ASSOMBRAÇÕES
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TEMPO -
O tempo passou. Fazia mais de uma semana que a moça Anita de
Souza Muniz não aparecia no Centro para assistir as Sessões Espíritas que havia
um dia e outro não naquela casa de orações e paz. O tempo esteve meio
carrancudo e certamente talvez por conta disso tudo, a coisa pois fim a esse
negócio, pensou assim o Médium. Por ter diversas obrigações no Centro, o homem
nem mais ligou, apesar de Anita ter sido uma boa companheira nas noites em que
os dois estavam a dialogar sobre o Espiritismo. O médium era um homem de certa
idade, chamado por senhor Euclides Dumaresque, de pele clara e poucas chagas na
face. De corpo meio médio, sem barriga ele era um homem sorridente para com
todos os participantes. Aposentado, por sinal, seu Dumaresque, durante o dia
contavas estrelas e dialogava com velhos amigos na praça central da cidade. Por
um tempo, Dumaresque chegou a ser Maçom, deixando a Ordem sem motivo algum.
Apenas parou de frequentar as sessões que se celebrava uma vez por semana. Como
espírita assíduo, talvez por isso, Dumaresque deu de mão com a Maçonaria,
fincando apenas mais achegado com as sessões espíritas. Uma noite, porém,
Dumaresque foi tomado de surpresa quando viu entrar de porta a dentro a figura
de Anita Muniz. Cumprimentos afáveis e a moça foi dizendo que o tempo fazia com
que ela desaparecesse por milagre. E então, sorriu. Houve a sessão e logo após
terminada, o senhor Dumaresque foi conversar com Anita antes de poder sair para
a sua casa. E então, Anita relatou ao Médium que por muitos dias estava ouvindo
vozes estranhas, sempre quando se deitava para dormir. O médium se interessou
logo que a moça falou
Médium
--- Vozes como. Pode me contar? - - perguntou interessado em
saber mais
Anita
--- São vozes que surgem ao mesmo tempo que aparecem vultos e
várias coisa de tal natureza. Em casa, meus pais nunca deram importância por demais
pelo fato de serem eles evangélicos. Não que sejam evangélicos puritanos. Mesmo
assim, o meu pai é evangélico. E minha mãe vai atrás. Uma vez ou outra eles
frequentam a Igreja, sempre em tempos de Festa ou quando algum amigo os
convida. Eu sou espírita e lá em casa, onde eu moro, existe um barracão onde
meu pai cuida do carro, uma vez que ele é motorista de taxis. Por fim guarda de
tudo um pouco. É uma “catrevagem” só. Certo dia, por volta das sete horas da
noite eu tinha tomado banho e saído com a toalha em volta a cabeça. Claro. Eu
também estava vestida com um roupão
O médium Dumaresque apenas sorriu para lembrança retardada de
Anita o que fez a indagar por que o sorriso maroto.
Médium
--- Por nada. Apenas sorri do seu relato interessante. Vamos
à frente. - - continuou o homem.
A moça o olhou desconfiada e logo após prosseguiu.
Anita
--- Bem. Como eu dizia. Então logo entrei no meu quarto para
ajeitar meu cabelo. E quando eu olhei para a janela do quarto, eu vi uma pessoa
vestida de branco cruzando a janela. Para dizer, a janela dava para um beco e
logo após tinha uma casa. E para se chegar à casa do vizinho tinha que se pular
o muro que também tinha outro beco.
Médium
--- Faço ideia de como é. - - relatou
Anita
--- Pois bem. É assim. Mas a janela tem um vidro trabalhado
que deixa a imagem de fora, distorcida. Mas eu não identifiquei quem era.
Apenas era alguém de branco, passando. E
eu percebi de imediato que não era alguém de carne e osso. Não era alguém desse
mundo. Mas eu tentei pensar que fosso alguém que estivesse com seu carro
quebrado e procurou o meu pai para consertar, com certeza.
Médium
--- Teu pai estava no barracão? - -
Anita
--- Sabe que eu nem pensei! Talvez estivesse! Não sei ao
certo! Naquela hora não pensei no caso. Só que passou o tempo e ninguém entrou!
E eu cheguei a indagar de minha mãe, se alguém tinha entrado a procura do meu
pai. E minha respondeu que não. O meu pai não chegara ainda até aquela hora. E
dentro de casa só estava ela, a minha mãe. E mais ninguém. Podia ser alguém que
entrou, foi até o barracão, não viu meu pai, e saiu. Mas, na hora, caiu a ficha
e eu, logo imaginei ser então um espirito, porque o beco estava até fechado de
cadeado. Por tanto não era gente. –
Médium
--- Já era tempo de você ver essas coisas. Espíritos surgem e
desaparecem assim mesmo, de repente. Vocês moram nessa casa há muito tempo? - -
Anita
--- Alguns anos. Eu ainda era menina. Mas não me lembro de
ter visto uma alma ou coisa assim. Eu sei que gelei e de imediato fui até a
casa do seu Neco falar sobre o ocorrido. Tremia só que vara verde. Certo que eu
frequento essa Casa. Mas, um negócio me aparecer assim? Não! Nem imagino! Seu
Neco, o velho que também é espírita reportou que aquilo era comum. Muitas almas
andam vagando por aí. Ele disse que está acostumado com isso. E muitas dessas
almas procuram ajuda. Outras, querem perturbar. Quando essas almas aparecem é
quanto menos se espera. Nunca você veja uma alma de costa, me disse o velho.
