- Bruna Linzmeyer -
- 08 -
QUEM
Tem muita gente para falar. Há um
repórter de plantão no Hospital. O necrotério por si fala. As questões já
trazem respostas. E o caso está mais aberto do que se pode supor. Para o
repórter, não tem nada a perguntar. Ele é sábio. Um ponto qualquer. Uma
resposta demonstrada. Quem! É o que se pergunta. E a resposta vem com profunda
exatidão. Os médicos estavam atentos para essas questões não conhecidas.
Lustosa:
--- É bom chamar os moços que
cuidam do necrotério. Os dois! – falou com pressa.
Teixeira:
--- Mas, dizer o que? – indagou
sugestionado
Lustosa:
--- Não falar nada a ninguém! –
falou com ênfase.
Paiva:
--- Esse caso é muito sério. –
declarou
Lustosa:
--- Sério demais. Nem aos
estudantes de medicinas nós não devemos articular! – relatou
No andar de baixo estava o
advogado Nicácio Lopes a comentar o fato do senhor Otto Câmara de ainda está
desacordado e não sabia a causa. E Clara, a esposa de Otto, recomendou leva-lo
para o cômodo mais perfeito e mais arejado. O advogado ponderou.
Nicácio:
--- É preciso esperar mais um
pouco. Talvez o melhor é leva-lo a UTI. – falou brando.
Clara:
--- UTI? Ai meu Deus? É grave
assim? – falou em êxtase
Nicácio:
--- Não sei. Mas...Pode ser. - -
falou brando
Clara
--- Eu não acredito! Quero ver o
meu marido! – falou quase sem voz
Nicácio
--- Calma, Senhora! Muita calma!
A senhora terá tempo de vê-lo. – falou delicado
Nesse momento, em algum lugar
cheio de mato e espinhos, o Diabo estava a conversar com o senhor Otto Câmara.
E dizia-lhe que era o local onde a fera costumava ir e alí estava o rapaz sem
coração, pois Otto já aceitara ficar com o coração do morto. Satanás pediu
calma a Otto, pois ele estava, na verdade, no Hospital. Apenas o seu espirito
se transportara para aquele sombrio local onde deveria tomar mais cuidado para
não falar aos “homens de branco” o que Satanás haveria de dizer-lhe. E Otto viu ao redor um vale escuro com um óleo
viscoso onde os espíritos dos que um dia viveram estavam atolados naquele
lúgubre cenário hediondo. Os espíritos se lamentavam, principalmente os que
sucumbiram por morte suicida. Diante de tanta tragédia nenhum dos espíritos dos
desencarnados se mentiam sem lamentação. Era um pranto cruel a matar de medo o
senhor Otto Câmara com muita repugnância a querer esconder a face. Ao
contrário, Otto nada podia fazer. Apenas ouvir os lamentos cruciais dos mórbidos
espíritos dos entes passados.
Diabo:
--- Assusta-te? Não fazem mal!
Eles estão no Inferno! – falou o Satanás.
Otto sentiu uma verdadeira
comichão por todo o seu corpo ao saber que estava no Inferno, um lugar triste,
paredes escuras e por dentro, as labaredas de fogo a queimar constante os
espíritos dos mortos. Era uma verdadeira tragédia aquilo que ele avistava.
Almas penadas no Inferno. Ele então, alarmado, indagou.
Otto:
--- O senhor é o Demônio? –
perguntou alarmado
Diabo:
--- Pode-me chamar assim também.
Diabo, Satanás, Demônio. – sorriu a fera.
Otto:
--- Mas. Eu estou mesmo no
Inferno? – indagou amedrontado.
Diabo;
--- Você está do lado de fora do
Inferno. As trevas ficam mais para
dentro. – sorriu.
Otto
--- E o que é que eu fiz? –
perguntou angustiado.
Diabo:
--- Nada. Você não fez nada.
Apenas vai guardar o coração desse espectro! Apenas isso! – falou sorrindo.
Otto:
--- Eu? Logo eu? – perguntou
alarmado
Diabo:
--- Sim. Isso mesmo! Logo vós! –
sorriu
Otto
--- Mas...Eu não entendo! Se o
senhor é o dono do Inferno, por que então escolhe a mim? – indagou perplexo.
Diabo
--- Nem tudo. Nem tudo. Apenas um
pouco da história – sorriu
E o Diabo continuou a preleção do
rapaz. Ele – o rapaz – cometeu suicídio após trucidar a irmã por questões
desconexas. O rapaz, à noite, com ira sufocou a sua irmã até a morte e, no fim,
pôs termo à vida devotando o seu coração a Satanás. E que o melhor homem sobre
a Terra ficasse a guardar o seu “precioso” coração. O rapaz foi quem falou.
Rapaz:
--- Morte ao Bem. Que o meu
coração seja entregue a Satanás! – falou o suicida.
Otto:
--- Então? Ele quer que o senhor
tome conta. Não eu! – relatou espantado
Diabo:
--- Mas. O que é que eu vou fazer
com esse coração? Ele vai ficar podre em pouco tempo. A não ser que o senhor
congele! – sorriu o demônio
Otto
--- Congele? Congele aonde? Em
que? Como? – perguntou estupefato
Diabo:
--- Eu não sei! Talvez num refrigerador!
Ou coisa assim! Eu só entendo de braseiros. Não de coração ou geladeira. –
falou com dúvidas.
Otto ficou preocupado com essas
tais recomendações e, num instante, divisou uma mulher bem atrás do Mefisto com
a mão a segurar uma espécie de coração untado em uma toalha vermelha da cor de
sangue. Algo bem vermelho. A mulher era alta, esquia, vestindo roupas escuras,
toda coberta até as pontas dos pés, um véu negro a lhe cobrir a cabeça e apenas
a face era branca. Muito branca mesmo. Quase sem cor. Olhos profundos,
enegrecidos e pela face desciam lágrimas de sangue. Ela estava sombria e nada
falava. Então, Otto indagou:
Otto:
--- Quem é essa mulher? – indagou
estarrecido.
O diabo não precisou se virar
para informar:
Diabo:
--- A minha esposa. – e sorriu.
O homem ficou curioso por nunca
ter visto uma mulher diabólica.
Otto:
--- E ela tem nome? – quis saber.
O Demônio sorriu e apenas falou.
Diabo
--- Todos, aqui, tem seus nomes.
– sorriu com a face de horror.
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