- DISCO -
- 09 -
TRANSPORTE
Na manhã da
segunda feira o tempo continuava sisudo. Naquela hora chovia torrencialmente.
Na saída de casa, Ligia se agasalhou com trajes a cobrir todo o corpo. O
telefone permanecia mudo e a falta de luz durou até longas horas seguindo pela
madrugada. Suas galochas era o ponto alto. Com sombrinha e tudo, bolsa a
tiracolo, ela seguiu caminho a procura de encontrar algum taxi perdido e nada
mais. Poucos automóveis haviam para não dizer nenhum. O silêncio perdurava e a
moça observou para a parada do ônibus se por acaso lhe podia ser a salvação.
Sob o pé de pau existente no local, Lígia notou algumas pessoas e então
caminhou até aquele ponto. A angustia dominou sua voz. Uma repartição logo
perto demostrava pouco movimento. Na esquina ao lado havia uma casa de dança.
Ele observou e logo pensou de que ninguém esteve alí nas últimas horas. As
poucas pessoas esperando ônibus tiritavam de frio naquele momento. Longo tempo
se passou até surgir um transporte coletivo. Muita gente no interior do
transporte. E ela também fez a vez de mais uma. Poucas conversas com o
transporte em seguida a correr. Um menino de tenra idade no colo de sua mãe a
chorar. Com certeza a mulher levava seu filho ao médico. Era ela muito magra e
estava sentada em um dos bancos de trás. Como transporte já bastante pelo de
gente, todos procuravam se agarrar de qualquer modo nas travessas.
Quando o ônibus
chegou ao bairro da Ribeira a situação era mais despertadora. Água era o que
não faltava. O rio estava cheio e o escoamento era uma eternidade. Mudando de
percurso por conta da queda da padaria, na rua Felipe Camarão, antes da Avenida
Rio Branco, os transportes seguiam por outra artéria parando no fim da Rua
Duque de Caxias. Os que teriam que saltar na Ribeira, foram logo descendo em
frente do Hotel Avenida. E Lígia foi uma delas. Dalí a moça seguiu para a
Recebedoria de Rendas toda encapuzada. Seu Miranda estava à porta de trás e se
arriscou em aguentar pela mão a senhorita independente de ter bastante lama.
Miranda
--- Ora. Ora.
Nem precisava ter vindo hoje. Essa chuva! - - e aguentou a moça até a entrada
da Repartição. Lígia sorriu e agradeceu
O homem saiu
com pressa em busca de uma xícara de café para aquecer o corpo de Lígia. Ela
aceitou o café e viu o pessoal do trabalho se agasalhado como podia. Ainda não
eram nove horas. O lago se formava na porta da frente da repartição. E o
temporal se aguçava ainda mais com o romper dos trovões e açoita dos
relâmpagos. A virgem estava nervosa procurando se enxugar de qualquer forma. Um
espiro, dois, três, enfim, uma coriza. Eram tantos espirros chegava a moça se
engasgar. Miranda se aproximou e indagou se ela queria algum medicamento e ela
fez que não com os olhos cheios de lágrimas por conta da coriza.
Miranda
--- Coriza! É
melhor ir para casa. A senhora está febril. – - pois a mão na testa de Ligia
E a moça
concordou. Enfim, os espirros eram verdadeiros trovões. Ligia preferiu pegar um
táxi e ir para a sua casa onde tomaria um chá.
Durante à
tarde, Lígia continuava espirrando. Uma velha senhora, quando a chuva passara,
bateu palmas na casa e de dentro veio a doméstica Maria, para ver quem estava a
chamar. A velhinha era baixa e quase sumindo. Vestia uma roupa escuras com
pingos brancos, com certeza de viúva. A cabeça era coberta por uma touca. Nos
pés, um par de sandália. A velhinha pediu um pouco de farinha. Maria se voltou
e foi buscar o resto do almoço. Foi e de imediato voltou.
