ESTAÇÃO DE RÁDIO
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REUNIÃO
No dia seguinte, pela manhã, após
o café onde todos se serviram, por volta das dez horas o Senador chamou seus
parentes mais próximos, incluindo a noiva, Marilu e a sua esposa, Lindalva para
ter uma conversa particular em um ambiente solitários. O assunto não transpirou
e quase ninguém sabia o que o senador tinha a declarar, a não ser dona Lindalva
que se mantinha em silencio absoluto. O clima era de extrema tensão. Podia-se
pensar em divisão de fortunas por conta do ilustre Senador. Como ninguém
conseguia supor, o melhor a ser feito era esperar de verdade. Após um pesado
silencio, o homem iniciou a sua preleção.
Senador
--- Bom dia a todos. Eu tenho um
negócio a fazer e quero ouvir as opiniões de você. Dia desses eu fui procurado
por um ex-deputado federal a me propor a venda de uma emissora que o mesmo tem
em Natal. É uma emissora que está fechada por algum tempo. E ele resolveu
vende-la por uma quantia insignificante. O negócio foi fechado e a emissora,
agora, me pertence. A mim e a vocês, certamente. Eu estou falando somente hoje.
Minha mulher estava sabendo. E você, o que me dizem? - -
Um filho
--- E essa emissora onde fica? –
Senador
--- Em Natal, é claro. Dúvidas? –
Uma filha
--- O que nós temos com isso? –
Senador
--- Vocês são os coproprietários,
certamente. Alguma pergunta? –
Todos calaram de vez. Marilu foi
a única a falar.
Marilu
--- Tem nome, essa rádio? –
Senador
--- Sim. Tem um nome. Radio
Cruzeiro. Mas está desativado. Não tem ninguém por lá.
Marilu
--- Fica aonde a rádio? –
Senador
--- Próximo da Avenida Seis. Algo
mais? –
Marilu
--- Radio Cruzeiro? Nunca ouvi
falar. Pelo de nome. Cruzeiro? Parece um marco. –
Senador
--- Pode ser. Você tem ideia
melhor? –
Marilu
--- Não sei. Mas, eu creio que o
senhor, já que é o dono, pode até mudar de nome. Temos na cidade o Jornal do
Estado. Um bom nome. Rádio Jornal do Estado. Ou, quem sabe, o nome de um bairro
como Tirol. Emissora de onda média. Rádio Tirol, Natal, Brasil. Ou simplesmente
Rádio Tirol de Natal. –
Senador
--- Você aonde nasceu, menina? -
- surpreso
Lauro
--- Ela nasceu em Natal! Tem quem
acredite? - - sorriu
Senador
--- Ótimo! Quem tem outra ideia?
Ninguém? Bate o martelo. Rádio Tirol. Esse é o nome em homenagem ao Tirol, na
Áustria.
Lauro encheu-se de júbilo. Os demais
ficaram em silencio profundo. Dona Lindalva enxugou as lágrimas que escorriam
na face. Ao sinal do Senador, abriu-se a
cortina com os garçons trazendo bandejas com champanhe e salgados. A turma toda
se encheu de regozijo.
Senador
--- Vamos à bebida! - - disse o
velho senador em hora um pouco mais cedo.
O Senador procurou saber da moça
se Marilu podia ser a convidada para gerir a nova empresa, pois a direção do
Jornal ficaria com Lauro. A moça respondeu que de nada sabia de uma empresa de
rádio. Porém, poderia ser um bom começo. A emissora teria que se mudar de endereço,
provavelmente no Tirol ou, pelo menos, próximo. Ela falou em programas logo de
início começando com duplas sertanejas, radio-jornalismo, músicas, programas de
entretenimentos, jornal do meio dia, esportes, cancioneiro popular, programa da
vovó após seis horas da tarde, um novo jornal da noite e as dez horas, um
recital de orquestras. Era esse o que Marilu pensava.
Mas a tarde, já desfeita a
reunião, ficou sendo decidido o casamento de Lauro na Igreja Matriz de Natal.
Dona Noca, ausente por algum tempo, chegou ao Hotel com um punhado de frutas,
às mais diversas, pamonhas, milho cozido, tapioca molhada, bolo pé de moleque
entre outras coisas e despejou em cima de uma banca, dizendo.
Noca
--- Está a comida. Aproveitem-se!
- - saiu ligeira para lavar as mãos.
Marilu
--- Mãe? Que é isso? - - de olhos
arregalados.
Lindalva
--- Deixa. Eu estou nessa “briga”
também! - - gargalhou
Senador
--- O que é isso? - - atentou
apressado
Lindalva
--- Um pouco do interior do nosso
Estado. - - gargalhou
Lauro
--- Nesse dia Bodocó faltou pouco
para virá! - - gargalhou em seguida
Senador
--- Só faltou um sanfoneiro! - -
sorriu
De repente, uns sanfoneiros
penetraram no Hotel, sanfonando as músicas populares da região serrana do
Nordeste. Os hospedes do Sul ficaram admirados com a algazarra e todo mundo
caiu no toque da sanfona, animados com toda impetuosidade dos acordeons a
vingar a um som de uma fazer roda puxada da moda que sempre crescia no interior
do Brasil. Foi festa muita quase a noite toda com os sanfoneiros a rodear a
maior parte das pessoas, alegres e bobas.
Marilu
--- Ave Maria. Quase eu caio! - -
gritou a moça ao ser puxada pelo noivo
Lauro
--- Ro-roie. - - dançava Lauro a
gritar com toda pressa
Os demais, gente do Nordeste, da
mesma forma, entraram na onda, cada um com seu par. Os garçons não dançavam mas
batiam palmas para o qual quando passavam. Uma mulher, ao passar, indagou.
Dama
--- Que festa é essa? - - olhou
toda vexada.
Lauro
--- É o sertão, senhora! - -
gritou o rapaz para a dama. E continuou dançando com Marilu
Na manhã seguinte, o silencio era
total. Quem foi, já saiu para as suas casas, ao longe. Marilu embarcou no avião
ao lado do seu noivo Lauro e seguindo por dona Noca que abanava o lenço para os
demais, principalmente dona Lindalva. O senador advertia a Marilu tão logo
chegasse o domingo, ele estaria em Natal para cumprir os acertos formais. O
avião alçou voou e as pessoas que ficaram, choravam pela falta da sanfona
Lindalva
--- Foi festa muita. - - sorria
Senador
--- Quem inventou de trazer os
sanfoneiros? - - indagou
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