sexta-feira, 8 de julho de 2016

O TEMPO DE ANITA - 01 -

MOÇA
- 01 -
O CENTRO -
Naquela noite, bem cedo ainda, Anita chegou ao Centro Espírita, noite de sessão, onde já havia várias pessoas. Alguns ficavam apenas lendo um livro, talvez espirita, e alguns outros a retorcer a cara ou mesmo sempre a dormir, esperando o tempo passar. Anita, vagarosamente adentrou o Centro vendo os que estavam na casa e nada comentou. Ela já fora simpatizante e frequentadora espírita, quando jovem mocinha, mas abandonara tudo por diversas causas sofridas no caminhar de sua vida. Um namorado, foi a causa principal. Ele não suportava ser espírita. Um dia, mandou um telegrama desfazendo o seu relacionamento sentimental. Ela então sorriu e logo após, chorou. E não entendia porque esse choro. Magoada por sua fraqueza intima se despregou de todos os encantos. Anita trabalhava em uma repartição do Governo do Estado tendo assumido o serviço tão logo concluiu seus estudos de segundo Grau. Ela chegou a pensar em prosseguir a sua Educação. Isso foi tempos atrás. Sua vida era difícil. O seu ganho era ínfimo e sempre recebia com atraso. A manutenção do lar era da responsabilidade do próprio pai, motorista de taxis. Seu nome era José Muniz e a sua mãe, uma mulher dona de casa, Odete Souza Muniz. Como uma senhora do lar, dona Odete fazia costura para clientes, principalmente vestidos de meninas, moças e suas mães.
Quando teve início os trabalhos no Centro, a sala estava repleta de gente. A mesa havia apenas 5 pessoas além de 4 outras no ambiente de traz, um quarto apertado e servido por apenas dois ventiladores. No início dos trabalhos havia a preleção possivelmente pelo médio espirita. Nessa noite o homem falou sobre a influência dos espíritos em nossas vidas. Todos os participantes passaram a ouvir tudo o que se expunha naquela hora. O expositor procurou falar sobre os espíritos desencarnados, de pessoas que viveram tempos passados, em nossas vidas e morreram, alguns prematuramente. Se há espíritos desencanados de boa índole, há também aquele que já passaram de uma vida para outra procurando influenciar nas vidas dos que ainda estão encarnados nesse lar de muito mais do que se pode imaginar. Na sequência de sua preleção o homem citou casos difíceis de se entender por mais que esforço fizesse. Após toda essa explicação teve a hora dos passes onde cada um seguiria até a outra sala para receber os passes em fluídos mediúnicos dados em todas as sessões onde se fizesse esses trabalhos. Após os passes, que estivesse “carregado” ficaria para outra sessão onde a pessoa seria submetida a mais um trabalho de ordem mediúnica até o espírito obsessor pudesse seguir a outras direções menos atormentadas.
Acontece que Anita estava com espíritos obsessores atormentando a sua vida. Ela sentia suas presenças. Porém no Centro, nenhum caso ocorreu do que lhe acontecia em certos momentos. Na verdade, no espiritismo quem estava possuído, o espirito obsessor sabia muito bem quando devia se afugentar de momento para voltar horas após a perseguir na sua maldade ao ente desprevenido. Na espiritualidade, os casos ocorrem de várias formas. A obsessão vem grassando da Terra. As perturbações e sofrimentos são mais e mais variados. E dessa vez, Anita sentia as suas doenças da alma. Por meio do caso a moça procurou um Centro mediúnico que lhe acertasse esse domínio. Após receber os passes, ela foi orientada a procurar um outro Centro, pois naquele nada podia ser feito.
Com certeza a moça voltou de mão abanando e decidiu mesmo procurar esses novo Centro, o “Centro Espírita Sintonia” conhecido por todos os frequentadores de tratamentos mediúnicos.  No dia seguinte Anita procurou saber hora e data na certeza de ter maior atenção. Ela sabia desde seu tempo de menor idade que as pessoas teriam encarnações várias vezes na sua vida. Mesmo assim já esquecera de quase tudo. Na tarde do dia seguinte, Anita bateu à portado Centro em busca do amparo à sua aflição. Tão logo chegou foi atendida. O que a moça declarou foi tudo o ocorrido desde seu tempo de juventude. Mesmo desencarnado, já tendo morrido, se bem para entender, os espíritos não morrem. Eles sempre estarão vivos, existindo como uma personalidade a mais. Após esse atendimento, Anita procurou a sala onde os demais médiuns estavam a pregar as histórias dos entes já totalmente mortos ou desencarnados. Espíritos do bem e do mal, com certeza. A moça teve a lembrança de ter ouvido falar e outro Centro que os espíritos maldosos não recebiam o poder de entrar em um centro ativado.
