segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

SUSPEITA - 08 -

- Bruna Linzmeyer -
- 08 -

QUEM

Tem muita gente para falar. Há um repórter de plantão no Hospital. O necrotério por si fala. As questões já trazem respostas. E o caso está mais aberto do que se pode supor. Para o repórter, não tem nada a perguntar. Ele é sábio. Um ponto qualquer. Uma resposta demonstrada. Quem! É o que se pergunta. E a resposta vem com profunda exatidão. Os médicos estavam atentos para essas questões não conhecidas.
Lustosa:
--- É bom chamar os moços que cuidam do necrotério. Os dois! – falou com pressa.
Teixeira:
--- Mas, dizer o que? – indagou sugestionado
Lustosa:
--- Não falar nada a ninguém! – falou com ênfase.
Paiva:
--- Esse caso é muito sério. – declarou
Lustosa:
--- Sério demais. Nem aos estudantes de medicinas nós não devemos articular! – relatou
No andar de baixo estava o advogado Nicácio Lopes a comentar o fato do senhor Otto Câmara de ainda está desacordado e não sabia a causa. E Clara, a esposa de Otto, recomendou leva-lo para o cômodo mais perfeito e mais arejado. O advogado ponderou.
Nicácio:
--- É preciso esperar mais um pouco. Talvez o melhor é leva-lo a UTI. – falou brando.
Clara:
--- UTI? Ai meu Deus? É grave assim? – falou em êxtase
Nicácio:
--- Não sei. Mas...Pode ser. - - falou brando
Clara
--- Eu não acredito! Quero ver o meu marido! – falou quase sem voz
Nicácio
--- Calma, Senhora! Muita calma! A senhora terá tempo de vê-lo. – falou delicado
Nesse momento, em algum lugar cheio de mato e espinhos, o Diabo estava a conversar com o senhor Otto Câmara. E dizia-lhe que era o local onde a fera costumava ir e alí estava o rapaz sem coração, pois Otto já aceitara ficar com o coração do morto. Satanás pediu calma a Otto, pois ele estava, na verdade, no Hospital. Apenas o seu espirito se transportara para aquele sombrio local onde deveria tomar mais cuidado para não falar aos “homens de branco” o que Satanás haveria de dizer-lhe.  E Otto viu ao redor um vale escuro com um óleo viscoso onde os espíritos dos que um dia viveram estavam atolados naquele lúgubre cenário hediondo. Os espíritos se lamentavam, principalmente os que sucumbiram por morte suicida. Diante de tanta tragédia nenhum dos espíritos dos desencarnados se mentiam sem lamentação. Era um pranto cruel a matar de medo o senhor Otto Câmara com muita repugnância a querer esconder a face. Ao contrário, Otto nada podia fazer. Apenas ouvir os lamentos cruciais dos mórbidos espíritos dos entes passados.
Diabo:
--- Assusta-te? Não fazem mal! Eles estão no Inferno! – falou o Satanás.
Otto sentiu uma verdadeira comichão por todo o seu corpo ao saber que estava no Inferno, um lugar triste, paredes escuras e por dentro, as labaredas de fogo a queimar constante os espíritos dos mortos. Era uma verdadeira tragédia aquilo que ele avistava. Almas penadas no Inferno. Ele então, alarmado, indagou.
Otto:
--- O senhor é o Demônio? – perguntou alarmado
Diabo:
--- Pode-me chamar assim também. Diabo, Satanás, Demônio. – sorriu a fera.
Otto:
--- Mas. Eu estou mesmo no Inferno? – indagou amedrontado.
Diabo;
--- Você está do lado de fora do Inferno.  As trevas ficam mais para dentro. – sorriu.
Otto
--- E o que é que eu fiz? – perguntou angustiado.
Diabo:
--- Nada. Você não fez nada. Apenas vai guardar o coração desse espectro! Apenas isso! – falou sorrindo.
Otto:
--- Eu? Logo eu? – perguntou alarmado
Diabo:
--- Sim. Isso mesmo! Logo vós! – sorriu
Otto
--- Mas...Eu não entendo! Se o senhor é o dono do Inferno, por que então escolhe a mim? – indagou perplexo.
Diabo
--- Nem tudo. Nem tudo. Apenas um pouco da história – sorriu
E o Diabo continuou a preleção do rapaz. Ele – o rapaz – cometeu suicídio após trucidar a irmã por questões desconexas. O rapaz, à noite, com ira sufocou a sua irmã até a morte e, no fim, pôs termo à vida devotando o seu coração a Satanás. E que o melhor homem sobre a Terra ficasse a guardar o seu “precioso” coração. O rapaz foi quem falou.
Rapaz:
--- Morte ao Bem. Que o meu coração seja entregue a Satanás! – falou o suicida.
Otto:
--- Então? Ele quer que o senhor tome conta. Não eu! – relatou espantado
Diabo:
--- Mas. O que é que eu vou fazer com esse coração? Ele vai ficar podre em pouco tempo. A não ser que o senhor congele! – sorriu o demônio
Otto
--- Congele? Congele aonde? Em que? Como? – perguntou estupefato
Diabo:
--- Eu não sei! Talvez num refrigerador! Ou coisa assim! Eu só entendo de braseiros. Não de coração ou geladeira. – falou com dúvidas.
Otto ficou preocupado com essas tais recomendações e, num instante, divisou uma mulher bem atrás do Mefisto com a mão a segurar uma espécie de coração untado em uma toalha vermelha da cor de sangue. Algo bem vermelho. A mulher era alta, esquia, vestindo roupas escuras, toda coberta até as pontas dos pés, um véu negro a lhe cobrir a cabeça e apenas a face era branca. Muito branca mesmo. Quase sem cor. Olhos profundos, enegrecidos e pela face desciam lágrimas de sangue. Ela estava sombria e nada falava. Então, Otto indagou:
Otto:
--- Quem é essa mulher? – indagou estarrecido.
O diabo não precisou se virar para informar:
Diabo:
--- A minha esposa. – e sorriu.
O homem ficou curioso por nunca ter visto uma mulher diabólica.
Otto:
--- E ela tem nome? – quis saber.
O Demônio sorriu e apenas falou.
Diabo
--- Todos, aqui, tem seus nomes. – sorriu com a face de horror. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário