quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 43 -

- MULTIVERSOR -
- 43 -
INFINITO -

Após alguns dias, tempo em que houve o sepultamento de Maria com a inscrição “desconhecida” na lápide, foi mesmo o tempo de se ajustar tudo o que se fazia em casa de Othon. Como ninguém a procurou, o caso foi dado por encerrado. O homem recomentou a Neta a jogar fora tudo o que era da moça. Nada havia para guardar. Neta obedeceu até por a ausência de Maria não era efeito para ela e mesmo para nenhum dos que estavam em casa: Racílva e Hervê, irmãos gêmeos para todos os efeitos. Das tenras crianças Neta tomava conta dos peraltas. No tempo, seria maior cuidado para Neta. E as crianças cresciam vagarosas já com mais de 3 anos de vida. Nem houve festa nesse novo espaço de tempo. Neta fez um carrinho decorado, bolos, chocolates, confeitos, doces, bolas de enfeite penduradas em uma cortina de cor avermelhada, brinquedos entre mais alguns detalhes. Nesse tempo estava presente a doutora Alice para dar maior apoio a festinha das crianças e Othon, o pai. Mais ninguém. São Paulo era uma cidade fechada. Se houvesse maior divulgação, crianças dos AP vizinhos podiam ou não vir a festa de pouca emoção. Duas mortes. Esse era o destino de não se fazer pomposa atração.
Othon
--- Deixa passar o tempo. No próximo ano, talvez. Eles estão muito amadurecidos. - - falou o homem
Alice
--- Eu penso assim. Faz pouco tempo em que a mãe se foi. Mesmo Maria não faz tanto tempo assim. Deixa levar; -
As crianças foram as mais conformadas por causa de não se fazer festa. E foi Racilva quem falou naquele instante. Todos estava sorrindo por causa das brincadeiras, dos trens, dos carrinhos de presentes. Ela foi quem falou primeiro.
Racílva
--- A senhora é irmã de minha mãe? - - quis saber apresada
Seu semblante era de estranheza quando se virou para Alice. Ela fez a pergunta não se sabe por que. Toda admirada com a feição de Alice, talvez tenha sido por isso. E a mulher, tão de repente aguçou seu olhar se virando para Racilva. Como que não ouvira direito a pergunta, fez atenção melhor.
Alice
---Como? Eu? Não. Por que perguntas? - - falou estranho e com surpresa.
Racílva
--- Parecida. Tem a cara de minha mãe. - - e lambeu os dedos molhados de chocolate.
Alice
--- Eu já ouvi essa pergunta. Mas eu não sou a irmã de sua mãe. - - e abraçou a menina levantado ao alto.
Racílva
--- Mas a minha mãe foi quem disse. Foi. Ela sabe. Ela me disse. - - argumentou em troca.
Alice
--- Ela disse a você? Como? Ela está no Céu! - - gargalho a mulher
Racílva
--- Mas ela volta. Sempre volta. Brinca comigo. Veja alí na parede. É ela sorrindo. - - declarou
Alice
--- Que parede? Ali não tem nem retratos. Imagine! - - disse a mulher
Racílva
--- Tem. Ela está olhando para você. Ela está. - - relatou a menina.
Nesse ponto Alice colocou a menina para baixo, no chão, e voltou a comentar.
Alice
--- Aqui? Onde? Eu não a vejo! - - falou com espanto
Racílva
--- Ela saiu. Agora tem eu. Veja onde estou. - - relatou apontando
E o pai, Othon, voltou para Racilva e quis saber.
Othon
--- O que você está vendo, menina? Na parede não tem nada. Apenas uma folhinha. - -
Racílva
--- Mas tem eu. Eu vou brincar comigo. - - escapuliu.
Alice
--- Que menina! Ela diz que está na parede. Mas olha! - - com olhar aguçado
Othon
--- Brincadeira de criança. - - disse o homem a sorrir
Racílva
---Brincadeira, não. Eu estou sentada junto a parede brincando comigo. Eu venho tido o dia, só para brincar. - -
Alice
--- Está bom. Está bom. Pois brinque. - - achou graça na atitude de Racilva.
Othon
--- Engraçado. Quando eu era criança, brincava com meu amigo. O engraçado era o nome dele. Sabe como era? Era “Aziza”. Era como eu o chamava. Aziza! - - soltou bela gargalhada
Alice
---Eu, também, tinha uma boneca de pano com quem brincava. Interessante é que eu a chamava apenas de “bruxa”! - -
E gargalhou em seguida.
Othon
--- Bruxa? Imagine só. Eu também tive várias bonecas. Eu me lembro de uma. Era grandona. Agora, não sei o nome que eu dei a boneca. Mas, eu me lembro muito bem. Bruxa! Ora vejam só! Que nome! - - gargalhou
Neta
--- Eu tinha várias bonecas. Não me lembro os nomes. Parece que eu as chamavas de “sujas”. - - sorriu
Alice
--- Certa vez eu saí. As vezes nem saia mesmo. Ou ia para o banheiro ou no fundo do quintal. Mas saia só com minha amiga. Era só como eu a chamava. Amiga. Saíamos conversando um bla bla bla do trem com essa outra amiga.  - - sorriu
Racílva
--- Olha aqui, o que ela me deu! Biscoitos! Ela é eu! - - disse a menina, sorrindo.
Othon
--- Interessante. Essa menina é Racílva. A minha outra “noiva” era também Racílva. Há coincidências nos nomes? - -
Alice
--- Pode ser que aja. Você colocar um nome em um filho em uma pessoa que não mais existe, pode até ser uma verdade. Às vezes, essa pessoa que já morreu, volta por causa do nome ser igual. Não sei bem. Mas pode haver semelhança.  - -
Neta
--- Eu, certa vez, ouvi uma anciã dizer que não se deve colocar nomes de parentes que já morreram em seus filhos. Porque isso atrai. Quem está morto, na verdade não está morto. Se a pessoa coloca o nome de um filho em um avô ou mesmo em um filho mais velho que já morreu, ele, esse filho, retorna, pensando que é ele e não o mais moço. Uma coisa dessas.
Othon
--- Pode ser. Não sei. Bem pode ser. Eu, vamos dizer, eu retorno por ser eu e não o outro eu. Coisa desse tipo. - -
Alice
--- Na Ásia, pelo menos no Vietnã, lá se coloca sobrenome em inúmeras pessoas da família em recordação a um Rei que um dia governo aquele Estado. Um caso desses é Nguyen. O nome significa mesmo “Original”. Mas esse Original vem de tempos remotos. De um governante que teve no país. Nguyen. - -
Othon
--- É como Silva, Bezerra, Suassuna. - - lembrou o homem.
Alice
--- Silva vem de um nome de um imperador da Itália. Silva. Não sei bem em qual ano. - - 

Nenhum comentário:

Postar um comentário