- MASAYA -
- 14 -
O INFERNO -
Lourdes tinha concluído o serviço
na cozinha e veio para o setor de atendimento. Pouca gente àquela hora.
Precisamente 4 horas da tarde. Ela observou o seu relógio de pulso para saber o
tempo. E nem notou de verdade. A garçonete Zuleide limpava as bancas e dona
Zefinha contava os niques para saber quanto tinha apurado durante o dia. Ela
olhou para fora e viu passar um carro. Nada mal. Um pouco mais de tempo, pois
ainda era cedo para atender a freguesia, Lourdes observou o rapaz do posto de
gasolina. Esse rapaz abastecia um automóvel e conversava sobre alguma coisa com
o proprietário do auto. Ela voltou para o interior do bar e voltou a se sentar
em uma banca. De repente surgiu à porta o doutor Lister. Era cedo para cuidar
das bebidas. Mas ele estava alí, sombrio e alheio. A moça se levantou e foi
atender ao médico.
Lourdes
--- Cedo, heim? - - abriu o
diálogo.
Lister
--- Vim ver se encontrava o
Pintor. - - falou
Lourdes
--- Ele esteve logo cedo e depois
saiu. Uísque? - - quis saber.
Lister
--- É cedo. -- - e apalpou a
barriga
Lourdes
--- Quase cinco. - - respondeu
O homem olhou para o seu relógio
de pulso e confirmou.
Lister
--- Faltam 15 - - e nada mais
falou. Apenas ficou a olhar as gravuras do teto e as luminárias pendentes
Alguem falo lá dentro do bar. A
sua dona, Zefinha. Ela dialogou como qualquer coisa com a garçonete. Essa,
sorriu. A mulher observou bem rápida o médico e nada indagou. Lourdes estava a
conversar com Lister e indagou.
Lourdes
--- Inferno! O senhor sabe o que
é isso? - - quis saber,
Lister
--- Inferno? É a busca que o povo
sempre busca no seu interior. Buscar um abismo de morte, a morte, a maldade.
Qualquer coisa assim. O inferno é o responsável por nossos maiores males.
Sofrimento, dor por toda a eternidade. Que mais? - - quis saber
Lourdes
--- Nada. Apenas quis saber. A
gente, às vezes clama esse nome. Só isso. - - sorriu.
Lister
--- Para alguns, o Inferno não só
é real, como pode ser encontrado aqui na Terra. Na Islândia tem cavernas
escuras escondida sob as florestas. Também tem na África. Esses lugares remotos
têm algo em comum. Acredita-se que todos é uma antiga entrada para o Inferno.
Há milhares de anos em diferentes culturas as pessoas acreditam que o Inferno
está bem em baixo dos nossos pés. - -
Lourdes
--- Nossa! – - e encolheu seus
pés.
Lister
--- Acreditava-se que o Inferno
era um local físico. Um lugar sob a Terra e que podíamos visitar e ver com
nossos próprios olhos. Há seis entradas do Inferno por todo o Globo que
conectam com o Mundo dos vivos com o Mundo dos Mortos. Nesses locais remotos
exploradores escavam passagens que já foram consideradas entradas para outro
Mundo. Na história das religiões é possível encontrar evidencias de cavernas ou
aberturas vulcânicas que as pessoas acreditavam serem entradas para o submundo.
- -
Lourdes coçou seus pés como se
estivessem cheios de formigas. Um pé sobre o outro. E relatou.
Lourdes
--- Mas é verdade isso? - -
apavorada, porém tranquila.
Lister
--- Geralmente esses portões do
Inferno são encontrados em lugares áridos como desertos, vulcões em erupção, ilhas,
cavernas. São esses pontos geográficos onde se pode encontrar um Portão para o
Inferno. É impressionante, isso. Entrar em um lugar como esse é muito perigoso.
Muitas das pessoas que foram a esses locais, nunca saíram. Pareciam um abismo.
Um posso sem fim. É aterrorizante. Cada local e cada lenda apresentam visões
assustadoramente semelhantes do submundo. - - relatou
Lourdes
--- O que nos aguarda quanto
passarmos pelos portões para o Inferno? - - indagou sorrindo com amargura
Lister
--- Uma pergunta embriagante. No
coração da Nicarágua, apenas a trinta e dois quilometros de Manágua, a capital
há um imenso abismo da Terra. Um vulcão chamado Masaya. Mas há séculos ele é
conhecido por um nome mais sinistro: Boca do Inferno. A abertura do Masaya é
quase inacreditável. É um gigantesco abismo, uma rachadura na Terra e nem se
imagina para onde esse buraco leva. - -
Lourdes
--- Incrível. Eu estou com medo!
- - disse a moça coçando os seus pés.
O médico sorriu. E continuou.
Lister
--- Por milhares de anos o Masaya
vem exalando uma fumaça assustadora podendo ser vista há quilometros de
distância. Parece que o vulcão está vivo. Ele exala um gás tóxico. E se eleva e
se curva como se fosse uma criatura viva. No topo da cratera imensa há uma
cruz. Uma indicação da história profana de Masaya. Por séculos, histórias
sombrias de morte e sacrifício humano cercavam o vulcão. - -
Lourdes
--- Matam gente nesse Vulcão? - -
agoniada
Lister
--- Gente que foi a caverna
relatou ser como se estivesse entrando na Boca da Terra. É, realmente, uma
experiência bem assustadora. Na verdade, geólogos estiveram bem em cima do fogo
da cratera. Do fogo do vulcão. E se pode sentir as ondas de calor vindas do
fogo bem abaixo. Apesar do tempo, os nativos ainda o chamam de Boca do Inferno.
Há centenas de anos os nativos acreditavam que esse local era uma entrada
sagrada para o Mundo dos Mortos. E fizeram de tudo para acalmar os Deuses que
viviam lá embaixo. O vulcão testemunhou rituais de mortes. Os nativos faziam
sacrifícios humanos. Eles jogavam pessoas na cratera. Homens, mulheres e
crianças foram sacrificados. Eles pesavam se, porventura, descessem nunca mais
voltariam. - - relatou
Lourdes
--- Meu Deus do Céu. Isso não
pode ocorrer! - - temerosa.
Lister
--- Histórias desses rituais
sombrios se espalharam. No início do século 16, frades católicos espanhóis
foram atraídos ao Masaya para conhece-lo pessoalmente. Eles sabiam que o Portão
do Inferno era descrito do livro do Apocalipse como um abismo sem fim, em
chamas, cuja fumaça escondia o Sol. Após verem Masaya os frades se convenceram
de que era o próprio Inferno. Eles acreditavam que havia algo demoníaco lá
dentro. Um frade tomou uma atitude inacreditável: ele entrou na Boca do vulcão
para investigar. E sua única proteção era uma cruz de madeira. - -
Lourdes
--- Ele viu o demônio? - -
perguntou assombrada.
Lister
--- Descer na cratera do vulcão
foi uma atitude muito arriscada. Sem dúvidas a coragem desses espanhóis é de
admirar. O frade ficou horrorizado com o que viu dentro da cratera. Um abismo
monstruoso em chamas. Para o frade, não restavam dúvidas de que era a entrada
do Inferno e que ele estava à porta de Satanás.
Lourdes
--- Mas por que ele tinha certeza
de que era o Portão para o Inferno? - - quis saber assustada
O médico, então, sorriu e calou
de vez. A sua mudez foi o ponto alto do clamoroso Inferno.
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