã ou um
pouco mais quando Maria Amélia foi pego de surpresa por um garoto da redondeza
morador em uma fazenda do Major Leopoldo. A mulher tremeu de medo quando o
garoto chamou. Ela estava ocupada esfolando um frango para assar. E
retirava-lhe as penas antes de abrir o frango para livrar-se de suas tripas e
fatos. Apesar do susto levado, a mulher, de olhos arregalados, indagou:
Maria:
--- Ai que susto!! Que foi,
moleque? – indagou cheia de afazer.
Moleque:
--- Desculpe. Mas, mataram João
Moreno! – respondeu o garoto
Maria:
--- Quem? Você é louco? Mataram
meu João? Onde? Quem foi? Ai meu Deus! Mataram João? Onde? – perguntou a mulher
tremendo de medo.
Moleque:
--- Não sei. A polícia foi a
procura do criminoso. Ele foi morto à bala! Talvez por algum circunstante. A
senhora vai? – indagou o moleque com muita pressa.
Nessas alturas Maria Amélia já
tinha jogado o frango ao lado, enxugava as mãos, consertava o totó e bem que
depressa amarava suas chinelas e saía em debandada a procura do defunto. Nesse
instante o moleque falou:
Moleque:
--- Dona. Foi no mato! – apontou
em sentido contrário.
A mulher, já impaciente e revoltada
nem tinha tino de responder. Apenas se voltou para o mato, nas cercanias de
onde gado bebia água próximo do açude dos Marrecos local que o moleque
ensinara, pois a mulher de João Moreno sabia que o seu homem cuidava do rebanho
do Major para as bandas daquele açude onde havia água vinda de olheiros das
cercanias do morro do Bronco. Pé da estrada, pé no caminho, em correria feito
loca, a mulher chorava e reclamava ter dito ao seu homem para ter cuidado com
os ladrões de gado.
Maria:
--- Eu disse a ele! Eu disse a
ele! Cuidado com os ladrões! – maldizia a mulher sempre a chorar angustiada
Moleque:
--- Por aqui, sá dona. Ele foi
morto num intricado de serras! – comentou um tanto a correr.
A mulher parou e respondeu:
Maria:
--- Onde? Onde, moleque? Onde
está o meu homem? – indagou com lágrimas
Moleque:
--- Naquelas serras! Eu estava
com ele quando ouvi o tiro! – respondeu o garoto
Maria:
--- Você ouviu? Quem fez o
disparo? – indagou magoada.
Moleque:
--- Isso é não sei. Só ouvi um
estampido e o homem caído! – relatou com vexame.
Maria:
--- Caído morto? Ai meu Deus!
Morto mesmo! – chorou a mulher
Moleque:
--- Não. Ele ainda disse que se
alguém o matasse a culpa era de Zé de Joca! Foi o que ele falou.
Maria:
--- Zé? Eles eram inimigos de
fogo a sangue. E a Polícia? – indagou chorando
Moleque
--- Eu passei pela Delegacia
antes de chegar até a senhora! – comentou
Maria:
--- Tamos perto? – perguntou
assustada e chorando
Moleque:
--- Logo na baixa. Tem uns
meganhas. Eu vi. – falou assustado
E foi assim que Maria Amélia
chegou até o ponto da morte de João Moreno. Desvencilhando-se dos soldados ela
agrou o seu marido e pôs no colo apenas a chorar de angústia. Maria não notara
nem o tempo passar. Era choro e mais choro. Um soldado indagou:
Soldado:
--- A senhora sebe se ele tinha
inimigos? – perguntou
A mulher nem perseguia a
pergunta. O garoto foi quem respondeu.
Moleque:
--- Ele falou em Zé de Joca,
matador de aluguel - respondeu
Soldado:
--- Zé de Joca está morto há um
tempão. – relatou o soldado na pesquisa da memória.
Moleque:
--- Foi nesse nome que o defunto
pôs a culpa. – fez ver o garoto
Maria:
--- Respeita o meu homem. Ele não
é nenhum defunto, seu traste. – falou zangada
Moleque:
--- Mas não é ele quem está
morto? – indagou curioso.
Maria.
--- Mas não se tratar por defunto
quem ainda está da terra. – lembrou chorando
Moleque:
--- E como é que eu o chamo? –
perguntou curioso
Maria:
--- João Moreno, é o certo. –
respondeu entre lágrimas
Moleque:
--- E ele vai ficar vivo? –
indagou azucrinado
Soldado:
--- Vamos deixar de confusão.
Prepare o morto e ponha no caixão da Prefeitura! – reclamou
E mais gente estava alí pronta
para levar o morto para a o Instituto de Perícia. E depois jogá-lo na cova rasa
do cemitério do lugar. Foi um pranto sem fim de Maria Amélia jogando praga ao
demônio por ter morto o seu homem naquele fim de mundo.
Na tarde do mesmo dia foi feito o
enterro com quase ninguém presente. Estavam apenas a mulher, o moleque e dois
coveiros. O restante tinha se espantado com tal assassinato sem ver por que.
João Moreno era um simples homem de cuidar do gado, tanger bois e procurar
berros apartados e nada mais. Os demais vaqueiros da fazenda do Major Leopoldo
trabalhavam o dia inteiro e à noite também a procurar gado perdido não sobrando
temo para mais nada. Apenas a sua mulher, Maria Amélia rodava tempo, como esse,
para se desfazer do marido para sempre por conta de um tiro de arma que ninguém
sabe quem deu. O Zé de Joca era morto a um bom tempo. Então, não havia mais
suspeitos para se interrogar:
Soldado:
--- Só se for o espírito do
morto! – sorriu
Guarda:
--- Que espirito de morto que
nada! Alguém foi o puxador do gatilho. Talvez um outro inimigo ou coisa que
desconheço. – falou matutando.
Soldado:
--- Mas quem? – perguntou
sobressaltado
E assim terminou a confusão. João
Moreno foi enterrado e ninguém descobriu o paradeiro do assassino. Coisa da
vida. Um homem com o seu cachimbo a fumaçar apenas cismou do caso, pois ninguém
é morto sem motivo algum. Outra mulher. Um homem enraivecido. Coisa assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário