sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 38 -

- CANTO DO MANGUE -
- 38 -

AMANHECER

Logo após o café da manhã, Othon seguiu para o Canto do Mangue para comprar peixe, de preferência, cioba o peixe que preferia pelo seu sabor. No caminho, se encontrou com um velho conhecido que, por não saber mais seu verdadeiro nome, o chamava de Capataz, um apelido das antigas. Tendo esse apelido, o homem nem se importava. Othon saltou do seu auto e o deixou em cima da calçada da lateral do prédio. Ao chega próximo, Othon reconheceu o velho amigo de tantas eras e foi aquele abraço apertado. Capataz era aposentado da Marinha e entre outras coisas, ele também preferia comprar peixe para seu almoço. Após tanta emoção os dois amigos de longas datas passaram a conversar. E os dois argumentaram sobre trabalho e o não fazer nada. Capataz declarou que esteve por duas vezes no exterior como marinheiro em viagem de ouro. Isso deixou surpreso o seu amigo Othon pois nunca o ouvira falar do tempo de Marinha. Foi o que fez a pergunta.
Othon
--- Duas vezes? Que maravilha! - - declarou com alegria
Capataz
--- Duas vezes. Isso porque o Navio só tinha um marinheiro capacitado em projetar filmes. Foi uma loucura. Eu ganhei duas Vigem de Ouro, por isso. A primeira foi até a Italia. A segunda foi até o Japão. Uma maravilha. No Japão eu dei uma escorregadela e fui conhecer a tal Hiroshima. A cidade ainda estava meia decaída. O pessoal trabalhava na sua reconstrução. Até americanos tinham lá. Mas o povo era imponente. Eles não ligavam para os americanos e os chamavam de “cachorros”. Isso a boca pequena. Os americanos mataram muita gente. Só em Hiroshima morreram 166 mil pessoas. Coisa de louco. Por isso mesmo os japoneses os tratavam como “cachorros”. Aliás, cachorro é a comida predileta dos japoneses! - - gargalhou
Othon
--- É incrível! Mas, é isso mesmo. Depois, a paz. Quem morreu, já morreu! - - decepcionado
Capataz
--- Mas os japoneses não gostam tanto assim dos americanos. Olham com o rabo do olho! - - declarou
Othon
--- Eu sinto vontade de conhecer o Japão, o Vietnam e países daquele mundo. Muita vontade mesmo. A Índia! Camboja, Tailândia.  Países de outro mundo. - - pensou
Capataz
--- Para quem tem dinheiros, isso é fácil.  - -  sorriu
Othon
--- Sim. É fácil. Mas não tão fácil assim. Nós estamos em um país do 3º mundo. Queira ou não queira, isso não é invenção. É a pura realidade.  - - decepcionado
Capataz
--- Sim. É verdade. Eu fui ao Japão naquele tempo. Eu não gastei nada, tinha comida e roupa lavada. Eu levava uma vida boa. Hoje, eu já não posso dizer o mesmo. O meu ordenado é uma porcaria em relação a de um Senador, de um Deputado ou mesmo de um Médico. Eu fico a pensar: será que fiz o bem? Eu sou um fotógrafo. Porém nem isso me dá renda. Eu, quando estou em minha casa, para ter um mínimo de sossego, procuro um canto de alpendre para fazer minhas fotos. Não tenho mulher. Só a minha mãe, já bastante idosa. E o que é que eu faço da vida? - - relatou suas mágoas
E os dois companheiros entraram no mercado do peixe onde havia pescado de vários tipos. Othon estava à procura de uma boa cioba. O seu amigo se contentava mesmo com um pargo ou um badejo. Comidas mais simples. Quando Othon se ambientou no mercado e examinava as ciobas à venda, deu de vistas com uma bela mulher. Algo sobrenatural e estonteante como jamais avistava em um ponto de venda de peixe. Ela era semelhante, porque não definir, igual a Norma, sua ex-mulher, morta em um acidente de trem. Naquele dilema atroz, o homem se aproximou da senhora e fez a pergunta habitual, como sempre.
Othon
--- Peixes imensos. A senhora vai comprar? - - e olhou para o dedo da mão esquerda da mulher para ver se havia aliança. Não havia. Com certeza era solteira
Alice
--- Estou pesquisado. - - e levantou um pescado fazendo cara feia
Othon
--- Desculpe-me. Mas a senhora lembra alguém. A senhora tem irmã?  - -quis saber
Alice
--- Eu? Duas irmãs. Comigo somos três. Por que a pergunta? - - e se virou para o homem
Othon
--- Eu fui casado. Minha esposa veio a óbito há poucos dias. Eu a encontrei. E me sugestionou como a senhora é semelhante a Norma, a minha mulher. Nós éramos casados. Porém Norma faleceu faz poucos dias. - - disse o homem
Alice
--- Há muitas pessoas semelhantes nessa terra. - - disse a mulher
Othon
--- Eu resido em São Paulo. Mas sou daqui mesmo. Agora, com a morte da esposa, vim para resolver os assuntos. Ela deixou dois filhos. Agora, eu tenho que os levar. São crianças ainda pequenas. - -
Alice
--- Crianças, criancinhas? Coitadas! - - falou decepcionada
Othon
--- Sim. Crianças. Eu estou num dilema. Eu desempenho função na Receita Federal. Tenho que as levar pois não há ninguém aqui, que tome conta. Eu consegui uma governanta. Mesmo assim ela recusa ir. São Paulo é uma cidade imensa. - -
Alice
--- Eu sou de São Paulo e trabalho em uma Faculdade. Sei o que o senhor acaba de falar. Uma cidade grande. - -
Othon
--- Mas a senhora está aqui, agora? - - indagou
Alice
--- Meus pais moram na cidade. Aproveitei o período de férias, e vim visita-los. Minhas outras irmãs estão espalhadas pelo meio do mundo. França, Alemanha. – - sorriu.
Othon
--- Alemanha! Um belo país. Eu estive em Bonn e em Berlim. Gosto muito de viajar pelo mundo. É aprazível. - -
Alice
--- Eu já fui a França. Muito boa. Não tenho o que dizer. - -
Othon
--- França! Eu conheço! Só de passagem. O avião pousou por pouco tempo. - - magoado
Alice
--- França. Paris é um encanto. Para quem vai a Paris, é importante conhecer seus locais aprazíveis. Moulin Rouge, os parques do Sena cheios de flores, árvores. Borgonha. Festa em toda as ocasiões. As Igrejas de Paris. A cidade de Paris é uma das mais bonitas de toda a Europa. É uma cidade turística. - - relatou 
Othon
--- A minha próxima viagem é conhecer Paris. A senhora despertou a minha vocação. - - sorriu,
Alice
--- Qual o seu nome, por favor? - - pegou logo uma caneta para anotar
Othon
--- O meu é Othon. Eu sou funcionário da Receita. Procure-me. Apenas para conversar.  - - sorriu
Alice
--- Pode deixar. Vou procura-lo para tomar um café no Otávio certamente.  - - sorriu
Othon
--- Ou saborear frutos do mar. - - sorriu em troca
Alice
--- Em São Paulo tem de tudo. Pincipalmente frutos de mar. -  -
Othon
--- Seu nome? - -
Alice
--- Esqueceu? - - sorriu
Othon
--- Ando leso. Agora não perco mais. - - guardou o cartão de apresentação
Alice
--- Se eu tiver tempo, antes de partir nós nos encontraremos. - - relatou a moça
Othon
--- Provavelmente. Sei que não faltara tempo. - - e a beijou no rosto
De emoção, a moça ficou vermelha naquela hora.

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