- Anna Sophia Robb -
- 04 -
RAZÃO
Em outro dia no período da tarde
de um sábado estava Nardelli em sua mansão ao ver o oceano aonde os navios
chegavam ao porto do Rio. A sua mulher Nicette acalentava a criança em seu
colo. A brisa do mar soprava leve tendo o Sol ao poente e em pouco tempo tudo
já era escuro. A Lua em minguante surgia no horizonte com uma fina cauda como
uma rede de malha ao convite para consolar a noite amena há um tempo surgir.
Entre tantos devaneios o médico pensava em Beatrice e nos momentos de ânsias
com estivera na última vez. E refletiu com silencio contido quando esteve no lupanar
naquela tarde do sol morno.
Beatrice:
--- Eu não sei. ... Mas eu
pressinto ter uma doença. – relatou.
Nardelli:
--- Como assim? – indagou
confuso.
Beatrice:
--- Não sei explicar. Desejos. Às
vezes estou dormindo e vejo-me roçando o meu clitóris. E acordo. Não vejo nada.
– relatou.
Nardelli:
--- E o seu marido? – perguntou.
Beatrice:
--- Ele dorme feito um porco! –
declarou enojada.
Nardelli:
--- Vocês têm algum contato? –
indagou.
Beatrice:
--- Há muito tempo nós não temos.
– reclamou.
Nardelli:
--- Por sua causa? – quis saber.
Beatrice:
--- Também. Quando ele procura eu
finjo dormir. Ele faz sozinho. – disse embrutecida
Nardelli:
--- Você nunca faz? – questionou.
Beatrice:
--- No banheiro. Não todo o dia.
Se eu pudesse faria todos os dias. – reclamou
Nardelli:
--- Se eu pudesse? – quis saber
melhor.
Beatrice:
--- Sim. Às vezes o banheiro está
ocupado. Às vezes é ele mesmo. – declarou.
Nardelli:
--- Ele ocupa o banheiro? –
perguntou.
Beatrice:
--- Sim Também tem as meninas. –
relatou.
Nardelli:
--- Quantas? – quis saber.
Beatrice:
--- Três. Então o tempo passa. –
disse por vez.
Nardelli:
--- E as meninas? Quantos anos? –
indagou sereno.
Beatrice:
--- De quinze a vinte anos. A mais velha tem um namorado. Essa faz com
ele. – declarou
Nardelli:
--- De qual forma? – indagou
Beatrice:
--- Oral. Anal. De qualquer
forma. – declarou abusada.
Nardelli:
--- Como voce sabe? – indagou
inquieto.
Beatrice:
--- Eu vejo. O buraco da
fechadura. – enfatizou
Nesse momento Nardelli calou por
completo. Quando ele lembrou em sua mansão já era começo de noite. A sua mulher
ainda perguntou se Nardelli tinha algum afazer naquele dia de domingo. E ele
respondeu ter somente a leitura de alguns textos não tão urgentes. E Nicette
respondeu ter a visita de amigos fraternos no dia seguinte.
O vento frio da manhã do domingo
prenunciava temporal de imediato. O chalé no alto da colina era abrigo para
ventanias. Mesmo assim os caseiros fincavam estacas para proteger sobremaneira
o casarão vindo de tempos remotos, talvez do século XIX com mais certeza. Nesses
palácios assobradados residiram famílias ilustres daqueles tempos de glória. Paços
onde habitaram figuras ilustres do passado aonde a mata cobria o seu flanco por
várias léguas sem fim. De repente, os
relâmpagos seguidos de trovões. Ventania sem fim. O rugir da mata era o início
do caos. O turbilhão das cheias corria vertiginoso. A lama tomou conta do
passeio público daquelas épocas. Os janelões batiam fortes clamando para alguém
as trancar. O uivo da ventania colhia verdadeiros escombros. A luz elétrica do
paço acabara. Um caseiro, de imediato acionou o gerador repondo a iluminação
por completo. Já não se via uma sombra qualquer do outro lado da avenida. O
temporal intenso trouxe consigo o descambar da visão mesmo diurna. Estertores
surdos eram tudo a se resignar. Como na Itália em épocas de temporais, o Rio
era o mesmo. O dia virou noite. Baques surdos. Eram árvores a tombar pela força
do vendaval. Recolhida em seu quarto a mulher Nicette Sandrini tremia de horror
a abrigar o seu terno pequeno filho. A ama ficou ao lado a proteger sua bela
dama. Nicette falava aflita:
Nicette:
--- Não suporto esses trovões. –
relatava insegura.
A ama acolhia a criança sem
motivo de aflição. E dizia apenas:
Ama:
--- A ventania é forte! – era o
que falava a proteger a criança.
Os telefones emudeceram de
repente. O caos eterno era a tempestade. As calhas se enchiam de volumosas águas
como um turbilhão dos hediondos tormentos. Corpos de pessoas de idade jovem e média eram
vistos passar já sem vida em busca de um rio a correr mais abaixo. Teve um
caseiro a contar nove corpos. Uma mulher era uma gestante. A fala de iluminação
atingiu as luminárias da avenida. O trovejar continuava e de repente se ouviu
troncos de árvores arrastadas pelo turbilhão das águas. O volume era
impressionante chegando a mais de um metro das águas da borrasca. O casarão
ficava aquém da avenida ficando protegido das intempéries.
O doutor Nardelli não tinha mais
sossego ao amparar as esposa e depressa a acudir o gerador para não faltar à iluminação
na protegida residência. A calçar umas botas, o doutor Nardelli caminhava de um
lado para o outro em busca de assegurar ter estado a contendo e não faltar óleo
combustível. Apenas relatava com altivez:
Nardelli:
--- Tomem cuidado com o
combustível. – dizia o homem com ênfase.
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