- FEIRA -
- 11 -
GRAVIOLA -
No dia seguinte, pela manhã antes
das 6 horas, tudo estava arrumado e Lourdes colocou em sua cabeça um cesto de
comidas típicas que dona Zefinha havia preparado. Seu Geraldo já estava no
carro e tocou no arranco para ver se o carro pegava. E pegou. Ele sorriu. Saiu
para fora orgulhoso pois pela vez primeira não seria preciso empurrar o
veículo. Lourdes colocou o cesto para dentro do carro e ficou à espera de dona
Zefinha com suas mãos nos quadris. O vento frio do dia acalmava tudo a todo
instante. O vendedor de pescado passou com o seu cardume de peixe sem ao menos
oferecer a quem quisesse comprar. Umas mulheres passaram como quem voltava para
ir até a praia onde fara arrumação de lavagem de roupa nas cacimbas abertas a
beira mar. Lourdes apenas olhou para as mulheres e nada falou. Seu Geraldo
observou o céu quase limpo e relatou.
Geraldo
--- Não chove hoje. É verão,
afinal. - - e cuspiu de lado.
Dona Zefinha veio mais que depressa
e foi dizendo.
Zefinha
--- Vamos! Vamos! Estou atrasada!
- - -
Geraldo
--- Olha quem fala. Estou aqui há
horas. – - e entrou no seu auto.
Lourdes
--- Tá tudo em ordem, Zefa? - -
indagou
Zefinha
--- Acho que não falta nada.
Vamos. - - - respondeu a mulher toda assanhada em seus cabelos.
E o carro partiu com toda
velocidade que lhe permitia naquela hora, bem cedo da manhã. O homem passou por
uma bodega e viu gente a comprar coisas para o seu café matinal. Um padeiro
saía da venda onde havia deixado seus pães da manhã. Lourdes falou.
Lourdes
--- E a Terra? - - se dirigiu a
Geraldo
Geraldo
--- A Terra? Milhões de anos. O
Padre contou que foi preciso avançar no tempo. Muito tempo. Milhões de anos. E
o mundo se fragmentou. O calor da Terra escapa em fusão para a superfície
enfraquecendo a crosta. Milhões de anos atrás. Foi assim o ocorrido. Vulcões a
explodir. Bum! Bum! Bum! Fumaça e gás por toda a parte. - -
Zefinha
--- Você vai hoje ao Mercado? - -
perguntou-lhe a mulher.
Geraldo
--- Logo que deixar você. Vou ver
se pego coisas novas. - - -
Lourdes
--- Bananas. De Assú. Tem muitas,
acredito. - -
Geraldo
--- Isso. Mamão, jaca, melancia.
Tudo isso. Quer mais? - - indagou sorrindo.
Lourdes
--- Só se for graviola! - -
gargalhou.
Zefinha
--- Por falar em graviola me deu
sede agora. - - falou a mulher.
Geraldo
--- Estamos chegando. Você mata a
sede. Lourdes, queres ir ao mercado? - -
Lourdes
--- Zefa é quem sabe. - -
Zefinha
--- Vá com ele. Pelo menos não
demora muito. - -
Geraldo
--- E eu demoro? Vou lá e volto!
Demoro quando tem carro a chegar. - -
Zefinha
--- E as negras? - - olhou para
Geraldo com cara rude.
Geraldo
--- Lá vem você meter a colher
cheia de banha. - - reponde com rosto trancado.
O Mercado Público estava cheio de
gente de todos os tipos. Gente pobre, mais ou menos, mendigos, cegos,
aleijados, mudos, e também gente gorda ou miúda. Com paletó ou de roupa puída.
Gente mesmo de toda sorte. E ninguém olhava um para o outro. O carregador de
peixe saía com seu balaio com cardumes de pescados entre vendedores de carnes e
negociantes de toda sorte, inclusive os de jogo de bicho com seus pules nas
mãos
Jogador
--- Olha a sorte! Olha a sorte!
Olha a sorte! - - falava manso o bicheiro
Lourdes
--- Onde tem frutas? - - indagou
a Geraldo
Geraldo
--- Onde tem frutas? Você está
pisando em cima de uma. Por todo canto. Aqui, alí, mais adiante. Em todo o
local que vende grude, tapioca, goma, e mangaba, caju, manga rosa e saborosas
graviolas. - - sorriu
Lourdes
--- Graviolas? Onde? - - e voltou
a olhar com cuidado.
Uma mulher de porte avantajado
tinha um balde repleto de graviolas. Graviolas grandes e menores. Todas de
vários tamanhos. Lourdes indagou:
Lourdes
--- Compro? - - com a boca cheia
de água.
Geraldo
--- Compre. Umas duas, três ou
mais ainda. Compre o cesto todo. - - sorriu.
Mulher
--- Esse é melhor. Pode comprar.
Eu garanto. - - relatou
E Lourdes comprou três graviolas,
por cuidado. Geraldo pagou e a moça sorriu. Com as graviolas na mão a moça
quase delirou. Mangas, goiabas, maçarandubas, cajus grandes que deixaram
Lourdes a ver fantasmas.
Lourdes
--- Eu devia levar uns cajus
desses. Posso? - - perguntou a Geraldo
Geraldo
--- Se quiser. Zefa gosta muito
de caju. Vamos à frente. Tem outras bancas. - -
Lourdes
--- Nossa Senhora. Eu vou morrer
empanzinada de tanta graviola. Amanhã venho de novo ao Mercado. - -
Geraldo
--- Melhor é a feira. Por lá você
encontra tudo o que precisa ou não. - -
Lourdes
--- Feira! É mesmo. Na feira. - -
sorriu
E Geraldo comprou de tudo um
pouco. Queijo, carnes, manteiga do sertão, bananas, farinha, goma seca e entrou
na vez da carne verde, procurando saber preço, para ver se podia levar tudo no
carro, que fazia a primeira viagem de compras no Mercado Público. Ajuntou tudo
e depositou na mala. Já suado até demais, ele perguntou a Lourdes.
Geraldo
--- Alguma coisa? - - indagou
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