segunda-feira, 21 de julho de 2014

O INFERNO - 01

O INICIO
01
Sócrates. Seu nome era Sócrates Fernandes. O avô materno, o Coronel Fernandes foi quem escolheu o nome. Apesar de ser chamado de coronel, essa patente ele nunca almejou. Todos o tratavam daquele modo. Coronel para cá, Coronel para lá. E com isso ficou sendo chamado por todos de Coronel. Sócrates teve o seu nome batizado na Matriz e desde esse tempo ficou sendo tratado pelo neto do Coronel. Quando já estava com os seus 20 anos de idade, Sócrates saia de casa em horas da tarde e com destino incerto, passando, às vezes, pelos cinemas da cidade, buscando revistas em quadrinhos, conversando com um e outro e terminando o dia a passear pelo bar chamado de A Palhoça, o costume de toda a juventude local. Se tivesse alguém para puxar conversa, tudo bem. Ao contrário, Sócrates punha o seu costume em marcha: era o de ler as revistas em quadrinhos. Quase sempre um monte delas para o seu gosto. Casais entravam e saiam. Conversas pueris, quase sempre ao agasalho dos amantes. Um garçom se acercou de Sócrates e nada falou a espera apenas do pedir. E o rapaz assim fez.
Sócrates:
--- Cerveja. – falou sem ao menos olhar para o rapaz.         
Esse saiu com pressa e cinco minutos após vinha com duas garrafas de cerveja e um prato de carne assada e pequenos pedaços. Ao abrir a tampa da garrafa o garçom perguntou:
Garçom:
--- O senhor já viu o filme? – quis saber apontado para o cinema ao lado.
Sócrates sem se importar respondeu meio sem gosto não ter visto filme algum. O garçom ainda falou com atenção.
Garçom:
--- O pessoal comenta ser muito bom. – e falou do filme, deixando a outra garrafa ao lado saído após.  
Após algum tempo, entre um gole e outro, Sócrates percebeu o rapaz Moacir ao se aproximar devagar como sempre marchava e apenas o cumprimentou indagando se as revistas eram novas como sempre perguntava quando se encontrava na rua ou no pátio d’A PALHOÇA. E Sócrates respondeu sem tirar a vista da revista que estava lendo:
Sócrates:
--- Algumas. – respondeu.
“AH”-. Fez o rapaz sem se importar com a leitura dos quadrinhos. Seu nome trazia uma certa antipatia a Sócrates pelo modo do seu jeito de andar: baixote, nádegas proeminentes, rosto avesso, rosto amargo e coloração amareleça. Mais parecia um empregado de Banco. Ao refletir sobre o caso, Sócrates sorriu sem demonstrar algo de anormal. Então o palerma sentou não outro ponta do banco ao lado fazendo um sinal para o garçom. Com tempo esse chegou e nem precisou falar. O rapaz mesmo disse:
Moacir:
--- Traga uma. – apontou para a grafa da cerveja ficando calado então.  
O garçom se retirou do local e poucos minutos após Sócrates se levantou do banco da mesa e se despediu do outro rapaz caminhando para a saída do bar. Pessoas entravam a tagarelar sorrindo como se tudo fosse em vão nem percebendo o monte de gibis que o rapaz arrumava às pressas em baixo do braço no louco vexame de ir para a sua casa a ficar não muito longe de onde estava. Na sacada da saída encontrou outro seu amigo a lhe indagar sobre quem estava no local. Sócrates disse apenas Moacir e se afastou com pressa. À frente do cinema ele notou tudo fechado, pois era pouco mais das seis horas da noite. Duas moças passam sorrindo por causa de uma piada contada por uma delas. Um homem idoso seguia devagar a olhar as duas moças. Na sequência Sócrates seguiu até a sua casa onde arrumou os gibis. A sua mãe lhe indagou se não queria café. Ele olhou para o relógio e respondeu.
Sócrates:
--- Não. Não. Quando voltar. – e desapareceu com pressa de sua casa.
Já quase marcava as sete horas da noite e Sócrates caminhava com pressa pela rua Camboim onde outras pessoas também seguiam em direção a Casa Espírita existente no local. Um deficiente visual era um dos tais a caminhar a segurar no ombro do seu guia. Em uma casa uma moça alertava para a hora.
Moça:
--- Quase sete. – alertava.
Sócrates já estava à porta da Casa onde mais pessoas chegavam e começavam a encher o salão não tão grande como se pensava. Uma zoada se fazia notar. Gente a cochichar e a pedir licença para sentar em um banco de madeira tosca. Do lado de fora da Casa, pessoas se atinham à espera da fala de um homem a estar sentado à mesa junto com demais pessoas todas quietas compenetradas em suas orações. De dentro da Casa surgiu um outro homem e disse em segredo algo que não se percebia falar. Ele falou e de imediato se afastou voltando para a ante sala por traz da porta. O calor infernal começava a fazer e quase toda a gente tendia a suar apesar de os ventiladores começassem a funcionar plenamente. Com um espaço de tempo o homem do centro da mesa iniciou a sua preleção após a leitura de um trecho do Livro dos Espíritos. A certo ponto dizia o homem:  
