terça-feira, 1 de abril de 2014

A IDADE DA RAZÃO - SETE -

- Deborah Secco -
- 07 -
VAIDADE
Em um dia qualquer da semana seguinte estava o doutor Nardelli a consultar os seus clientes, cada qual com seu problema. No entanto, ele já notava serem todos iguais. A mudança era de nome. Dalila, Maria, Racilva entre outras. Nesse dia estava presente também a sua antiga cliente, dona Beatrice Lazzarini, jovem e bela entre todas as demais.  Conversas vãs e nada de muita importância.  Beatrice preferiu ser a última das demais. Com isso, teria mais um longo tempo para resolver seus problemas. O médico Nardelli dispensou a atendente naquele horário por não precisar mais. O salão de estar onde havia demais consultórios estava em silencio, pois não havia outros médicos para o atendimento regular. Já estava muito tarde para Nardelli levar um tempo a consultar a dama de ouro A mulher entrou no gabinete, sorriu e se sentou na cadeira em frente a Nardelli.  Ele a cumprimentou e por sua vez calou a espera de algo Beatrice a lhe dizer. Por fim, o silencio foi quebrado:
Beatrice:
--- O senhor quer que eu me deite no divã? – sorriu a mulher como a provocar o instinto.
Nardelli quis sorrir, porém trancou o rosto de imediato. E respondeu com calma.
Nardelli:
--- Se a senhora achar por bem, pode usufruir do divã.  – falou com paciência.
Beatrice:
--- Às vezes o senhor me deixa confusa. Aqui, no seu habitat age de uma forma estranha. – refletiu a mulher.
O homem calou por certo instante para depois falar.
Nardelli:
--- Aqui é o meu trabalho. Atendo a clientes. É bem diferente do meu tempo livre. – respondeu
A mulher ficou seria por alguns instantes. E em seguida indagou:
Beatrice:
--- E porque o senhor dispensou a atendente? – quis saber.
Nardelli calou certo espaço para depois responder.
Nardelli:
--- Terminou o seu horário de atendimento. – respondeu.
Beatrice:
--- O meu? – indagou surpresa.
Nardelli:
--- Não. O dela. Mas vamos ao que interessa. Como tem estado nesses dias? – indagou.
Beatrice:
--- Mal. Muito mal. Depois daquele dia eu tenho vomitado constantemente. – relatou nervosa
Nardelli:
--- É a primeira vez? – perguntou preocupado.
Beatrice:
--- Eu nunca vomitei em minha vida. O senhor acredita? – fez a pergunta.
Nardelli.
--- Não é questão de alimentação? – indagou com incerteza.
Beatrice:
--- De manhã, logo cedo? Quando acordo e faço asseios? -  quis saber.
Nardelli:
--- Bem. Isso pode ser crise emocional. Vento frio, alergia, até mesmo vermes. – respondeu
Beatrice:
--- Verme? Verme? Então eu estou com lombrigas? – exclamou exaltada
Nardelli:
--- Hipóteses. A senhora deve ir a um médico especialista nesses casos. – argumentou
Beatrice:
--- Olha querido! Isso é um absurdo! Eu sou mulher e sei o que sinto. E de onde provêm essas náuseas. Eu este é com tremendo lombrigão. Um filho é o caso. – disse a mulher de modo intranquilo.
Nardelli:
--- Bem. Nesse caso está mais fácil. É só dizer ao seu marido. – argumentou sorrindo.
Beatrice:
--- É ruim, não é? Eu relatar ao meu marido que estou esperando um filho dele! Pois saiba: eu não tenho nada com ele! – disse desnorteada a mulher.
Nardelli:
--- Nossa Senhora também não teve relações e gerou um filho. – declarou
Beatrice:
--- Ah! Então eu sou igual a Nossa Senhora! – reclamou com raiva.
Nardelli:
--- Provavelmente. Ambas são mulheres. – destacou se pressa.
Beatrice:
--- O senhor é muito engraçado. Tira a bunda da seringa de forma bem quieta. Os outros que se lixem. – reclamou a mulher.
Nardelli:
--- E o que posso fazer? A senhora pode dizer que foi em uma banheira. Alguém usou e deixou respingo de sêmen. Qualquer coisa simples. A senhora entrou na banheira e não notou esses respingos. Isso é normal – declarou sorrindo
Beatrice:
--- O negro da Abissínia ou outro! Descarado! Vocês não prestam! – declarou inflamada.
Nardelli:
--- Em caso de não se querer  ter um filho se faz um aborto. – declarou a sorrir.
Beatrice:
--- Aborto? Nunca! Fico assim como uma indigente. – reclamou
Nardelli:
--- Por que a senhora não aceita uma vez com o seu marido? – indagou.
Beatrice:
--- Hum? Só se eu estiver embriagada! – reclamou
Nardelli
--- Pois tome umas doses de Campari e fique com ele. Simples! – argumentou
Beatrice:
--- Merda! Você é uma merda! Campari! Só Campari mesmo! – detonou a mulher
E o médico Nardelli soltou uma bela gargalhada. Afinal aquela era uma desculpa muito boa para declarar que Amaro Lazzarini era o pai de um menino nutrido e forte e nem saber se era de fato negro ou branco. Afinal a cor pouco importava. Talvez viesse de outra geração da mulher Beatriz, uma vez ser ela um pouco de outra região da Itália. E ser Campari ou não pouco importava naquela hora.

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