TOURO VALENTE
- 04 -
CONTACTO
No meio da mata, Catolé procurava
sair de um punhado de cercas, fustigando o veículo todo coberto de fuligem
jogado com a queda do meteoro e o empurrar do Boeing em pedaços como uma fera
desalmada, o homem fazia rosnar como um abutre. Nesse ponto, Marlene Santos
tentava conexão com a redação para dar algum recado sobre o acidente e onde ela
estava naquele instante em companhia do fotografo Armando Souto. Por mais de
uma vez ligou o celular, porém, sem existo. Com a tempestade de fuligem, mata
abrasadora e uma espécie e chuva toxica, Marlene desistiu de manter contato. O
matagal chispante tornava-se impossível fazer a ligação. A folhagem da mata
adernava para um lado e para outro e Marlene temia de qualquer modo ser
atingida pela capoeira. Por seu turno, Catolé teve que saltar do veículo para
tirar tronco de arvores caídos no chão, provavelmente em poucas horas. Nesse
instante, ele ouviu um tropel de cascos de touro vindo em sua direção. Era um
touro marruado vindo com toda a fúria possível direto para cima de Catolé. O
homem deixou o tronco de madeira no seu local e correu para dentro de seu
veículo com todo o terror. Ele abriu a porta, bateu firme e se agachou tremendo
de medo. Nesse instante, Armando Souto ajeitava o seu flash e tomou de surpresa
o ocorrido.
Armando:
--- Que foi, cara? – falou a
olhar o motorista
O impacto do touro na lataria o
carro fez despertar também Marlene até aquela hora tentando discar para a
redação do jornal. E estava iniciada a luta. O touro a bufar metendo o chifre
na lataria e o carro sentia-se amassado por tamanha fúria. A cada impacto um gemido da fera cruel para
massacrar por todo o instante a face robusta do veículo. Do lado de dentro,
Catolé se encolhia cada vez mais. Em determinado instante, o motorista usou da
mente e buzinou um som estridente de inumano veículo. E o fotografo passou a
tirar fotos como forma de encandear o algoz touro. O mugido valente era a
resposta dada a cada segundo. A frente do veículo subia e descia para um lado e
para outro como querendo emborcar de vez. Era a sanha animal contra a
inteligência humana aplicada no espaçoso veículo. A luta brava continuava ao
som do buzinaço quando, de repente, surgiram três cães vindos não se sabe de
onde a atacar o boi brabo. E a luta ficou desigual. Três contra um. O latido
fragoroso dos cães contra o mugido do bruto. Eram os cães contra o bruto. De
dentro da cabine do carro, Armando Souto fazia a vez de fotógrafo. Com a
entrada na luta do bruto, o caso se virou de repente. O mugido a todo instante
contra o ladrar de três animais. E a luta desigual continuava. Nesse ímpeto de
desigualdade, eis que surgiram dois cavaleiros montados em seus corcéis. Então,
era a força bruta do touro contra a sanha assassina dos cinco algozes. Após
tenaz instante, um tirou ecoou no espaço.
O vaqueiro, um tanto exaustou,
puxou do seu rifle e fez o disparo. Um rugido ecoou no espaço. O touro a mugir
subiu ao céu e desandou caído por terra. Foi queda e morte. Apenas se pode ver
as patas do animal se remexer como ultimo alento. Logo após, tombou o touro
morto e sereno.
Vaqueiro:
--- Matei o bruto! – disse o
vaqueiro todo suado da luta.
Antero:
--- Foi luta de vida e morte. –
cuspiu o homem para um lado.
O touro marruado esticou as matas
e morreu a um só tempo. Numa luta desigual, perdeu o mais forte. Os três cães
verificavam a morte do animal desatinado. Estava finda a peleja. Após alguns
minutos os vaqueiros indagaram para onde Catolé caminhava. E ele respondeu.
Catolé:
--- Estou à procura da estrada de
Parnamirim. – respondeu intranquilo.
Antero:
--- Tá no caminho. É pra lá. –
apontou com o braço o vaqueiro.
Catolé:
--- E o boi? – indagou o
motorista
Antero:
--- Vocês me ajudem a torcer a
carcaça para o lado da estrada. Depois a gente esfola. – declarou
Catolé:
--- Só isso? – indagou espantado
Antero:
--- Só. Não tem mais nada a
fazer. Esse touro era marruado. Vivia escondido na mata. Boi brabo que nem ele.
Hoje, se espantou com a fumaça do Céu e arrancou para fora. Os cães foram os
que eram por ele. Foi luta ferrenha. – e cuspiu de lado
Marlene:
--- Ele está morto? – perguntou
cismada.
Antero:
--- Pois não, senhora. Morto e
bem morto. Foi tiro certo. Atravessou o coração. – relatou
Marlene:
--- E como os senhores sabiam
dele? – perguntou.
Antero:
--- Pelo cheiro. Pelos latidos
dos cadelos. – respondeu o homem de cima de sua montaria
Marlene:
--- E esses cavalos? – perguntou
espantada.
Antero:
--- Da fazenda, sinhá dona. Da
fazenda! – explicou
Marlene:
--- Eles mordem? – perguntou com
cisma.
Armando:
--- Não, senhora. Ponha a mão na
boca deles! – e gargalhou
Antero sorrio e depois,
respondeu.
Antero:
--- Não, senhora! Eles são
mansos. Estão cansados da luta! – disse o homem aplicando umas tapas na
garganta do seu cavalo
E assim, foi se fazer a puxada do
touro para um canto da estrada. Foi preciso muita força para os quatro homens
deslocarem a carcaça do touro até deixa-lo quieto. Antero, nessa ocasião disse
ser esse seu nome e o do vaqueiro se chama Benevides. Eles trabalhavam na
Fazenda Santa Luiza a poucos metros de distância. E fez com o braço:
Antero:
--- Lá. – apontou o homem a
sorrir.
Marlene:
--- Lá? – indagou sem saber.
Antero:
--- Sim, senhora. Uma nesga de
terra. – responde acabando de puxar o touro
A moça não quis saber mais de
nada. Se o vaqueiro disse que era “lá”. Então era lá mesmo.
Os vaqueiros começaram a repartir
o touro e deu um pedaço da carne fresca a cada um dos ajudantes daquela
matança. A chuva começou a cair entre o solo seco e em seguida os três
ocupantes do veículo se deram por satisfeito pelo presente recebido. E Catolé
respondeu para os vaqueiros de qualquer dia voltaria ao local.
Antero:
--- Volte sempre! Tá a seu gosto.
– sorriu o vaqueiro
E Armando olhou para ver de perto
o resto do touro quase nu, a mostrar as entranhas pelo lado de fora.
Marlene:
--- Coisa horrível! – declarou a
moça a olhar as tripas do touro
Antero:
--- É nada. A senhora não compra
tripa na feira? – indagou a sorrir.
Marlene:
--- Mas, não assim. É tudo seca.
– reclamou
Antero:
--- Seca ou verde. Tudo é uma
coisa só. – sorriu Antero
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