CHLOE NORETZ
O RIO
07
O
avião modelo Catalina amerissou sobre as águas do rio Potengi em um trajeto
linear até voltar para o Cais de embarque e desembarque da Rampa, um porto
existente no Iate Clube. Em meios às Yoles e navios de cargas, o Catalina
seguiu direto para o seu pequeno porto onde havia mais dois aparelhos a
estacionar no fim do Cais. O jovem Canindé observava a todo o trajeto do avião
anfíbio com surpresa e emoção. Ao seu lado estava o Pescador também a observar
o manejo do Catalina. E ele nada falou mais dos ébrios a estar na porta do
boteco a conversar coisa sem nexo mostrando apenas as moedas de cruzeiro ainda
em seu poder. O avião Catalina fazia vou a pousar em Natal, certamente para
deixar ou levar alguns pertences para algum local desejado. Esse aparelho era
um bimotor e tinha sido bastante utilizado durante a II Guerra Mundial. A sua
função primordial era a de realizar o transporte para locais inóspitos e
missões anti-submarinas no Oceano Atlântico. Posteriormente versões para o uso
civil foram utilizadas. No seu amerissar, o hidroavião tinha três pneus os
quais lhe permitiam subir em terra firme. O pessoal da pesca no momento em que
o Catalina pousou no rio, se voltou para rever aquela nave de tantos sucessos
em anos passados. A meninada pulou na água do rio querendo imitar a ação do
hidroavião. Mesmo assim nem chegava tão perto do aparelho. Os hidroaviões
utilizam flutuadores em lugar do trem de pouso convencional, sendo que a sua
fuselagem não chega a tocar da água. Enquanto isso a aparelho adentrada na sua
hidrobase da Rampa onde estavam os pilotos dos demais aviões flutuantes.
A
criançada foi até o muro de proteção da Rampa a admirar aquele monstro do ar.
Todos estavam inquieto a vislumbrar o aparelho. E eles supunham ser um mágico o
homem cheio de fardamento a guiar o sagrado e imenso hidro. Nesse ponto, se
acercou à mureta o rapaz Canindé a admirar também o aparelho voador. No Brasil,
o Catalina era bastante empregado tanto pela Força Aérea, realizando missões de
patrulhas, de busca e salvamento, e de transporte de cargas e passageiros.
Delirante como um menino, Canindé admirava o hidroavião, aparelho visto por ele
tão de perto como nunca imaginara. Os tripulantes se deslocavam para os abrigos
enquanto os militares de serviço cuidavam da proteção da nave com todo o
equipamento disponível.
Canindé:
---
Que maravilha! – dizia o rapaz a delirar.
Pescador:
---
Esse tipo de aeronave vem desde 1910. – relatou
Canindé:
---
Eu não sou desse tempo. – sorriu
Pescador:
---
Tem estudos a respeito. – verificou.
E
o Pescador lembrou ter sido a Capital o ponto extremo da II Guerra Mundial. E
foi mais além ao recordar ter sido Parnamirim desde os anos de 1920 a parada
obrigatória para os aviões vindos da Europa abastecer por conta da distância do
continente africano. Quando irrompeu a II Guerra a América do Norte resolveu em
um tratado com o Governo brasileiro construir a maior base do mundo em terras
brasileiras. Natal era a encruzilhada do mundo das rotas aéreas porque era o
único lugar onde era favorecido pelo clima ameno em qualquer tempo e o local
mais próximo do Velho Mundo. Uma revista norte americana – Life – de 1943 conta
um pouco da rotina durante a operação bélica em Natal. Relógios suíços, meias
de seda a preferência dos militares americanos para levar para as suas
namoradas.
Pescador:
---
Durante a Guerra, um avião norte americano caiu bem próximo ao forte dos Reis
Magos. Apesar dos esforços, nunca pode ser recolhido esse avião. Aqui, naquele
tempo, podia ser explorado como filão turístico. A II Guerra reposicionou o
Brasil, abrindo as portas para a democracia e trouxe os americanos com toda
essa cultura de consumo. – falou o homem
Canindé:
---
Incrível. Eu sabia de algo de consumo na Cidade. Mas não sei muito bem do
alcance dessa força, como o senhor fala! – discorreu o rapaz.
Pescador:
---
Dezenas e dezenas de hidroaviões decolavam aqui desse ponto durante esse
período. Aqui, na Rampa ocorreu o encontro histórico entre os Presidentes dos
Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, e do Brasil, Getúlio Vargas. Teve
bastante conflito durante a Guerra. Americanos foram feitos prisioneiros em
Campos de Concentração, por Adolf Hitler. E esses americanos sofreram horrores
naqueles idos tempos. Natal, pequena cidade, foi o balsamo da Guerra para esses
homens. – falou com lágrimas o pescador.
Canindé:
---
Esse era um verdadeiro “Inferno”. Não tem por que negar. Eu já era nascido
naqueles anos inglórios. Meu pai residia em uma rua perto da Matriz.
