terça-feira, 25 de março de 2014

A IDADE DA RAZÃO - DOIS -

- DOIS -
HÓSPEDE

Tão logo desembarcou no Rio de Janeiro, o doutor Nardelli em companhia do seu fiel amigo Capraro, oftalmologista de renome para a camada de alta classe, procurou se hospedar no Copacabana Palace hotel de primeira qualidade, de recente inauguração onde se instalavam autoridades e personalidades estrangeiras vindas para o Brasil com o anseio de conhecer esse novo País do sul do continente. O Palace Copacabana era de luxo e grande pompa com sofisticação e esplendor. Bem localizado em frente à praia de Copacabana ente quase deserta e desconhecida esse hotel funcionava com um cassino com o terreno se projetando para a Avenida Atlântica. O projeto do Palace foi inspirado no Hotel Negresco, de Nice, na França, dando-lhe uma estrutura sóbria e imponente.  O mármore de Carrara vindo da Itália era o chique da ostentação. Além do mais podia se notar os vitrais e os lustres da Checoslováquia e os cristais da Boêmia. A decoração era em estilo Luís XVI. Esse foi o primeiro grande hotel na Praia de Copacabana.

Em dias que se seguiram vieram a visitar o ilustre médico toda a camaradagem italiana, principalmente à noite levando as suas esposas e filhas de maior idade. Nicette Sandrini ainda enjoada da viagem e do desconhecer, colheria com satisfação uma conversa trivial com as damas da Itália vindas em anos anteriores.  Com o passar dos dias, Nicete Sandrini Nardelli aceito convites para conhecer o Rio e visitar locais distintos como o Jardim Botânico com palmeirais imperiais do tempo em que o Governo era o Imperador Dom Pedro II. Já em 1847 havia a exaltação as palmeiras pelo poeta Gonçalves Dias em sua Canção do Exílio. Pássaros canoros saltitavam o ambiente e tudo isso dava ênfase a senhora dama Nicette Sandrini ou mesmo senhora Nardelli. Foi um tempo de visitas ambientais onde a senhora Nardelli ficou a conhecer um pouco da selva brasileira, com sua Vitória Régia a reviver nas águas cálidas e serenas do portal do bosque.

Enquanto isso, o doutor Nardelli discutia assuntos atuais a lembrar da velha Itália com os doutores vindos para o Brasil naqueles tempos ditosos. A olhar a Praia de Copacabana, o médico ouvia dos seus doutores parceiros o contar de histórias mirabolantes a acabar tudo em gargalhadas infindáveis. Então os doutores discutiam os problemas cruciais da Guerra onde a Alemanha foi posta a pique.

Enzo:

--- Aquele país não tem mais jeito. – dizia o velho amigo ao se referir à Alemanha.

Nardelli:

--- Concordo plenamente. E a Itália segue no mesmo caminho. Esse tal de Mussolini é um caso sério. – discorreu o médico.

Enzo:

--- Eu não sei que graça tem o governante! – comentou com a face torcida.

Nardelli:

--- É o caso. Desemprego e fome. Tudo isso leva a devassidão social.  – comentou ao sabor de um cachimbo a queimar um fumo italiano.

Enzo:

--- Mas o sindicalismo estava presente enegrecendo a classe mais alta. A nossa classe. O socioeconômico. Podíamos sucumbir a qualquer instante. – falou com modéstia.

Nardelli:

--- Verdade. Pura verdade. Eu estou meio aquém desse manejo. Mas o meu pai, ele teme o fascismo. Os Militares. Os Militares. Essa questão emblemática. – relatou em surdina.

Enzo:

--- É verdade. Pura verdade. E o senhor? Fica aqui? – indagou.

Nardelli:

--- É bem provável. Se a Alemanha se soerguer, novamente, todos virão. A não ser o meu pai. Ele não teme, assim por dizer, a Benito Mussolini. Fica quieto. Mas. ... Eu não sei. – replicou.

E os dias e meses se passaram como o vento na campina. O Brasil ficava em meio de toda essa confusão sem partidarismo, com suas brigas internas. Júlio Prestes tentava assumir o poder através das eleições diretas com o apoio das lideranças de São Paulo. Estava se declarando um golpe. Júlio Prestes assumia o poder, mas não era empossado. No Rio, as confabulações corriam rasteiras sem grandes esperanças. E nos corredores do silencio apenas a voz de um médico jovem a prescrever um medicamento ao seu enfermo, um eminente senhor qualquer onde o clínico estava a receitar medicamentos em um consultório suntuoso onde se cobrava quantia bastante ampla. Esse consultório ainda não era o de doutor Nardelli. Um amigo o emprestara para atender aos seus ricos pacientes. Fazendeiros opulentos ou mesmo os seus queridos filhos. Esses eram igualmente italianos, filhos de italianos ou algum bastardo da família.

Era o mês de setembro, em seu final. O médico estava em seu consultório e o telefone tocou. Ela atendeu e não mais surpresa. A sua governanta lhe dava a notícia:

Gilda:

--- Senhor, a senhora Nicette está sendo atendida. – disse a governanta.

Para o médico, nada de mais. Era o seu costume ligar o telefone ao sair para o atendimento médico. É tanto que ele mandou os parabéns por ter feito a ligação.

Nardelli:

--- Obrigado por me avisar. – respondeu sem emoção.

Gilda:

--- O senhor entendeu? Ela está tendo uma criança. Eu não sei se menina ou menino. – declarou em murmúrio.  

O medico se exaltou de imediato:

Nardelli:

--- Como? Agora? Chego já! – fez ver o homem ao despachar toda a clientela.

Ele vestiu o seu casaco e saiu na carreira declarando ter que ver a sua mulher àquela hora, pois estava tendo uma criança.

Nardelli:

--- Dispensa todos! Dispensa todos! – e saiu em debandada.

No vexame tremendo ele apanhou um taxi e pediu depressa ao motorista, uma vez que a sua mulher estava tendo uma criança. O homem ficou cheio de angústia, tremendo até os pés e sorrindo e chorando feito uma criança. O motorista atendeu a ordem e fincou o pé passando por cima de pau e pedras até chegar ao Hospital onde estava sendo atendida a senhora Nicette Sandrini Nardelli. Eram 04h00min horas da tarde ou mais que isso quando o parto da criança terminou:

Médico parteiro:

--- Parabéns, doutor. Um belo menino! – disse-lhe sorridente.

Passaram-se alguns minutos para poder liberar a senhora Nicette Sandrini. As enfermeiras, agoniadas com tamanho trabalho a suarem por todos os poros ainda assim declaravam.

Enfermeira:

--- Que menino! – dizia uma das tais.

Enfermeira 2:

--- Cinco quilos e trezentas gramas. – respondia a outra.

A senhora Nicette, toda ancha saiu da sala de parto com o seu bebê ao colo ainda deitada em uma cama e sorrisos a não lhe faltar. O medico Nardelli corria com pressa para ver a criança ainda fora do seu apartamento onde mãe e filho ficariam alguns dias a mais. Suando frio, Nardelli com emoção, tratou de indagar:

Nardelli:

--- é homem? É homem? -  indagou entusiasmado.

Enfermeira:

--- E pesa mais de cinco quilos. – declarou sorrindo


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