domingo, 27 de julho de 2014

O INFERNO - 07

CHLOE NORETZ
O RIO
07

O avião modelo Catalina amerissou sobre as águas do rio Potengi em um trajeto linear até voltar para o Cais de embarque e desembarque da Rampa, um porto existente no Iate Clube. Em meios às Yoles e navios de cargas, o Catalina seguiu direto para o seu pequeno porto onde havia mais dois aparelhos a estacionar no fim do Cais. O jovem Canindé observava a todo o trajeto do avião anfíbio com surpresa e emoção. Ao seu lado estava o Pescador também a observar o manejo do Catalina. E ele nada falou mais dos ébrios a estar na porta do boteco a conversar coisa sem nexo mostrando apenas as moedas de cruzeiro ainda em seu poder. O avião Catalina fazia vou a pousar em Natal, certamente para deixar ou levar alguns pertences para algum local desejado. Esse aparelho era um bimotor e tinha sido bastante utilizado durante a II Guerra Mundial. A sua função primordial era a de realizar o transporte para locais inóspitos e missões anti-submarinas no Oceano Atlântico. Posteriormente versões para o uso civil foram utilizadas. No seu amerissar, o hidroavião tinha três pneus os quais lhe permitiam subir em terra firme. O pessoal da pesca no momento em que o Catalina pousou no rio, se voltou para rever aquela nave de tantos sucessos em anos passados. A meninada pulou na água do rio querendo imitar a ação do hidroavião. Mesmo assim nem chegava tão perto do aparelho. Os hidroaviões utilizam flutuadores em lugar do trem de pouso convencional, sendo que a sua fuselagem não chega a tocar da água. Enquanto isso a aparelho adentrada na sua hidrobase da Rampa onde estavam os pilotos dos demais aviões flutuantes.
A criançada foi até o muro de proteção da Rampa a admirar aquele monstro do ar. Todos estavam inquieto a vislumbrar o aparelho. E eles supunham ser um mágico o homem cheio de fardamento a guiar o sagrado e imenso hidro. Nesse ponto, se acercou à mureta o rapaz Canindé a admirar também o aparelho voador. No Brasil, o Catalina era bastante empregado tanto pela Força Aérea, realizando missões de patrulhas, de busca e salvamento, e de transporte de cargas e passageiros. Delirante como um menino, Canindé admirava o hidroavião, aparelho visto por ele tão de perto como nunca imaginara. Os tripulantes se deslocavam para os abrigos enquanto os militares de serviço cuidavam da proteção da nave com todo o equipamento disponível.
Canindé:
--- Que maravilha! – dizia o rapaz a delirar.
Pescador:
--- Esse tipo de aeronave vem desde 1910. – relatou
Canindé:
--- Eu não sou desse tempo. – sorriu
Pescador:
--- Tem estudos a respeito. – verificou.
E o Pescador lembrou ter sido a Capital o ponto extremo da II Guerra Mundial. E foi mais além ao recordar ter sido Parnamirim desde os anos de 1920 a parada obrigatória para os aviões vindos da Europa abastecer por conta da distância do continente africano. Quando irrompeu a II Guerra a América do Norte resolveu em um tratado com o Governo brasileiro construir a maior base do mundo em terras brasileiras. Natal era a encruzilhada do mundo das rotas aéreas porque era o único lugar onde era favorecido pelo clima ameno em qualquer tempo e o local mais próximo do Velho Mundo. Uma revista norte americana – Life – de 1943 conta um pouco da rotina durante a operação bélica em Natal. Relógios suíços, meias de seda a preferência dos militares americanos para levar para as suas namoradas.
Pescador:
--- Durante a Guerra, um avião norte americano caiu bem próximo ao forte dos Reis Magos. Apesar dos esforços, nunca pode ser recolhido esse avião. Aqui, naquele tempo, podia ser explorado como filão turístico. A II Guerra reposicionou o Brasil, abrindo as portas para a democracia e trouxe os americanos com toda essa cultura de consumo. – falou o homem
Canindé:
--- Incrível. Eu sabia de algo de consumo na Cidade. Mas não sei muito bem do alcance dessa força, como o senhor fala! – discorreu o rapaz.
Pescador:
--- Dezenas e dezenas de hidroaviões decolavam aqui desse ponto durante esse período. Aqui, na Rampa ocorreu o encontro histórico entre os Presidentes dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, e do Brasil, Getúlio Vargas. Teve bastante conflito durante a Guerra. Americanos foram feitos prisioneiros em Campos de Concentração, por Adolf Hitler. E esses americanos sofreram horrores naqueles idos tempos. Natal, pequena cidade, foi o balsamo da Guerra para esses homens. – falou com lágrimas o pescador.
Canindé:
