- DOIS -
HÓSPEDE
Tão logo desembarcou no Rio de
Janeiro, o doutor Nardelli em companhia do seu fiel amigo Capraro,
oftalmologista de renome para a camada de alta classe, procurou se hospedar no
Copacabana Palace hotel de primeira qualidade, de recente inauguração onde se
instalavam autoridades e personalidades estrangeiras vindas para o Brasil com o
anseio de conhecer esse novo País do sul do continente. O Palace Copacabana era
de luxo e grande pompa com sofisticação e esplendor. Bem localizado em frente à
praia de Copacabana ente quase deserta e desconhecida esse hotel funcionava com
um cassino com o terreno se projetando para a Avenida Atlântica. O projeto do
Palace foi inspirado no Hotel Negresco, de Nice, na França, dando-lhe uma
estrutura sóbria e imponente. O mármore
de Carrara vindo da Itália era o chique da ostentação. Além do mais podia se
notar os vitrais e os lustres da Checoslováquia e os cristais da Boêmia. A
decoração era em estilo Luís XVI. Esse foi o primeiro grande hotel na Praia de
Copacabana.
Em dias que se seguiram vieram a
visitar o ilustre médico toda a camaradagem italiana, principalmente à noite
levando as suas esposas e filhas de maior idade. Nicette Sandrini ainda enjoada
da viagem e do desconhecer, colheria com satisfação uma conversa trivial com as
damas da Itália vindas em anos anteriores. Com o passar dos dias, Nicete Sandrini
Nardelli aceito convites para conhecer o Rio e visitar locais distintos como o
Jardim Botânico com palmeirais imperiais do tempo em que o Governo era o
Imperador Dom Pedro II. Já em 1847 havia a exaltação as palmeiras pelo poeta
Gonçalves Dias em sua Canção do Exílio. Pássaros canoros saltitavam o ambiente
e tudo isso dava ênfase a senhora dama Nicette Sandrini ou mesmo senhora
Nardelli. Foi um tempo de visitas ambientais onde a senhora Nardelli ficou a
conhecer um pouco da selva brasileira, com sua Vitória Régia a reviver nas
águas cálidas e serenas do portal do bosque.
Enquanto isso, o doutor Nardelli
discutia assuntos atuais a lembrar da velha Itália com os doutores vindos para
o Brasil naqueles tempos ditosos. A olhar a Praia de Copacabana, o médico ouvia
dos seus doutores parceiros o contar de histórias mirabolantes a acabar tudo em
gargalhadas infindáveis. Então os doutores discutiam os problemas cruciais da
Guerra onde a Alemanha foi posta a pique.
Enzo:
--- Aquele país não tem mais
jeito. – dizia o velho amigo ao se referir à Alemanha.
Nardelli:
--- Concordo plenamente. E a
Itália segue no mesmo caminho. Esse tal de Mussolini é um caso sério. –
discorreu o médico.
Enzo:
--- Eu não sei que graça tem o
governante! – comentou com a face torcida.
Nardelli:
--- É o caso. Desemprego e fome.
Tudo isso leva a devassidão social. –
comentou ao sabor de um cachimbo a queimar um fumo italiano.
Enzo:
--- Mas o sindicalismo estava
presente enegrecendo a classe mais alta. A nossa classe. O socioeconômico.
Podíamos sucumbir a qualquer instante. – falou com modéstia.
Nardelli:
--- Verdade. Pura verdade. Eu
estou meio aquém desse manejo. Mas o meu pai, ele teme o fascismo. Os
Militares. Os Militares. Essa questão emblemática. – relatou em surdina.
Enzo:
--- É verdade. Pura verdade. E o
senhor? Fica aqui? – indagou.
Nardelli:
--- É bem provável. Se a Alemanha
se soerguer, novamente, todos virão. A não ser o meu pai. Ele não teme, assim
por dizer, a Benito Mussolini. Fica quieto. Mas. ... Eu não sei. – replicou.
E os dias e meses se passaram
como o vento na campina. O Brasil ficava em meio de toda essa confusão sem
partidarismo, com suas brigas internas. Júlio Prestes tentava assumir o poder através
das eleições diretas com o apoio das lideranças de São Paulo. Estava se
declarando um golpe. Júlio Prestes assumia o poder, mas não era empossado. No
Rio, as confabulações corriam rasteiras sem grandes esperanças. E nos
corredores do silencio apenas a voz de um médico jovem a prescrever um
medicamento ao seu enfermo, um eminente senhor qualquer onde o clínico estava a
receitar medicamentos em um consultório suntuoso onde se cobrava quantia
bastante ampla. Esse consultório ainda não era o de doutor Nardelli. Um amigo o
emprestara para atender aos seus ricos pacientes. Fazendeiros opulentos ou
mesmo os seus queridos filhos. Esses eram igualmente italianos, filhos de
italianos ou algum bastardo da família.
Era o mês de setembro, em seu
final. O médico estava em seu consultório e o telefone tocou. Ela atendeu e não
mais surpresa. A sua governanta lhe dava a notícia:
Gilda:
--- Senhor, a senhora Nicette
está sendo atendida. – disse a governanta.
Para o médico, nada de mais. Era
o seu costume ligar o telefone ao sair para o atendimento médico. É tanto que
ele mandou os parabéns por ter feito a ligação.
Nardelli:
--- Obrigado por me avisar. –
respondeu sem emoção.
Gilda:
--- O senhor entendeu? Ela está
tendo uma criança. Eu não sei se menina ou menino. – declarou em murmúrio.
O medico se exaltou de imediato:
Nardelli:
--- Como? Agora? Chego já! – fez
ver o homem ao despachar toda a clientela.
Ele vestiu o seu casaco e saiu na
carreira declarando ter que ver a sua mulher àquela hora, pois estava tendo uma
criança.
Nardelli:
--- Dispensa todos! Dispensa
todos! – e saiu em debandada.
No vexame tremendo ele apanhou um
taxi e pediu depressa ao motorista, uma vez que a sua mulher estava tendo uma
criança. O homem ficou cheio de angústia, tremendo até os pés e sorrindo e
chorando feito uma criança. O motorista atendeu a ordem e fincou o pé passando
por cima de pau e pedras até chegar ao Hospital onde estava sendo atendida a
senhora Nicette Sandrini Nardelli. Eram 04h00min horas da tarde ou mais que
isso quando o parto da criança terminou:
Médico parteiro:
--- Parabéns, doutor. Um belo
menino! – disse-lhe sorridente.
Passaram-se alguns minutos para
poder liberar a senhora Nicette Sandrini. As enfermeiras, agoniadas com tamanho
trabalho a suarem por todos os poros ainda assim declaravam.
Enfermeira:
--- Que menino! – dizia uma das
tais.
Enfermeira 2:
--- Cinco quilos e trezentas
gramas. – respondia a outra.
A senhora Nicette, toda ancha
saiu da sala de parto com o seu bebê ao colo ainda deitada em uma cama e
sorrisos a não lhe faltar. O medico Nardelli corria com pressa para ver a
criança ainda fora do seu apartamento onde mãe e filho ficariam alguns dias a
mais. Suando frio, Nardelli com emoção, tratou de indagar:
Nardelli:
--- é homem? É homem? - indagou entusiasmado.
Enfermeira:
--- E pesa mais de cinco quilos.
– declarou sorrindo
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