No dia seguinte, sempre no horário da tarde quando a moça já não estava mais no serviço da repartição o Centro iniciava os seus trabalhos às duas horas da tarde. Ela frequentou constantemente as sessões. No tempo Anita ouviu lembrança de entes que um dia viveram entre os demais e agora já estava em um passado procurando a oportunidade de visitar um outro corpo sem saber ao certo o que deveria fazer. O espirito desencarnado vivia num processo constante de influência por não ter o saber de não mais existir nessa vida. Os espíritos vivem em outro plano. Porém, seguem os que estão encarnados ou vivos em busca de ajuda parecendo que eles não conceberam ainda estarem no antigo plano. Eles continuam com seus condicionamentos dando evasões aos seus interesses
Anita
--- Como eu posso dizer ao espirito que ele não é mais desse plano? - - quis saber
Médium.
--- Você não pode dizer porque nunca vai saber se ele escuta ou não. Apenas se pode falar com um médium e através desse ele, o espirito, é que vai saber não estar mais nessa vida. Ou seja. Ele é um espirito de alguém que morreu a agora está desencarnado, quer dizer, em outro plano. –
Anita
--- E seu desejo falar com uma pessoa querida que por certo desencarnou há algum tempo? - -
Médium
--- É possível. Através do sono o espirito vem até você e troca conversa. Mas, lembre-se: tais conversas não são lembradas quando você retorna à realidade, ou seja, acordam desperta. - -
Anita
--- E como é que eu sonho com um parente e ele diz tudo o que não sei ou não sabia? - -
Médium
--- Se o espirito tem permissão de voltar, então ele vem e conversa com você. Há casos de pessoas que conversam aqui mesmo, eles acordados com um espirito de um ente já desencarnado. Varia muito. Tem gente que fala muito com quem já faleceu. Tem outros que nem sequer falam. Assim vai depender da mediunidade de cada qual.
Anita
--- E como eu sei se na verdade era meu amigo? - -
Médium
--- Você não pode saber. Somente um ser amigo é que podem saber. –
Anita
--- Eu posso te dizer algo? - - indagou séria
Médium
--- Sim. Sou todo ouvidos! - -
Anita
--- Pois bem. Certa vez eu falei com uma amiga que havia morrido. Eu estou brincando. Ela me apareceu e nós conversamos ao que parece por uma hora. Eu estava acordada. Era uma manhã de domingo. Os pássaros gorjeavam das arvores do quintal da minha casa. O vento tocava brando. Não havia nada que me perturbasse. Foi num ponto assim que a minha amiga surgiu. Ela me despertou a atenção, coisa que eu não esperava de fato. Nina surgiu como por encanto. Eu até fiquei surpresa. Ela disse que eu não tivesse medo pois estava alí em verdadeira paz. No momento eu fiquei surpresa. Mas logo lembrei de ter recordado de Nina na noite passada. Para bem dizer, eu lembrava sempre da minha amiga. Trajava um vestido branco, estava com seus cabelos como se fosse despenteado. Era a forma de usar seu cabelo. Franzina, mas não magra. Sua cor era alva, como sempre fora. A estatura de um metros e sessenta e cinco, como era ela. Um silvo cortou o ar e então nós conversamos por longo tempo. Ela falou onde estava e que sempre me visitava, mas não podia falar comigo naqueles instantes. E veio então em uma hora que conseguiu como se fosse atravessar o tempo. Então continuou a conversa. Disse ter sido desencarnada por causa de uma enfermidade e agora nada mais sentia. Ela se sentia muito bem. Continuamos a conversar até quando parece ter chegado o seu tempo. Despediu-se e partiu. Partiu, mas não partiu para lugar nenhum. Apenas se evaporou ou coisa assim. Entendeu? - -
Médium
--- Entendi. Mas você nunca esteve em contato com algo espiritual? - -
Anita
--- Outro dia eu vi. Vi memo. Um amigo que já morreu. Desculpe. Desencarnou. Eu entrei em um café, desses que muitos por aí. Mas eu não sabia onde era. Apenas que era um Café. Quando eu adentre vi um rapaz que eu conhecia há vários anos. Ele estava lá. Eu tive um susto e disse-lhe se ele estava ali. Ele apenas me olhou, sorrindo. Eu pedi escusas por ter informado aos nossos amigos da sua morte. Ele sorriu e então nós saímos para outro ponto da cidade onde foi pedido um café. Eu não queria mais. Apenas o acompanhei. Tenho muitos encontros com meus amigos já mortos.
Médium
--- Você sonha? - -
Anita
--- Sim. Eu penso até que já morri. Mas sempre acordo. Alguns sonhos, eu me lembro. Em sua maior parte, não faço ideia.
Médium
--- Você tem família? - -
Anita
--- Pai e mãe. E uma torcera de tios e tios. Primos. Mas não dou muita importância para eles. –
Médium
--- E avós? - -
Anita
--- Todos mortos. O meu pai é motorista de taxi. Minha mãe cuida da casa. Eu trabalho no Estado. Vez por outra vejo um primo. Eu nem falo. Ele também nem liga. - -
Médium
--- Você é invejosa? - -
Anita
--- Isso, não. Para que ter inveja? - -
O médium calou

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