MOÇA
- 01 -
O CENTRO -
Naquela noite, bem cedo ainda, Anita chegou ao Centro
Espírita, noite de sessão, onde já havia várias pessoas. Alguns ficavam apenas
lendo um livro, talvez espirita, e alguns outros a retorcer a cara ou mesmo
sempre a dormir, esperando o tempo passar. Anita, vagarosamente adentrou o
Centro vendo os que estavam na casa e nada comentou. Ela já fora simpatizante e
frequentadora espírita, quando jovem mocinha, mas abandonara tudo por diversas
causas sofridas no caminhar de sua vida. Um namorado, foi a causa principal.
Ele não suportava ser espírita. Um dia, mandou um telegrama desfazendo o seu
relacionamento sentimental. Ela então sorriu e logo após, chorou. E não
entendia porque esse choro. Magoada por sua fraqueza intima se despregou de
todos os encantos. Anita trabalhava em uma repartição do Governo do Estado
tendo assumido o serviço tão logo concluiu seus estudos de segundo Grau. Ela
chegou a pensar em prosseguir a sua Educação. Isso foi tempos atrás. Sua vida
era difícil. O seu ganho era ínfimo e sempre recebia com atraso. A manutenção
do lar era da responsabilidade do próprio pai, motorista de taxis. Seu nome era
José Muniz e a sua mãe, uma mulher dona de casa, Odete Souza Muniz. Como uma
senhora do lar, dona Odete fazia costura para clientes, principalmente vestidos
de meninas, moças e suas mães.
Quando teve início os trabalhos no Centro, a sala estava
repleta de gente. A mesa havia apenas 5 pessoas além de 4 outras no ambiente de
traz, um quarto apertado e servido por apenas dois ventiladores. No início dos
trabalhos havia a preleção possivelmente pelo médio espirita. Nessa noite o
homem falou sobre a influência dos espíritos em nossas vidas. Todos os
participantes passaram a ouvir tudo o que se expunha naquela hora. O expositor
procurou falar sobre os espíritos desencarnados, de pessoas que viveram tempos
passados, em nossas vidas e morreram, alguns prematuramente. Se há espíritos
desencanados de boa índole, há também aquele que já passaram de uma vida para
outra procurando influenciar nas vidas dos que ainda estão encarnados nesse lar
de muito mais do que se pode imaginar. Na sequência de sua preleção o homem
citou casos difíceis de se entender por mais que esforço fizesse. Após toda
essa explicação teve a hora dos passes onde cada um seguiria até a outra sala
para receber os passes em fluídos mediúnicos dados em todas as sessões onde se
fizesse esses trabalhos. Após os passes, que estivesse “carregado” ficaria para
outra sessão onde a pessoa seria submetida a mais um trabalho de ordem
mediúnica até o espírito obsessor pudesse seguir a outras direções menos
atormentadas.
Acontece que Anita estava com espíritos obsessores atormentando
a sua vida. Ela sentia suas presenças. Porém no Centro, nenhum caso ocorreu do
que lhe acontecia em certos momentos. Na verdade, no espiritismo quem estava
possuído, o espirito obsessor sabia muito bem quando devia se afugentar de
momento para voltar horas após a perseguir na sua maldade ao ente desprevenido.
Na espiritualidade, os casos ocorrem de várias formas. A obsessão vem grassando
da Terra. As perturbações e sofrimentos são mais e mais variados. E dessa vez,
Anita sentia as suas doenças da alma. Por meio do caso a moça procurou um
Centro mediúnico que lhe acertasse esse domínio. Após receber os passes, ela
foi orientada a procurar um outro Centro, pois naquele nada podia ser feito.
Com certeza a moça voltou de mão abanando e decidiu mesmo
procurar esses novo Centro, o “Centro Espírita Sintonia” conhecido por todos os
frequentadores de tratamentos mediúnicos.
No dia seguinte Anita procurou saber hora e data na certeza de ter maior
atenção. Ela sabia desde seu tempo de menor idade que as pessoas teriam
encarnações várias vezes na sua vida. Mesmo assim já esquecera de quase tudo.
Na tarde do dia seguinte, Anita bateu à portado Centro em busca do amparo à sua
aflição. Tão logo chegou foi atendida. O que a moça declarou foi tudo o
ocorrido desde seu tempo de juventude. Mesmo desencarnado, já tendo morrido, se
bem para entender, os espíritos não morrem. Eles sempre estarão vivos, existindo
como uma personalidade a mais. Após esse atendimento, Anita procurou a sala
onde os demais médiuns estavam a pregar as histórias dos entes já totalmente
mortos ou desencarnados. Espíritos do bem e do mal, com certeza. A moça teve a
lembrança de ter ouvido falar e outro Centro que os espíritos maldosos não
recebiam o poder de entrar em um centro ativado.