--- Esse era um verdadeiro “Inferno”. Não tem por que negar. Eu já era nascido naqueles anos inglórios. Meu pai residia em uma rua perto da Matriz. Trincheiras por todos os lados. Holofotes imensos postos em cima do Morro em Petrópolis. De noite não se acediam candeeiros. Patrulhas a inspecionar das nossas residências. Eu tinha 08 anos quando começou o conflito e morria de temor por causa dessa tortura – relatou o jovem.
O Pescador ficou olhando a Catalina, mas seu pensamento divagava para outros conflitos de memória passada a qual ele não queria falar. Um pesqueiro entrou de rio a dentro fazendo o seu habitual barulho e deixando para trás a fumaça de óleo diesel. Outra lancha vinha da praia a Redinha com a sua zoada habitual para encostar no Cais do Canto do Mangue e deixar naquele local uma porção de gente com as suas encomendas a negociar na feira do bairro das Rocas. Tudo aquilo se passou a um só minuto. Um estrondo alucinante fez a terra tremer forte. Os barqueiros ficaram alarmados com o ensurdecedor barulho. E todos correram para ver o acontecido de momento. O ensurdecedor barulho era de um caminhão que foi de encontro a uma locomotiva a fazer o seu trajeto próximo ao Cais do Porto. O estraçalhar da ferragem trucidou todo o caminhão postado para longe da máquina do trem. De momento, as pessoas voltearam para o local de ver o maquinista da locomotiva apenas a balbuciar.
Maquinista:
--- Louco! Ele é louco! Como não viu que eu vinha passando? Louco! Louco! – gritava o maquinista a procura do motorista do caminhão.
O motorista estava posto em bagaço onde pouco se juntava do seu dilacerado corpo. O acidente ocorreu há poucos metros da entrada o Cais logo à frente de onde estava o jovem Canindé. Do caminhão nada restava. O motor do carro foi jogado para um lado enquanto a carroçaria ficou de se juntar aos poucos em volume. Nem mesmo se juntava o resto dos diferenciais ou da consumida lataria. O ajudante do caminhão conseguiu escapar pulando fora ao ver a se aproximar aquela montanha de ferro e aço.  Juntaram-se pessoas das classes mais humildes para ver se ajudavam no retirar dos escombros do caminhão até a chegada das autoridades policiais incumbidas de dar assistência em casos como esse. O comércio das avenidas próximas teve que parar as suas vendas porque o pessoal cuidou em sair para ajuda aos escombros do carro. Eram vendedores de lojas a se misturar com empacotadores de couros de gado e de bodes. Todos na mesma função. Com cuidado, Canindé surgiu até o Cais do Porto no intuito de fazer algo. Com meia hora depois da tragédia a polícia estava no local cuidando de isolar toda a área. O tempo levado foi de todo o dia até o cair da tarde. Quando deu a uma hora da tarde Canindé, sem poder nada, cuidou de seguir sua viagem.
À noite havia sessão no Centro Espírita. Canindé e sua irmã, Racilva, estavam presentes com Sócrates e toda a gente costumeira. O preletor fez uma exposição sobre o acentuado programa do exemplo dado às pessoas ser o espiritismo algo em comum com a Bíblia. E fez questão em negar ser o espiritismo contra a Sagrada Escritura. Durante décadas a Igreja Católica tem difamado a doutrina espírita ao afirmar ser esse meio de conhecimento algo como coisa do Diabo. E falar mais em espíritas serem pessoas doentes mentais por ter causa da mediunidade.
Preletor:
--- Esse fenômeno surpreende, pois o médium espírita tem faculdade de poder enxergar algo paranormal ouvindo vozes casos diferentes para o grande público. Tais fenômenos são dons espirituais. Tais espíritos oram em línguas através dos médiuns. A Bíblia está cheia de fenômenos mediúnicos como os ruídos, barulhos, pancadas. Esses são fenômenos mediúnicos. As Tábuas da Lei foram entregues a Moises durante sua presença na Sarça Ardente e foi escrito por um Anjo, ou seja, um enviado. Esse enviado fez as Tábuas dos Dez Mandamentos. Tal fenômeno ocorrido na Sarça Ardente, no Monte Sião, envolvendo Moises, um iniciado nos Conhecimentos egípcios antigos, foi um presente de um Anjo, ou seja, um espírito. Mas nem todo espírito é um enviado com a missão de trazer uma mensagem. Nem todo espírito é um Mensageiro do mundo espiritual. Por conseguinte, não foi um Deus que fez a entrega das Tabuas, o Decálogo, a Moises, e sim um Mensageiro, um espírito. E esse espírito fez a entrega a Moises por ser este um grande médium. – relatou o homem.
Nesse ponto foi encerrada a parte doutrinária feita habitualmente nas sessões realizadas nas Lojas de Oração.  Após a sessão de passes todos deixaram o Cetro e os novos amigos seguiram a conversar situações como as apresentadas pelo preletor. Então alguém se aproximou de Sócrates e foi logo a indagar do médium espírita.
Alguém:
--- Você acredita no que ouviu? – indagou bem sério

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