domingo, 4 de dezembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 33 -

- CAPELA -
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COMOÇÃO

Apesar de não professar religião, Othon viu-se obrigado a permanecer no sítio de dona Rita à espera dos 7º Dia quando celebrada a missa por intenção da alma de Norma morta sete dias antes na linha férrea do trem. Enquanto isso, o senhor Othon passou a vida a procurar um monte de segredos, de artigos, entre outras coisas no AP de Norma onde ela guardava boa parte de sua pouca existência. Nesse tempo, Othon ficara só e, às vezes, na companhia de Tiago eu de nada servia nessa busca e a reparar o seu caminhão. Certa vez, Othon encontrou várias lembranças de viagens, motivos de festas como as das praias onde os dois sorriam entre os muitos que festejavam um casamento de antigamente. Othon sorrio dessa vez pela face da mulher que se tornava engraçada. Retratos, retratos, retratos. Quantas emoções vividas. A de uma torcedora pelo time da Alemanha que jogaria no estádio de Berlim em um dia qualquer. Era ela, a torcedora ovacionando a torcida alemã. Em outras ocasiões, a visita aos jardins floridos de Berlim onde Norma sorria por tudo e por nada com uma porção de flores. No Teatro de Berlim, um caso inusitado. Um homem gigante de pernas de pau tocando falta e Norma a observar sorrindo. O Teatro da Ópera da cidade. A vista do lado de fora do teatro com seus bonecos gigantes. Um festival de beleza. O Teatro foi construído em 1802 e apresenta todos os anos peças de boa marca, como “A Luta dos Sertões”. Othon caiu em prantos ao lembrar tudo o pode ver. Nesse momento, chegou ao AP o amigo Tiago. Esse, falou.
Tiago
--- Fotos? Quantas fotos. Puxa. São de Norma? - - indagou
Othon
--- Sim. Eu e ela. Quando visitamos a Europa. - - declarou
Tiago
--- Interessante. Vai publicar? - - indagou
Othon
--- Não. Guardá-las todas na memória e no baú. - -
Tiago
--- Eu sendo o senhor, mostrava para que todos vissem. - -
Othon
--- Para os outros, isso não tem importância. Apenas para Norma. - -
Tiago
--- E para o senhor, é claro. - -
Othon
--- Eu perdi o gosto por tudo isso. Agora é lembro. As visitas feitas. Coisa maravilhosa. - - chorou
Tiago
--- É. A gente vive e depois morre e ninguém sequer pergunta. - - entristecido
À tarde, Othon foi a cidade sem querer rever o local da tragédia e passou pela Ribeira, no bar de Bebé, pessoa que nunca mais tinha visto. Ao chegar, foi aquela alegria. Mas, Othon estava triste, muito triste e quase não falava. Apenas o olá e procurou uma mesa desocupada onde ele procurou sentar. A mulher ficou não dúvida sem saber o que dizer. Enfim, ela também sentou e procurou um meio de falar
Bebé
--- Está triste? - - indagou surpresa
Othon
--- Norma! Morreu! - - disse assim e chorou.
Bebé
--- Não. Você está brincando! Fala sério! - - forçou Bebé.
Após alguns minutos de chorou, ele então falou.
Othon
--- Morreu. Morreu. Eu não era mais casado e ela se sentiu menosprezada e pulou na linha do trem. É o que eu suponho. - - lágrimas imensas.
Bebé
--- Menino! Como é que pode? Eu ouvi na TV uma notícia de uma moça que se jogou no trilho.
Othon
--- Foi ela. Toda desconforme. Eu estou em São Paulo. E um rapaz me telefonou dizendo o sucedido. –
Bebé
--- Crueldade. Ela, certa vez, esteve aqui e conversamos. Ela falou no tal divórcio. Estava magoada. Muito triste. Mas não falou em um caso de ter que morrer. - -
Othon
--- Às vezes a pessoa morre sem saber nem por que. Apenas morre! - -
Bebé
--- E as crianças? - -
Othon
--- São duas. Elas estão no sítio da mulher que toma conta. Eu vou leva-las para São Paulo. –
Bebé
--- E a outra mulher? Já sabe? - -
Othon
--- Se você sabe por que Maria não sabe? Eu ainda não falei com Maria. - -
Bebé
--- Eu sei porque Norma contou que você estava com outra. Essa Maria. - -
Othon
--- Eu nem pensava em ter ninguém. Mas você veja: sozinho, mulher nova. Então eu fui. - -
Bebé
--- Vocês são uns bobos. Bocó. Isso é o que são. - - e deu um tunque com a boca virando o rosto
Othon
--- Não é assim. A gente apanha, apanha e, depois, vem a rebordosa. Foi isso o que deu. –
Bebé
--- E as crianças? Quem vai tomar conta? - -
Othon
--- Não bem. Mas devo levar a moça que toma conta desde que nasceram. A moça não quer ir.
Bebé
--- Mostra a peia p’ra ele que num instante vai! Essas porras! - - falou com brutalidade
Othon
--- Não diga isso. A moça é direita. E agora tem Maria. –
Bebé
--- Tá vendo? Tá vendo? Logo duas! - - estonteada
Othon
--- Não é isso. Eu quero saber o que eu faço? - -
Bebé
--- Coma as duas seu tarado! - - enfezada.
Othon
--- Não fale assim. Eu não sei o que faça. Eu levo? - -
Bebé
--- Não é para comer? Leva tudo! Parece gato! - - aborrecida
Othon
--- Você é foda! Eu não faço isso. Pergunto se ela vai? - -
Bebé
--- Se vai? Eu já estava lá. Não é para foder? - -
Othon
--- Não tem graça. Ela é uma moça. –
Bebé
--- E as outras também eram. Glutão! - - com raiva 

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