- CAPELA -
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COMOÇÃO
Apesar de não
professar religião, Othon viu-se obrigado a permanecer no sítio de dona Rita à
espera dos 7º Dia quando celebrada a missa por intenção da alma de Norma morta
sete dias antes na linha férrea do trem. Enquanto isso, o senhor Othon passou a
vida a procurar um monte de segredos, de artigos, entre outras coisas no AP de
Norma onde ela guardava boa parte de sua pouca existência. Nesse tempo, Othon
ficara só e, às vezes, na companhia de Tiago eu de nada servia nessa busca e a
reparar o seu caminhão. Certa vez, Othon encontrou várias lembranças de
viagens, motivos de festas como as das praias onde os dois sorriam entre os
muitos que festejavam um casamento de antigamente. Othon sorrio dessa vez pela
face da mulher que se tornava engraçada. Retratos, retratos, retratos. Quantas
emoções vividas. A de uma torcedora pelo time da Alemanha que jogaria no
estádio de Berlim em um dia qualquer. Era ela, a torcedora ovacionando a
torcida alemã. Em outras ocasiões, a visita aos jardins floridos de Berlim onde
Norma sorria por tudo e por nada com uma porção de flores. No Teatro de Berlim,
um caso inusitado. Um homem gigante de pernas de pau tocando falta e Norma a
observar sorrindo. O Teatro da Ópera da cidade. A vista do lado de fora do
teatro com seus bonecos gigantes. Um festival de beleza. O Teatro foi
construído em 1802 e apresenta todos os anos peças de boa marca, como “A Luta
dos Sertões”. Othon caiu em prantos ao lembrar tudo o pode ver. Nesse momento,
chegou ao AP o amigo Tiago. Esse, falou.
Tiago
--- Fotos?
Quantas fotos. Puxa. São de Norma? - - indagou
Othon
--- Sim. Eu e
ela. Quando visitamos a Europa. - - declarou
Tiago
---
Interessante. Vai publicar? - - indagou
Othon
--- Não.
Guardá-las todas na memória e no baú. - -
Tiago
--- Eu sendo o
senhor, mostrava para que todos vissem. - -
Othon
--- Para os
outros, isso não tem importância. Apenas para Norma. - -
Tiago
--- E para o
senhor, é claro. - -
Othon
--- Eu perdi o
gosto por tudo isso. Agora é lembro. As visitas feitas. Coisa maravilhosa. - -
chorou
Tiago
--- É. A gente
vive e depois morre e ninguém sequer pergunta. - - entristecido
À tarde, Othon
foi a cidade sem querer rever o local da tragédia e passou pela Ribeira, no bar
de Bebé, pessoa que nunca mais tinha visto. Ao chegar, foi aquela alegria. Mas,
Othon estava triste, muito triste e quase não falava. Apenas o olá e procurou
uma mesa desocupada onde ele procurou sentar. A mulher ficou não dúvida sem
saber o que dizer. Enfim, ela também sentou e procurou um meio de falar
Bebé
--- Está
triste? - - indagou surpresa
Othon
--- Norma!
Morreu! - - disse assim e chorou.
Bebé
--- Não. Você
está brincando! Fala sério! - - forçou Bebé.
Após alguns
minutos de chorou, ele então falou.
Othon
--- Morreu.
Morreu. Eu não era mais casado e ela se sentiu menosprezada e pulou na linha do
trem. É o que eu suponho. - - lágrimas imensas.
Bebé
--- Menino!
Como é que pode? Eu ouvi na TV uma notícia de uma moça que se jogou no trilho.
Othon
--- Foi ela.
Toda desconforme. Eu estou em São Paulo. E um rapaz me telefonou dizendo o
sucedido. –
Bebé
--- Crueldade.
Ela, certa vez, esteve aqui e conversamos. Ela falou no tal divórcio. Estava
magoada. Muito triste. Mas não falou em um caso de ter que morrer. - -
Othon
--- Às vezes a
pessoa morre sem saber nem por que. Apenas morre! - -
Bebé
--- E as
crianças? - -
Othon
--- São duas.
Elas estão no sítio da mulher que toma conta. Eu vou leva-las para São Paulo. –
Bebé
--- E a outra
mulher? Já sabe? - -
Othon
--- Se você
sabe por que Maria não sabe? Eu ainda não falei com Maria. - -
Bebé
--- Eu sei
porque Norma contou que você estava com outra. Essa Maria. - -
Othon
--- Eu nem
pensava em ter ninguém. Mas você veja: sozinho, mulher nova. Então eu fui. - -
Bebé
--- Vocês são
uns bobos. Bocó. Isso é o que são. - - e deu um tunque com a boca virando o
rosto
Othon
--- Não é
assim. A gente apanha, apanha e, depois, vem a rebordosa. Foi isso o que deu. –
Bebé
--- E as
crianças? Quem vai tomar conta? - -
Othon
--- Não bem.
Mas devo levar a moça que toma conta desde que nasceram. A moça não quer ir.
Bebé
--- Mostra a
peia p’ra ele que num instante vai! Essas porras! - - falou com brutalidade
Othon
--- Não diga
isso. A moça é direita. E agora tem Maria. –
Bebé
--- Tá vendo?
Tá vendo? Logo duas! - - estonteada
Othon
--- Não é
isso. Eu quero saber o que eu faço? - -
Bebé
--- Coma as
duas seu tarado! - - enfezada.
Othon
--- Não fale
assim. Eu não sei o que faça. Eu levo? - -
Bebé
--- Não é para
comer? Leva tudo! Parece gato! - - aborrecida
Othon
--- Você é
foda! Eu não faço isso. Pergunto se ela vai? - -
Bebé
--- Se vai? Eu
já estava lá. Não é para foder? - -
Othon
--- Não tem
graça. Ela é uma moça. –
Bebé
--- E as
outras também eram. Glutão! - - com raiva
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