CONDENAÇÃO
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CONDENAÇÃO -
As mulheres
eram as que mais sofriam no processo da Inquisição. A fogueira ardia sem
clemencia a queimar as pobres indigentes. O processo doutrinava que o feitiço
tomava Maria como inspiração. Quando se vinculava a Maria durante o tempo da
Inquisição, se vinculava a mulheres que seriam chamadas de “bruxas”. Mas essas
mulheres que se atreviam a ler além do que a Igreja permitia. Nesse ponto, sem
dúvidas, a Igreja as chamavam de bruxas.
Elas se atreviam a ter outro de conhecimento que não era conveniente. A devoção à Virgem Maria, na época da Inquisição, era
um sinal do mal. Realmente, os Inquisidores reformaram uma estátua da Virgem
Maria introduzindo elementos perfurantes para colocar a vítima em seu interior
e que era perfurada no momento em que a estátua era fechada. Assim, qualquer
tipo de culto relacionado ao paganismo e as forças ocultas começou a ser
perseguido e castigado.
Ligia
--- Por volta
de 1450 começou, na Europa, uma caça às bruxas comandada, principalmente, pela
Igreja Católica. Ela aconteceu até 1750 quando foram condenadas mais de 100 mil
pessoas, das quais a imensa maioria eram mulheres. A caça às bruxas era um
acontecimento histórico que, na realidade era uma histeria coletiva. “Todos
aqueles que estão fora do meu marco teológico são bruxos ou são bruxas, ou são
adivinhos ou são adivinhas[aa1] ”.
Mas eles poderiam pensar que eram, simplesmente, outras maneiras de ver uma
questão espiritual. - -
Amanda
--- Que
práticas diferenciavam as bruxas das mulheres? Seus poderes supunham um perigo
para a Igreja Católica? - - quis saber
Lígia
--- Muitas que
eram acusadas de bruxas, eram parteiras. Algumas até foram aceitas por um lado
da Igreja. Mas, por outro lado, a medicina moderna começava a se apropriar
desses espaços e a desapropriar essas mulheres. Uma das questões simbólicas que
eram vistas e as mulheres eram também condenadas de bruxas eram os rituais
estranhos. As práticas em que se davam nas reuniões, nos rituais, que são
práticas sexuais, infanticidas ou de outro tipo que tinham como única
finalidade legitimar essa união que tinha com Satanás.
Amanda
--- Mas o
corpo não é para fornicação, senão para o Senhor e o Senhor para o corpo, diz a
Bíblia em Coríntios 6:13 - - assustada.
Lígia
--- O Martelo
das Bruxas é um documento, uma obra literária que é tomada como um guia e que
consegue toda a autoridade para identificar, condenar e exterminar aqueles que
praticam a bruxaria. É o mais famoso tratado medieval escrito por Heinrich
Kramer. Na Idade Média o imaginário feminino e a força da feminilidade voltam
com as beguinas ou mulheres piedosas dos Países Baixos ou da Alemanha onde
nasceram. Muitas mulheres viam uma saída: “ Eu não quero casar, mas não quero
ser Freira”. Muitas dessas beguinas terminaram numa fogueira, acusadas de
bruxaria. Foi o medo da força feminina, outra vez.
As ideias que
relacionavam Maria com a Deusa Isis e com a magia pareciam ficar para trás. No
entanto, a Idade Média foi uma época de controvérsia e discussão sobre outro
aspecto da vida de Maria: o sexo.
Anibal
--- A Maria é
venerada como uma mãe. Uma mãe muito especial. Uma mãe que não pecou. Que
concebeu sem pecar porque a Igreja continuava que considerando que mesmo o ato
sexual para concepção era algo pecaminoso. É daí que vieram, por exemplo, os
lençóis com furos para que não vissem os corpos. A malícia que significava a
nudez da mulher ou a do homem. Parece que a maldade estava encarnada na mulher.
- -
Lígia
--- As mudanças
físicas, próprias de mulher já estão na alteração do corpo. Então, isso para
eles era um efeito demoníaco. Que a ela se atribuía esses poderes demoníacos.
Por isso é que elas eram torturadas e queimadas. Eu creio que Maria é Maria e
tem o lugar que tem porque não é uma mulher. É uma mãe. A Virgem Maria é o
protótipo da mãe e é mulher imaculada. Ou seja; nela não há pecado porque
também está associado à sua maternidade e a sua obediência.