Maria
--- Tome minha
avó. É o almoço. Pode pegar. - -
A ancião
agradeceu e de momento pode ouvir o espirrado de dentro da casa. Era Ligia. A
moça tossia e espirava constantemente. A ancião indagou.
Anciã
--- Tá
gripada? - - e apontou para dentro da casa.
Maria
--- É assim.
Foi a chuva. Quando chove é um Deus nos acuda. - - torceu a cara.
Anciã
--- Faça um chá
de sabugueiro. - - respondeu com voz embargada
Maria
---
Sabugueiro? E onde eu encontro? - - alarmada
Anciã
--- Na casa em
frente. - - respondeu e saiu agradecendo
Maria
--- Ora, ora.
Bem perto e eu não sabia. - -
Então, a doméstica
entrou para avisar a Ligia que estava para buscar as folhas de sabugueiro para
fazer um chá para Ligia e evitar os espirados. E a moça indagou
Lígia
--- Quem disse
isso? - -
Maria
--- Uma velha
que esteve aqui pedindo comida. - - relatou e saiu
No lado de
frente tinha a outra casa de moradia e com a empregada conseguiu umas ramas de
sabugueiro. De volta ainda olhou para ver se avistava a anciã, mas essa
desaparecera de vez. Maria ficou desconfiada com o sumiço a velhinha e não disse
mais nada. No interior de sua casa Maria preparou o chá e logo após deu a Lígia
para beber um copo todo.
Lígia
--- É ruim! -
- torceu a cara
Maria
--- Mas tome.
É bom. Depois se enrole e vá dormir. - - reprovou a moça
A chuva havia
passado de vez. Lígia estava a dormir ainda enrolada com um acobertou. Maria
estava cuidado de um caldo para dar a Ligia quando essa acordasse. Por volta
das oito horas da noite, Lígia já estava a caminhão para o interior da cozinha
e deus graças a Deus por haver sumido os espirrados.
Lígia
--- Parece que
estou curada. - - sorriu sem graças
O dia seguinte
era de sol. Lígia sacolejou o telefone para ver se estava a contento. E estava.
Foi ao banheiro e logo após tomou seu café matinal. A doméstica indagou.
Maria
--- Curada? -
- sorriu
Lígia
--- Estou bem.
Aqueles espirros já passaram - -
Na repartição,
os transportes ainda passavam por outro canto. A avenida Rio Branco estava
ainda interditada bem como a rua Jovino Barreto, onde estava a padaria danificada.
Aquele era um serviço de vários dias. Lígia começou a trabalhar. Os jornais do
dia traziam notícias alarmantes em consequência do temporal que se abateu sobre
a cidade no dia passado. Pontes ruíram, estragos nas ruas, casas caídas em vários
trechos, a Lagoa Seca estava toda destroçada. E Lígia teve o cuidado de ler por
completo. Um dia após tudo estava quieto e com sol, inclusive para os lados das
Rocas, onde houve maior estrago. A rua do Motor, em Petrópolis foi completamente
destruída em sua parte mais baixa. A Caixa D’Água situada na Avenida Getúlio
Vargas, desmoronou levando as casas do lado de baixo para o chão. Os moradores
tiveram que ajeitar os escombros até conseguir outras moradias.
Lígia
--- Que
horror! Pobre das crianças. - -
Miranda
--- Aquele é o
local de abandono. Quando chove é sempre assim. E agora teve mais a Caixa D’Água.
Essa desmoronou. - - entristecido
Funcionário
--- O Baldo
também sofreu horrores. Os carros foram desviados do lugar. - -
Ligia
--- Foi a
cidade toda. Imagine! - -
Entrementes, o
gazeteiro entrou na Recebedoria para deixar novos volumes de revistas. Miranda
indagou.
Miranda
--- Tem as
Revistas de Disco Voador? - -
Gazeteiro
--- Tem mais
uma aqui. - -
Miranda
--- É para
essa senhora. Não esqueça. - -
E entregou o
magazine a Lígia.
Lígia
--- Que bom.
Vou estudar logo mais. - - e sorriu
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