quinta-feira, 10 de agosto de 2017

GRANDES DEUSES - 14 -

ESTAÇÃO DE RÁDIO
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REUNIÃO

No dia seguinte, pela manhã, após o café onde todos se serviram, por volta das dez horas o Senador chamou seus parentes mais próximos, incluindo a noiva, Marilu e a sua esposa, Lindalva para ter uma conversa particular em um ambiente solitários. O assunto não transpirou e quase ninguém sabia o que o senador tinha a declarar, a não ser dona Lindalva que se mantinha em silencio absoluto. O clima era de extrema tensão. Podia-se pensar em divisão de fortunas por conta do ilustre Senador. Como ninguém conseguia supor, o melhor a ser feito era esperar de verdade. Após um pesado silencio, o homem iniciou a sua preleção.
Senador
--- Bom dia a todos. Eu tenho um negócio a fazer e quero ouvir as opiniões de você. Dia desses eu fui procurado por um ex-deputado federal a me propor a venda de uma emissora que o mesmo tem em Natal. É uma emissora que está fechada por algum tempo. E ele resolveu vende-la por uma quantia insignificante. O negócio foi fechado e a emissora, agora, me pertence. A mim e a vocês, certamente. Eu estou falando somente hoje. Minha mulher estava sabendo. E você, o que me dizem? - -
Um filho
--- E essa emissora onde fica? –
Senador
--- Em Natal, é claro. Dúvidas? –
Uma filha
--- O que nós temos com isso? –
Senador
--- Vocês são os coproprietários, certamente. Alguma pergunta? –
Todos calaram de vez. Marilu foi a única a falar.
Marilu
--- Tem nome, essa rádio? –
Senador
--- Sim. Tem um nome. Radio Cruzeiro. Mas está desativado. Não tem ninguém por lá.
Marilu
--- Fica aonde a rádio? –
Senador
--- Próximo da Avenida Seis. Algo mais? –
Marilu
--- Radio Cruzeiro? Nunca ouvi falar. Pelo de nome. Cruzeiro? Parece um marco. –
Senador
--- Pode ser. Você tem ideia melhor? –
Marilu
--- Não sei. Mas, eu creio que o senhor, já que é o dono, pode até mudar de nome. Temos na cidade o Jornal do Estado. Um bom nome. Rádio Jornal do Estado. Ou, quem sabe, o nome de um bairro como Tirol. Emissora de onda média. Rádio Tirol, Natal, Brasil. Ou simplesmente Rádio Tirol de Natal. –
Senador
--- Você aonde nasceu, menina? - - surpreso
Lauro
--- Ela nasceu em Natal! Tem quem acredite? - - sorriu
Senador
--- Ótimo! Quem tem outra ideia? Ninguém? Bate o martelo. Rádio Tirol. Esse é o nome em homenagem ao Tirol, na Áustria.
Lauro encheu-se de júbilo. Os demais ficaram em silencio profundo. Dona Lindalva enxugou as lágrimas que escorriam na face.  Ao sinal do Senador, abriu-se a cortina com os garçons trazendo bandejas com champanhe e salgados. A turma toda se encheu de regozijo.
Senador
--- Vamos à bebida! - - disse o velho senador em hora um pouco mais cedo.
O Senador procurou saber da moça se Marilu podia ser a convidada para gerir a nova empresa, pois a direção do Jornal ficaria com Lauro. A moça respondeu que de nada sabia de uma empresa de rádio. Porém, poderia ser um bom começo. A emissora teria que se mudar de endereço, provavelmente no Tirol ou, pelo menos, próximo. Ela falou em programas logo de início começando com duplas sertanejas, radio-jornalismo, músicas, programas de entretenimentos, jornal do meio dia, esportes, cancioneiro popular, programa da vovó após seis horas da tarde, um novo jornal da noite e as dez horas, um recital de orquestras. Era esse o que Marilu pensava.
Mas a tarde, já desfeita a reunião, ficou sendo decidido o casamento de Lauro na Igreja Matriz de Natal. Dona Noca, ausente por algum tempo, chegou ao Hotel com um punhado de frutas, às mais diversas, pamonhas, milho cozido, tapioca molhada, bolo pé de moleque entre outras coisas e despejou em cima de uma banca, dizendo.
Noca
--- Está a comida. Aproveitem-se! - - saiu ligeira para lavar as mãos.
Marilu
--- Mãe? Que é isso? - - de olhos arregalados.
Lindalva
--- Deixa. Eu estou nessa “briga” também! - - gargalhou
Senador
--- O que é isso? - - atentou apressado
Lindalva
--- Um pouco do interior do nosso Estado. - - gargalhou
Lauro
--- Nesse dia Bodocó faltou pouco para virá! - - gargalhou em seguida
Senador
--- Só faltou um sanfoneiro! - - sorriu
De repente, uns sanfoneiros penetraram no Hotel, sanfonando as músicas populares da região serrana do Nordeste. Os hospedes do Sul ficaram admirados com a algazarra e todo mundo caiu no toque da sanfona, animados com toda impetuosidade dos acordeons a vingar a um som de uma fazer roda puxada da moda que sempre crescia no interior do Brasil. Foi festa muita quase a noite toda com os sanfoneiros a rodear a maior parte das pessoas, alegres e bobas.
Marilu
--- Ave Maria. Quase eu caio! - - gritou a moça ao ser puxada pelo noivo
Lauro
--- Ro-roie. - - dançava Lauro a gritar com toda pressa
Os demais, gente do Nordeste, da mesma forma, entraram na onda, cada um com seu par. Os garçons não dançavam mas batiam palmas para o qual quando passavam. Uma mulher, ao passar, indagou.
Dama
--- Que festa é essa? - - olhou toda vexada.
Lauro
--- É o sertão, senhora! - - gritou o rapaz para a dama. E continuou dançando com Marilu
Na manhã seguinte, o silencio era total. Quem foi, já saiu para as suas casas, ao longe. Marilu embarcou no avião ao lado do seu noivo Lauro e seguindo por dona Noca que abanava o lenço para os demais, principalmente dona Lindalva. O senador advertia a Marilu tão logo chegasse o domingo, ele estaria em Natal para cumprir os acertos formais. O avião alçou voou e as pessoas que ficaram, choravam pela falta da sanfona
Lindalva
--- Foi festa muita. - - sorria
Senador
--- Quem inventou de trazer os sanfoneiros? - - indagou

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