ANIBAL
---Maria é
virgem enquanto a bruxa pratica sexo selvagem. Maria se entrega ao Espirito
Santo. A bruxa se entrega ao demônio. Maria concebeu o filho de Deus enquanto
que a bruxa concebe rãs e monstros. - -
Para afastar a
Virgem Maria de qualquer ideia ligada a magia e ao paganismo a Igreja construiu
sua imagem como o oposto das mulheres perseguidas. Enquanto muitas delas eram
acusadas de práticas sexuais, Maria era vista como o contrário: virgem e com um
único filho concebido por Deus
Amanda
--- Se a
virgindade era tão importante o que aconteceria de Maria não tivesse sido
virgem? Há evidencia de outros filhos?
Lígia
--- Os textos
sagrados diferenciam a Virgem Maria do resto das mulheres.
Amanda
--- Mas como
as Escrituras apresentam essas tais mulheres? - - indagou
Lígia
--- Para
reforçar a imagem de Maria como o oposto das feiticeiras, a Igreja também teria
se apoiado em outras figuras femininas que a Bíblia descreve. A Bíblia é
extraordinariamente misógina. Com certeza alguém que tenha um pensamento aberto
a respeito da mulher não pode aceitar o conteúdo da Bíblia nesse sentido. A
Bíblia repudia a mulher desde Eva em diante. Eva é o contrário de Ave, que é
sagrado. Essa visão da mulher foi se reproduzindo e crescendo e que já vinha de
todas as mulheres más da vida. A Igreja tem uma visão tremendamente machista.
De um Deus muito inclemente, por outro lado. - -
Amanda
--- Eva como
um protótipo da humanidade acaba associada como pecadora e deixou seduzir pela
serpente que é associada com o demônio ou Satanás;
Ligia
--- Adão e Eva
pecam. Adão e Eva se separam do plano original de Deus enquanto que Maria é
virgem, é fiel. Maria Madalena é uma mulher que aparece nos quatro Evangelhos,
nos momentos mais importantes da vida de Jesus. É dito que Jesus expulsou sete
demônios dela. Obviamente, na interpretação patriarcal aos varões. Se ela era
pecadora porque tinha sete amantes ou maridos. Agora: como é representada Maria
Madalena na iconografia? Livre!
A virgindade
de Maria ainda hoje é motivo de debate e controvérsia. O momento conhecido como
Anunciação da Virgem inspira a esperança em milhares de milhões de católicos.
Mas também desperta sobre essa versão central no dogma da Igreja.
Lígia
--- Se faz
presente o Arcanjo Gabriel que começa um diálogo com Maria. Ele a chama e diz:
Bem-aventurada. E dia a ela que foi eleita para ser a mãe de Deus. O anjo
(Mensageiro) e Maria, surpresa como isso poderia acontecer. E quando ela
entende de alguma maneira o mistério que está por acontecer, ela diz está de
acordo. Acredita no que foi dito e quando o Mensageiro se retira de sua
presença, Maria está grávida. Essa não é uma negação do valor do sexo. Pelo
contrário: é a consagração da condução sexual feminina de Maria. O fato de ser
mãe. É virgem e mãe.
Anibal
--- Em grego,
o Evangelho nunca disse que ela era virgem. O que se diz é que Maria começou a
menstruar donzela. A donzela era uma adolescente. Não necessariamente uma
Virgem. Muito menos nessa época, onde aos 12 ou 13 e 14 anos, no máximo, já
estavam vivendo a metade de sua vida
Amanda
--- Por que,
hoje em dia, é tão importante a imagem de uma mãe virgem? - -
Lígia
--- Sempre vão
pensar que a mulher tem que ser absolutamente pura, santa e divina. E falar que
a própria mãe de Jesus não teve mais filhos e que se conservou virgem, mesmo
depois do nascimento de Jesus se torna em uma grande discussão nos tempos
atuais. Jesus foi se transformando nos arquétipos religiosos da época. E para
isso é preciso fazer de Maria a sua mãe, seguindo os arquétipos religiosos da
época. Ou seja: na época para dizer que alguém teve uma inspiração divina tinha
que dizer que era um filho ou uma filha da Divindade com alguém humano. E por
que uma virgem? Não terá pureza. Pela autonomia da mulher. Um Deus não pode
nascer de uma subjugada. Um Deus não pode nascer de uma submetida. Um Deus tem
que nascer de uma virgem independente. - -
A questão da
virgindade de Maria se relaciona com outro mistério que também é motivo de
discussão há vários séculos.
Amanda
--- Maria teve
outros filhos além de Jesus? Há outras linhagens ocultas pela Igreja? - - quis
saber
Lígia
--- Vamos
observar que nos Evangelhos se fala de outros irmãos de Jesus e que,
certamente, Maria teve outros filhos.
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