A MORTE
04
Em
um dia marcado, o Centro já estava pleno de adeptos naquela noite. E também
estavam presentes os amigos de Sócrates, com certeza Canindé e sua família –
mãe e filha -. O tema abordado na preleção despertou significativa aceitação
por parte do rapaz Canindé. Apoiado em sua mão direita ele procurou ouvir as
solenes palavras do preletor com relação a morte. Segundo disse o preletor,
inferno e céu são passagens inexistentes para os que morrem por um caso ou
outro, sendo velho ou moço. Há espíritos felizes e infelizes e esses espíritos
conforme o caso se reúnem em locais iguais ao que eles acham o mais provável.
Felizes estão em seus ambientes comuns. As regiões de penas e recompensas
existem apenas na imaginação do ser humano. O homem não compreende tais
essências da vida, então ele busca a forma ordinária onde mais lhe convier. Céu
e Inferno é uma questão de modo de conceito do homem quando vivo. Espíritos estão
a existir em toda parte do Universo. Tem espíritos entre nós a nos observar de
uma forma incessante. E esses espíritos podem ser do bem e do mal. Eles querem
saber o que nós ainda não podemos dizer quando vivos. O dizer de Inferno não tem
significado algum. Inferno, por excelência. É apenas “abaixo de ser”, algo que
não se convence. Não se pode dizer: “desceu ao inferno” pois não se está em pé
para coisa alguma. Estar-se em vertical. Ninguém pode dizer que desceu pois não
está certo. Não se desce. É uma causa imperfeita se dizer que se está caindo ou
descendo. É esta a razão.
Esse
foi o texto, em grande parte, falado na sua tese o preletor. Os ouvintes – de
modo especial, os pacientes enfermos de doenças psíquicas – escutaram toda a elucidação
e muitos dos quais nada entenderam por ser um tema muito bem complexo. No salão
de preces tinham doentes do espírito e doentes do organismo. Uma mulher de seus
40 anos, deficiente motora estava no canto do salão à frente de todos, sentada
em sua cadeira de rodas. Ela sorria com frequência para tudo ou nada. Talvez
essa deficiente não escutasse coisa alguma de modo a entender. Um rapaz dos
seus 15 anos estava com a mulher como apoio para o seu deslocamento necessário.
Em outros pontos do salão havia uma porção de debilitados. Em certo local,
estava duas senhoras muito bem trajadas. Dentre as quais uma era talvez a filha
da senhora bela e rica, com certeza. E nesse instante Canindé teve uma visão de
alguém na parte elevada da sala onde ficava a mesa dos médiuns. A “pessoa” lhe
advertia para ser um médium a receber o espírito que estava ao seu lado, na
sala de orações. Canindé ficou surpreso com a visão. E foi então indagar.
Canindé:
---
Você está vendo alguém naquela sala antes do fim? – indagou preocupado a seu companheiro
Sócrates.
Sócrates
estava vendo apenas o preletor. E então falou a Canindé.
Sócrates:
---
Quem? O preletor? Estou sim. – respondeu.
Canindé:
---
Não. Não. Um cidadão um pouco magro, mais ao fundo, perto daquela mulher que
está sentada fazendo uma oração? – fez questão em falar sobre a visão.
Sócrates:
---
Entendo. Entendo. Eu não o vejo. Mas, ele está em cima ou abaixo da mesa? –
perguntou
Canindé.
---
Abaixo. Abaixo Agora ele vai saindo. Olha, olha. Ele vai para a porta do lado
do beco. E diz que eu não fale com os homens de lá. Saiu. Saiu!!! – gritou
apavorado. E desmaiou.
Houve
atropelos. Aurea, mãe de Canindé, de imediato socorreu o rapaz caído entre os
bancos da Casa de Oração. E também vieram a mãe de Sócrates, a filha de Aurea e
todo o pessoal. O preletor procurou a acalmar o público enquanto agentes da
Sala chegavam tão depressa para socorrer igualmente o desacordado. Houve um
atropelo generalizado em todo o recinto. Três homens acudiram Canindé e o
levaram para dentro da Casa onde buscaram o socorro imediato por parte de
médicos assistentes. Um meio louco então gritou no salão da Casa:
Louco:
---
É o Inferno! Ele está no Inferno! O Diabo veio busca-lo. – gritava o louco.