No dia seguinte, sempre no horário da tarde quando a moça já
não estava mais no serviço da repartição o Centro iniciava os seus trabalhos às
duas horas da tarde. Ela frequentou constantemente as sessões. No tempo Anita
ouviu lembrança de entes que um dia viveram entre os demais e agora já estava
em um passado procurando a oportunidade de visitar um outro corpo sem saber ao
certo o que deveria fazer. O espirito desencarnado vivia num processo constante
de influência por não ter o saber de não mais existir nessa vida. Os espíritos
vivem em outro plano. Porém, seguem os que estão encarnados ou vivos em busca
de ajuda parecendo que eles não conceberam ainda estarem no antigo plano. Eles
continuam com seus condicionamentos dando evasões aos seus interesses
Anita
--- Como eu posso dizer ao espirito que ele não é mais desse
plano? - - quis saber
Médium.
--- Você não pode dizer porque nunca vai saber se ele escuta
ou não. Apenas se pode falar com um médium e através desse ele, o espirito, é
que vai saber não estar mais nessa vida. Ou seja. Ele é um espirito de alguém
que morreu a agora está desencarnado, quer dizer, em outro plano. –
Anita
--- E seu desejo falar com uma pessoa querida que por certo
desencarnou há algum tempo? - -
Médium
--- É possível. Através do sono o espirito vem até você e
troca conversa. Mas, lembre-se: tais conversas não são lembradas quando você retorna
à realidade, ou seja, acordam desperta. - -
Anita
--- E como é que eu sonho com um parente e ele diz tudo o que
não sei ou não sabia? - -
Médium
--- Se o espirito tem permissão de voltar, então ele vem e
conversa com você. Há casos de pessoas que conversam aqui mesmo, eles acordados
com um espirito de um ente já desencarnado. Varia muito. Tem gente que fala
muito com quem já faleceu. Tem outros que nem sequer falam. Assim vai depender
da mediunidade de cada qual.
Anita
--- E como eu sei se na verdade era meu amigo? - -
Médium
--- Você não pode saber. Somente um ser amigo é que podem
saber. –
Anita
--- Eu posso te dizer algo? - - indagou séria
Médium
--- Sim. Sou todo ouvidos! - -
Anita
--- Pois bem. Certa vez eu falei com uma amiga que havia
morrido. Eu estou brincando. Ela me apareceu e nós conversamos ao que parece
por uma hora. Eu estava acordada. Era uma manhã de domingo. Os pássaros
gorjeavam das arvores do quintal da minha casa. O vento tocava brando. Não
havia nada que me perturbasse. Foi num ponto assim que a minha amiga surgiu.
Ela me despertou a atenção, coisa que eu não esperava de fato. Nina surgiu como
por encanto. Eu até fiquei surpresa. Ela disse que eu não tivesse medo pois
estava alí em verdadeira paz. No momento eu fiquei surpresa. Mas logo lembrei
de ter recordado de Nina na noite passada. Para bem dizer, eu lembrava sempre
da minha amiga. Trajava um vestido branco, estava com seus cabelos como se
fosse despenteado. Era a forma de usar seu cabelo. Franzina, mas não magra. Sua
cor era alva, como sempre fora. A estatura de um metros e sessenta e cinco,
como era ela. Um silvo cortou o ar e então nós conversamos por longo tempo. Ela
falou onde estava e que sempre me visitava, mas não podia falar comigo naqueles
instantes. E veio então em uma hora que conseguiu como se fosse atravessar o
tempo. Então continuou a conversa. Disse ter sido desencarnada por causa de uma
enfermidade e agora nada mais sentia. Ela se sentia muito bem. Continuamos a
conversar até quando parece ter chegado o seu tempo. Despediu-se e partiu.
Partiu, mas não partiu para lugar nenhum. Apenas se evaporou ou coisa assim.
Entendeu? - -
Médium
--- Entendi. Mas você nunca esteve em contato com algo
espiritual? - -
Anita
--- Outro dia eu vi. Vi memo. Um amigo que já morreu.
Desculpe. Desencarnou. Eu entrei em um café, desses que muitos por aí. Mas eu
não sabia onde era. Apenas que era um Café. Quando eu adentre vi um rapaz que
eu conhecia há vários anos. Ele estava lá. Eu tive um susto e disse-lhe se ele
estava ali. Ele apenas me olhou, sorrindo. Eu pedi escusas por ter informado
aos nossos amigos da sua morte. Ele sorriu e então nós saímos para outro ponto
da cidade onde foi pedido um café. Eu não queria mais. Apenas o acompanhei.
Tenho muitos encontros com meus amigos já mortos.
Médium
--- Você sonha? - -
Anita
--- Sim. Eu penso até que já morri. Mas sempre acordo. Alguns
sonhos, eu me lembro. Em sua maior parte, não faço ideia.
Médium
--- Você tem família? - -
Anita
--- Pai e mãe. E uma torcera de tios e tios. Primos. Mas não
dou muita importância para eles. –
Médium
--- E avós? - -
Anita
--- Todos mortos. O meu pai é motorista de taxi. Minha mãe
cuida da casa. Eu trabalho no Estado. Vez por outra vejo um primo. Eu nem falo.
Ele também nem liga. - -
Médium
--- Você é invejosa? - -
Anita
--- Isso, não. Para que ter inveja? - -
O médium calou
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