sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 36 -

- PAÇO DA PÁTRIA -
- 36 -

CONHECER
O homem Othon adentrou uma modesta residência de Mirtes, coisa comum naquele espaço do Paço da Pátria, local fétido pela lama impregnada, jogada pelas turbulentas águas do rio, e procurou se sentar em um tamborete de três pernas a espera de algo a indagar pela senhora. Num canto da sala estava o cão, dorminhoco por sinal. Do outro lado, havia um gato negro, por sinal. O homem não deu a menor importâncias aos miseráveis dorminhocos. Apenas os contemplo sem a menor necessidade. Ele engoliu saliva para não cuspir fora. A ancião teve o cuidado de chamar uma moça, sua neta, tendo pedido para sentar em um banco pois seria a vez da senhorita ensaiar uns passes para adormecer em êxtase. Terminada a iniciação, Othon se dispôs a contar depois de ouvir a anciã falar. A moça, neta da velha, já estava adormecida, com suas mãos lançadas à mesa. Essa mesa tinha uma coberta branca em cima, com enfeites de renda, uma vela acesa, um copo de água e o cacho de flores  
Mirtes
--- O senhor é o marido da falecida Norma. Estou certa? - - perguntou de olhos fechados
Othon ficou surpreso com tanta assertiva. E ficou surpreso com o argumento da velha senhora. E respondeu.
Othon
--- Certo. Eu sou. Como a senhora sobe? - - quis entender.
Mirtes
--- Ela está aqui, ao meu lado. Foi ela quem mandou perguntar. - - respondeu a anciã
Othon
--- Não é possível! Ela aqui? Pergunte algo que apenas ela sabe! - - discorreu
A anciã passou a questão para a sua neta.
Mirtes
--- Pergunte a ela uma questão que somente a moça sabe. - - passou a palavra a sua neta.
Elba
--- Eu te pergunto onde está a chave? - -
Othon
--- Chave? Que chave? Eu não tenho chave! - - respondeu estarrecido
Elba
--- A chave do armário que você comprou pela manhã naquele dia. A primeira chave. - - quis saber
Othon
--- Ah. Você quer saber onde eu coloquei a chave? A primeira? - - quis saber
Elba
--- Sim. A primeira. Onde você colocou? - - indagou
Othon
--- Ah. Lembrou agora. Do armário! Deixa-me ver! Onde eu coloquei? Já nem sei mais! - - respondeu
Elba
--- Na dispensa. Ainda está guardada no mesmo local. – - respondeu
Othon
--- Diabos! Por que eu me lembrei? Faz tempo! Faz tempo! - - procurou em vão a figura da esposa.
Mirtes
--- Ela não está nesses locais. - - respondeu a olhar em volta.
Othon
--- Verdade. Aqui não está. Só está com a moça. Mas me diga uma coisa. Por que você pôs termo a vida?
Elba
--- Por sua causa. - - respondeu
Othon
--- Por mim? Que te fiz para merecer tanto? - - quis saber
Elba
--- Racílva. Ela está aqui também. E me contou os dissabores do noivado. - - respondeu
Othon
--- Onde está Racílva? Quero falar com ela! - - confidenciou.
Elba
--- Hoje, ela não vai poder. - - respondeu
Othon
--- Eu sabia. Eu sabia. E quando ela pode falar comigo? - - quis saber.
Elba
--- Depois das férias. Ela já foi. - - respondeu
Othon
--- Férias? Que férias? Ora merda! - - falou o homem
Mirtes
--- Elas têm férias, também. Queres saber algo de sua mulher? - - indagou
Othon
--- Sim. Eu quero. Quando você volta? - - perguntou
Elba
--- Breve. Muito em breve. Cuidado com aquela pessoa! - - lembrou o espirito
Othon
--- Que pessoa? Ela diz coisas que não entendo! Que pessoa? - - perguntou com ira.
Mirtes
--- Ela se foi. Mas me disse quem. - - falou a velha
Othon
--- Uma pessoa que só você conhece. - - relatou
Nesse ponto, terminou a sessão. O homem, inquieto, perguntou à anciã quanto que estava devendo e ela respondeu que nada. Ele precisava tomar uns banhos de ervas sempre ao amanhecer e anoitecer. Esses banhos seriam para afugentar os maus espíritos que ronda a sua casa, constantemente. E seria de bom uso de uma flor pregada em seu uniforme. Podia ser por dento do paletó. E que ele tivesse cuidado com seus dois filhos.
Mirtes
--- A morte ronda a todos, constantemente. Cuidado com a morte. Cuidado! - - alertou.
Othon
--- Mas, o que posso fazer? - - indagou vexado.
Mirtes
--- Use sempre a rosa. - - declarou
O homem coçou a cabeça, pediu licença e saiu a pensar que rosa era essa. O trem passou ligeiro parecendo um louco, para chegar à estação. Do outro lado da linha estava estacionado o carro de Othon. Os meninos empinavam corujas para vê-las indo mais altas. Do lado de fora, um barco de pesca. Um homem a gritar para os seus companheiros.
Pescador
--- Arrocha mais forte! – - gritava o barqueiro.
Outro, lá em cima, passava oferecendo armários e panelas pelo menor preço. Uma mulher olhava o rio e os pescadores do lado oposto colhendo frutos das águas marinhas. Um homem oferecendo velas para os devotos da Santa. Era toda uma confusão desastrada. Após o meio dia, Othon chegou ao seu apartamento. Na entrada do AP, estava a moça Neta a fazer as comidas para os garotos. Ele ficou surpreso com a presenta de Tiago.
Othon
--- Já? - - quis saber.
Tiago
--- Vim buscar a encomenda. - - relatou
Othon
--- Que horas? - - quis saber
Tiago
--- Pouco mais do meio dia. - - relatou
Othon
--- Só esperando. Estou morrendo de fome. - - sorriu
Neta
--- Dona Bebé esteve aqui. - - discorreu
Othon
--- Agora? - - indagou


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