Nesse
ponto outros homens pegaram o louco e o levaram igualmente para um salão sobe o
êxtase implacável do alienado. A desordem tomou conta do ambiente enquanto o
preletor rogava por calma.
No
dia seguinte, pela manhã, Canindé estava em sua casa. Racilva, sua irmã, veio
lhe entregar uma chávena com biscoitos e um suco de goiaba. Ele acordara, como
de costume, às cinco horas da manhã ainda cheio de dúvidas por conta do
ocorrido. Após um certo tempo a deitar em uma cama sendo observado por um grupo
de médiuns o rapaz recobrou a consciência e sua família acompanhada do amigo
Sócrates estavam em paz, pois o caso terminara sem maiores consequências.
Quando recebeu o suco o jovem estava a pensar no ocorrido, uma vez nunca ter
passado por tal circunstância. Na noite anterior, teve um sonho onde aparecia
uma menina dos seus dez anos de idade e confabulava algo que o rapaz não mais
lembrava. Houve apenas um sorriso com o qual Canindé não esquecera. Fora isso,
tudo se dissipou de sua mente.
Uma
notícia de jornal tratava de um caso de morte. Sempre os jornais de Natal
traziam casos semelhantes. E esse era mais um. Mesmo assim, fez o jovem
refletir um pouco no passado. E então se lembrava de sonhos ocorridos com ele
onde sempre estava presente a menina. Enquanto isso, alguém bateu à porta.
Racilva foi ver quem era.
Racilva:
---
Ó! Você? Entre. – disse a moça.
Era
naquela hora da manhã o amigo Sócrates. Na noite anterior, ele teve o maior
cuidado com o desmaio de Canindé, caso nunca ocorrido. A questão foi quando
Canindé desse ter visto uma “pessoa” perto da mesa do Centro Espirita. E depois
foi ao desmaio. Levado para a sala de recuperação, os médiuns trataram do rapaz
até recobrar os sentidos. Naquela hora, Sócrates foi saber como estava passado
o amigo.
Canindé:
---
Nada de mais ocorreu. Foi uma bruta síncope. Apenas eu via o sujeito me
avisando qualquer coisa. Só isso. Ele desapareceu a seguir. – falou meio sem
jeito.
Sócrates:
---
Essa visão é de alguém que estava a seu lado. Agora, você tem que ir com
frequência ao Centro: - falou.
Canindé:
---
Por falar nisso: esse negócio de espírito. Isso eu quero dizer. Pra onde eu vou
quando morrer? – indagou com desconfiança.
Sócrates:
---
Eu não sei muito. Eu estudo. E pelos relatos, os espíritos – como o seu, o meu,
o da mocinha – todos: eles ficam aqui mesmo. Agora: tem alguns que seguem para
outra dimensão. Veja bem: você tem um amigo que passa tempo sem vê-lo. Um tempo
ele surge. Assim é o espírito. Se eu penso sempre em um amigo que já morreu,
este meu amigo sempre está por aqui. – interrompeu.
Canindé.
---
Espere. Espere. Mas espírito se alimenta? – indagou surpreso
Sócrates:
---
Ah. Isso já é outra parte da História. O espírito é claro que se alimenta. Para
onde ele segue, quer num hospital, se é que ele descarna de uma enfermidade ou
de um acidente, ele é recebido por espíritos evoluídos e lá do hospital, ele se
alimenta. Legumes, principalmente. Mas se ele desencarna de forma comum, então,
ele não segue para um hospital. Ele fica abrigado em outras Colônias. O
espírito sente fome, sede entre outras necessidades. Os Espíritos afirmam que
em suas Colônias existem fábricas de concentrados de frutas e sopas. Esses
manjares espirituais possuem gosto e aroma que não têm similar a Terra. De uma
forma geral os espíritos são encaminhados para o Umbral que são sustentados
pelos Espíritos Superiores. – enfatizou Sócrates
Canindé:
---
Verdade? Mas. ...quer dizer que espírito também come? – indagou alarmado.
Sócrates
---
O mundo é perfeito. Tanto no terreno quanto no espiritual. Há espíritos que
seguem para outros ambientes que a Terra. Depende muito do que eles
almejam. –
Canindé:
---
E por que a gente tem medo de morrer? – indagou preocupado.
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