- Keira Knightley -
- 09 -
VIRGEM
E a mulher, calada como uma
esfinge, apenas a sustentar em suas pálidas mãos a almofada de veludo cor
vermelha e por cima um latejante coração, nada falou. Apenas, de pé, esguia e
de robe negro a lhe cobrir todo o corpo, esperava a vez de passar para o
ingênuo Otto o enrolo daquele imo solitário. Midrash era seu nome. Um sentido
bárbaro. Ela é também associada a um demônio feminino da noite que originou na
antiga Mesopotâmia. É uma Deusa que guarda as portas do inferno montada em um
enorme cão de três cabeças.
Diabo:
--- Ela é Midrash, a Deusa do
Inferno! – falou solene o demônio
Otto:
--- Nossa! E essa Deusa está
aqui? – indagou assombrado.
Diabo
--- Ela está em toda parte! Em
especial nas noites de trevas! – relatou com orgulho
Midrash traz consigo enigmas e
contradições. Ela está junta aos movimentos de indivíduos a combater o domínio
dos mortais. A mulher Midrash nasceu como nasceram os anjos decaídos. Midrash
vêm dos répteis e dos demônios. Por isso mesmo ela é a Deusa dos portões do
abismo. O Diabo, contudo, é o seu supremo mestre. E nada mais há que o seu
próprio Mestre. Nem Deus, considerado o Ser supremo universal por muitos
incrédulos a habitar essa mesma Terra. Por isso mesmo, a senhora das sombras
sempre vem atacar os seus herdeiros quando a noite é mais triste e tumultuosa
com vendavais a açoitar os mais inermes dos entes.
Otto:
--- Que horror! Isso é de meter
dedo nos olhos dos mais aflitos! – falou com repugnância
E o Diabo gargalhou com a timidez
daquele fraco ser. E relatou;
Diabo:
--- Ela é
misteriosa! Ela muito mais que estranha! Materializa seu corpo para possuir o
objeto dos seus apetites carnais. Cuide-se para não ser o objeto enfeitiçado de
Midrash. – gargalhou.
Otto
--- E
esse negócio do coração? Não me interessa! – reclamou
Diabo
--- Ele,
o coração, veias, artérias, sangue, cérebro. Tudo está aqui. E o senhor vai
levar consigo é o que tenho a declarar. – falou enérgico.
oOo
Às três
horas da tarde daquele dia, Otto despertou estranhando o local onde estava.
Tudo era limpo e poucas pessoas a transitar de um lado para outro. Ele viu um
véu branco cobrindo toda a cama onde estava a dormir. E nem sabia que havia
desmaiado logo cedo da manhã. Havia ainda quatro camas ao seu lado, todas
cobertas de véu. Ele ficou amedrontado e buscou informação de uma moça,
parecida com uma enfermeira, de onde ele estava e que horas podiam ser. A
enfermeira veio medir a pulsação do enfermo e nada respondeu. Apenas puxou o
véu a cobrir o paciente. Ele quis fazer um movimento e notou umas agulhas
espetadas no seu braço esquerdo. Sentia-se nauseado e sem fome, apesar de ouvir
um barulho em seu estomago denunciando falta de alimentos. Com o passar de tempo,
surgiu um homem, todo vestido de um verde claro e se acercou de Otto. O homem
olhou o que estava escrito em uma tabuleta e sorriu para Otto. Ele ouviu o
homem a conversar em surdina com uma moça, com trajes de enfermeira, tendo-se
voltado para Otto e lhe falar:
Médico:
---
Escapou de boa. Dentro de instante o senhor pode sair. – falou o médico a
sorrir
Após
alguns minutos entraram na sala de espera a esposa de Otto, a senhora Clara e
mais o cunhado e o doutor Nicácio Lopes. A espera não durou muito. Eles
receberam de braços abertos o homem. Plenamente assustado ainda Otto indagou o
que estava fazendo no Hospital. E o doutor Nicácio procurou relembrar o
ocorrido.
Otto:
--- Não
tenho recordação de nada. Eu caí? – indagou preocupado
Nicácio:
--- Não
se lembra de nada? – indagou cuidadoso
Otto:
--- Nada.
Nada. E o que foi que me acometeu? – perguntou aflito.
Nicácio
---
Segundo os médicos, foi um mal súbito. Eles examinaram seu coração e disseram
nada a haver de momento. Mas preveniram para o senhor procurar um especialista.
– falou
Clara:
--- Você
vai ao médico! Ora se vai! Vai sim! – relatou com precisão
Alguns
dias após, Otto Câmara estava despachando uns documentos em seu Gabinete de
trabalho quando adentrou uma senhorita muito bela a trajar vestes vermelhas em
todo o seu conteúdo, cabelos soltos, olhos vibrantes, maquiagem sedutoras, um
cinto também de cor vermelha a atar o vestido à esbelta cintura e a caminhar
solene com um sorriso na face. Otto desconhecia tal funcionária. Como existiam
muitos servidores, ele não se importou de repente. A virgem chegou até o seu
birô e lhe pôs um embrulho a falar de forma cortês.
Virgem:
--- Um
estafeta deixou essa encomenda para o senhor. – colocou a encomendo no birô e
delicadamente saiu desejado feliz ano novo.
O homem
aceitou os cumprimentos e olhou com segurança a linda mulher com o seu corpo em
êxtase. Ao chegar â porta, a virgem se
voltou e lhe deu um sorriso malicioso. Ele não soube nem corresponder de certo.
Ajeitou o embrulho em cima do birô, olhando algumas vezes e voltou a despachar
os documentos. De repente uma sombra negra passou com pressa em parte de seu
escritório e tão de repente desapareceu. Otto sentiu um calafrio com aquela
aparição, porém não deu tanta importância ao fato. Talvez fosse a sombra de
algum carro a fazer manobra do lado de fora do seu escritório. Folhas de papeis
voaram por todo o escritório como se houvesse ventania a acoitar. Uma das
folhas caiu sobre o embrulho. Porém era apenas um documento a ser preenchido.
Nesse ponto, a sombra negra com a ventania se aproximou de Otto Câmara. E,
então falou com uma voz quase incompreensível e vagarosa.
Espanto
--- Vós
recebestes o embrulho? – indagou perigosamente
Otto,
preocupado em juntar os papeis que a ventania espalhou, olhou com pressa, do
seu canto e falou:
Otto:
--- Quem
é o senhor? – perguntou alarmado
Uma
gargalhada ecoou por todo o escritório do abatido homem. E a entidade respondeu
com maior prudência envergando uma bengala a lhe postar à mão.
Espanto
--- Esse!
Não estais a ver? – indagou com o maior aguçado terror.
Otto
voltou seu olhar para o pacote sobre a mesa e descaminhando falou por fim.
Otto:
--- O
senhor é o demônio? – perguntou apavorado
Uma
risada aguda voltou a ecoar. E, então, a entidade foi mais afinco.
Espanto:
--- Eu Sou
o que Sou! Demônio, Diabo ou Satanás! Estou a conferir se a encomenda foi, na
verdade, entregue como vós quisestes. – falou a entidade do mal.
Otto:
--- Olha
seu quem quer que seja! Eu não pedi encomenda nenhuma. Nem a vós e nem a
ninguém como vós podeis saber! – falou com arrogância.
Uma
lufada de ventania soprou por todo o escritório e o ser inimaginável voltou a
falar com a sua voz de desprezo.
Espanto
---
Então, vós tendes o desprazer de desafiar esse Ser demoníaco? – falou com
arrogância
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