terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

LAGO AZUL - 14

- MASAYA -
- 14 -
O INFERNO -

Lourdes tinha concluído o serviço na cozinha e veio para o setor de atendimento. Pouca gente àquela hora. Precisamente 4 horas da tarde. Ela observou o seu relógio de pulso para saber o tempo. E nem notou de verdade. A garçonete Zuleide limpava as bancas e dona Zefinha contava os niques para saber quanto tinha apurado durante o dia. Ela olhou para fora e viu passar um carro. Nada mal. Um pouco mais de tempo, pois ainda era cedo para atender a freguesia, Lourdes observou o rapaz do posto de gasolina. Esse rapaz abastecia um automóvel e conversava sobre alguma coisa com o proprietário do auto. Ela voltou para o interior do bar e voltou a se sentar em uma banca. De repente surgiu à porta o doutor Lister. Era cedo para cuidar das bebidas. Mas ele estava alí, sombrio e alheio. A moça se levantou e foi atender ao médico.
Lourdes
--- Cedo, heim? - - abriu o diálogo.  
Lister
--- Vim ver se encontrava o Pintor. - - falou
Lourdes
--- Ele esteve logo cedo e depois saiu. Uísque? - - quis saber.
Lister
--- É cedo. -- - e apalpou a barriga
Lourdes
--- Quase cinco. - - respondeu
O homem olhou para o seu relógio de pulso e confirmou.
Lister
--- Faltam 15 - - e nada mais falou. Apenas ficou a olhar as gravuras do teto e as luminárias pendentes
Alguem falo lá dentro do bar. A sua dona, Zefinha. Ela dialogou como qualquer coisa com a garçonete. Essa, sorriu. A mulher observou bem rápida o médico e nada indagou. Lourdes estava a conversar com Lister e indagou.
Lourdes
--- Inferno! O senhor sabe o que é isso? - - quis saber,
Lister
--- Inferno? É a busca que o povo sempre busca no seu interior. Buscar um abismo de morte, a morte, a maldade. Qualquer coisa assim. O inferno é o responsável por nossos maiores males. Sofrimento, dor por toda a eternidade. Que mais? - - quis saber
Lourdes
--- Nada. Apenas quis saber. A gente, às vezes clama esse nome. Só isso. - - sorriu.
Lister
--- Para alguns, o Inferno não só é real, como pode ser encontrado aqui na Terra. Na Islândia tem cavernas escuras escondida sob as florestas. Também tem na África. Esses lugares remotos têm algo em comum. Acredita-se que todos é uma antiga entrada para o Inferno. Há milhares de anos em diferentes culturas as pessoas acreditam que o Inferno está bem em baixo dos nossos pés. - -
Lourdes
--- Nossa! – - e encolheu seus pés.
Lister
--- Acreditava-se que o Inferno era um local físico. Um lugar sob a Terra e que podíamos visitar e ver com nossos próprios olhos. Há seis entradas do Inferno por todo o Globo que conectam com o Mundo dos vivos com o Mundo dos Mortos. Nesses locais remotos exploradores escavam passagens que já foram consideradas entradas para outro Mundo. Na história das religiões é possível encontrar evidencias de cavernas ou aberturas vulcânicas que as pessoas acreditavam serem entradas para o submundo. - -
Lourdes coçou seus pés como se estivessem cheios de formigas. Um pé sobre o outro. E relatou.
Lourdes
--- Mas é verdade isso? - - apavorada, porém tranquila.
Lister
--- Geralmente esses portões do Inferno são encontrados em lugares áridos como desertos, vulcões em erupção, ilhas, cavernas. São esses pontos geográficos onde se pode encontrar um Portão para o Inferno. É impressionante, isso. Entrar em um lugar como esse é muito perigoso. Muitas das pessoas que foram a esses locais, nunca saíram. Pareciam um abismo. Um posso sem fim. É aterrorizante. Cada local e cada lenda apresentam visões assustadoramente semelhantes do submundo. - - relatou
Lourdes
--- O que nos aguarda quanto passarmos pelos portões para o Inferno? - - indagou sorrindo com amargura
Lister
--- Uma pergunta embriagante. No coração da Nicarágua, apenas a trinta e dois quilometros de Manágua, a capital há um imenso abismo da Terra. Um vulcão chamado Masaya. Mas há séculos ele é conhecido por um nome mais sinistro: Boca do Inferno. A abertura do Masaya é quase inacreditável. É um gigantesco abismo, uma rachadura na Terra e nem se imagina para onde esse buraco leva. - -
Lourdes
--- Incrível. Eu estou com medo! - - disse a moça coçando os seus pés.
O médico sorriu. E continuou.
Lister
--- Por milhares de anos o Masaya vem exalando uma fumaça assustadora podendo ser vista há quilometros de distância. Parece que o vulcão está vivo. Ele exala um gás tóxico. E se eleva e se curva como se fosse uma criatura viva. No topo da cratera imensa há uma cruz. Uma indicação da história profana de Masaya. Por séculos, histórias sombrias de morte e sacrifício humano cercavam o vulcão. - -
Lourdes
--- Matam gente nesse Vulcão? - - agoniada
Lister
--- Gente que foi a caverna relatou ser como se estivesse entrando na Boca da Terra. É, realmente, uma experiência bem assustadora. Na verdade, geólogos estiveram bem em cima do fogo da cratera. Do fogo do vulcão. E se pode sentir as ondas de calor vindas do fogo bem abaixo. Apesar do tempo, os nativos ainda o chamam de Boca do Inferno. Há centenas de anos os nativos acreditavam que esse local era uma entrada sagrada para o Mundo dos Mortos. E fizeram de tudo para acalmar os Deuses que viviam lá embaixo. O vulcão testemunhou rituais de mortes. Os nativos faziam sacrifícios humanos. Eles jogavam pessoas na cratera. Homens, mulheres e crianças foram sacrificados. Eles pesavam se, porventura, descessem nunca mais voltariam. - - relatou
Lourdes
--- Meu Deus do Céu. Isso não pode ocorrer! - - temerosa.
Lister
--- Histórias desses rituais sombrios se espalharam. No início do século 16, frades católicos espanhóis foram atraídos ao Masaya para conhece-lo pessoalmente. Eles sabiam que o Portão do Inferno era descrito do livro do Apocalipse como um abismo sem fim, em chamas, cuja fumaça escondia o Sol. Após verem Masaya os frades se convenceram de que era o próprio Inferno. Eles acreditavam que havia algo demoníaco lá dentro. Um frade tomou uma atitude inacreditável: ele entrou na Boca do vulcão para investigar. E sua única proteção era uma cruz de madeira. - -
Lourdes
--- Ele viu o demônio? - - perguntou assombrada.
Lister
--- Descer na cratera do vulcão foi uma atitude muito arriscada. Sem dúvidas a coragem desses espanhóis é de admirar. O frade ficou horrorizado com o que viu dentro da cratera. Um abismo monstruoso em chamas. Para o frade, não restavam dúvidas de que era a entrada do Inferno e que ele estava à porta de Satanás.
Lourdes
--- Mas por que ele tinha certeza de que era o Portão para o Inferno? - - quis saber assustada
O médico, então, sorriu e calou de vez. A sua mudez foi o ponto alto do clamoroso Inferno.

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