- FÚRIA DOS DEUSES -
- 09 -
DEUSES -
No dia seguinte, logo pela manhã,
bem cedo ainda, chegava o pintor e a sua ajudante, Solange, com uma carga de
forro conduzindo às costas. Era manhã de sol, mesmo assim fazia calor imenso
pondo os dois em terrível agonia pelo suor a descer de costa abaixo. Um tanto
cansados os dois carregadores arriaram na calçada do bar todo aquele pesado
entulho. Dona Zefinha chegou de imediato, assustada com tanta mercadoria, uma
vez ter nem pensado em tal fardo pesado conduzido pelo pintor. Em seguida
também veio acudir a moça Lourdes. Ao pegar na carga, Lourdes declarou:
Lourdes
--- Pesado! Pega nisso! Ave
Maria! - - a moça ficou confusa.
Pintor
--- É pesado. Mas, vamos subir
para pregar o forro. Aquele homem pode ajudar? - - indagou a se referir a Rapa
Coco.
Rapa Coco
--- Posso não, mestre. Tenho um
defeito no ombro. - - de imediato caiu fora da empreitada.
Pintor
--- Está bem. Eu me ajudo com
Solange, minha ajudante. - -
Hélio
--- Eu ajudo. Diga o que fazer. -
- respondeu Hélio, o mecânico.
Hélio vinha chegando ao Bar de
dona Zefinha e logo que notou o sacrifício do pintor se pôs a ajudar no serviço
de cobrir a casa colocando o forro. Era um serviço e tanto. E tanto foi que
outros ajudantes se aproximaram dando com suas magras forças todo aquele
punhado de forro para o mestre homem. Na soberba e exótica força cada qual
fazia o manuseio de pôr para o alto as finas nervuras de forro. Foi uma luta
escaldante. Coisa de duas horas ou mais. Então, tudo estava acabado. O forro
estava assentado em seu devido lugar.
Pintor
--- Pronto. Tudo está terminado.
Agradeço a vocês pelo esforço que fizeram. - -
Zefinha
--- Um instante. Agora todos
vocês vão beber. - -
Pintor
--- Eu não. Fica para os demais.
- -
E os costumeiros com a cachaça
ouviram a promessa da dona entrando assim na fuzarca. Somente o Pintor, Hélio e
Solange, a ajudante do pintor ficaram de fora. Os negócios do bar estavam
paralisados. Lourdes, Zuleide e até mesmo Rapa Coco foram cuidar do desarrumado.
Almoço, naquela manhã, não houve. Apenas esfregar o chão e colocar tudo em
ordem. Era o início de um novo progresso na vendagem de todos os dias. Às duas
horas da tarde estava tudo acabado para se começar uma nova vida. O Pintor
agradeceu a atenção e partiu para outro serviço prometendo voltar no dia
seguinte quando cuidaria de fazer os acertos de um palco e colocar nas cortinas.
Com ele também seguiu a sua auxiliar.
Dia chagava ao seu fim quando o bar abria suas portas para os demais
habituais. Às sete horas da noite chegou ao bar o médico, doutor Lister. Ao
penetrar no recinto olhou bem o que havia sido feito e sem querer, sorriu.
Lourdes se acercou do médico e indagou
Lourdes
--- Está melhor agora? - -
perguntou sorrindo
Lister
--- Pelo visto, está bem melhor.
- - respondeu.
Com um pouco de costume verificou
o que estava feito. E relatou afinal.
Lister
--- Algo mais a fazer? - -
Lourdes
--- Um palco. O rapaz vem amanhã.
Espero. - -
Lister
--- Palco? - - indagou surpreso.
Lourdes
--- Sim. Palco, cortina. O Pintor
que fazer um local de conferências, lançamento de livros, uma espécie de boate,
cantores e coisas assim. - -
Lister
--- Ah. Já sei. Como nos Estados
Unidos. Luzes, talvez. Um ambiente aconchegante. Autores de livros. Excelente.
Excelente. - - declarou a olhar as pinturas do bar.
Lourdes
--- Talvez. Talvez. Eu não
entendo bem dessa arte. - - sorriu
Lister
--- Ah. Bom. Agora indago: algo
de se comer? - -
Lourdes
--- Caldo de peixe? Ou algo mais
suculento? - - sorriu
Lister
--- Vejamos o peixe. - -
respondeu
Um pouco além o homem foi servido
com vinho e um caldo de peixe. Aproveitando acertou a conversa alegando ser um
tipo assustador. Se a moça pudesse ouvir, ele começaria o relato. E a moça
respondeu.
Lourdes
--- Pode falar. Sou todos ouvidos.
- - afirmou
Lister
--- Bem. O que eu vou relatar é
assustador. Muito forte. Terrível. Apavorante e tenebroso. Estranhas reações
pode se sentir no corpo, na mente, na alma e no espírito. As verdades que você
vai ouvir encontram-se registradas nos livros antigos. Os Livros Sagrados. Nas
Palavras dos Antigos. A existência do Inferno e a descrição quase que
inacreditável do sofrimento, do pavor, da loucura. Das dores, dos gritos, da
agonia, do desespero e do tormento são fatos que jamais terão um fim. - -
E Lister olhou bem forte para
Lourdes observando a sua reação.
Lourdes
--- Pode prosseguir. Estou a
ouvir. - - falou séria
Lister
--- Os mortais enfrentarão o
poder das trevas. O lago ardente de fogo e enxofre os letais enfrentam os
animais imortais onde as chamas nunca se apagam. Legiões demoníacas e, por fim,
o vivente saberá que é Satanás, o Deus do Amargedom. O Inimigo, o Destruidor, o
Rei do Mal, o Senhor da Escuridão com a sua cara do Terror. Os gritos
lancinantes varrem todos os confins do inferno como súplica de dor. Os
condenados chamam de malditos as estranhas figuras do mal enquanto os macabros
senhores caminham sobre eles. Horrores. Hediondos. Demoníacos. Entende? - -
indagou com um rosto encrespado
Lourdes
--- Pelo que observo, é o Cão. -
- respondeu a moça
Lister
--- Isso. É a Besta. A Besta a
perseguir quem jamais procurou um Deus. O Demônio apenas diz que os suplicantes
estão no seu reino, o Inferno, na Escuridão Eterna onde a dor e pranto é um
verdadeiro tormento. Creio que o Demônio exige que os pecadores os adorem para
sempre. - -
Lourdes
--- E tem quem acredite nesse
Demônio? - - quis saber
Lister
--- Bem. Ele está em todo o lugar
catando as almas. Em um bar, um hotel, um lupanar. Em qualquer canto. Ele
apenas procura as almas penadas para levar para o seu Reino. Esses imundos, sem
pudor. Os mentirosos, os estupradores. Todos esses que o Demônio sabe muito bem
quem é. - -
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