sábado, 28 de março de 2015

PRIMEIRA PÁGINA - 04 -

TOURO VALENTE

- 04 -

CONTACTO

No meio da mata, Catolé procurava sair de um punhado de cercas, fustigando o veículo todo coberto de fuligem jogado com a queda do meteoro e o empurrar do Boeing em pedaços como uma fera desalmada, o homem fazia rosnar como um abutre. Nesse ponto, Marlene Santos tentava conexão com a redação para dar algum recado sobre o acidente e onde ela estava naquele instante em companhia do fotografo Armando Souto. Por mais de uma vez ligou o celular, porém, sem existo. Com a tempestade de fuligem, mata abrasadora e uma espécie e chuva toxica, Marlene desistiu de manter contato. O matagal chispante tornava-se impossível fazer a ligação. A folhagem da mata adernava para um lado e para outro e Marlene temia de qualquer modo ser atingida pela capoeira. Por seu turno, Catolé teve que saltar do veículo para tirar tronco de arvores caídos no chão, provavelmente em poucas horas. Nesse instante, ele ouviu um tropel de cascos de touro vindo em sua direção. Era um touro marruado vindo com toda a fúria possível direto para cima de Catolé. O homem deixou o tronco de madeira no seu local e correu para dentro de seu veículo com todo o terror. Ele abriu a porta, bateu firme e se agachou tremendo de medo. Nesse instante, Armando Souto ajeitava o seu flash e tomou de surpresa o ocorrido.
Armando:
--- Que foi, cara? – falou a olhar o motorista
O impacto do touro na lataria o carro fez despertar também Marlene até aquela hora tentando discar para a redação do jornal. E estava iniciada a luta. O touro a bufar metendo o chifre na lataria e o carro sentia-se amassado por tamanha fúria.  A cada impacto um gemido da fera cruel para massacrar por todo o instante a face robusta do veículo. Do lado de dentro, Catolé se encolhia cada vez mais. Em determinado instante, o motorista usou da mente e buzinou um som estridente de inumano veículo. E o fotografo passou a tirar fotos como forma de encandear o algoz touro. O mugido valente era a resposta dada a cada segundo. A frente do veículo subia e descia para um lado e para outro como querendo emborcar de vez. Era a sanha animal contra a inteligência humana aplicada no espaçoso veículo. A luta brava continuava ao som do buzinaço quando, de repente, surgiram três cães vindos não se sabe de onde a atacar o boi brabo. E a luta ficou desigual. Três contra um. O latido fragoroso dos cães contra o mugido do bruto. Eram os cães contra o bruto. De dentro da cabine do carro, Armando Souto fazia a vez de fotógrafo. Com a entrada na luta do bruto, o caso se virou de repente. O mugido a todo instante contra o ladrar de três animais. E a luta desigual continuava. Nesse ímpeto de desigualdade, eis que surgiram dois cavaleiros montados em seus corcéis. Então, era a força bruta do touro contra a sanha assassina dos cinco algozes. Após tenaz instante, um tirou ecoou no espaço.
O vaqueiro, um tanto exaustou, puxou do seu rifle e fez o disparo. Um rugido ecoou no espaço. O touro a mugir subiu ao céu e desandou caído por terra. Foi queda e morte. Apenas se pode ver as patas do animal se remexer como ultimo alento. Logo após, tombou o touro morto e sereno.
Vaqueiro:
--- Matei o bruto! – disse o vaqueiro todo suado da luta.
Antero:
--- Foi luta de vida e morte. – cuspiu o homem para um lado.
O touro marruado esticou as matas e morreu a um só tempo. Numa luta desigual, perdeu o mais forte. Os três cães verificavam a morte do animal desatinado. Estava finda a peleja. Após alguns minutos os vaqueiros indagaram para onde Catolé caminhava. E ele respondeu.
Catolé:
--- Estou à procura da estrada de Parnamirim. – respondeu intranquilo.
Antero:
--- Tá no caminho. É pra lá. – apontou com o braço o vaqueiro.
Catolé:
--- E o boi? – indagou o motorista
Antero:
--- Vocês me ajudem a torcer a carcaça para o lado da estrada. Depois a gente esfola. – declarou
Catolé:
--- Só isso? – indagou espantado
Antero:
--- Só. Não tem mais nada a fazer. Esse touro era marruado. Vivia escondido na mata. Boi brabo que nem ele. Hoje, se espantou com a fumaça do Céu e arrancou para fora. Os cães foram os que eram por ele. Foi luta ferrenha. – e cuspiu de lado
Marlene:
--- Ele está morto? – perguntou cismada.
Antero:
--- Pois não, senhora. Morto e bem morto. Foi tiro certo. Atravessou o coração. – relatou
Marlene:
--- E como os senhores sabiam dele? – perguntou.
Antero:
--- Pelo cheiro. Pelos latidos dos cadelos. – respondeu o homem de cima de sua montaria
Marlene:
--- E esses cavalos? – perguntou espantada.
Antero:
--- Da fazenda, sinhá dona. Da fazenda! – explicou
Marlene:
--- Eles mordem? – perguntou com cisma.
Armando:
--- Não, senhora. Ponha a mão na boca deles! – e gargalhou
Antero sorrio e depois, respondeu.
Antero:
--- Não, senhora! Eles são mansos. Estão cansados da luta! – disse o homem aplicando umas tapas na garganta do seu cavalo
E assim, foi se fazer a puxada do touro para um canto da estrada. Foi preciso muita força para os quatro homens deslocarem a carcaça do touro até deixa-lo quieto. Antero, nessa ocasião disse ser esse seu nome e o do vaqueiro se chama Benevides. Eles trabalhavam na Fazenda Santa Luiza a poucos metros de distância. E fez com o braço:
Antero:
--- Lá. – apontou o homem a sorrir.
Marlene:
--- Lá? – indagou sem saber.
Antero:
--- Sim, senhora. Uma nesga de terra. – responde acabando de puxar o touro
A moça não quis saber mais de nada. Se o vaqueiro disse que era “lá”. Então era lá mesmo.
Os vaqueiros começaram a repartir o touro e deu um pedaço da carne fresca a cada um dos ajudantes daquela matança. A chuva começou a cair entre o solo seco e em seguida os três ocupantes do veículo se deram por satisfeito pelo presente recebido. E Catolé respondeu para os vaqueiros de qualquer dia voltaria ao local.
Antero:
--- Volte sempre! Tá a seu gosto. – sorriu o vaqueiro
E Armando olhou para ver de perto o resto do touro quase nu, a mostrar as entranhas pelo lado de fora.
Marlene:
--- Coisa horrível! – declarou a moça a olhar as tripas do touro
Antero:
--- É nada. A senhora não compra tripa na feira? – indagou a sorrir.
Marlene:
--- Mas, não assim. É tudo seca. – reclamou
Antero:
--- Seca ou verde. Tudo é uma coisa só. – sorriu Antero

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