- CRIME -
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- DULCE -
Era esse o nome: Bar de dona
Dulce. Na verdade, não era um bar, pois a mulher arrumou um terreno e fez uma
tapera com tabuas de forro de casa e umas estacas fincadas no chão. Com o
passar do tempo, o negócio foi melhorando. O Bar tinha uma largura de dois
metros e um comprimento de quatro metros. Tempos seguidos a mulher elevou por
mais um pouco o comprimento da tapera. Vendia-se de tudo um pouco, sempre
cachaça. No alimento servia-se tatu, galinha, peru, carne assada, carne torrada
entre outros quitutes. Sempre tinha dia de se vender a carne e não vender tatu.
Esse bicho ficava sempre para os dias de sábado. No domingo, não havia quase
viva alma e ela fechava o barraco depois do meio dia. As damas da noite – as
meretrizes propriamente ditas – eram a grande atração. Às vezes tinham duas. Em
outras, tinham quatro e até mais mundanas. Todo isso dependia do movimento da
freguesia, em sua maioria, mecânicos. Às vezes surgiam doutores da lei e
historiadores, poetas, gente do comércio ou mesmo de repartições públicas,
principalmente da Secretaria de Segurança. Por isso mesmo, ficou sendo chamado
o Bar de dona Dulce. Havia quem dissesse:
Freguês:
--- Vamos lá! – e apontava com o
dedo indicado o bar de Dulce.
Nos dias de sábados, a zoadeira
era infernal. As damas curtiam mais porque era tempo de se fazer “dinheiro” com
os mecânicos ou funcionários públicos. Após umas garrafas de cerveja e dosado
com cachaça, elas seguiam para o Sobrado, um recanto próximo ao campo de
futebol das Rocas, bairro pegado com a Ribeira, em Natal, Rn. No local havia
mais bordeis e sempre à hora marcada. Quando dava uma hora, a meretriz do
bordel batia na porta:
Meretriz:
--- Tá na hora! – dizia com voz
estridente a bater na porta de duas bandas.
E as mundanas se vexavam em sair,
mesmo que o “freguês” estivesse dormindo de sono solto após o tempo necessário.
Nos cubículos da rua sem nome era o maior fuzuê nas noites do sábado onde havia
um arrasta-rabo no salão de Francesinha, um cabaré decadente e com um cheio
nauseabundo de uma fábrica de sabão, ao lado. Esse era a história do Bar de
Dulce não bem distante do salão de Francesinha.
Tinha vez que as mundanas saíam
com seus parceiros para devorar peixes em um bar nas quitandas das Rocas, na
rua São João, local de haver guerras constantes entre os demais frequentadores,
sempre nas noites de sábados. Por isso, o pessoal preferia o sossegue do Bar de
Dulce, onde a calma era constante, salvo a morte de um elemento. E a história
foi essa:
Estava o bar a fornecer café com
queijo, tapioca, cuscuz entre outros manjares do céu a os fregueses da manhã
cedinho quando surgiu o rapaz de roupas sujas a indagar se havia bebida àquela
hora da manhã. A dama que atendia o balcão se fez de mouca. Mas por consequência
dona Dulce recomendou:
Dulce:
--- Atenda a ele! – e apontou
para o visitante.
A mundana se dirigiu a indagar:
Mundana:
--- Diga? –com sua cara trancada.
Rapaz:
--- Eu pedi uma pinga! Você é
moca? – respondeu um tanto atrevido.
A mundana se voltou para pegar a
garrafa e pôs a pinga desejada. O rapaz, então, um tanto atrevido, falou mais
bravo ainda
Rapaz:
--- Pode encher essa “porra”. –
falou grosseiro
Então, a meretriz começou a
encher o copo “americano”, um de boa quantidade que pegava meia garrafa de
aguardente e não mais falou. Encheu o copo até esborrotar deixando escorrera a
cachaça pelo meio do salão. E o rapaz, enervado, chamou a atenção da meretriz.
Rapaz:
--- Você é burra? Não ‘ta vendo
que encheu? – indagou colérico
A meretriz se fez de mouca esse
voltou para a prateleira onde colocava a garrafa com o restinho da cachaça.
Nesse ponto, ela sentiu se molhar por completo de toda a aguardente. E não teve
conversa. Enraivecida, a meretriz se voltou com a garrafa e despejou o resto em
cima da cara do rapaz ameaçando sacudir a garrafa contra seu algoz. Nesse
instante, o rapaz desconhecido tentou agarrar a meretriz a saltar de fora para
dentro pulando o balcão. Foi, então, o fuzuê. Hélio, mecânico da oficina que
estava alí presente, se agarrou com o rapaz e o arrastou para fora, notando a
intenção do atrevido moço. E foi confusão em cima de confusão com os dois
agarrados, a lutar sem trégua, um por cima de certa vez. Ou por baixo, de
outras, atrapalhando o transito de automóveis que tentavam ultrapassar a
querela dos dois nós cegos. E turma de operários a chegar das oficinas a fazer
círculo em torno da luta.
Turma:
--- Pega! Pega! Dá-lhe! Dá-lhe! –
gritavam os mecânicos.
O tráfego de carros ficou
interrompido por mais de cinquenta metros ou mais. Em um dado instante,
ouviu-se o espocar de um tiro. E o corpo rolou no chão. Era do rapaz. Ele
trazia um revolver no bolso e, em um dado instante, procurou sacar. Porém, ele
não teve tanta sorte. O mecânico Hélio redobrou a sua mão e o rapaz deflagrou
um único disparo em cima do seu próprio peito. Foi morte certa.
Turma:
--- Ele se matou? – gritaram
alarmados.
Hélio se levantou e olhou para o
morto:
Hélio:
--- Porras! Tá morto mesmo! – falou
temeroso
Naquela hora estava no meio o
investigador Silva, da Polícia Civil e olhou o defunto. Depois, encarrou Hélio.
E declarou:
Silva:
--- Não tem jeito. É você ir
comigo até a Delegacia. – comentou penalizado.
Hélio:
--- Mas, eu não tive culpa! Era
ele ou eu! – comentou aborrecido
Mesmo assim, Hélio e Silva se
encaminharam para a Delegacia de Polícia. Outros mecânicos também seguiram o
policial. E ainda comentavam:
Mecânicos:
--- Mas Hélio é inocente! – era o
comentário geral.
Silva pediu aos mecânicos que
entrassem na DP e conduziu Hélio para um lado oposto ao da DP orientando a
Hélio que ele escapasse até passar o tempo da apresentação. Ele diria ao
delegado ter o criminoso escapado.
Hélio:
--- Você jura que o que está
fazendo é verdadeiro? – perguntou inquieto.
Silva:
--- Fuja! Eu fico aqui. Depois de
três dias você se apresente. Vou falar com um advogado. Fuga! Corra! Vá embora!
– alertou com todo o custo
E assim foi feito. Hélio escapou
por onde podia e Silva foi para o setor de Depoimento. E relatou o flagrante
adiantando que o criminoso havia escapado. O Delegado entendeu o acerto feito e
deu o caso em suspenso.
Delegado:
--- Três dias? – indagou a fitar
silva por cima dos óculos.
Silva:
--- Três dias! – foi o combinado
O cadáver ficou exposto da na rua
por mais de três horas e o transito de veículos teve de ser desviado pela rua
Sul, pois o trecho de crime foi isolado pela polícia militar. E os mecânicos
comentavam:
Mecânicos:
--- Puta merda! O rapaz deu um
tiro nele mesmo. – comentou
Outro:
--- Você o conhecia? – indagou
Terceiro:
--- E a meretriz? – foi a
pergunta.
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