Porque quando alguém vê uma alma de costa, fica tão apavorada que muitas vezes,
morre.
Médium
--- Você já me disse! Tem casos dessa natureza pelo baixo
espiritismo. - - destacou
Anita
--- É verdade mesmo? - - quis saber alarmada.
Médium
--- Tudo pode ocorrer no mundo eterno. - - relatou sem temor
Anita
--- Pois é. Eu vi. Sei lá se costa ou não. Mas seu Neco me
disse que a alma de costa tem de tudo como igual a uma peneira. A gente vê de
um lado para o outro! Coisa horrível! Eu, heim? Pelo amor de Deus! Talvez algumas
tenham! Talvez isso tenha algum fundamento da cultura. Os ancestrais. - - alertou
com cuidado
Médium
--- Tem casos surpreendentes. Casos que, na verdade, nunca se
ouviu falar. Certa vez, estava havendo na Faculdade de Medicina uma aula de necropsia
quando se abre um defunto para informar do que houve a morte real. Se foi de
tiro, ou afogado, acidente e mesmo de morte natural. Certa vez, estava havendo
uma aula desse sentido e havia uma estudante um tanto cética que não acreditava
em espírito e coisas mais. E nessa aula a estudante começou a zombar dos
defuntos que ali estavam. Com os mortos que estavam sem roupa, completamente
nus. E havia em especial um senhor que já morrera. Esse morto, ele estava
estirado em uma bandeja ou tanque de glicerina para conservar cadáveres. E a
estudante a recitar piadas com falar para o homem se ele não tinha vergonha,
deitado, sem roupa. A moça passou o dia todo a chacoalhar os defuntos. No dia
seguinte, na sala de aula quando os alunos estavam prontos para contar suas experiências
uma aluna se levantou da banca de alertou.
Aluna
--- Eu quero desistir do curso! - - falou a moça que no dia
anterior menosprezou os cadáveres.
Médium
--- Ninguém entendeu a proposta. Estavam faltando seis meses
para a se ter a conclusão do curso e a moça demonstrou bastante assustada. Na sequência
alguém indagou o por que ela desistira do curso de Medicina. Então, a estudante
declarou ter visto “aquele” senhor que estava morto no necrotério. Depois de
muito choro, a moça conseguiu falar com emoção
Aluna
--- Lembra daquele homem de a gente viu no necrotério? - -
Médium
--- Naquele mesmo dia, ela chegou em casa, muito cansada,
como sempre, tomou um banho e se deitou para dormir. Quando foi pela madrugada,
ela acordou imóvel na cama, como se alguém a segurasse de modo estranho. A
estudante estava totalmente nua e não conseguia se mover de forma alguma para
qualquer lado. Então a estudante sentiu uma forma humana a observa-la. No
interior de sua casa, todas as luzes estavam apagadas. Assim, a estudante
conseguiu virar o olho para a direita e nesse momento divisou o mesmo homem que
estava no necrotério naquele dia passado.
Anita
--- Que susto! Ela viu mesmo? De carne e osso? - - indagou
amedrontada
Médium
--- Sim. Ela declarou bem isso. O homem estava alí, com o
rosto bem próximo ao dela. E esse homem tinha um cheiro podre e parecia que ele
estava vestido com uma camisola de hospital. Passados segundos, o homem ficou
em igual posição, apensas a olhar para a estudante. A moça tentou gritar com
muito esforço até que enfim o homem simplesmente sumiu. A estudante chegou logo
cedo a Faculdade desistindo de continuar seus estudos por ter certeza de que
viu na noite passada não ter sido um sonho, pois quando ela despertou, estava
nua, na cama em seu quarto. Ela lembrou das piadinhas que soltou no dia
anterior e aquilo fez a moça delirar ao ponto de abandonar o estudo da Medicina
de vez.
Anita
--- As piadas com o corpo do velho foi um caso surpreendente!
Nem eu! - - disse a moça
Médium
--- É assim. Quando não se espera, acontece! E nunca mais a
estudante quis lidar com gente morta ou gente prestes a morrer. As pessoas ao
lidar com mortos têm de ter o maior respeito humano. É por isso que nós
ensinamos não brincar com os mortos. Apenas de estarem mortos, eles estão vivos
em outras esferas. E eles são espíritos. E não precisam andar por aí a fora.
Anita
--- Verdade. Eu sei disso - - confirmou com cuidado
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