quarta-feira, 23 de julho de 2014

O INFERNO - 03

ENCONTRO
03
 
Dona Célia comentou com o seu filho a situação constrangedora do rapaz, Canindé, filho de Dona Aurea, mulher conhecida de há muito pela dona da casa. Para dona Célia, o rapaz era talvez traumatizado por um motivo qualquer, pois quando menino ela já o conhecia um garoto cheio de dúvidas entre meios e outro como também sempre emudecido. Dona Aurea tivera um aborto e dona Célia não sabia bem a causa. Sabia porém, ter sido uma criança ainda de tenra idade, com gestação de três mês ou mais. Nesse tempo, Canindé era nascido com uma idade ainda precoce, talvez de uns dois anos de idade. Depois desse aborto, Aurea não mais tivera filhos ficando sempre a lamentar pela perda da criança. O seu marido, Cosme, funcionário da Rede Ferroviária estava sempre em seu posto, na cidade de São José do Mipibu e ele um homem calado. Quando vinha à capital era no fim de semana ou de 15 em 15 dias no mais tardar. O tempo passou e ele – Cosme – foi transferido para a capital ficando assim de vez. Uma garota, ela criava desde a sua infância, filha de uma sua irmã, morta de parto. Essa criança então já era de quase 18 anos e tida por Aurea como filha. E foi assim que surgiu na vida da mulher a menina já então quase moça, pois foi adotada como filha uma vez ter ficado órfã de mãe logo ao nascer.  Racílva era o seu nome. Esse era o assunto dialogado por dona Celia ao falar ter sido procurado por Aurea querendo fazer algo de positivo para o seu filho. Ela não sabia como poderia fazer de ir ao Centro, pois tinha certa vergonha de se mostrar em público.
Sócrates:
--- Vergonha? Não tem nada de vergonha. A mulher pode ir ao Centro qualquer dia. Aliás, já devia ter ido. – falou sem pressa.
Célia:
--- Mas você não poderia falar com o rapaz? – indagou a mulher.
Sócrates:
--- Não vejo razão. Mas eu posso falar com a senhora Aurea ou com o rapaz. – respondeu.
Célia:
--- Muito bem. Faça isso, faça. – pontificou de forma carinhosa. 
No dia seguinte Sócrates esteve na residência de dona Aurea em companhia de sua mãe para tentar saber o real do caso. Racílva estava presente ao encontro acompanhada do jovem Canindé. Esse, ainda com as mãos molhadas por efeito do serviço com suas imagens se fez mudo apenas falando algumas indagações feitas por Sócrates. Foi dessa forma o caso ocorrido. Por alguns instantes a mãe do rapaz delirou por não saber a causa.
Aurea:
--- Desde criança que ele é assim. Tempos passam sem falar em nada. Após um tempo, ele volta a falar. É como se fosse alguém a estar com ele. Eu não me conformo. Meu Deus! – reclamou.
Racilva:
--- Minha mãe podia estar frequentando um Centro. É bem melhor. – reclamou a moça.
Aurea:
--- Mas ele não quer, filha. – disse lenta a mulher com lágrimas.
Nesse ponto Aurea baixou a cabeça a disfarçar o choro. Celia notou. Sócrates indagou:
Sócrates:
--- Você tem sonhos? – perguntou ao rapaz.
Canindé:
--- Às vezes. Mas eu não me lembro de tudo ou de quase nada. – declarou.
Sócrates:
--- Pois isso é de grande importância para o nosso desenvolvimento. Não raro é de alguém próximo, nessa e em outras gerações. Alguém que nós conhecíamos em tempos remotos. – falou o rapaz.
Canindé:
--- Eu me lembro de um sonho. Esse sonho se repete por várias vezes. Mas eu não sei o que é. Às vezes tem uma menina nesse sonho. Eu falo com ela. Mas eu não me lembro do que eu falo. – reclamou o moço.
Sócrates:
--- Dependendo do caso, o sonho é onde a pessoa viveu, quando se trata de impressões vividas por nós mesmo sendo possível em outra geração bem além. – confirmou.
Aurea:
--- Quem é a menina? – perguntou preocupada.
Canindé:
--- Uma menina. Tem seus 10 anos. Ela sorrir, às vezes. Depois conversa comigo. Certa vez eu sonhei com a menina ela dizendo não gostar daquela garota. No sonho eu sabia quem era. Depois acordei. E não sei quem era a garota. Estórias confusas. – reclamou.
Sócrates:
--- Ela falava quem era? – indagou.
Canindé:
--- Sim. Mas, no sonho era tudo certo. Era como se eu tivesse uma namorada. Agora eu não tenho essa namorada. Podia ser alguém que eu agora não conheço. Interessante: certa vez, essa menina passava para um lado como se fosse andando e eu perguntava para onde ela ia. Então ela me respondia: “ali”. E eu voltava a conversar:
Canindé:
--- “Você não morreu?” – ele perguntava.
Canindé:
--- Então ela sorria e partia para um alto. Uma elevação. Uma calçada. Só isso. – delirou.
Sócrates:
--- É bom notar que, quando entramos em sono, despregamos nossos espíritos para andar por outros Mundos. Mesmo que seja a Terra. Porém nem sabemos onde seja. Os espíritos vagam por lugares estranhos. Sono e sonho se confundem. Tem casos de um espírito relatar ao outro espírito que ele não morreu. E que nem a morte existe. É apenas uma passagem. Os espíritos passam a viver do outro lado como se fosse alguém partindo para o outro lado do seu corpo. Você pode perceber que um espirito sempre aparece a você em uma forma jovem. Ele é belo. Nunca é horrendo. Mesmo os espíritos soberbos. Mesmo esses. – confirmou o amigo. 
Canindé:
--- Já ouvi isso. Não sei por quem. Mas já ouvi. – declarou cabisbaixo.
Sócrates:
--- Eu tenho algo a ti falar. Isso é um convite. Se você aceitar, muito bem. Se não, nada tenho a reclamar! – falou ostentoso.
Canindé:
--- Convite? De quem? – indagou surpreso.
Sócrates:
--- Bem. É um convite. Você vem comigo .... E pode ser com sua mãe, irmã ou com quem for. É no Centro Espírita. Lá, você escuta a preleção e depois toma passe. Isso você fica fazendo sempre três vezes por semana. É claro que as vezes você não pode ir. Não tem problema. Mas é aconselhável você sempre está presente. Aceita? – indagou com plena convicção.
O rapaz Canindé duvidou do convite e ficou cismado.
Canindé:
--- Convite mesmo? – indagou preocupado.


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