- MULTIVERSOR -
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INFINITO -
Após alguns dias, tempo em que houve o sepultamento de Maria com a
inscrição “desconhecida” na lápide, foi mesmo o tempo de se ajustar tudo o que
se fazia em casa de Othon. Como ninguém a procurou, o caso foi dado por
encerrado. O homem recomentou a Neta a jogar fora tudo o que era da moça. Nada
havia para guardar. Neta obedeceu até por a ausência de Maria não era efeito
para ela e mesmo para nenhum dos que estavam em casa: Racílva e Hervê, irmãos
gêmeos para todos os efeitos. Das tenras crianças Neta tomava conta dos peraltas.
No tempo, seria maior cuidado para Neta. E as crianças cresciam vagarosas já
com mais de 3 anos de vida. Nem houve festa nesse novo espaço de tempo. Neta
fez um carrinho decorado, bolos, chocolates, confeitos, doces, bolas de enfeite
penduradas em uma cortina de cor avermelhada, brinquedos entre mais alguns
detalhes. Nesse tempo estava presente a doutora Alice para dar maior apoio a
festinha das crianças e Othon, o pai. Mais ninguém. São Paulo era uma cidade
fechada. Se houvesse maior divulgação, crianças dos AP vizinhos podiam ou não
vir a festa de pouca emoção. Duas mortes. Esse era o destino de não se fazer
pomposa atração.
Othon
--- Deixa passar o tempo. No próximo ano, talvez. Eles estão muito
amadurecidos. - - falou o homem
Alice
--- Eu penso assim. Faz pouco tempo em que a mãe se foi. Mesmo Maria
não faz tanto tempo assim. Deixa levar; -
As crianças foram as mais conformadas por causa de não se fazer festa.
E foi Racilva quem falou naquele instante. Todos estava sorrindo por causa das
brincadeiras, dos trens, dos carrinhos de presentes. Ela foi quem falou
primeiro.
Racílva
--- A senhora é irmã de minha mãe? - - quis saber apresada
Seu semblante era de estranheza quando se virou para Alice. Ela fez a
pergunta não se sabe por que. Toda admirada com a feição de Alice, talvez tenha
sido por isso. E a mulher, tão de repente aguçou seu olhar se virando para
Racilva. Como que não ouvira direito a pergunta, fez atenção melhor.
Alice
---Como? Eu? Não. Por que perguntas? - - falou estranho e com surpresa.
Racílva
--- Parecida. Tem a cara de minha mãe. - - e lambeu os dedos molhados
de chocolate.
Alice
--- Eu já ouvi essa pergunta. Mas eu não sou a irmã de sua mãe. - - e
abraçou a menina levantado ao alto.
Racílva
--- Mas a minha mãe foi quem disse. Foi. Ela sabe. Ela me disse. - -
argumentou em troca.
Alice
--- Ela disse a você? Como? Ela está no Céu! - - gargalho a mulher
Racílva
--- Mas ela volta. Sempre volta. Brinca comigo. Veja alí na parede. É
ela sorrindo. - - declarou
Alice
--- Que parede? Ali não tem nem retratos. Imagine! - - disse a mulher
Racílva
--- Tem. Ela está olhando para você. Ela está. - - relatou a menina.
Nesse ponto Alice colocou a menina para baixo, no chão, e voltou a
comentar.
Alice
--- Aqui? Onde? Eu não a vejo! - - falou com espanto
Racílva
--- Ela saiu. Agora tem eu. Veja onde estou. - - relatou apontando
E o pai, Othon, voltou para Racilva e quis saber.
Othon
--- O que você está vendo, menina? Na parede não tem nada. Apenas uma
folhinha. - -
Racílva
--- Mas tem eu. Eu vou brincar comigo. - - escapuliu.
Alice
--- Que menina! Ela diz que está na parede. Mas olha! - - com olhar
aguçado
Othon
--- Brincadeira de criança. - - disse o homem a sorrir
Racílva
---Brincadeira, não. Eu estou sentada junto a parede brincando comigo.
Eu venho tido o dia, só para brincar. - -
Alice
--- Está bom. Está bom. Pois brinque. - - achou graça na atitude de
Racilva.
Othon
--- Engraçado. Quando eu era criança, brincava com meu amigo. O
engraçado era o nome dele. Sabe como era? Era “Aziza”. Era como eu o chamava.
Aziza! - - soltou bela gargalhada
Alice
---Eu, também, tinha uma boneca de pano com quem brincava. Interessante
é que eu a chamava apenas de “bruxa”! - -
E gargalhou em seguida.
Othon
--- Bruxa? Imagine só. Eu também tive várias bonecas. Eu me lembro de
uma. Era grandona. Agora, não sei o nome que eu dei a boneca. Mas, eu me lembro
muito bem. Bruxa! Ora vejam só! Que nome! - - gargalhou
Neta
--- Eu tinha várias bonecas. Não me lembro os nomes. Parece que eu as
chamavas de “sujas”. - - sorriu
Alice
--- Certa vez eu saí. As vezes nem saia mesmo. Ou ia para o banheiro ou
no fundo do quintal. Mas saia só com minha amiga. Era só como eu a chamava. Amiga. Saíamos conversando um bla bla bla do trem com essa outra amiga. - - sorriu
Racílva
--- Olha aqui, o que ela me deu! Biscoitos! Ela é eu! - - disse a
menina, sorrindo.
Othon
--- Interessante. Essa menina é Racílva. A minha outra “noiva” era
também Racílva. Há coincidências nos nomes? - -
Alice
--- Pode ser que aja. Você colocar um nome em um filho em uma pessoa
que não mais existe, pode até ser uma verdade. Às vezes, essa pessoa que já
morreu, volta por causa do nome ser igual. Não sei bem. Mas pode haver
semelhança. - -
Neta
--- Eu, certa vez, ouvi uma anciã dizer que não se deve colocar nomes
de parentes que já morreram em seus filhos. Porque isso atrai. Quem está morto,
na verdade não está morto. Se a pessoa coloca o nome de um filho em um avô ou
mesmo em um filho mais velho que já morreu, ele, esse filho, retorna, pensando
que é ele e não o mais moço. Uma coisa dessas.
Othon
--- Pode ser. Não sei. Bem pode ser. Eu, vamos dizer, eu retorno por
ser eu e não o outro eu. Coisa desse tipo. - -
Alice
--- Na Ásia, pelo menos no Vietnã, lá se coloca sobrenome em inúmeras
pessoas da família em recordação a um Rei que um dia governo aquele Estado. Um
caso desses é Nguyen. O nome significa mesmo “Original”. Mas esse Original vem
de tempos remotos. De um governante que teve no país. Nguyen. - -
Othon
--- É como Silva, Bezerra, Suassuna. - - lembrou o homem.
Alice
--- Silva vem de um nome de um imperador da Itália. Silva. Não sei bem
em qual ano. - -
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