quinta-feira, 27 de março de 2014

A IDADE DA RAZÃO - QUATRO -

- Anna Sophia Robb -
- 04 -
RAZÃO
Em outro dia no período da tarde de um sábado estava Nardelli em sua mansão ao ver o oceano aonde os navios chegavam ao porto do Rio. A sua mulher Nicette acalentava a criança em seu colo. A brisa do mar soprava leve tendo o Sol ao poente e em pouco tempo tudo já era escuro. A Lua em minguante surgia no horizonte com uma fina cauda como uma rede de malha ao convite para consolar a noite amena há um tempo surgir. Entre tantos devaneios o médico pensava em Beatrice e nos momentos de ânsias com estivera na última vez. E refletiu com silencio contido quando esteve no lupanar naquela tarde do sol morno.
Beatrice:
--- Eu não sei. ... Mas eu pressinto ter uma doença. – relatou.
Nardelli:
--- Como assim? – indagou confuso.
Beatrice:
--- Não sei explicar. Desejos. Às vezes estou dormindo e vejo-me roçando o meu clitóris. E acordo. Não vejo nada. – relatou.
Nardelli:
--- E o seu marido? – perguntou.
Beatrice:
--- Ele dorme feito um porco! – declarou enojada.
Nardelli:
--- Vocês têm algum contato? – indagou.
Beatrice:
--- Há muito tempo nós não temos. – reclamou.
Nardelli:
--- Por sua causa? – quis saber.
Beatrice:
--- Também. Quando ele procura eu finjo dormir. Ele faz sozinho. – disse embrutecida
Nardelli:
--- Você nunca faz? – questionou.
Beatrice:
--- No banheiro. Não todo o dia. Se eu pudesse faria todos os dias. – reclamou
Nardelli:
--- Se eu pudesse? – quis saber melhor.
Beatrice:
--- Sim. Às vezes o banheiro está ocupado. Às vezes é ele mesmo. – declarou.
Nardelli:
--- Ele ocupa o banheiro? – perguntou.
Beatrice:
--- Sim Também tem as meninas. – relatou.
Nardelli:
--- Quantas? – quis saber.
Beatrice:
--- Três. Então o tempo passa. – disse por vez.
Nardelli:
--- E as meninas? Quantos anos? – indagou sereno.
Beatrice:
--- De quinze a vinte anos.  A mais velha tem um namorado. Essa faz com ele. – declarou
Nardelli:
--- De qual forma? – indagou
Beatrice:
--- Oral. Anal. De qualquer forma. – declarou abusada.
Nardelli:
--- Como voce sabe? – indagou inquieto.
Beatrice:
--- Eu vejo. O buraco da fechadura. – enfatizou
Nesse momento Nardelli calou por completo. Quando ele lembrou em sua mansão já era começo de noite. A sua mulher ainda perguntou se Nardelli tinha algum afazer naquele dia de domingo. E ele respondeu ter somente a leitura de alguns textos não tão urgentes. E Nicette respondeu ter a visita de amigos fraternos no dia seguinte.
O vento frio da manhã do domingo prenunciava temporal de imediato. O chalé no alto da colina era abrigo para ventanias. Mesmo assim os caseiros fincavam estacas para proteger sobremaneira o casarão vindo de tempos remotos, talvez do século XIX com mais certeza. Nesses palácios assobradados residiram famílias ilustres daqueles tempos de glória. Paços onde habitaram figuras ilustres do passado aonde a mata cobria o seu flanco por várias léguas sem fim.  De repente, os relâmpagos seguidos de trovões. Ventania sem fim. O rugir da mata era o início do caos. O turbilhão das cheias corria vertiginoso. A lama tomou conta do passeio público daquelas épocas. Os janelões batiam fortes clamando para alguém as trancar. O uivo da ventania colhia verdadeiros escombros. A luz elétrica do paço acabara. Um caseiro, de imediato acionou o gerador repondo a iluminação por completo. Já não se via uma sombra qualquer do outro lado da avenida. O temporal intenso trouxe consigo o descambar da visão mesmo diurna. Estertores surdos eram tudo a se resignar. Como na Itália em épocas de temporais, o Rio era o mesmo. O dia virou noite. Baques surdos. Eram árvores a tombar pela força do vendaval. Recolhida em seu quarto a mulher Nicette Sandrini tremia de horror a abrigar o seu terno pequeno filho. A ama ficou ao lado a proteger sua bela dama. Nicette falava aflita:
Nicette:
--- Não suporto esses trovões. – relatava insegura.
A ama acolhia a criança sem motivo de aflição. E dizia apenas:
Ama:
--- A ventania é forte! – era o que falava a proteger a criança.
Os telefones emudeceram de repente. O caos eterno era a tempestade. As calhas se enchiam de volumosas águas como um turbilhão dos hediondos tormentos.  Corpos de pessoas de idade jovem e média eram vistos passar já sem vida em busca de um rio a correr mais abaixo. Teve um caseiro a contar nove corpos. Uma mulher era uma gestante. A fala de iluminação atingiu as luminárias da avenida. O trovejar continuava e de repente se ouviu troncos de árvores arrastadas pelo turbilhão das águas. O volume era impressionante chegando a mais de um metro das águas da borrasca. O casarão ficava aquém da avenida ficando protegido das intempéries.
O doutor Nardelli não tinha mais sossego ao amparar as esposa e depressa a acudir o gerador para não faltar à iluminação na protegida residência. A calçar umas botas, o doutor Nardelli caminhava de um lado para o outro em busca de assegurar ter estado a contendo e não faltar óleo combustível. Apenas relatava com altivez:
Nardelli:
--- Tomem cuidado com o combustível. – dizia o homem com ênfase.
 
 

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