terça-feira, 27 de janeiro de 2015

SUSPEITA - 09 -

- Keira Knightley -

- 09 -

VIRGEM

E a mulher, calada como uma esfinge, apenas a sustentar em suas pálidas mãos a almofada de veludo cor vermelha e por cima um latejante coração, nada falou. Apenas, de pé, esguia e de robe negro a lhe cobrir todo o corpo, esperava a vez de passar para o ingênuo Otto o enrolo daquele imo solitário. Midrash era seu nome. Um sentido bárbaro. Ela é também associada a um demônio feminino da noite que originou na antiga Mesopotâmia. É uma Deusa que guarda as portas do inferno montada em um enorme cão de três cabeças.
Diabo:
--- Ela é Midrash, a Deusa do Inferno! – falou solene o demônio
Otto:
--- Nossa! E essa Deusa está aqui? – indagou assombrado.
Diabo
--- Ela está em toda parte! Em especial nas noites de trevas! – relatou com orgulho
Midrash traz consigo enigmas e contradições. Ela está junta aos movimentos de indivíduos a combater o domínio dos mortais. A mulher Midrash nasceu como nasceram os anjos decaídos. Midrash vêm dos répteis e dos demônios. Por isso mesmo ela é a Deusa dos portões do abismo. O Diabo, contudo, é o seu supremo mestre. E nada mais há que o seu próprio Mestre. Nem Deus, considerado o Ser supremo universal por muitos incrédulos a habitar essa mesma Terra. Por isso mesmo, a senhora das sombras sempre vem atacar os seus herdeiros quando a noite é mais triste e tumultuosa com vendavais a açoitar os mais inermes dos entes.
Otto:
--- Que horror! Isso é de meter dedo nos olhos dos mais aflitos! – falou com repugnância
E o Diabo gargalhou com a timidez daquele fraco ser. E relatou;
Diabo:
--- Ela é misteriosa! Ela muito mais que estranha! Materializa seu corpo para possuir o objeto dos seus apetites carnais. Cuide-se para não ser o objeto enfeitiçado de Midrash. – gargalhou.
Otto
--- E esse negócio do coração? Não me interessa! – reclamou
Diabo
--- Ele, o coração, veias, artérias, sangue, cérebro. Tudo está aqui. E o senhor vai levar consigo é o que tenho a declarar. – falou enérgico.
oOo
Às três horas da tarde daquele dia, Otto despertou estranhando o local onde estava. Tudo era limpo e poucas pessoas a transitar de um lado para outro. Ele viu um véu branco cobrindo toda a cama onde estava a dormir. E nem sabia que havia desmaiado logo cedo da manhã. Havia ainda quatro camas ao seu lado, todas cobertas de véu. Ele ficou amedrontado e buscou informação de uma moça, parecida com uma enfermeira, de onde ele estava e que horas podiam ser. A enfermeira veio medir a pulsação do enfermo e nada respondeu. Apenas puxou o véu a cobrir o paciente. Ele quis fazer um movimento e notou umas agulhas espetadas no seu braço esquerdo. Sentia-se nauseado e sem fome, apesar de ouvir um barulho em seu estomago denunciando falta de alimentos. Com o passar de tempo, surgiu um homem, todo vestido de um verde claro e se acercou de Otto. O homem olhou o que estava escrito em uma tabuleta e sorriu para Otto. Ele ouviu o homem a conversar em surdina com uma moça, com trajes de enfermeira, tendo-se voltado para Otto e lhe falar:
Médico:
--- Escapou de boa. Dentro de instante o senhor pode sair. – falou o médico a sorrir
Após alguns minutos entraram na sala de espera a esposa de Otto, a senhora Clara e mais o cunhado e o doutor Nicácio Lopes. A espera não durou muito. Eles receberam de braços abertos o homem. Plenamente assustado ainda Otto indagou o que estava fazendo no Hospital. E o doutor Nicácio procurou relembrar o ocorrido.
Otto:
--- Não tenho recordação de nada. Eu caí? – indagou preocupado
Nicácio:
--- Não se lembra de nada? – indagou cuidadoso
Otto:
--- Nada. Nada. E o que foi que me acometeu? – perguntou aflito.
Nicácio
--- Segundo os médicos, foi um mal súbito. Eles examinaram seu coração e disseram nada a haver de momento. Mas preveniram para o senhor procurar um especialista. – falou
Clara:
--- Você vai ao médico! Ora se vai! Vai sim! – relatou com precisão  
Alguns dias após, Otto Câmara estava despachando uns documentos em seu Gabinete de trabalho quando adentrou uma senhorita muito bela a trajar vestes vermelhas em todo o seu conteúdo, cabelos soltos, olhos vibrantes, maquiagem sedutoras, um cinto também de cor vermelha a atar o vestido à esbelta cintura e a caminhar solene com um sorriso na face. Otto desconhecia tal funcionária. Como existiam muitos servidores, ele não se importou de repente. A virgem chegou até o seu birô e lhe pôs um embrulho a falar de forma cortês.
Virgem:
--- Um estafeta deixou essa encomenda para o senhor. – colocou a encomendo no birô e delicadamente saiu desejado feliz ano novo.
O homem aceitou os cumprimentos e olhou com segurança a linda mulher com o seu corpo em êxtase.  Ao chegar â porta, a virgem se voltou e lhe deu um sorriso malicioso. Ele não soube nem corresponder de certo. Ajeitou o embrulho em cima do birô, olhando algumas vezes e voltou a despachar os documentos. De repente uma sombra negra passou com pressa em parte de seu escritório e tão de repente desapareceu. Otto sentiu um calafrio com aquela aparição, porém não deu tanta importância ao fato. Talvez fosse a sombra de algum carro a fazer manobra do lado de fora do seu escritório. Folhas de papeis voaram por todo o escritório como se houvesse ventania a acoitar. Uma das folhas caiu sobre o embrulho. Porém era apenas um documento a ser preenchido. Nesse ponto, a sombra negra com a ventania se aproximou de Otto Câmara. E, então falou com uma voz quase incompreensível e vagarosa.
Espanto
--- Vós recebestes o embrulho? – indagou perigosamente
Otto, preocupado em juntar os papeis que a ventania espalhou, olhou com pressa, do seu canto e falou:
Otto:
--- Quem é o senhor? – perguntou alarmado
Uma gargalhada ecoou por todo o escritório do abatido homem. E a entidade respondeu com maior prudência envergando uma bengala a lhe postar à mão.
Espanto
--- Esse! Não estais a ver? – indagou com o maior aguçado terror.
Otto voltou seu olhar para o pacote sobre a mesa e descaminhando falou por fim.
Otto:
--- O senhor é o demônio? – perguntou apavorado
Uma risada aguda voltou a ecoar. E, então, a entidade foi mais afinco.
Espanto:
--- Eu Sou o que Sou! Demônio, Diabo ou Satanás! Estou a conferir se a encomenda foi, na verdade, entregue como vós quisestes. – falou a entidade do mal.
Otto:
--- Olha seu quem quer que seja! Eu não pedi encomenda nenhuma. Nem a vós e nem a ninguém como vós podeis saber! – falou com arrogância.
Uma lufada de ventania soprou por todo o escritório e o ser inimaginável voltou a falar com a sua voz de desprezo.
Espanto
--- Então, vós tendes o desprazer de desafiar esse Ser demoníaco? – falou com arrogância


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