Trincheiras por todos os lados. Holofotes imensos postos em cima do Morro em
Petrópolis. De noite não se acediam candeeiros. Patrulhas a inspecionar das
nossas residências. Eu tinha 08 anos quando começou o conflito e morria de
temor por causa dessa tortura – relatou o jovem.
O
Pescador ficou olhando a Catalina, mas seu pensamento divagava para outros conflitos
de memória passada a qual ele não queria falar. Um pesqueiro entrou de rio a
dentro fazendo o seu habitual barulho e deixando para trás a fumaça de óleo
diesel. Outra lancha vinha da praia a Redinha com a sua zoada habitual para
encostar no Cais do Canto do Mangue e deixar naquele local uma porção de gente
com as suas encomendas a negociar na feira do bairro das Rocas. Tudo aquilo se
passou a um só minuto. Um estrondo alucinante fez a terra tremer forte. Os
barqueiros ficaram alarmados com o ensurdecedor barulho. E todos correram para
ver o acontecido de momento. O ensurdecedor barulho era de um caminhão que foi
de encontro a uma locomotiva a fazer o seu trajeto próximo ao Cais do Porto. O
estraçalhar da ferragem trucidou todo o caminhão postado para longe da máquina
do trem. De momento, as pessoas voltearam para o local de ver o maquinista da
locomotiva apenas a balbuciar.
Maquinista:
---
Louco! Ele é louco! Como não viu que eu vinha passando? Louco! Louco! – gritava
o maquinista a procura do motorista do caminhão.
O
motorista estava posto em bagaço onde pouco se juntava do seu dilacerado corpo.
O acidente ocorreu há poucos metros da entrada o Cais logo à frente de onde
estava o jovem Canindé. Do caminhão nada restava. O motor do carro foi jogado
para um lado enquanto a carroçaria ficou de se juntar aos poucos em volume. Nem
mesmo se juntava o resto dos diferenciais ou da consumida lataria. O ajudante
do caminhão conseguiu escapar pulando fora ao ver a se aproximar aquela
montanha de ferro e aço. Juntaram-se
pessoas das classes mais humildes para ver se ajudavam no retirar dos escombros
do caminhão até a chegada das autoridades policiais incumbidas de dar
assistência em casos como esse. O comércio das avenidas próximas teve que parar
as suas vendas porque o pessoal cuidou em sair para ajuda aos escombros do
carro. Eram vendedores de lojas a se misturar com empacotadores de couros de
gado e de bodes. Todos na mesma função. Com cuidado, Canindé surgiu até o Cais
do Porto no intuito de fazer algo. Com meia hora depois da tragédia a polícia
estava no local cuidando de isolar toda a área. O tempo levado foi de todo o
dia até o cair da tarde. Quando deu a uma hora da tarde Canindé, sem poder
nada, cuidou de seguir sua viagem.
À
noite havia sessão no Centro Espírita. Canindé e sua irmã, Racilva, estavam
presentes com Sócrates e toda a gente costumeira. O preletor fez uma exposição
sobre o acentuado programa do exemplo dado às pessoas ser o espiritismo algo em
comum com a Bíblia. E fez questão em negar ser o espiritismo contra a Sagrada
Escritura. Durante décadas a Igreja Católica tem difamado a doutrina espírita
ao afirmar ser esse meio de conhecimento algo como coisa do Diabo. E falar mais
em espíritas serem pessoas doentes mentais por ter causa da mediunidade.
Preletor:
---
Esse fenômeno surpreende, pois o médium espírita tem faculdade de poder
enxergar algo paranormal ouvindo vozes casos diferentes para o grande público.
Tais fenômenos são dons espirituais. Tais espíritos oram em línguas através dos
médiuns. A Bíblia está cheia de fenômenos mediúnicos como os ruídos, barulhos,
pancadas. Esses são fenômenos mediúnicos. As Tábuas da Lei foram entregues a
Moises durante sua presença na Sarça Ardente e foi escrito por um Anjo, ou
seja, um enviado. Esse enviado fez as Tábuas dos Dez Mandamentos. Tal fenômeno
ocorrido na Sarça Ardente, no Monte Sião, envolvendo Moises, um iniciado nos
Conhecimentos egípcios antigos, foi um presente de um Anjo, ou seja, um
espírito. Mas nem todo espírito é um enviado com a missão de trazer uma
mensagem. Nem todo espírito é um Mensageiro do mundo espiritual. Por
conseguinte, não foi um Deus que fez a entrega das Tabuas, o Decálogo, a
Moises, e sim um Mensageiro, um espírito. E esse espírito fez a entrega a
Moises por ser este um grande médium. – relatou o homem.
Nesse
ponto foi encerrada a parte doutrinária feita habitualmente nas sessões realizadas
nas Lojas de Oração. Após a sessão de
passes todos deixaram o Cetro e os novos amigos seguiram a conversar situações
como as apresentadas pelo preletor. Então alguém se aproximou de Sócrates e foi
logo a indagar do médium espírita.
Alguém:
---
Você acredita no que ouviu? – indagou bem sério
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