TUMULO
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TRISTEZA
O avião tocou o solo de Mossoró às três e meia da manhã do dia do
sepultamento de Osni, pai de Othon e do restante da gente que o velho criou às
custas de muito sacrifício na sua vida. Osni tinha 75 anos de idade quando
morreu. O seu sepultamento ficou marcado para a manhã daquele dia, quando
chegaram Othon, sua mulher Alice, os filhos Racílva e Hervê, engrossando na
fila, a governanta Neta. Logo que desembarcou, Othon foi recebido por seu irmão
Orlando e outro cavalheiro. Eles foram cumprimenta-lo cheio de muita tristeza
com a morte de velho pai. Naquela oportunidade, a conversa girou em torno da
morte de Osni
Orlando
--- Eu ainda estava em casa. Minha mãe estava por perto. Na ocasião eu
vi o velho ficar de pé e indaguei o que ele sentia e nada me respondeu. Em
seguida eu notei que ele ia cai por chão e de repente eu o segurei para
evitá-lo vir ao barro. Nós estávamos na entrada de casa. Eu segurei com toda
presa e fui ajudado por dois outros sobrinhos e levamos já sem sentido, ao
pronto socorro do Hospital. Minha mãe veio em um carro logo após com outros
familiares. Nós chegamos ao hospital e de imediato colocamos o pai nas mãos dos
maqueiros que seguiram para uma UTI. Eu fui até a recepcionista e coloquei as
identidades. Foi um horror. A minha mãe chegou calada e assim ficou. As9.30 os
médicos deram a notícia que o velho não resistira ao derrame. Ele morreu sem
nem saber que estava morto. Foi esse o drama. - - destacou choroso.
Othon
--- E nossa mãe? Como está aguentando? - -
Orlando
--- Ele é como sempre. Não reclama, não diz coisa alguma, não lamenta.
Vive só calada. Calada mesmo. Não come coisa alguma. Água? Só quando alguém lhe
fornece. Passa o dia junto ao caixão apenas a olhar, pensativa. - - relatou
Othon
--- É assim. Quantos anos de casada? - -
Orlando
--- Ela casou quando tinha 20 anos. Mas desde mocinha, ela se namorava
com o pai. 15 ou16 anos. Era aquele namoro de sertão. Foi perdendo os irmãos.
Tristeza. - - falou magoado.
Othon
--- É a vida. Vamos? - -
Eles chegaram em sua casa. Othon tomou a benção a sua mãe e esse o
beijou. Ele apresentou a esposa, os filhos e a governanta Neta. Após às sete
horas da manhã, a rua estava plena de carros, motocicletas e até um ônibus para
levar gente. Apenas para levar. Um café para a anciã Anna e a mulher não quis.
Forçou-se. Mas, mesmo assim, a mulher de 70 anos não quis ser servida. Anna e
Osni era um casal que vivia a vida que Deus lhe deu. Até pouco tempo, ele
dirigia seu carro levando cargas para municípios vizinhos. Depois parou com
esse serviço. Já estava cansado do labor. Mas não deixou de lado o jogo de gamão
com outros companheiros na bodega do bairro onde morava. Era de manhã e à
tarde, de domingo a domingo. Conversas sobre política e custo de vida. Naquele
dia, não tinha gamão e política. Era a hora sagrada do seu sepultamento.
Morrera mais um jogador de gamão. Os demais jogadores já estavam a postos para
os sermões quando chegassem a porta do tumulo. A anciã Constança, velha de
busto amplo que segurava na porta de sua casa, estava apenas a olhar o
movimento na residência do velho Osni. A mulher tinha uma encrenca com Anna
desde que a mulher começou a namorar com Osni, pois as duas ficaram de mau.
Havia uma aposta de quem segurava o moço, e Constança, no fim da polêmica,
terminou por perder. Isso era história que se contava há muito tempo. Naquele
dia, Constança se deu por vingada. Osni
morrera para o seu desamor eterno. Ela fez colocar uma melodia que muito
gostava: “Réquiem” de Hector Berlioz, o grande mestre francês de música clássica,
da época da música romântica. Constança colocou a música na sua radiola como
uma terna despedida de dois mundos do homem que tanto amou sem se meter em
novas deus-nos-acuda. Apenas o amou. Por
todo esse tempo, não mais casou. Ela apenas quis sofrer de modo calada. Por seu
sinal, a viúva Anna não mais pisou na calçada de Constança. Quando precisava ir
ao Mercado, torcia o caminho por outra calçada na rua da frente.
As dez horas da manhã do dia seguinte, o enterro de Osni. O carro
fúnebre não frente, em seguida o carro da viúva Anna e duas filhas, logo atrás se
acercavam os filhos, netos e demais companheiros de jornadas. O ambiente era de
profundo silencio. Na verdade, era uma prefeita marcha fúnebre como teria dito
Constança em seu mundo soturno com seu traje de luto pelo amor sentido por toda
sua vida. A neta de Anna, vindo em um carro atrás, declarou da demora do féretro.
Racílva
--- Que demora! Eu vi uma velha toda de luto olhando o enterro passar! Sabe
que era, pai? - - indagou a pequena
Othon
--- Onde estava? - -
Racílva
--- Uma casa atrás da de vô Osni. Ela só observava o enterro. - -
relatou
Othon
--- Todo mundo é assim, no interior. - -
Racílva
--- Mas ela era diferente. Velha de mais. Parecia uma viúva também. Sei
não! - fez com a boca torcida
Neta
--- Aqui tem as carpideiras! - -
Racílva
--- Carpideiras? Que é isso? - -
Neta
--- Mulher que choram e fazem o povo chorar. - -
Racílva
--- Por que isso? - -
Neta
--- É para se chorar também quando o morto vai ser enterrado –
Othon
--- Vá ver que era uma carpideira. - - prendeu o riso
A menina se voltou para o pai e mais nada quis saber
O enterro chegou pouco depois das dez horas da manhã. Houve preces,
discursos, homenagem ao morto, grinaldas, flores e tudo o que havia para se
homenagear o falecido. O local tinha uma cobertura de pano verde e no lugar do
caixa, era todo coberto não se vendo nada de terra. Após longos discursos, teve
lugar o enterro por quatro homens segurando as cordas presas nas aldrabas até
chegar ao seu fim. Dona Anna não chorou. Apenas uma das filhas de Osni foi quem
chorou bastante. Os homens, filhos de Osni também ficaram sisudos, calados,
quietos. A filha de Othon foi quem notou, ao largo uma figura estranha a
observar tudo o que era feito naquela melancólica hora.
Racílva
--- Quem aquele lá distante? - - indagou a Neta
Neta
--- Quem? No fundo? Deve ser um empregado. –
Racílva
--- Estranho! Ele deu adeus para mim e desapareceu. - - relatou com
estranheza
Neta
--- Não faz barulho! É um homem e pronto! - - relatou meio abusada.
FIM
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