Preletor:
--- Boa noite meus irmãos. Tenho aqui em mãos o Livro dos Espíritos. É um livro severo onde se pode detalhar casos incomuns de nossa existência. A exemplo disso, tem-se por bem fatores inquietantes onde as pessoas sequer percebem quão é importante se ter a mão. Cada ser humano tem o seu irmão espiritual que tem a missão como a de um pai para com os filhos, diz aqui esse livro. Isto é: conduzir o seu protegido pelo bom caminho, ajuda-lo com os seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida, comentou o preletor.
E a sala da Casa Espírita se enchia cada vez mais de gente. Uns doentes. Outros em busca de ajuda espiritual. E mais alguns por curiosidade no declarar em sua preleção o homem da sala. No meio desse estavam mais alguns doutrinadores em suas orações cada um com os seus espíritos amigos a conduzir para os sagrados mistérios da mente. De lado de fora do Centro, a aglomeração de simpatizantes do espiritismo. Alguns estavam apenas a namorar as sedutoras meninas dos seus pouco mais dos dezesseis anos. No frio-morno do meio ambiente com o céu encimado de cintilantes luzes estelares as casas de varandas em frente ao meio-ambiente apenas faziam sinais de pessoas a sempre sair e voltar para dentro. Algumas conversas entre mil e uma sequência de atentos rumores.
Moça:
--- Espera! Vou ali! – dizia uma moça para dentro de casa.
Mulher:
--- Onde? – indagava preocupada.
A resposta não era notada. E a moça se enfurnava na carreira buscando seu paciente amor a rodar em seu dedo indicador a haver do seu hipotético carro. Na rua ao lado, longe da primeira casa, um homem robusto ficava de pé. Ele cuspia uma gosma de fumo e se sentava de novo em sua cadeira estofada. Alguém dizia:
Voz:
--- Olha a maluca! Já vai! – relatava a mulher ao seu marido.
Era assim como a mulher tratava a moça naquele inquieto dia. Em outra casa em frente um rapaz ajustava a sua máquina de escrever para continuar o que estava a fazer minutos antes. E ao longe, na Casa Espíritas prosseguia a preleção até chegar o momento de se fechar as janelas da frente da habitação. Logo após ouvia-se gritos. Uma mulher a cair ao solo estrebuchando como se estivesse morrendo. De imediato, o homem gigante se acercou da mulher. Outros após se aproximar. Era uma louca ou quase assim. Alguém com um distúrbio. Uma forma de espirito atormentador. A mulher, dos seus trinta anos se debatia como um cão e se contorcia de total delírio, cuspindo no homem gigante como quem tem raiva de alguém. O homem gigante cada vez mais se acercava da mulher tentando dominá-la com severidade. Outros cavalheiros também ajudavam ao homem gigante enquanto a mulher se debatia com garras e dentes para não ser dominada. Na Mesa de Trabalho, uma mulher corpulenta consultava o seu guia como agir para aplacar a pequena mulher indemnizada. O espírito de luz lhe dizia ser um marido da mulher em outras gerações a impedir a doente reviver o que fizera em sua nova vida.  
Espírito de Luz:
--- Ele busca leva-la para o seu meio. Ele não sabe que desencarnou há várias gerações. E a cada vez vive a atormentar a sua mulher. – explicou. 
E a doutrinadora orou para o espírito do mau se desvencilhar de sua ex-mulher quando de há muito foi a verdadeira esposa. No entanto, o espírito ignorante não soltava a mulher por ser impiedoso com ela a querendo obrigá-la a voltar para o seu meio. Entre debates e palavrões a mulher a tentar se debater cada vez mais, houve um tempo na qual a mesma desfaleceu por completo. Os guias espirituais fizeram aplacar a sanha insidiosa do ex-marido da vítima e entraram em cena fazendo a débil mulher adormecer de verdade. Os médiuns conseguiram levantar o seu corpo e a levaram para a sala de recuperação onde se pois a tratamento espiritual em toda a sua plenitude da vida. Na sala, havia gritaria de outros pacientes, alguns querendo aplicar a raiva alucinada para outros espíritos do mau. Foi um furou eterno.


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